D. José Antônio de Oliveira Lopes, natural da
Freguesia de São José do Recife, nascido em 21 de novembro de 1868, filho do
português Marcelino Ausberto
Lopes e de Francelina da Conceição de Oliveira Lopes. Foi solenemente batizado na Igreja Matriz de São José em 11 de abril de 1869.
O futuro bispo da Diocese de Pesqueira iniciou sua
formação religiosa no Seminário de Olinda, em 23
de fevereiro de 1882. Em 25 de março de 1884,
transferiu-se para o Colégio Pio Latino-Americano, em Roma, onde foi ordenado
sacerdote em 16 de abril de 1892 pelo
cardeal Lúcio Maria Parochi, vigário do Papa Leão XIII. Celebrou sua primeira
missa na capela do próprio colégio em 17 de
abril de 1892 e, ao retornar ao Brasil, iniciou sua atuação pastoral
como coadjutor da paróquia de São José, no Recife, sendo logo transferido para
a freguesia de Goiana, onde ganhou o apreço dos paroquianos.
Exerceu funções relevantes no Colégio de São José,
no Seminário de Olinda (como lente de Direito Canônico e reitor), e na Paróquia
da Boa Vista, onde se destacou como orador sacro e incentivador da fé,
implantando importantes melhorias, como a criação da Escola Paroquial. Recebeu
diversos títulos e honrarias eclesiásticas ao longo da carreira, incluindo o de
cônego efetivo, camareiro ad honorem de Sua Santidade, prelado doméstico e
protonotário apostólico.
Em 26 de junho de 1915, como reconhecimento a sua
trajetória exemplar, o Papa Bento XV designou o Monsenhor José de Oliveira
Lopes para substituir o primeiro bispo da Diocese de Floresta, erigida em 5 de
dezembro de 1910, Dom Augusto Álvaro da Silva, que fora transferido para Barra
do Rio Grande, na Bahia e que posteriormente seria Arcebispo da Bahia e Primaz
do Brasil.
Dom José Lopes recebeu a sagração episcopal em 21
de novembro de 1916, na Igreja Matriz da Boa Vista, sendo celebrante o
arcebispo Dom Luís Raimundo da Silva Brito, com Dom João Irineu Joffily, bispo
coadjutor de Recife, e Dom Manuel Antônio de Oliveira Lopes, da Diocese de
Alagoas. Tomou posse de sua diocese em 13 de dezembro de 1916.
Em 2 de agosto de 1918, através da Bula
Archidiocesis Olindensis et Recifensis, o Papa Bento XV cria as dioceses de
Garanhuns, Nazaré da Mata e Pesqueira, assim como altera o nome da Arquidiocese
de Olinda que passa a ser chamada Arquidiocese de Olinda e Recife. Vale
salientar a iniciativa do então Arcebispo de Olinda Dom Sebastião Leme Silveira
Cintra quando enviou ao Sr Núncio Apostólico no Brasil – Dom Jacinto Ângelo
Scapardini, o processo para criação das três dioceses em Pernambuco, tendo como
motivo o vasto território arquidiocesano e que a criação da Diocese de Floresta
não havia sido suficiente, pois havia cerca de 2 milhões e 400 mil fiéis
governados por um único bispo, no caso Dom José Lopes.
A Bula Archidiocesis Olindensis et Recifensis transferiu
a sede episcopal da Diocese de Floresta para Pesqueira apresentando como
justificativa de Dom Sebastião Leme o seguinte:
“[...] pediu que a
Diocese de Floresta, constituída na extrema parte ocidental, fosse trazida e
estendida para o oriente, na direção da cidade de Pesqueira, que, quer pelo
número de habitantes, quer pela facilidade de estradas, quer pelo comércio, se
tornou, no presente, de longe, mais importante que a cidade de Floresta, e, por
isto, se torne não só sede do Bispo, mas também cidade episcopal. Todas estas
coisas foram diligentemente avaliadas pela Sagrada Congregação Consistorial. Os
desejos do supracitado Arcebispo foram considerados dignos de serem ouvidos;
além disso, também houve o consenso do Venerável Irmão, o atual Bispo de
Floresta[...]” (BULA DE CRIAÇÃO DAS DIOCESES DE GARANHUNS, NAZARÉ E PESQUEIRA,
1918).
