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terça-feira, 31 de janeiro de 2017

A EDUCAÇÃO EM PESQUEIRA NO PERÍODO 1948-1951

Escola Típica Rural de Mutuca, Pesqueira, em 1950.

Os anos que compreendem o final da década de 1940 e início de 1950, representam uma fase de crescimento educacional no município de Pesqueira com a expansão de novas cadeiras de ensino, bem como a construção e o estabelecimento de grupos escolares tanto na sede municipal, como nas áreas rurais.
Para traçar um panorama a respeito do quadro educacional neste período foi fundamental o Álbum da Administração do prefeito Ésio Magalhães Araújo, responsável por um governo de muitas realizações e que muito contribuiu para a modernidade e desenvolvimento de Pesqueira.    
Dentre as transformações de sua gestão cabe destacar a educação e de acordo com o Álbum supracitado, assim era o ensino primário no ano de 1948:

EXERCÍCIO DE 1948 […] Instrução Primária. No início do ano letivo, em 16 de fevereiro, existiam 87 escolas municipais em todo o território da comuna (inclusive Alagoinha e Sanharó, posteriormente elevados à categoria de municípios) antes do término do exercício o governo municipal criou 30 novas escolas divididas nas seguintes categorias e todas em pleno funcionamento, cuja matrícula atingia a 3.234 alunos […]
           
Sobre estas 30 novas escolas criadas, cabe registrar as que obtivemos informações, foram elas: Escola Benjamim Caraciolo (então Distrito de Sanharó); Escola Sérgio Loreto (então Distrito de Poção); Escola Jurandir Brito de Freitas (Distrito de Salobro); Escola Leonardo Siqueira (Povoado de Santa Teresinha, atual Distrito de Mutuca); Escola Tenório de Carvalho (Povoado de Ipanema); Escola André Bezerra (Povoado de Jenipapinho, Alagoinha); Escola 6 de Março (Povoado Divisão, Sanharó); Escola Belchior Leite do Amaral (Povoado Mulungu, Sanharó); e Escola Francisco Sinésio (Bairro Santa Rita, Pesqueira).
Em 1949 com a constituição dos municípios independentes de Sanharó (do qual passou a fazer parte o distrito de Jenipapo e o povoado de Divisão) e Alagoinha (de cujo território passou a constituir o povoado de Perpétuo Socorro). Pesqueira perdeu território e o quantitativo das escolas e dos alunos sofreu redução caindo de 87 para 57 escolas e de 3.234 para 2.296 alunos.
As despesas da prefeitura estavam orçadas em outubro de 1951 no valor de Cr$ 2.840.913,10, dos quais Cr$ 375.675,00 eram gastos com Educação Pública (13,22%), desse valor Cr$ 13.000,00 foram destinados para a compra de papel, pena, tintas, livros, fardamentos e outros materiais para a distribuição gratuita aos alunos pobres. Vale ressaltar, que os investimentos com educação representavam o 2º lugar das despesas municipais, superado apenas pelos Serviços de Utilidade Pública (Cr$ 851.960,26 – 29,9%).
Outro fato de grande importância para a educação pesqueirense foi a criação da Biblioteca Pública Municipal, através da Lei nº 40 de 2 de junho de 1948, sendo instalada em janeiro de 1950 e sobre a qual farei artigo posterior.        

Todavia, nessa época não há apenas o esforço do município para atender a população pesqueirense com educação pública, uma vez que entre 1949 e 1950 são construídas no município de Pesqueira pelo governo do estado 06 Escolas Típicas Rurais (chamadas de ETR's) para atender a área rural. Foram elas: ETR de Cimbres (1ª professora Maria do Carmo de Araújo Bezerra); ETR de Mimoso (1ª prof.ª Vanda Brito); ETR de Mutuca (1ª prof.ª Almira Prudêncio da Silva); ETR de Roçadinho (1ª prof.ª Julieta da Silva Barros); ETR de Ipanema (1ª prof.ª Teresinha Pereira Lopes) e ETR de Poção (1ª prof.ª Ângela Alzira de Souza Duque).
As ETR's foram idealizadas por Clemente Marianni, Ministro da Educação do Presidente Eurico Gaspar Dutra (1947-1951) e constituíam-se num prédio de aspecto colonial com uma sala para 40 alunos, com uma residência para a professora e um espaço de 1 hectare, pois seu principal objetivo era associar a alfabetização dos alunos com técnicas de agricultura, pecuária e ofícios rurais. Só em Pernambuco no ano de 1948 foram construídas 248 escolas rurais em 84 municípios com alto déficit escolar.
A primeira escola rural construída em Pesqueira foi a da Vila de Cimbres, conforme consta nas notas abaixo:

ATOS DO GOVERNO ESTADUAL […] O governador do Estado assinou os seguintes atos: […] designando o adjunto de promotor público da comarca de Pesqueira, José da Silva Araújo, para como representante do Estado, assinar a escritura de doação de um terreno localizado em Cimbres, 3º distrito daquele município destinado à construção de uma escola rural;[…]

-Escola Rural de Cimbres, construída em abril de 1949 […]

Por fim, destaca-se nessa fase de mudanças educacionais significativas em Pesqueira, além da atuação do prefeito Ésio Magalhães Araújo, a do Secretário de Educação e Cultura do Estado, bacharel João Arruda Marinho dos Santos (ex-prefeito de Pesqueira) e do Governador de Pernambuco, Dr. Agamenon Magalhães.

