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terça-feira, 7 de agosto de 2018

ESTAÇÃO DE IPANEMA: UMA FOTO PARA A HISTÓRIA

Estação de Ipanema, Pesqueira-PE, s.d., cortesia de Carla Rosanni Brito Cavalcanti Branco

Ao longo dos últimos dezesseis anos que tenho procurado um registro fotográfico da Estação ferroviária do povoado de Ipanema (Pesqueira/PE) inaugurada em 23 de dezembro de 1910 e qual foi a surpresa nesses dias quando recebi numa rede social esta foto que agora divulgo com exclusividade neste blog e reitero o meu agradecimento a Carla Rosanni Brito Cavalcanti Branco por tê-la me enviado.
Sobre a história da estação ipanemense segue-se um trecho do Capitulo Oitavo (p. 157-163) do livro de minha autoria: Barra – Reminiscências e notas para a História de Ipanema – Pesqueira PE.

A chegada dos trilhos da Great Western
Início do século XX; remonta desta época a chegada dos trilhos da Great Western do Brasil (GWBR), empresa inglesa que construiu a Estrada de Ferro Central de Pernambuco, aberta em 1885, de Recife a Jaboatão. Esta empresa mais tarde viria a incorporar quase todas as ferrovias de Pernambuco, estendendo-se pelos Estados limítrofes. Aos poucos, a linha foi sendo estendida, chegando ao seu extremo, em Salgueiro, somente no ano de 1963, sem se entroncar com linha alguma na região. Antes disso, em 1950, a União incorporou a rede da Great Western, que passou a se chamar Rede Ferroviária do Nordeste. A EFCP passou a se chamar Linha Centro. Esta linha, que como toda a RFN, passou a ser controlada pela RFFSA a partir de 1957, e a ser operada por esta a partir de 1975. Em 1983, os trens de passageiros foram suprimidos e mantidos apenas no trecho entre Recife e Jaboatão, como trens de subúrbio. Atualmente, de Jaboatão para frente, a linha está abandonada, sem movimento ferroviário por parte da CFN, concessionária da linha desde 1997.
Os trilhos começaram a chegar a partir de 1909 em Ipanema, sendo responsável por essa construção do trecho de Pesqueira a Rio Branco (Arcoverde), o engenheiro-chefe Dr. C. W. Stevenson, que ficou hospedado com sua esposa e seus filhos na residência do capitão Carlos de Brito (chalé vizinho à Fábrica Peixe). Vale salientar que o trecho entre Recife e Pesqueira já havia sido inaugurado em 14 de abril de 1907 e que no período de 1909 a 1913 a GWBR era administrada pelo Superintendente A. T. Connor e pelo Presidente David Simson.
A chegada dos trilhos trouxe progresso, desenvolvimento e, consequentemente, um período áureo da história do lugarejo que, já fora sítio, fazenda e que a partir de 1909 se tornaria a Povoação de Ipanema, denominação decorrente da localização na ribeira do rio desta designação. Detalhe: até aquela data Ipanema ainda se chamava Barra; a mudança do nome ocorreu por sugestão da Great Western, que andou rebatizando muitos lugares que receberam estações ferroviárias no Estado a fim de não haver dualidade de nomes e com o intuito de melhor identificação.
Transcrevo abaixo algumas notícias publicadas em jornais recifenses sobre Ipanema:
Inauguração do tráfego ferroviário e do serviço telegráfico: jornal A Província (ano XXXIII, nº 328, p.4) de 18 de dezembro de 1910. Segue-se:

The Great Western of Brazil railway company limited. Prolongamento de Flores – Secção Central. Horário provisório a vigorar de 23 do corrente, com inclusão do serviço telegráfico entre Pesqueira e Ipanema (13 quilômetros) para os trens mistos que correrão nas segundas e sextas-feiras: Estações de Pesqueira (partida 5:00 PM) e Ipanema (chegada 5:40). VOLTA – Estações de Ipanema (partida 6:00 PM) e Pesqueira (chegada 6:40). Recife, 15 de dezembro de 1910. A.T. Connor – Superintendente.