De acordo com a citação acima, temos os motivos da
transferência da Sede e da Cátedra episcopais da cidade de Floresta para Pesqueira,
ou seja, número de habitantes, o acesso das estradas e o comércio que a faziam
uma cidade mais importante para abrigar a Diocese que passou a chamar-se pelo
nome principal da cidade, assim foi constituída a Diocese de Pesqueira com a
instituição da Igreja Matriz de Santa Águeda como Catedral, ampliando seus
limites com a incorporação de cinco paróquias Belo Jardim, Brejo da Madre de
Deus, Buíque, Pedra e Cimbres - considerada a primeira do sertão
pernambucano.
Segundo Luís Wilson (1980, p.419) a chegada de Dom
José Lopes a Pesqueira ocorreu no sábado, 25 de janeiro de 1919, vindo “em um
carro especial atrelado a uma composição de nossa antiga Great Western, que
tomara em Arcoverde (naquela época – Rio Branco)”. Na Estação de Pesqueira foi
recebido pelo Revmo. Vigário Pe. Frutuoso Maria Rolim de Albuquerque, vigários
de Cimbres, Buíque, Serra Talhada e Floresta, religiosos franciscanos e por
autoridades civis e militares, além de um bom número de pessoas. Coube ao professor
Desidério Alves Valença, a honra do discurso de saudação ao Bispo em nome do
povo católico da Diocese. Dom José Lopes, em seguida, se dirigiu à secular
Igrejinha de Nossa Senhora Mãe dos Homens.
A sua entrada solene na Catedral de Santa Águeda
ocorreu às 8 horas da manhã de domingo (26/01) onde vestido com seus hábitos
pontificais saiu da Igreja Mãe dos Homens e adentrou a nova sede da Diocese ao
som do solene canto do “Te Deum”.
Dom José Lopes que foi o segundo bispo da Diocese
de Floresta mudou-se para Pesqueira a nova sede da Diocese, tendo permanecido à
frente do território diocesano por quase quatorze anos, realizando uma
administração profícua pelas contribuições materiais e espirituais.
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Fotografia do livro Ararobá, Lendária e Eterna. |
Do ponto de vista material entre as suas
realizações podemos citar: a transformação dos dois antigos sobrados ao lado da
Capela de Nossa Senhora Mãe dos Homens em Palácio Episcopal, reformou a
referida capela construída em 1822, construiu a
igreja de São Sebastião, além de promover reformas e construções de igrejas e
capelas na Diocese.
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Seminário e Colégio Diocesano instalado por D. José Lopes em 1929, conforme inscrição na fachada. Foto: Blog do Ibá Mendes. |
Foi o bispo da promoção humana, da educação e das vocações. Deu luz ao saber, primeiro com a fundação em 1919 do Colégio Diocesano Cardeal Arcoverde, transformado em Seminário e Colégio Diocesano no ano de 1929 mudando-se do sobrado ao lado da Câmara para o palacete de Antônio Didier adquirido pela Diocese em 1928, onde na atualidade funciona a prefeitura de Pesqueira. Em segundo lugar por viabilizar a instalação em 1919 do Colégio Santa Dorotéia. Além de ter fundado em 1920 o semanário católico ERA NOVA.
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Chalés onde foi instalado o Colégio Santa Dorotéia em 12/04/1919. Foto do acervo de Marcelo Nascimento. |
Das instituições educacionais
concebidas por Dom José Lopes emanaram inúmeras vocações sacerdotais e
religiosas, tendo realizado várias ordenações para o fortalecimento da igreja e
da fé na região, grandes frutos espirituais do seu episcopado que chegou ao fim
após o seu falecimento no seu Palácio Episcopal em 23 de
novembro de 1932, sendo sepultado na Catedral de Santa Águeda.
Placa mostrando que a homenagem foi feita a D. José Lopes ainda em vida.
Com uma vida marcada pelo compromisso com a educação religiosa e cidadã, a oratória e a promoção da fé católica. Dom José Lopes foi homenageado pelo governo municipal ainda em vida passando a denominar a praça onde se ergue a Catedral de Santa Águeda e, por conseguinte, o logradouro mais importante da cidade, isso ocorreu em 19 de setembro de 1926. Com o advento da Revolução de 1930 ficou proibido nominar espaço público com nomes de pessoas vivas. Assim, foi retirado o nome de D. José Lopes da praça, voltando a denominação após sua morte, conforme notícia do Correio de Pesqueira (03/12/1932, p. 4) citado por CAVALCANTI (2005, p. 128).