Por Fábio Menino de Oliveira.


REFERÊNCIAS

Álbum da Administração de Ésio Magalhães Araújo, 1948-1951. Recife, Oficina Tipográfica do Diário da Manhã, 1951.
Diário de Pernambuco, Recife, sexta-feira, 19/11/1948, ano 123, nº 270, p. 4.
Idem, sexta-feira, 01/04/1949, ano 124, nº 76, p.5.

sábado, 28 de janeiro de 2017

REPORTAGEM DE 1936 SOBRE A APARIÇÃO DE NOSSA SENHORA NO SITIO GUARDA, EM PESQUEIRA.

Fac-símile do Diário da Manhã, 10/10/1936

Na cordilheira do Ororubá
Nossa Senhora apareceu, em Pesqueira, a duas crianças”
Uma multidão de romeiros dirige-se ao local do milagre1

(DE UM REPÓRTER MATUTO)

Foi na cordilheira do Ororubá, onde o vento passa agitado, mas, trazendo sempre o cheiro da terra oura; foi ali no Sítio do Guarda, no município de Pesqueira, onde o clima é o mais convidativo às meditações profundas ou não sobre os mistérios da vida, que, no dia 3 de agosto, do ano que vai rolando, apareceu uma santa.


Nossos jornais já se ocuparam do fato, mas, não deram grande curso às suas indagações sobre a aparição. Falta de tempo ou respeito as coisas misteriosas que surgem de repente para impressionar um povo que tem tanto em que pensar, mesmo no campo duro da realidade.

Maria da Luz, em companhia
da sua amiga.
Mas, o fato é que ali, no município de Pesqueira, célebre pelo justo rumor da sua goiabada, no Sítio do Guarda, na cordilheira do Ororubá, vivia, sem sucesso, o agricultor Artur Teixeira que, afora a preocupação que lhe davam os cafezais, os sabugueiros e as goiabas, tinha a merecer-lhe muito cuidado, cuidado e carinho, a sua filha menor Maria da Luz, uma criança tão calma como aquele trecho de terra em que seu pai vivia.

NO DIA 3 DE AGOSTO, estando Maria da Luz em companhia de sua amiguinha, entregue a colheita de frutos, como lhe viesse o cansaço, resolveu palestrar um pouco e o assunto da conversa foi uma provável investida dos bandidos naquela propriedade.

Naquele pedaço de terra constitui um verdadeiro pavor a simples lembrança de uma incursão de bandidos. A companhia de Maria da Luz tremeu de susto. Que Deus a livrasse de ver um bandido.

Maria da Luz, mais confiante, declarou que não temia os bandidos, pois acreditava muito e muito em Nossa Senhora.

Falou assim Maria da Luz e de repente – é o que relata os informantes que vem de Pesqueira – no alto de uma pedra cortada, viu a menina que aparecia um vulto, com uma auréola de luz. Ficaram estáticas as duas menores e – continuam os informantes – a santa continuava a rir para elas, num riso de santa, cheio de graça e de perfume.

Um grupo de romeiros, ao sopé
da serra do Ororubá
A NOTÍCIA ESPALHOU-SE por todo o município de Pesqueira. 

Passou deste para outros, e já anda pelos Estados vizinhos.

Como corre uma notícia! Romeiros estão marchando sobre a cordilheira do Ororubá. Pernas de todas as idades vão vencendo as anfractuosidades do caminho.

Velhos, moços e meninos, todos, serra acima, vão com o coração a rebentar de esperança e fé, porque querem ter também a graça de Maria da Luz; querem ver, sobre a pedra cortada, o perfil da santa, de Nossa Senhora que, assim, apareceu àquelas duas meninas e que não deixará de aparecer também aos que já não são meninos, mas, bem que o queriam ser.

Vai sendo grande a onda de peregrinos, homens e mulheres, cansados das grandes caminhadas, vão chegando ao Sítio do Guarda, onde a plantação de tomates vai ficando perdida, pisada está a terra toda.

Continuam as menores a afirmar que a Santa lá está como no primeiro dia. Que ri para elas; ri e fala. Chega a ser impressionante esta certeza das meninas e bem que vai impressionando os velhos, estes são às vezes mais sugestionáveis ainda.
O local em que foi vista a Santa

[…]
Logo, Pesqueira é que é uma terra abençoada.

O local em que foi feita a aparição é de tão difícil acesso que é mesmo de causar espanto a facilidade com que os romeiros o alcançam.

É até necessária a colocação de escadas, para que consigam certas passagens.

E por toda a subida a velas acesas. Um grande, um solene espetáculo de fé. (Ortografia atualizada para facilitar a compreensão do leitor).

Por Fábio Menino de Oliveira.




1 Trecho da reportagem e imagens foram retirados do DIÁRIO DA MANHÃ (Recife, sábado, 10 de outubro de 1936, ano X, nº 2844, p. 6). Disponível em: http://200.238.101.22/docreader/DocReader.aspx?bib=DM1936&pesq=Na%20cordilheira%20do%20ororob%C3%A1 Acesso em 26/01/2017.