Abertura do tráfego até Mimoso: jornal A Província, (ano XXXIV, nº 136, p.2) de 19 de maio de 1911. Segue-se:

The Great Western of Brazil railway company limited. Prolongamento de Flores – Secção Central. Amanhã, 19 do corrente, será inaugurado provisoriamente o tráfego do trecho deste prolongamento entre Ipanema e Mimoso, 10 quilômetros não só para passageiros, como para encomendas, mercadorias e animais, bem assim o serviço telegráfico. Os trens, que serão mistos correrão provisoriamente, desde amanhã, nas segundas e sextas-feiras, conforme o seguinte horário: IDA – Estações de Pesqueira (partida 4:50 hs), Ipanema (partida 5:20 hs) e Mimoso (chegada 5:50 hs); VOLTA – Estações de Mimoso (partida 6:10 hs), Ipanema (partida 6:45) e Pesqueira (chegada 7:15). Recife, 18 de maio de 1911. A.T. Connor – Superintendente.
[...]
Segundo relatos, José Leopoldo de Carvalho foi o 1º chefe da estação de Ipanema. Os trens circulavam todos os dias, um dia com passageiros e no outro dia com cargas. O jornal A Voz de Pesqueira de 16.01.1949, mencionava os preços dos fretes de algumas mercadorias:

<< Nos fretes as tarifas eram cobradas pela unidade quilo (Kg): por exemplo, feijão Cr$ 0,139, farinha de mandioca Cr$ 0,106, arroz e querosene Cr$ 0,221, açúcar Cr$ 0,155, sal Cr$ 0,162, banha e sabão Cr$ 0,341. Essas eram as principais mercadorias trazidas do Recife para a Região>>.

 A estação de Ipanema funcionou até meados da década de 1980. Tudo indica que foi demolida ao final da mesma década, restando atualmente apenas às ruínas e a plataforma de embarque. Segundo estudos feitos pelo Projeto Memória Ferroviária de Pernambuco, a arquitetura desta estação tinha algumas semelhanças com a da estação do município de Sanharó, tais como: os ferros de sustentação da cobertura da plataforma, paredes de reboco inferior grosseiro e bases em pedra. [...]
Ruínas da estação de Ipanema, foto deste blog (2016).
      Concluo este artigo com a satisfação do objetivo alcançado e de estar diante da história, no entanto não deixo de sentir a tristeza de ver tão bela estação atualmente em ruinas, é um pedaço importante da história do lugar que se foi para nunca mais voltar como os trens e as pessoas que outrora por ela passaram.

Por Fábio Menino de Oliveira

sábado, 17 de março de 2018

A CAPELA DE IPANEMA




A capela do povoado de Ipanema foi construída entre os anos de 1912 e 1913 nas terras pertencentes ao fazendeiro Leopoldo de Carvalho de Cavalcanti (30/09/1860 – 1925), tendo sido ele e seus familiares os idealizadores da edificação de um templo de fé na comunidade.
A autorização para fazer celebrações e ministrar os sacramentos foi dada pelo Arcebispo de Olinda, Dom Luís Raimundo da Silva Brito, em 28 de setembro de 1915, conforme atesta o documento transcrito a seguir e que consta lavrado no Livro Tombo da Catedral de Santa Águeda (Diocese de Pesqueira). Segue-se:
Sobre Capela da Barra
Luís, por Mercê de Deus e da Santa Sé Apostólica
Arcebispo Metropolitano de Olinda
Aos que a presente virem por a benção no Senhor.
Fazemos saber, que atendendo ao que nos representou Leopoldo de Carvalho Cavalcanti, e considerando a esta Capela de Nossa Senhora da Conceição, única que (*ilegível) na estação de Ipanema, colocada na propriedade do mesmo, havemos por bem declará-la Capela (*ilegível), para nela puder ser celebrada o Santo Sacríficio da Missa, e o ministraram-se os sacramentos, salvos os direitos paroquiais. Esta será apresentada ao Rdo. Pároco competente para ser registrada no Livro do Tombo.
Dado e passado em Cimbres, aos 28 de Setembro de 1915, sob nosso sinal e valendo sem o selo (*ilegível).
Luís, Arcebispo de Olinda.

