sábado, 14 de junho de 2025

O BISPO E A PRAÇA: HOMENAGEM A D. JOSÉ LOPES

D. José Antônio de Oliveira Lopes, natural da Freguesia de São José do Recife, nascido em 21 de novembro de 1868, filho do português Marcelino Ausberto Lopes e de Francelina da Conceição de Oliveira Lopes. Foi solenemente batizado na Igreja Matriz de São José em 11 de abril de 1869. 

O futuro bispo da Diocese de Pesqueira iniciou sua formação religiosa no Seminário de Olinda, em 23 de fevereiro de 1882. Em 25 de março de 1884, transferiu-se para o Colégio Pio Latino-Americano, em Roma, onde foi ordenado sacerdote em 16 de abril de 1892 pelo cardeal Lúcio Maria Parochi, vigário do Papa Leão XIII. Celebrou sua primeira missa na capela do próprio colégio em 17 de abril de 1892 e, ao retornar ao Brasil, iniciou sua atuação pastoral como coadjutor da paróquia de São José, no Recife, sendo logo transferido para a freguesia de Goiana, onde ganhou o apreço dos paroquianos.

Exerceu funções relevantes no Colégio de São José, no Seminário de Olinda (como lente de Direito Canônico e reitor), e na Paróquia da Boa Vista, onde se destacou como orador sacro e incentivador da fé, implantando importantes melhorias, como a criação da Escola Paroquial. Recebeu diversos títulos e honrarias eclesiásticas ao longo da carreira, incluindo o de cônego efetivo, camareiro ad honorem de Sua Santidade, prelado doméstico e protonotário apostólico. 

Em 26 de junho de 1915, como reconhecimento a sua trajetória exemplar, o Papa Bento XV designou o Monsenhor José de Oliveira Lopes para substituir o primeiro bispo da Diocese de Floresta, erigida em 5 de dezembro de 1910, Dom Augusto Álvaro da Silva, que fora transferido para Barra do Rio Grande, na Bahia e que posteriormente seria Arcebispo da Bahia e Primaz do Brasil.

Dom José Lopes recebeu a sagração episcopal em 21 de novembro de 1916, na Igreja Matriz da Boa Vista, sendo celebrante o arcebispo Dom Luís Raimundo da Silva Brito, com Dom João Irineu Joffily, bispo coadjutor de Recife, e Dom Manuel Antônio de Oliveira Lopes, da Diocese de Alagoas. Tomou posse de sua diocese em 13 de dezembro de 1916.

Em 2 de agosto de 1918, através da Bula Archidiocesis Olindensis et Recifensis, o Papa Bento XV cria as dioceses de Garanhuns, Nazaré da Mata e Pesqueira, assim como altera o nome da Arquidiocese de Olinda que passa a ser chamada Arquidiocese de Olinda e Recife. Vale salientar a iniciativa do então Arcebispo de Olinda Dom Sebastião Leme Silveira Cintra quando enviou ao Sr Núncio Apostólico no Brasil – Dom Jacinto Ângelo Scapardini, o processo para criação das três dioceses em Pernambuco, tendo como motivo o vasto território arquidiocesano e que a criação da Diocese de Floresta não havia sido suficiente, pois havia cerca de 2 milhões e 400 mil fiéis governados por um único bispo, no caso Dom José Lopes.

A Bula Archidiocesis Olindensis et Recifensis transferiu a sede episcopal da Diocese de Floresta para Pesqueira apresentando como justificativa de Dom Sebastião Leme o seguinte: 

“[...] pediu que a Diocese de Floresta, constituída na extrema parte ocidental, fosse trazida e estendida para o oriente, na direção da cidade de Pesqueira, que, quer pelo número de habitantes, quer pela facilidade de estradas, quer pelo comércio, se tornou, no presente, de longe, mais importante que a cidade de Floresta, e, por isto, se torne não só sede do Bispo, mas também cidade episcopal. Todas estas coisas foram diligentemente avaliadas pela Sagrada Congregação Consistorial. Os desejos do supracitado Arcebispo foram considerados dignos de serem ouvidos; além disso, também houve o consenso do Venerável Irmão, o atual Bispo de Floresta[...]” (BULA DE CRIAÇÃO DAS DIOCESES DE GARANHUNS, NAZARÉ E PESQUEIRA, 1918).