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Fotografia de 1909. Acervo José Florêncio Neto. |
O Largo da Matriz desde o início da povoação teve
algumas denominações primitivas: Rua Grande e Rua do Comércio. Em fins do
regime monárquico a Câmara Municipal deu à principal artéria da cidade o nome
de Praça Buarque de Macedo, nomenclatura que permaneceu por mais de 40
anos, levando em consideração que foi dada após a morte deste em 1881 e assim
seguiu até 1926 e voltando de 1930 a 1932.
O engenheiro e político Manuel Buarque de Macedo
(Recife/PE, 1º/03/1837 — São João del-Rei/MG, 29/08/1881) quando estava como Ministro
da Agricultura e Secretário de Estado dos Negócios da Agricultura, Comércio e
Obras Públicas (1880) teve papel fundamental para que Pesqueira fosse incluída
no traçado da Ferrovia Central de Pernambuco. Todavia, não foi relegado ao
esquecimento após deixar de nomear a praça, em 1938 a Câmara Municipal deu a
antiga Rua Nova o nome de Rua Buarque de Macedo, ligando a Avenida Maria de
Brito a Praça Jurandir de Brito.
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Antiga Praça Buarque de Macedo provavelmente na década de 1920. |
Pois bem, até a década de 1930, mesmo
constituindo-se no principal logradouro do centro urbano de Pesqueira a Praça
Dom José Lopes - local da feira, do comércio e das festas - não teve
melhoramentos significativos que de fato a fizessem uma praça urbanizada e com
ajardinamento.
Isso mudaria na administração do prefeito João
Arruda Marinho dos Santos (1939/1946). Em telegrama enviado ao Interventor
Federal de Pernambuco publicado no Diário da Manhã em 03/07/1940 o prefeito
comunica o início das obras de calçamento da Praça Dom José Lopes numa extensão
2.760 metros quadrados. Em outubro de 1940 já haviam sido construídos 1892
metros quadrados de calçamento entre a Praça Marquês do Herval (Getúlio Vargas)
e a Praça Dom José Lopes, incluindo a construção de galerias para escoamento
das águas pluviais. Quanto aos jardins foram iniciados em dezembro de 1940.
Depois de pouco mais de um ano do início as obras
ficaram prontas ao custo total de 59.752$004 (cinquenta e nove contos,
setecentos e cinquenta e dois mil e quatro réis) e a inauguração teve lugar na
manhã do dia 09 de setembro de 1941 com a presença de autoridades civis,
militares e da igreja, entre as quais estavam: Agamenon Magalhães - Interventor
Federal de Pernambuco; General Mascarenhas de Morais - comandante da 7.ª Região
Militar; Gercino Pontes - Secretário de Viação e Obras; Arruda Marinho -
Prefeito; D. Adalberto Sobral - Bispo de Pesqueira; Cônego Manoel Marques -
vigário da Catedral; Dr. João Augusto Farias - Juiz de Direito da Comarca; e o
Dr. Lídio Paraíba - Diretor do Hospital Regional de Pesqueira - inaugurado
nesta mesma data.
O interventor e sua comitiva vinham de Serra
Talhada, onde no dia anterior haviam inaugurado o Hospital Regional e o Campo
de Aviação. Chegaram de trem na estação do povoado de Ipanema por volta das
9h45 onde foram recebidos pelo prefeito e demais autoridades municipais.
Agamenon Magalhães chegando a solenidade de
inauguração do jardim e do calçamento da Praça Dom José Lopes, pôde presenciar
um lindo momento, onde alunos do Grupo Escolar Rui Barbosa, Escola Maria de
Brito e de outras escolas estaduais, municipais e particulares circundavam a
praça portando bandeiras do Brasil as quais acenavam dando um ar cívico e patriótico
a solenidade. Também ali estavam à tropa de escoteiros Pio XI, do Colégio Santa
Dorotéia, do Colégio Cristo Rei, do Seminário São José, além da banda de
música 11 de Setembro, representantes do Círculo Operário Católico e do povo em
geral.
