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sexta-feira, 19 de junho de 2015

MIMOSO 1875-1950 [Notas para a sua história- 1ª parte]




 Estação e distrito de Mimoso em 1929 (www.arcoverde.pe.gov.br)

As origens:

As informações sobre as origens de Mimoso são confusas e um tanto imprecisas, sendo necessárias mais fontes que possam elucidar alguns fatos, mas, tentarei neste artigo narrar o período do qual disponho de fontes impressas, no caso livros e jornais.
Mimoso tem suas terras encravadas na antiga Sesmaria de Ararobá, que foi doada por Fernão de Souza Coutinho, Governador das Capitanias de Pernambuco e demais anexas, a 23 de dezembro de 1671, a Antônio Pereira Pinto, Manuel Vieira de Lemos e Bernardo Vieira de Melo pai do Capitão Antônio Vieira de Melo (1669-1764) que foi o desbravador dessa sesmaria a partir de 1698 e cujos bens foram sequestrados pela fazenda Real em 1761 acusado de conspirar contra o governo.
No termo de sequestro lavrado na povoação de Garanhuns de 02 de julho de 1761, consta com propriedade do Capitão Antônio Vieira de Melo o Sítio Mimoso avaliado em 350$000. Todavia, este sítio não é o atual distrito de Mimoso do Vale do Ipanema e sim pertencente ao atual munícipio de Bezerros. A. F. Pereira da Costa (Nobiliarquia Pernambucana, v.III, p. 39-40) argumenta que: “Mimoso era então, como ainda hoje, uma pequena povoação, de poucos moradores, como vimos, situada à margem esquerda do Rio Ipojuca e a oeste da cidade de Bezerros, a cujo município pertence”.
Geraldo Tenório Aoun, no seu livro A Vila de Mimoso: tradições e costumes (1986, p.01) afirma que: “Antes da construção de sua Igrejinha de São Sebastião, Mimoso já existia há dois ou três séculos, como aglomerado de casas e localidade”. Um parêntese a igrejinha ainda hoje existente fora construída provavelmente na penúltima década do século XIX (1880-1890) por Francisco de Brito Cavalcanti e Luiz Tenório de Albuquerque (Lulu), sobre esses falarei depois.
Com relação à citação acima sobre Mimoso existir há dois ou três séculos, apesar das poucas fontes discordo de Geraldo Tenório Aoun, pois, a Vila de Cimbres berço da colonização na região teve sua origem no século XVII, ou seja, contava dois séculos de existência, como poderia Mimoso já contar três de fundação? Outro detalhe, não existe citações nos documentos antigos do Termo de Cimbres de 1762 a 1827 que remetam a Mimoso ou Frecheiras, que segundo consta em citações posteriores fora o seu primeiro nome.
Desse modo, creio que as origens de Mimoso são a partir de 1840-1850 em razão das divisões territoriais que foram ocorrendo a partir dos inventários dos primeiros grandes proprietários e do desenvolvimento da povoação de Pesqueira que passara a sede municipal em 1836, todavia careço de mais detalhes e fatos documentais para confirmar minhas hipóteses.

Francisco de Brito Cavalcanti:

Era filho de João Ferreira de Araújo, do Brejo da Madre de Deus, e de Maria de Brito Cavalcanti, da Fazenda Barra atual povoado de Ipanema, neta de André Cavalcanti de Albuquerque, o famoso Capitão André Arcoverde. Sendo Francisco bisneto deste. Vale ressaltar que do consórcio entre João Ferreira e Maria, surgiria os "Brito Cavalcanti dos Vales do Ipanema e Ipojuca, sobre isso tratarei em outra oportunidade.
Sobre Francisco de Brito Cavalcanti, AOUN (1986, p. 01) fala que foi um dos mais famosos habitantes de Mimoso nos últimos 25 anos do século XIX (por isso a data inicial deste artigo é 1875), que para lá se mudara, vindo da Fazenda Boa Esperança, perto da vilazinha de Ipojuca, no atual município de Arcoverde. Adquirindo terras nas férteis e verdejantes várzeas de Mimoso e parte das serras do Mororó e das Guaribas.
No Mimoso ele foi à autoridade máxima e, segundo consta nada brando no trato com criminosos, principalmente ladrões de cavalos, sendo um homem rígido e valente como os velhos sertanejos talhados nas dificuldades dos rincões do estado.
Casado com Delmira Nobre, neta do inglês Ricardo Nobre (Richard Noble) estabelecido nas Varas na primeira metade do século XIX, atual município de Afogados da Ingazeira. Do casal Francisco e Delmira nasceram os seguintes filhos: Joaquim de Brito Cavalcanti, casada com Santa, filha de seus tios Antônio de Brito Cavalcanti e Porcina Nobre; Francisco de Brito Cavalcanti, casado com Tereza, filha de seus tios Antônio de Brito Cavalcanti e Porcina Nobre; João de Brito Cavalcanti, casado com Libânea de Assis; Luiz de Brito Cavalcanti (Lula), solteiro, tendo deixado vários filhos; Eliseu de Brito Cavalcanti, que desapareceu ainda jovem sem jamais dar notícias; Maria, casada com um cidadão chamado Iôia; Santana, solteira; Yoyô, casado com moça da família Assis; e Tereza, casada com Luiz Tenório de Albuquerque.
Em Mimoso fixou residência nos últimos anos de vida formando a partir da sua descendência outras famílias que colaborariam para o desenvolvimento e progresso do lugarejo a partir do século XX, e ajudou na construção da igrejinha de São Sebastião, onde foi sepultado num túmulo ao lado após falecer no começo do século XIX.

