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Praça Jurandir Brito de Freitas na década de 1970. Acervo Marcelo Nascimento. |
Praça da Liberdade
A
nomenclatura primitiva deste importante logradouro era Praça ou Pátio da
Liberdade, nome dado quando da formação do núcleo de casas e que não tinha
relação com a causa abolicionista de acordo com José de Almeida Maciel.
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Vista aérea de Pesqueira em 1913. Acervo Marcelo Nascimento. |
A construção de casas deve ter iniciado no início do século XX, pois ao analisarmos uma fotografia aérea de Pesqueira de 1913, é possível observar do lado direito um muro que seria das casas que ficavam defronte a antiga Rua 15 de Novembro - atual Dr. Lídio Paraíba - do lado esquerdo temos 2 casas e na frente mais outras 3 ou 4 edificações que pela baixa qualidade da imagem não dá para identificar com precisão.
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Praça 6 de Março em 1924. Foto Severiano Jatobá Neto |
A fotografia de 1924 de Severiano Jatobá
Neto corrobora essa informação na medida em que mostra 13 casas do lado
esquerdo sendo 6 chalés, e é sobre esse tipo de construção que faz-se mister
fazer algumas considerações que nos auxiliam a entender o processo de formação
da praça. Os chalés tornaram-se bastante comuns nas fazendas e sítios no final
do século XIX. Nos centros urbanos começaram a se tornar populares especialmente
nos anos 10 do século XX, assim foi em Recife e também em Pesqueira, por
pessoas que queriam dispor dessa arquitetura eclética com estilo afrancesado
não só nas fazendas, mas também na cidade.
Outro detalhe importante para inferirmos que
as casas da praça datam do inicio do século XX é que provavelmente ainda não
tivessem edificações do lado direito, pois a lente precisa de Severiano Jatobá Neto
- a quem devemos o conhecimento visual da Pesqueira da década de 1920 - não
abriu o ângulo da foto registrando apenas o lado esquerdo e a frente da então
Praça 6 de Março.
O nome Praça da Liberdade foi oficializado
pelo Conselho Municipal, através da Lei Municipal n⁰ 37 de 4 de janeiro de
1917. A referida lei sancionada pelo prefeito João Luiz Bezerra Cavalcanti teve
origem no projeto proposto por José de Almeida Maciel naquela que foi a primeira
iniciativa de organizar a cidade em perímetros central, urbano e suburbano
dividindo-a em bairros e nomeando ruas que tinham nomenclaturas estranhas a
exemplo de Rua da Tábua Lascada (Barão de Cimbres) e Rua do Capim (Deputado
Eliseu Elói) só para lembrar as mais conhecidas.
Vale salientar que foram a partir das
proposições de José de Almeida Maciel que mais de 70 logradouros pesqueirenses ganharam
nomes de pessoas com relevantes serviços prestados a Pesqueira, a Pernambuco e ao
Brasil, sem contar nas datas com significados valiosíssimos para o estado e a
pátria. E o mais lastimável, é que não há uma única rua com o nome deste grande
pesqueirense, algo que merece ser corrigido, pois, a sua memória deve ser
sempre reverenciada por tudo que fez pelo seu amado torrão natal. Pesqueira
deve muito a Seu Cazuzinha.
De acordo com a Lei n⁰ 37 a Praça da
Liberdade fazia parte do perímetro urbano, assim como a Rua 6 de março que ficava
entre o largo da Rua 13 de Maio e a Rua 28 de Setembro e ia até o início da
antiga Avenida do Progresso – atual Comendador José Didier.
Praça 6 de Março
Como a Lei nº 37 foi sancionada em janeiro de
1917 e o Centenário da Revolução Pernambucana ocorreu em março do mesmo ano, é
considerável que tenha sido mudada o nome da rua para a Praça da Liberdade como
homenagem à revolução, uma vez que nessa época figuras revolucionistas célebres
como Leão Coroado, Padre Roma, Padre Tenório, Monsenhor Muniz Tavares e Padre
João Ribeiro viraram nomes de ruas em Pesqueira e nos distritos.
Apesar de não constar a referência ao fato no
importante trabalho Ruas de Pesqueira, é bastante provável que tenha acontecido.
Afinal, se foram nominadas ruas
homenageando os revolucionários de 1817 para “glorificar os nomes veneráveis
dos nossos heróis e mártires, de eterna memória” (MACIEL, 1985, p.265). Quanto
mais não seria dado destaque ao memorável 6 de março passando o nome a designar
a praça, visto que foi a data que marcou o movimento republicano e de liberdade
democrática que fez de Pernambuco uma nação independente por 75 dias.
