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Logomarca do Banco do Povo. |
O Banco do Povo foi fundado no Recife em 27 de
Abril de 1920 na sede da Associação Comercial de Pernambuco, por iniciativa de
próceres elementos comerciais pernambucanos, entre os quais podemos citar:
Alfredo Álvares de Carvalho, Bernardino Ferreira da Costa, Joaquim Franco
Ferreira Lopes, dr. Manuel Gonçalves da Silva Pinto, José Pessoa de Queiroz,
Claudino Coelho Leal, Augusto José Martins, José Antônio dos Santos, Carlos
Perl de Lemos, José Ferreira Dourado, Manuel Ferreira Leite, Iderito Gomes de
Araújo Marcelino da Silva Pereira, José Ramos de Oliveira e outros.
A sua primeira sede localizava-se na Rua 1º de Março, nº 73, Santo Antônio - Recife. Em 21 de Dezembro de 1936, o Banco do Povo inaugurou o seu novo edifício na Rua do Imperador D. Pedro II, n° 494, no mesmo bairro.
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Jornal Pequeno, 21/09/1936. |
Neste mesmo ano foi inaugurado em Pesqueira o escritório do Banco do Povo, o primeiro
aberto no interior pernambucano. O ato aconteceu às 16h30 do sábado 19 de
setembro de 1936 e contou com a presença do prefeito Dorgival de Oliveira Galindo,
autoridades do município, além de funcionários da matriz do Recife, dentre elas
Arthur Pinto de Lemos, gerente do Banco do Povo e um dos responsáveis pela
instalação de escritórios no interior.
Pouco após a inauguração do
escritório de Pesqueira e para dar prosseguimento ao plano de expansão do Banco
entraram em funcionamento as sucursais de Bezerros e Alagoa de Baixo (Sertânia)
nos dias 28 e 29 de novembro de 1936, respectivamente.
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Primeira sede do escritório do Banco do Povo em 1943. |
O escritório bancário de Pesqueira
funcionava na Praça Marquês do Herval - atual Praça Getúlio Vargas - ao lado do
antigo Pesqueira Hotel. Vale salientar que o prédio teve três versões: a
primitiva inaugurada em 1936, a segunda de 1953 com o segundo piso e a terceira
da década de 1970 onde o prédio foi alargado ocupando o espaço onde havia sido
demolida a casa e o bar de Osório Conrado.
Provavelmente em 1947 o escritório
mudou de local, sendo que ainda permaneceu na Praça Marquês do Herval, uma vez
que havia a previsão da construção de um novo prédio, inclusive com a demolição
da casa do lado pertencente a Osório Conrado que tinha sido adquirida pelo
Banco para tal fim, no entanto, a demolição só ocorreria na década de 1970.
Todavia, a construção do prédio
demorou. Luiz Neves em artigo intitulado “Um apelo à direção do Banco do
povo” faz duras críticas dizendo que a casa bancária estava
“[...] instalada num quartinho acanhado da praça Marquês do Herval. Há
quase três anos, ou talvez mais, o escritório daquela agência mudou-se do
prédio primitivo, que é vizinho ao ‘Pesqueira-Hotel’, para o quartinho aludido.
Isto foi feito com a promessa de que ‘por aqueles dias’ seria iniciada a
construção do prédio onde seria instalada definitivamente a filial do Banco o
que para essa finalidade fora indenizada uma casa que iria ser demolida,
resultando daí a mudança do escritório. Porém já são passados quase três anos e
até a presente data não foi iniciada a tão esperada construção.”
E concluiu destacando a
importância de Pesqueira com suas fábricas, o comércio e a pecuária que
anualmente arrecadavam em torno de Cr$ 300.000.000.00 (trezentos milhões de
cruzeiros), demonstrando uma cidade rica e progressista que não podia ter
apenas um escritório bancário funcionando num “quartinho” apenas para depósitos
e sem possibilidade de fazer empréstimos dificultando o desenvolvimento dos
empreendimentos comerciais do município.
As reiteradas cobranças divulgadas
por Luiz Neves deram resultado. Em agosto de 1952, o Dr. José Soares de Avelar,
gerente da matriz em Recife, o sr. Antônio Holanda, gerente do escritório de
Pesqueira e o engenheiro Antônio Jucá, sócio da firma construtora Figueira
& Jucá - encarregada da construção do majestoso edifício da futura agência
- visitaram o aludido correspondente do Diário de Pernambuco em Pesqueira para
prestarem esclarecimentos à respeito do planejamento para início da obra, cuja
previsão seria de iniciar em alguns dias.