Na oportunidade, usou da palavra o prefeito Arruda
Marinho que fez o discurso de saudação ao interventor federal Agamenon
Magalhães, que também fez as suas colocações e deu por inaugurada a Praça Dom
José Lopes.
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Inauguração da Praça Dom José Lopes. |
A foto que temos e que eternizou este momento
inaugural mostra uma praça belíssima com jardins floridos, alamedas
pavimentadas com pedras, a calçada de piso quadriculado e colorido, as colunatas
decorativas nas laterais, o coreto ao centro, os dois tanques espelho d’água,
os bancos de concreto sem o encosto e o posteamento com luminárias
clássicas.
A
praça era o novo que surgia sem destoar da paisagem do centro histórico de
Pesqueira, pelo contrário, tornou-se um adorno ao lindo casario antigo e a
Catedral de Santa Águeda, cujo primeiro a sentar na Cátedra foi o seu patrono
Dom José Lopes. Assim, complementando algo que já era bonito e passou a ser
exuberante à altura da cidade e do homenageado.
Numa
outra fotografia de 1957 é possível observar a manutenção da estrutura
original, tendo como mudanças a maturidade da vegetação: árvores e arbustos
estão mais desenvolvidos, conferindo mais sombra e um aspecto mais verde ao
espaço. Nota-se também que algumas pessoas estão sentadas em bancos e outras
caminhando tranquilamente, algo corriqueiro e cotidiano nas praças públicas,
símbolos de lazer e convivência da população.
E por fim, uma fotografia diferente das duas anteriores por ter sido tirada de outro ângulo revelando uma visão mais lateral da praça, com destaque para a imponente fachada da Catedral de Santa Águeda. No centro da foto em frente à casa de Nelson Avelar temos um Fusca, cuja fabricação começou no Brasil em 1959. No canto esquerdo da foto defronte à farmácia de José Cristóvão tem um Aero Willys lançado no Brasil em 1960. Como a data infere-se pelo veículo mais novo, então, podemos concluir que a foto é do início da década de 1960.
Nessa
época ainda é possível ver a Praça Dom José Lopes com as mesmas características
da sua inauguração 20 anos antes com seus lindos canteiros floridos, as
palmeiras imperiais, as árvores que proporcionam sombra, os postes com
luminárias brancas, a tradicional calçada quadriculada e os famosos carros de praça
modelos Ford Mercury e Chevrolet Fleetline da década de 1950. As fachadas
comerciais antigas e o traçado das ruas de paralelepípedo preservavam o charme
arquitetônico do centro histórico da cidade.
Em
síntese, a Praça Dom José Lopes, mais do que um espaço urbano de convivência, é
um símbolo vivo da gratidão de Pesqueira a um de seus maiores benfeitores. Ao
unir fé, cultura e memória, este local perpetua o legado do eminente bispo que
tanto se dedicou ao desenvolvimento espiritual e social da cidade. Dom José
Lopes não apenas guiou o rebanho com sabedoria e firmeza, mas também deixou
marcas concretas e indeléveis na paisagem e no coração do povo por promover a
fé e a educação, luzes que iluminam a vida do homem.
Por Fábio Menino de Oliveira
Atualizado em 16/06/2025.
Referências Bibliográficas
BENTO XV. BULA DE CRIAÇÃO DAS DIOCESES DE GARANHUNS, NAZARÉ E PESQUEIRA. 1918. Disponível em: <https://www.diocesegaranhuns.org/institucional/historia>. Acesso em: 14 jun. 2025.
CAVALCANTI, Bartolomeu. No tacho, o ponto desandou: história de Pesqueira, de 1930 a 1950. Dissertação (Mestrado em História) – Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2005.
DIÁRIO DA MANHÃ - edições de 03/07/1940; e 13/09/1941.
DIÁRIO DE PERNAMBUCO - edição de 09/09/1941.
DIÁRIO OFICIAL DO ESTADO - edições de 24/10/1940; 10/12/1940; e 08/11/1941.
MACIEL, José de Almeida. Ruas de Pesqueira. Apresentação de Gilvan de Almeida Maciel. Recife, CEHM, 1987.
WILSON, Luís. Ararobá, Lendária e Eterna. CEPE/Pref. de Pesqueira. Recife: 1980.
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