De acordo com a citação acima, temos os motivos da transferência da Sede e da Cátedra episcopais da cidade de Floresta para Pesqueira, ou seja, número de habitantes, o acesso das estradas e o comércio que a faziam uma cidade mais importante para abrigar a Diocese que passou a chamar-se pelo nome principal da cidade, assim foi constituída a Diocese de Pesqueira com a instituição da Igreja Matriz de Santa Águeda como Catedral, ampliando seus limites com a incorporação de cinco paróquias Belo Jardim, Brejo da Madre de Deus, Buíque, Pedra e Cimbres - considerada a primeira do sertão pernambucano. 

Segundo Luís Wilson (1980, p.419) a chegada de Dom José Lopes a Pesqueira ocorreu no sábado, 25 de janeiro de 1919, vindo “em um carro especial atrelado a uma composição de nossa antiga Great Western, que tomara em Arcoverde (naquela época – Rio Branco)”. Na Estação de Pesqueira foi recebido pelo Revmo. Vigário Pe. Frutuoso Maria Rolim de Albuquerque, vigários de Cimbres, Buíque, Serra Talhada e Floresta, religiosos franciscanos e por autoridades civis e militares, além de um bom número de pessoas. Coube ao professor Desidério Alves Valença, a honra do discurso de saudação ao Bispo em nome do povo católico da Diocese. Dom José Lopes, em seguida, se dirigiu à secular Igrejinha de Nossa Senhora Mãe dos Homens.

A sua entrada solene na Catedral de Santa Águeda ocorreu às 8 horas da manhã de domingo (26/01) onde vestido com seus hábitos pontificais saiu da Igreja Mãe dos Homens e adentrou a nova sede da Diocese ao som do solene canto do “Te Deum”.

Dom José Lopes que foi o segundo bispo da Diocese de Floresta mudou-se para Pesqueira a nova sede da Diocese, tendo permanecido à frente do território diocesano por quase quatorze anos, realizando uma administração profícua pelas contribuições materiais e espirituais. 

Fotografia do livro Ararobá, Lendária e Eterna.

Do ponto de vista material entre as suas realizações podemos citar: a transformação dos dois antigos sobrados ao lado da Capela de Nossa Senhora Mãe dos Homens em Palácio Episcopal, reformou a referida capela construída em 1822, construiu a igreja de São Sebastião, além de promover reformas e construções de igrejas e capelas na Diocese.

Seminário e Colégio Diocesano instalado por D. José Lopes em 1929,
conforme inscrição na fachada. Foto: Blog do Ibá Mendes.

                                      

Foi o bispo da promoção humana, da educação e das vocações. Deu luz ao saber, primeiro com a fundação em 1919 do Colégio Diocesano Cardeal Arcoverde, transformado em Seminário e Colégio Diocesano no ano de 1929 mudando-se do sobrado ao lado da Câmara para o palacete de Antônio Didier  adquirido pela Diocese em 1928, onde na atualidade funciona a prefeitura de Pesqueira. Em segundo lugar por viabilizar a instalação em 1919 do Colégio Santa Dorotéia. Além de ter fundado em 1920 o semanário católico ERA NOVA.

Chalés onde foi instalado o Colégio Santa Dorotéia em 12/04/1919.
Foto do acervo de Marcelo Nascimento.

Das instituições educacionais concebidas por Dom José Lopes emanaram inúmeras vocações sacerdotais e religiosas, tendo realizado várias ordenações para o fortalecimento da igreja e da fé na região, grandes frutos espirituais do seu episcopado que chegou ao fim após o seu falecimento no seu Palácio Episcopal em 23 de novembro de 1932, sendo sepultado na Catedral de Santa Águeda.

Placa mostrando que a homenagem foi feita a D. José Lopes ainda em vida.

Com uma vida marcada pelo compromisso com a educação religiosa e cidadã, a oratória e a promoção da fé católica. Dom José Lopes foi homenageado pelo governo municipal ainda em vida passando a denominar a praça onde se ergue a Catedral de Santa Águeda e, por conseguinte, o logradouro mais importante da cidade, isso ocorreu em 19 de setembro de 1926. Com o advento da Revolução de 1930 ficou proibido nominar espaço público com nomes de pessoas vivas. Assim, foi retirado o nome de D. José Lopes da praça, voltando a denominação após sua morte, conforme notícia do Correio de Pesqueira (03/12/1932, p. 4) citado por CAVALCANTI (2005, p. 128).