Na ocasião, o Dr. José Soares de
Avelar, mostrou a Luiz Neves o memorando no qual provava o encaminhamento pelos
diretores do Banco do pedido de licença para funcionamento da nova Agência,
formulado à Superintendência da Casa da Moeda, no Ministério da Fazenda,
protocolado sob o n⁰ 700/52 e que havia a previsão de apreciação pela Comissão
Competente no dia 15 de setembro de 1952.
Durante esse processo de
construção da nova sede, ocorreu a mudança de categoria da primeira casa
bancária pesqueirense. Fundada como escritório vinculado à Matriz em Recife no
ano de 1936, assim permaneceu até 4 de agosto de 1953 quando passou a ser
Agência. Neste dia, esteve presente Eduardo Menezes, Inspetor Geral do Banco do
Povo. Nas palavras de Luiz Neves: “Ao ato compareceram altas autoridades da
vida administrativa, política e social de nossa terra, que apuseram as suas
assinaturas no livro de ata que registrou o acontecimento” (DP 12/08/1953).
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À esquerda vemos segunda versão do prédio do Banco do Povo inaugurada em 1953 com o segundo piso ao lado do Pesqueira Hotel em fotografia da década de 1960. |
Após um ano do início das obras, o
novo prédio da agência do Banco do Povo de Pesqueira foi inaugurado no sábado
22 de agosto de 1953. Com a presença de autoridades e de funcionários do Banco,
a saber:
Banco do Povo: Comendador Antônio
Martins do Eirado, representando a Diretoria, Dr. Renato Pires Ferreira,
gerente da Matriz, Eduardo Menezes, inspetor geral, Sátiro Tácito Guimarães,
inspetor, José Domingos Vaz Curado, contador da matriz, José Augusto de Paula
Filho, suplente da diretoria, Antônio Fazzis Sobrinho, membro do Conselho
Fiscal, Gercino Tabosa, gerente da agência de Caruaru, Abílio Clementino
Pimenta e Hélio Amazonas de Oliveira, o primeiro gerente e o primeiro contador
da agência de Pesqueira, respectivamente.
Autoridades: Laércio Vilela
Valença, prefeito de Pesqueira, Ésio Araújo, ex-prefeito de Pesqueira, Padre
Manuel Oliveira, vigário e representante do sr. Bispo Diocesano D. Adelmo
Machado, Pedro de Sousa, deputado estadual, Otacílio Morais, prefeito de
Arcoverde e Abel Viana, prefeito de Caruaru.
Imprensa: jornalista Luiz Torres,
gerente da Rádio Difusora de Caruaru, jornalista Azael Leitão, do Jornal do
Agreste, o jornalista Eugênio Chacon, do jornal A Voz de Pesqueira, o
jornalista Paulo de Oliveira do jornal A Folha de Pesqueira e o jornalista Luiz
Neves, correspondente do Diário de Pernambuco.
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Comendador Antônio Martins do Eirado discursando na abertura da solenidade de inauguração da agência de Pesqueira. Jornal Pequeno, 28/08/1953. |
O ato inaugural teve início às 10h
com a bênção das instalações pelo vigário local padre Manuel Oliveira. A seguir
o Comendador Antônio Martins do Eirado, como Secretário do Banco do Povo fez o
discurso de abertura da nova agência bancária, o qual transcrevemos na íntegra
pela sua importância no entendimento dos motivos da ampliação do Banco e do
contexto de desenvolvimento econômico vivenciado à época por Pesqueira.
“Meus senhores:
O BANCO DO POVO já radicado em Pesqueira vai aqui continuar com uma
agência, mais à altura do progresso da região e do conceito do Município.
Inaugurando o prédio desta agência soleniza a inauguração desta, tentando dizer
na palavra sobre os sentimentos ricos da diretoria do Banco, sua
Superintendência, Gerência, funcionários e corpo de acionistas - teia que faz a
cobertura do trabaino da instituição de crédito - todos eles erguendo se, para
um brinde a Pesqueira.