A Praça 6 de Março permaneceu com esta
designação até a promulgação da Lei Municipal nº 2 de 26 de abril de 1947 que
transferiu a nomenclatura para Praça Jurandir Brito de Freitas, também proposta
por José de Almeida Maciel que a época era vereador e cuja justificativa foi a
seguinte:
“A homenagem póstuma que ora
prestamos à memória de Jurandir Brito de Freitas representa o sentir unânime
dos seus conterrâneos. Espírito empreendedor e dinâmico, servido por cintilante
inteligência, o jovem e pranteado pesqueirense tinha o nome em grande evidência
no seu município e além fronteiras. Desapareceu prematura e abruptamente ocasionando
profundo abalo no coração pesqueirense e grande vácuo no
progresso local em seus vários
setores. Industrial, comerciante, homem público, foi-lhe entregue o bastão de
chefe politico, revelando elevado senso de organização comprovado pela pujança,
neste município, da organização partidária que dirigiu. Político sem ressaibos
de facciosismo. espírito harmonizador e democrático, antepunha, acima de tudo,
o seu grande amor ao torrão natal. É, pois, da maior justiça o pleito de homenagem
que Pesqueira rende ao inesquecível filho apondo o seu nome ilustre em uma das praças
desta cidade.”
De
acordo com Maciel (1987, p. 68) o nome Praça 6 de Março não caiu nos gostos da
população que ainda continuavam a chamar pela designação primitiva de Praça da
Liberdade e também por isso achava importante a mudança passando a data da
Revolução de 1817 a nomear uma travessa anexa a Praça Jurandir Brito de Freitas
ligando-a a Rua Barão de Vila Bela - atualmente chamada de Travessa Emídio Santos.
O homenageado
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Jurandir Brito de Freitas em fotografia do livro Ararobá, lendária e eterna. |
Jurandir
Brito de Freitas nasceu em Pesqueira no dia 19 de junho de 1912. 4º filho do
Cel. Adalberto Cavalcanti de Freitas e Maria Alice Brito de Freitas que também
foram pais de Raimundo Teodorico de Freitas, Aracy Brito de Freitas, Moacir
Brito de Freitas, Clóvis Brito de Freitas e Maria da Conceição Brito de
Freitas. Neto paterno do Dr. Francisco Caraciolo de Freitas e Maria Luzia
Cavalcanti de Freitas. Neto materno do capitão Carlos Frederico Xavier de Brito
e Maria da Conceição Cavalcanti de Brito.
Casou em Pesqueira no dia 19 de novembro de
1935 com Clarisse Valença de Freitas (1912-1994), filha de Desidério Alves da
Silva Valença e Galiana Hermínia Teixeira Vilela. Foram pais de Lucília Maria,
Fausto, Luciano, Helena Maria e Cecília Maria Valença de Freitas.
Industrial, membro da Associação Comercial de
Pesqueira, chefe da Companhia Comercial J. Freitas pertencente ao grupo de
empresas da Fábrica Peixe e responsável pela Agência Ford em Pesqueira que
funcionou entre 1946 e 1965 na Rua 13 de Maio no prédio onde atualmente é o
INSS, mudando-se para o conhecido prédio da Ford onde atualmente funciona a
Secretaria de Inovação Social e Cidadania.
Além da vocação para os negócios herdada dos
seus avós e tios que foram os pioneiros na industrialização de Pesqueira.
Jurandir tinha outra grande paixão: a política. Possuía o dom da comunicação
popular, capacidade realizadora e espírito de iniciativa que lhe garantiram a admiração
da sociedade pesqueirense e que certamente, não fosse o fato de ter falecido
tão jovem teria sido eleito para ocupar relevantes funções públicas.
Faleceu com apenas 35 anos de idade às 13h do
dia 19 de outubro de 1947 na residência dos seus pais localizada na Rua da
Hora, n⁰ 409, Bairro do Espinheiro, Recife. Seu sepultamento foi no dia
seguinte na sua amada Pesqueira. Conta-nos Luís Wilson (1980, p. 212) que
"foi sepultado na sua 'cidadezinha', onde jamais se viu, talvez até hoje,
maior consagração póstuma a nenhum outro de seus filhos".
A inauguração
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O Secretário Fausto Freitas discursando ladeado pelo Prefeito José Walderique Tenório. Cortesia Sandra Tenório "in memoriam". |
Dada à homenagem, chegou a ser lançada a
pedra fundamental para a construção e urbanização da Praça Jurandir Brito de
Freitas, no entanto, fora sendo protelada ao longo dos anos. O prefeito Manoel Tenório
de Brito em 1968 instalou novas luminárias a vapor de mercúrio o que melhorou
bastante a iluminação. Contudo, foi na administração do prefeito José Walderique
Tenório (1973/1977) que praça passou por uma verdadeira transformação.
Em reportagem do Diário de Pernambuco de 27
de outubro de 1973 informa a mudança da feira de frutas que acontecia nas
quartas e sábados para a Rua Barão de Cimbres, bem como a retirada das barracas
de madeira que serviam de bares e cafés que prejudicavam a estética e a higiene
do local para que tivesse inicio as obras de reforma para que fosse feita a
urbanização, o ajardinamento e melhorada a iluminação.