Fotografia de 1909. Acervo José Florêncio Neto.

O Largo da Matriz desde o início da povoação teve algumas denominações primitivas: Rua Grande e Rua do Comércio. Em fins do regime monárquico a Câmara Municipal deu à principal artéria da cidade o nome de Praça Buarque de Macedo, nomenclatura que permaneceu por mais de 40 anos, levando em consideração que foi dada após a morte deste em 1881 e assim seguiu até 1926 e voltando de 1930 a 1932. 

O engenheiro e político Manuel Buarque de Macedo (Recife/PE, 1º/03/1837 — São João del-Rei/MG, 29/08/1881) quando estava como Ministro da Agricultura e Secretário de Estado dos Negócios da Agricultura, Comércio e Obras Públicas (1880) teve papel fundamental para que Pesqueira fosse incluída no traçado da Ferrovia Central de Pernambuco. Todavia, não foi relegado ao esquecimento após deixar de nomear a praça, em 1938 a Câmara Municipal deu a antiga Rua Nova o nome de Rua Buarque de Macedo, ligando a Avenida Maria de Brito a Praça Jurandir de Brito.

Antiga Praça Buarque de Macedo provavelmente na década de 1920. 

Pois bem, até a década de 1930, mesmo constituindo-se no principal logradouro do centro urbano de Pesqueira a Praça Dom José Lopes - local da feira, do comércio e das festas - não teve melhoramentos significativos que de fato a fizessem uma praça urbanizada e com ajardinamento. 

Isso mudaria na administração do prefeito João Arruda Marinho dos Santos (1939/1946). Em telegrama enviado ao Interventor Federal de Pernambuco publicado no Diário da Manhã em 03/07/1940 o prefeito comunica o início das obras de calçamento da Praça Dom José Lopes numa extensão 2.760 metros quadrados. Em outubro de 1940 já haviam sido construídos 1892 metros quadrados de calçamento entre a Praça Marquês do Herval (Getúlio Vargas) e a Praça Dom José Lopes, incluindo a construção de galerias para escoamento das águas pluviais. Quanto aos jardins foram iniciados em dezembro de 1940.

Depois de pouco mais de um ano do início as obras ficaram prontas ao custo total de 59.752$004 (cinquenta e nove contos, setecentos e cinquenta e dois mil e quatro réis) e a inauguração teve lugar na manhã do dia 09 de setembro de 1941 com a presença de autoridades civis, militares e da igreja, entre as quais estavam: Agamenon Magalhães - Interventor Federal de Pernambuco; General Mascarenhas de Morais - comandante da 7.ª Região Militar; Gercino Pontes - Secretário de Viação e Obras; Arruda Marinho - Prefeito; D. Adalberto Sobral - Bispo de Pesqueira; Cônego Manoel Marques - vigário da Catedral; Dr. João Augusto Farias - Juiz de Direito da Comarca; e o Dr. Lídio Paraíba - Diretor do Hospital Regional de Pesqueira - inaugurado nesta mesma data.

O interventor e sua comitiva vinham de Serra Talhada, onde no dia anterior haviam inaugurado o Hospital Regional e o Campo de Aviação. Chegaram de trem na estação do povoado de Ipanema por volta das 9h45 onde foram recebidos pelo prefeito e demais autoridades municipais.

Agamenon Magalhães chegando a solenidade de inauguração do jardim e do calçamento da Praça Dom José Lopes, pôde presenciar um lindo momento, onde alunos do Grupo Escolar Rui Barbosa, Escola Maria de Brito e de outras escolas estaduais, municipais e particulares circundavam a praça portando bandeiras do Brasil as quais acenavam dando um ar cívico e patriótico a solenidade. Também ali estavam à tropa de escoteiros Pio XI, do Colégio Santa Dorotéia, do Colégio Cristo Rei, do Seminário São José, além  da banda de música 11 de Setembro, representantes do Círculo Operário Católico e do povo em geral.