Pesqueira é a primaz do trabalho em Pernambuco. Aqui a Indústria tem uma
catedral. Floreja ao seu lado o Comércio intenso. Uma mitra, elevando-a à
Diocese, completou a maior importância do Município, nesses rincões de
Pernambuco. Aqui nasceu um exemplo. Das energias de uma matrona surgiu uma
indústria, que se tornou famosa no mundo inteiro. Como que uma raça nova veio
se caldear em nossa raça Três firmas passaram a representar Pesqueira, em todas
as manifestações do Trabalho: Brito, Didier e Rocha. Três marcas constituíam as
siglas daquelas: "Peixe", "Rosa" e "Tigre".
Depois eram os Araújos e quejandos indo com aqueles, pelo Brasil afora,
afirmando o valor de suas origens. O homem aqui parece tocado por uma centelha
divina. Armava-se cavalheiro para as grandes lutas da vida onde triunfa e se
exalta. Ele não é só de um Município, é o contagiado de uma região. Como que as
forças telúricas manifestadas na serra de Ororubá projetam a êle. Pugnaz na
luta, indomável nos combates da fortuna, tem, porém, a docilidade do crente
servindo com sinceridade ao seu Deus e a sua Fé. Balsama-se a sua alma do
cheiro capitoso da goiaba tão suculenta nos seus campos; ou se unia tôda do
doce famoso que no País e no estrangeiro tem as glórias de uma celebridade
regional; ou, ainda, do suco vitaminado do tomate haure a energia que, aos
antigos deuses, vinda do Céu, no "Maná" da lenda.
Namorado destas qualidades que realçam o homem e o povo desta região, já
aqui está o BANCO DO POVO, inegavelmente a maior organização de crédito do Norte
e Nordeste brasileiros, que não mede sacrifício nem sopesa esforços para
auxiliar e colaborar com a Indústria, o Comércio, a Agricultura, a Pecuária e
demais atividades do trabalho humano, onde quer que surjam promissoras; já aqui
está e aqui fica. Entre os bueiros de tantas Fábricas, entre as forjas de
tantas oficinas os produtos de suas prensas, o resultado do labor dos campos e
criadouros, surge esta Agência, colaboradora e amiga, unindo a sua sorte à
sorte de Pesqueira que é a de vencer, pela prosperidade de Pernambuco e
grandeza do Brasil".
Após o belíssimo discurso, o
comendador convidou o prefeito Laércio Valença para o gesto simbólico de dar o
prédio por inaugurado o que foi feito pelo edil pesqueirense proferindo algumas
palavras agradecendo a diretoria do Banco do Povo pela inauguração da agência e
o quanto ela será importante para o desenvolvimento do município. Na
oportunidade também usaram da palavra o deputado Pedro de Sousa, Eugênio
Chacon, pela Associação Comercial de Pesqueira e o jornalista Paulo de
Oliveira, pela imprensa, entre outros oradores.
O encerramento da solenidade não
significou o término das comemorações festivas. A programação continuou da
forma seguinte: às 17 horas foi oferecido pela administração do Banco do Povo
um coquetel na sede do Clube dos 50 para os presentes ao evento inaugural da
agência; às 19 horas, ocorreu no Cinema Moderno uma sessão cinematográfica
exibindo uma película documentária das atividades do Banco do Povo em todo o
Nordeste; e às 20 horas, a sociedade pesqueirense ofereceu aos diretores,
administradores e funcionários do Banco, um jantar dançante no Clube dos 50.
No domingo dia 23 de agosto
ocorreram jogos de futebol e voleibol entre o Centro Esportivo do Banco do
Povo, formado por funcionários que vieram em caravana do Recife. A partida de
voleibol foi disputada pela manhã com a equipe local do Caxias e foi vencida
por 2 a 0.
À tarde, foi realizada uma partida
de futebol, com um combinado pesqueirense, tendo o Centro Esportivo entrado em
campo com a seguinte escalação: Azulão, Djalma e Paulinho; Mergulhão, Diogo e
Renato; Wanderley (depois Hugo), Mituca, Expedito, Everaldo e Loureiro. Tendo a
equipe do Banco do Povo vencido por 4 a 0, com gols de Mituca, Expedito e
Everaldo (2). Ao final das partidas festivas a equipe do Centro Esportivo do
Banco do Povo conquistaram uma linda taça comemorativa, oferecida pelas Casas
José Araújo.