Baseado neste documento e nas buscas em livros eclesiásticos das Matrizes de Cimbres e Santa Águeda nos primeiros anos do século XX é possível comprovar que o primeiro sacramento celebrado na Capela de Ipanema foi o matrimônio de Vespasiano Ferreira da Silva e Sebastiana Pereira de Araújo, ocorrido em 25/09/1915.
Aos vinte e cinco de setembro de mil novecentos e quinze, em Olho d’Água dos Bredos desta Freguesia, digo, em Ipanema de Pesqueira, dispensados de consanguinidade, banhos e certidões, perante as testemunhas André Napoleão de Siqueira e Francisco de Moura Cavalcanti de licença do Exmo. Sr. Arcebispo de Olinda, O Reverendo Padre Manoel Gonçalves, assistiu ao enlace matrimonial de Vespasiano Ferreira da Silva e Sebastiana Pereira de Araújo; ele filho natural de Graça Ferreira da Anunciação; ela filha legítima de Sebastião Pereira de Araújo e Olegária Joaquina da Conceição. Os nubentes são naturais e moradores desta freguesia. E para constar faço este termo que assino. Padre Rafael Arcanjo de Meira Lima. Vigário1.
Na certidão lê-se claramente a licença concedida pelo Arcebispo de Olinda, só havendo uma divergência de 04 dias na data, possivelmente o documento enviado por D. Luís de Brito para a Matriz de Santa Águeda, tenha sido registrado no Livro Tombo alguns dias depois.
O referido documento que me foi cedido recentemente por Marcelo O. Nascimento é de suma importância no esclarecimento de dúvidas que não foram possíveis obtermos respostas quando escrevi o livro Barra: reminiscências e notas para a história do povoado de Ipanema.
A principal dúvida diz respeito ao primeiro padroeiro de Ipanema, Luís Wilson no livro Ararobá, Lendária e Eterna (1980, p. 64), ao falar sobre o antigo Sítio Barra que deu origem ao atual povoado de Ipanema, assim escreveu:
[...] no qual se instalou e é desde que ali chegaram em 1909 os trilhos da antiga “GreatWestern”, a povoação de IPANEMA, ribeira do rio desta designação, com a sua Igrejinha de São Joaquim e, em minha adolescência, com os seus pés de flamboyants e uma venda com uma gaiola de canário-de-briga, na porta da esquina da ruazinha. (grifos nossos)
Segundo Luís Wilson, o orago da igrejinha recentemente construída no povoado foi dado a São Joaquim, e a princípio pensávamos que só alguns anos depois é que o orago passou a ser Nossa Senhora da Conceição, todavia, a santa já era padroeira de Ipanema desde 1915.
Dom Luís de Brito (1840-1915)
  Mais como na pesquisa histórica se esclarece uma dúvida e surgem outras, nos indagamos o porquê de Luís Wilson que conheceu Ipanema na mocidade dizer que o primeiro orago da capela foi São Joaquim? Será que depois da construção a capela teve dois oragos ao mesmo tempo, ou seja, São Joaquim e Nossa Senhora da Conceição? 
       Quiçá em breve possamos responder esses questionamentos, por ora, nos cabe mostrar as novas informações localizadas e que não puderam estar no livro sobre a história do povoado.

Por Fábio Menino de Oliveira.
        

1 Livro de Matrimônios da Matriz de Cimbres, Jul. 1915-Jun.1921. Termo nº 78, fls. 6.