Mimoso na organização do município de Pesqueira:

Elevado à condição de cidade pela lei nº 1484, de 20 de abril de 1880, Pesqueira teve sua Lei de Organização Municipal nº 52 de 03 de agosto de 1892, o antigo município de Cimbres, com sede em Pesqueira, constituía-se autônomo a 04 de março de 1893.
Segundo o Almanak do Estado de Pernambuco, II ano, p.164, de 29 de janeiro de 1894, que trás informações do ano de 1893, está citado a seguinte organização de Cimbres: “Este município possui, além dos povoados, sede das freguesias, os seguintes: Poção, Alagoinhas, Olho d’Água, Pão de Açúcar, Salobro, Jenipapo, Água Fria, Frecheiras, Ipojuca e Sanharó”. Como se nota a nomenclatura do lugarejo esta época não era Mimoso e sim Frecheiras que já era constituído como povoado. Outro documento que comprova esta primeira designação é o Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro, edição B00067, p.94, de 1910, no qual consta o Povoado de Frecheiras como parte da organização de Pesqueira, assim como cita que na povoação existia instrução pública com a professora D. Silvina Tenório de Albuquerque.
O nome Frecheiras permaneceu possivelmente até a passagem dos trilhos da Great Western, a Ferrovia Central de Pernambuco, em 1911, sobre este acontecimento que muito mudaria o verdejante povoado falarei a seguir.
Pela lei municipal nº 142, de 30 de novembro de 1928, é criado o distrito de Mimoso e anexado ao município de Pesqueira. Em divisão administrativa referente ao ano de 1933, o município é constituído de 7 distritos: Pesqueira, Alagoinhas, Poção, Cimbres, Salôbro, Sanharó, Mimoso. Assim permanecendo em divisões territoriais datadas de 31-12-1936 e 31-12-1937.Pelo decreto lei estadual nº 235, de 09 de dezembro de 1938, o distrito de Mimoso passou a denominar-se Arcoverde. No quadro fixado para vigorar no período de 1939-1943, o município é constituído de 8 distritos: Pesqueira, Alagoinha, Cimbres, Jenipapo, Arcoverde ex-Mimoso, Salobro e Sanharó e Poção.
Sobre estas mudanças de nome, José de Almeida Maciel escreveu em seu livro Questões de Toponímia Municipal Pernambucana, CEHM/ FIAM(1984, p.142-143) que reuniu artigos publicados em A Região de 25/07/1943:

“Arcoverde. Quando povoado tinha o nome de Frecheiras, mudando para Mimoso ao ser inaugurada a estação ferroviária, há cerca de 30 anos, por fazer duplicata com a estação de Frecheiras do Município de Escada. Mimoso até o presente, não faz duplicata com nenhuma outra localidade (cidade ou vila do país). Os habitantes locais preferem, com o desaparecimento do nome atual (que passou a ser o de município e cidade de Rio Branco, a partir de 31.12.1943), a volta do anterior, que foi dado a localidade justamente quando começou a desenvolver-se após a chegada do trem”.(grifos meus).

Por fim, pelo decreto-lei estadual nº 952, de 31 de dezembro de 1943, o distrito de Arcoverde voltou a denominar-se Mimoso o que permanece até os dias atuais.