Em 1953 o Banco do Povo possuía
além da matriz do Recife as seguintes agências em Pernambuco: Pesqueira,
escritório inaugurado em 19/09/1936 e agência a partir de 04/08/1953; Bezerros,
escritório inaugurado em 28/11/1936; Sertânia, escritório inaugurado em
29/11/1936; Garanhuns, escritório inaugurado em 03/04/1944 e agência a partir
de 27/04/1949; Nazaré da Mata, agência inaugurada em 1⁰/10/1949; Caruaru,
agência inaugurada em 1⁰/06/1949; e Arcoverde agência inaugurada em 1952.
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Logomarca do Banco da Bahia. |
O Banco do Povo foi comprado pelo
Banco da Bahia em 1967 tendo a incorporação sido concluída em outubro de 1968.
De acordo com reportagem do Diário de Pernambuco de 07/08/1968: “Com a
incorporação a ser realizada, ainda este ano do Banco do Povo, o Banco da Bahia
S/A somará NCr$ 302.248.296,28 em depósitos condição que lhe assegurará a
classificação entre os seis maiores estabelecimentos de crédito do País”.
Por meio da Instrução:
IDG-3/67 da Direção Geral do Banco da Bahia assinado pelo vice-presidente
Fernando M. de Góes datado de 07/11/1967 é determinado para as agências uma
nova sequência de prefixos numéricos, ficando a instituição bancária de Pesqueira
com o número 215. Tais mudanças se justificam pelo aumento da quantidade de
agências bancárias do Banco da Bahia com a incorporação do Banco do Povo.
O Banco da Bahia foi fundado em
Salvador em 1⁰ de julho de 1858 por iniciativa do Visconde de São Lourenço e o
Barão de Cotegipe, a partir de 1942 sob a presidência do banqueiro Clemente
Mariani Bittencourt tornou-se uma das principais instituições bancárias do país
até a década de 1970 quando em razão de disputas de mercado com o Banco
Econômico acabou enfrentando dificuldades sendo incorporado ao Banco Bradesco
em julho de 1973, quando este tornou-se acionista majoritário do Banco da
Bahia.
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Banco da Bahia, fotografia de 1968 ou 1969. |
De acordo com o memorando n⁰ 02/73
de 18/01/1973 do Banco da Bahia, consta a previsão de reforma da agência de
Pesqueira no segundo semestre de 1973, justamente no período de transição para
se tornar agência do Bradesco - o antigo CGC foi aberto em 05/12/1973. A obra
de reforma custou Cr$ 35.000,00 (trinta e cinco mil cruzeiros) e houve a
ampliação do prédio ocupando a antiga casa e bar pertencente a Osório Conrado
dando origem a versão atual do prédio.
Nesse sentido, de forma
cronológica a casa bancária da cidade funcionou em Pesqueira com três nomes:
Banco do Povo, de setembro de 1936 a outubro de 1968; Banco da Bahia, de
outubro de 1968 a dezembro de 1973; e Bradesco de dezembro de 1973 até a
atualidade.
Portanto, são quase 89 anos de
funcionamento da primeira instituição bancária de Pesqueira, que mudou de nome duas vezes,
teve três versões do seu prédio, mas que permanece no mesmo endereço na Praça
Getúlio Vargas, contribuindo para o desenvolvimento econômico da Princesa do
Agreste.
Por Fábio Menino de Oliveira
Referências Bibliográficas
ACERVO CLEMENTE MARIANI. Disponível em: Acervo Clemente Mariani - Banco da Bahia - DocReader Web . Acesso em 31/05/2025.
DIÁRIO DE PERNAMBUCO -
edições de 19/9/1936; 18/08/1950; 05/04/1952; 10/08/1952; e 29/08/1953.
JORNAL PEQUENO - edições de 21/9/1936; 27/4/1943; 27/8/1953; e 28/8/1953.
Artigo sensacional! O Bradesco, herdeira da história do Banco do Povo e do Banco da Bahia, tem uma história muito importante para a economia local, mas que estava escondida pela poeira do tempo. Parabéns ao amigo Fábio Menino pela brilhante pesquisa e divulgação.
ResponderExcluirObrigado meu nobre pela deferência, gostei da frase: "história escondida pela poeira do tempo". Uma missão nossa desempoeirar essas histórias da nossa terrinha.
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