Contando com o apoio de Fausto Valença de
Freitas - filho do homenageado e então Secretario Assistente do Governo de Pernambuco
na gestão de Eraldo Gueiros Leite – Walderique Tenório conseguiu levar adiante
um velho sonho dos pesqueirenses que seria ver a praça urbanizada e com o busto
de Jurandir Brito de Freitas, que foi feito em bronze pelo artista e escultor
Corbiniano Lins.
O Diário de Pernambuco de 27/07/1974 destaca:
“Pesqueira inaugura hoje me praça
pública o busto do líder Jurandir Britto”. Assim, no sábado ao cair da
noite teve lugar o ato inaugural onde estiveram presentes diversas autoridades
a exemplo do governador Eraldo Gueiros Leite e sua esposa Olga Monteiro Gueiros
Leite; o governador eleito José Francisco de Moura Cavalcanti; o engenheiro
Armando Cairutas, Secretário de Obras e Serviços Públicos; os deputados
federais Lins e Silva e Joaquim Coutinho; e o professor Potyguar Mattos,
diretor do Serviço Social Contra o Mocambo que proferiu as seguintes palavras:
“Jurandir Brito de Freitas volta às ruas de Pesqueira. Volta de bronze que lhe
perpetuará a imagem na terra que sempre amou” (Diário de Pernambuco, ob.cit.).
Além das autoridades supracitadas incluindo
vários prefeitos da região prestigiaram o evento. Familiares foram
representados pela viúva Clarisse Valença de Freitas e pelos filhos Luciano,
Lucília, Helena, Cecília e Fausto Freitas.
Os detalhes da inauguração constam na
reportagem do Diário de Pernambuco de 30/07/1974 intitulada: "Pioneiro industrial é homenageado".
A solenidade foi precedida por uma celebração religiosa conduzida pelo bispo de
Pesqueira, dom Severiano Mariano de Aguiar.
As filhas Lucília, Helena e Cecília foram
responsáveis por cortar a fita inaugural da praça, marcando oficialmente o
início da cerimônia. Com a praça lotada, o prefeito Walderique Tenório fez uma
oração em reverência à memória de Jurandir Brito de Freitas, exaltando sua
importância como líder popular e figura marcante na história de Pesqueira.
Em nome dos netos, a jovem Andréa Gueiros de
Freitas expressou sua emoção: “Hoje venho a Pesqueira para percorrer os
caminhos do meu avô, que não conheci, mas de quem sempre ouvi falar com carinho
e respeito. Sei do seu coração, da sua bondade e do amor que dedicava a esta
cidade. Ver sua imagem eternizada em bronze é motivo de orgulho e emoção”.
Fausto Valença de Freitas, falando em nome
dos filhos, agradeceu à população de Pesqueira. Visivelmente emocionado, citou
versos de Cecília Meireles para expressar os sentimentos da família diante da
homenagem: “Não tens fala, nem movimento, nem corpo. E eu te reconheço, assim,
a mim mesmo, como se me puderes reconhecer”.
Além dos discursos emocionantes o evento
tornou-se festivo com a apresentação dos indígenas Xukuru do Ororubá, de bandas
de pífanos e de grupos folclóricos para celebrar este grande momento vivenciado
pela população pesqueirense que nesse mesmo dia presenciou também a inauguração
do novo sistema de abastecimento de água da cidade proveniente da Barragem do
Bituri em Belo Jardim.
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Praça Jurandir Brito de Freitas - 2025 |
Por fim, não apenas como ato final da
solenidade, mas como celebração perpétua da memória, da história e do legado deste ilustre pesqueirense
permanece gravada no pedestal do seu busto a seguinte inscrição: “Homenagem do
povo de Pesqueira ao seu filho Jurandyr Britto de Freitas. 27 de julho de
1974”.
Por Fábio Menino de Oliveira
Referências Bibliográficas
ÁLBUM DA ADMINISTRAÇÃO DE ÉSIO MAGALHÃES ARAÚJO, 1948-1951. Recife, Oficina Tipográfica do Diário da Manhã, 1951.
DIÁRIO DA
MANHÃ- edição de 30/07/1974.
DIÁRIO DE
PERNAMBUCO - edições de 20/03/1968; 27/10/1973; 23/07/1974; 27/07/1974; e
30/07/1974.
JORNAL
PEQUENO - edição de 20/10/1947.
MACIEL, José
de Almeida. Ruas de Pesqueira. Apresentação de Gilvan de Almeida Maciel.
Recife, CEHM, 1987.
WILSON,
Luís. Ararobá, Lendária e Eterna. CEPE/Pref. de Pesqueira. Recife: 1980.
Mais um artigo excelente com uma grande riqueza de informações. A história do Pátio da Liberdade é uma das mais interessantes, senão a mais entre as praças de Pesqueira.
ResponderExcluirVerdade meu nobre, é mais um logradouro pesqueirense com uma história belíssima.
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