A Ferrovia Central de Pernambuco:

A Estrada de Ferro Central de Pernambuco foi aberta em 1885, de Recife a Jaboatão, pela Great Western do Brasil, empresa inglesa que mais tarde viria a incorporar quase todas as ferrovias de Pernambuco, estendendo-se pelos Estados limítrofes. Aos poucos, a linha foi sendo estendida, somente chegando ao seu extremo, em Salgueiro, no ano de 1963, sem se entroncar com linha alguma na região. Sua chegada em Pesqueira foi em 01 de novembro de 1906.
Em Mimoso, os trilhos chegaram entre 1910 e 1911 sobre a inauguração do tráfego de trens provisórios transcrevo abaixo uma notícia publicada no jornal A Província de 19 de maio de 1911, ano XXXIV, nº 136, p.2. Segue-se: <<The Great Western of Brazil railway company limited. Prolongamento de Flores- Secção Central. Amanhã, 19 do corrente, será inaugurado provisoriamente o tráfego do trecho deste prolongamento entre Ipanema e Mimoso, 10 quilômetros não só para passageiros, como para encomendas, mercadorias e animais, bem assim o serviço telegráfico. Os trens, que serão mistos correrão provisoriamente, desde amanhã, nas segundas e sextas-feiras, conforme o seguinte horário: IDA- Estações de Pesqueira (partida 4:50 hs), Ipanema (partida 5:20 hs) e Mimoso (chegada 5:50 hs); VOLTA- Estações de Mimoso (partida 6:10 hs), Ipanema (partida 6:45) e Pesqueira (chegada 7:15). Recife, 18 de maio de 1911. A.T. Connor- Superintendente>>.
Após a chegada dos trilhos, Mimoso se desenvolveu e prosperou significativamente dentro do município de Pesqueira, merecendo destaque o aumento de sua população que no ano de 1925 era de 370 habitantes (possuindo 90 casas e 2 ruas) para cerca de 1.000 habitantes em 1950, na época sua população era maior do que algumas cidades do interior do estado de Pernambuco: Coripós (985), Cabrobó (773), Orobó (705) e Serrita (632). Vale salientar que Pesqueira no Censo de 1950 registrou uma população de 13.291 habitantes.

A estação, em 2002. Acervo Luiz Ruben F. de A. Bonfim


Este artigo continua numa próxima publicação.


Por Fábio Menino de Oliveira.


REFERÊNCIAS:

Almanak do Estado de Pernambuco, II ano, p.164, de 29 de janeiro de 1894.

Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro, edição B00067, p.94, de 1910.

A Província de 19 de maio de 1911, ano XXXIV, nº 136, p.2.

AOUN, Geraldo Tenório. A Vila de Mimoso: Pesqueira- PE tradições e costumes. Recife: Gráfica Editora Santa Cruz, 1986.

Great Western (1911-1950), Rede Ferroviária do Nordeste (1950-1975),RFFSA (1975-1996).MIMOSO Município de Pesqueira, PE. Disponível em:< http://www.estacoesferroviarias.com.br/efcp_pe/mimoso.htm. Acesso em 09 jun. 2015.

MACIEL, José de Almeida. Questões de Toponímia Municipal Pernambucana- Obras completas, voluma 2. Recife: CEHM/ FIAM,1984.

MACIEL, José de Almeida Maciel. Pesqueira e o Antigo Termo de Cimbres- Obras completas, volume 1. Recife: CEHM, 1980.

WILSON, Luís. Ararobá, lendária e eterna (notas para a história de Pesqueira). Recife: CEPE, 1980.

5 comentários:

  1. Excelente matéria. Parabéns pelo trabalho. A minha esposa tem familiares em mimoso e ficou maravilhada com a leitura. Obrigada

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  2. Excelente matéria. Parabéns pelo trabalho. A minha esposa tem familiares em mimoso e ficou maravilhada com a leitura. Obrigada Temos vários familiares la em mimoso, lugar gostoso e cheio de alegrias.

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  3. Obrigado Daniel pelo comentário, fico feliz que gostou.

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  4. Obrigado Daniel pelo comentário, fico feliz que gostou.

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  5. Fábio, fiquei muito feliz sou de mimoso moro em feira de Santana, na Bahia,meu nome tenhe Brito Cavalcante, meu Antônio de Brito Cavalcante(Antônio Izidoro) minha mãe Iracema de Brito cavancante

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