Na oportunidade, usou da palavra o prefeito Arruda Marinho que fez o discurso de saudação ao interventor federal Agamenon Magalhães, que também fez as suas colocações e deu por inaugurada a Praça Dom José Lopes. 

Inauguração da Praça Dom José Lopes.

A foto que temos e que eternizou este momento inaugural mostra uma praça belíssima com jardins floridos, alamedas pavimentadas com pedras, a calçada de piso quadriculado e colorido, as colunatas decorativas nas laterais, o coreto ao centro, os dois tanques espelho d’água, os bancos de concreto sem o encosto e o posteamento com luminárias clássicas. 

            A praça era o novo que surgia sem destoar da paisagem do centro histórico de Pesqueira, pelo contrário, tornou-se um adorno ao lindo casario antigo e a Catedral de Santa Águeda, cujo primeiro a sentar na Cátedra foi o seu patrono Dom José Lopes. Assim, complementando algo que já era bonito e passou a ser exuberante à altura da cidade e do homenageado.


            Numa outra fotografia de 1957 é possível observar a manutenção da estrutura original, tendo como mudanças a maturidade da vegetação: árvores e arbustos estão mais desenvolvidos, conferindo mais sombra e um aspecto mais verde ao espaço. Nota-se também que algumas pessoas estão sentadas em bancos e outras caminhando tranquilamente, algo corriqueiro e cotidiano nas praças públicas, símbolos de lazer e convivência da população.

            E por fim, uma fotografia diferente das duas anteriores por ter sido tirada de outro ângulo revelando uma visão mais lateral da praça, com destaque para a imponente fachada da Catedral de Santa Águeda. No centro da foto em frente à casa de Nelson Avelar temos um Fusca, cuja fabricação começou no Brasil em 1959. No canto esquerdo da foto defronte à farmácia de José Cristóvão tem um Aero Willys lançado no Brasil em 1960. Como a data infere-se pelo veículo mais novo, então, podemos concluir que a foto é do início da década de 1960. 

            Nessa época ainda é possível ver a Praça Dom José Lopes com as mesmas características da sua inauguração 20 anos antes com seus lindos canteiros floridos, as palmeiras imperiais, as árvores que proporcionam sombra, os postes com luminárias brancas, a tradicional calçada quadriculada e os famosos carros de praça modelos Ford Mercury e Chevrolet Fleetline da década de 1950. As fachadas comerciais antigas e o traçado das ruas de paralelepípedo preservavam o charme arquitetônico do centro histórico da cidade.

            Em síntese, a Praça Dom José Lopes, mais do que um espaço urbano de convivência, é um símbolo vivo da gratidão de Pesqueira a um de seus maiores benfeitores. Ao unir fé, cultura e memória, este local perpetua o legado do eminente bispo que tanto se dedicou ao desenvolvimento espiritual e social da cidade. Dom José Lopes não apenas guiou o rebanho com sabedoria e firmeza, mas também deixou marcas concretas e indeléveis na paisagem e no coração do povo por promover a fé e a educação, luzes que iluminam a vida do homem. 

Por Fábio Menino de Oliveira

Atualizado em 16/06/2025.

Referências Bibliográficas         

BENTO XV. BULA DE CRIAÇÃO DAS DIOCESES DE GARANHUNS, NAZARÉ E PESQUEIRA. 1918. Disponível em: <https://www.diocesegaranhuns.org/institucional/historia>. Acesso em: 14 jun. 2025.

CAVALCANTI, Bartolomeu. No tacho, o ponto desandou: história de Pesqueira, de 1930 a 1950. Dissertação (Mestrado em História) – Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2005.

DIÁRIO DA MANHÃ - edições de 03/07/1940; e 13/09/1941.

DIÁRIO DE PERNAMBUCO - edição de 09/09/1941.

DIÁRIO OFICIAL DO ESTADO - edições de 24/10/1940; 10/12/1940; e 08/11/1941.

MACIEL, José de Almeida. Ruas de Pesqueira. Apresentação de Gilvan de Almeida Maciel. Recife, CEHM, 1987.

WILSON, Luís. Ararobá, Lendária e Eterna. CEPE/Pref. de Pesqueira. Recife: 1980.

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