quinta-feira, 15 de maio de 2025

PRAÇA COMENDADOR JOSÉ DIDIER – MEMÓRIAS DO CORAÇÃO

Praça Comendador José Didier após sua inauguração em 9/11/1951.
Acervo Marcelo Nascimento.

             A antiga estrada da Pitanga que ligava a parte alta da cidade, passando pela parte baixa em direção a Pitanga recebeu o nome de Rua do Progresso dado pelos proprietários da Fábrica Rosa – os irmãos Antônio Didier e José Didier – quando fundaram a fábrica em 1906, este era o nome que constava nos registros das juntas comerciais de Pernambuco e do Rio de Janeiro, passando a chamar Avenida Didier alguns anos depois.

Fábrica Rosa em 1906, localizada na Rua do Progresso,
antiga estrada da Pitanga
.

            De acordo com José de Almeida Maciel em artigos publicados na Gazeta de Pesqueira (08/09/1907) e n’A Voz de Pesqueira (07/09/1947) cita que o nome Rua do Progresso não chegou a ser oficializado pelo Conselho Municipal e fazia a indicação para que a avenida que estava sendo aberta passasse a chamar Avenida Comendador José Didier se contrapondo a solicitação feita a época por moradores dirigidos ao Conselho Municipal que requeria a nomenclatura de Avenida Antônio Didier.

Fábrica Rosa, após 1911, pois vê-se os trilhos do bonde
que era puxado por burros. Acervo Marcelo Nascimento.

            A indicação do então conselheiro municipal José de Almeida Maciel foi feita através de requerimento apreciado na sessão de 10 de março de 1948 pela Conselho Municipal cujo teor foi o seguinte:

 

“Considerando que a denominação "Avenida Didier" dada, desde alguns anos, a uma das artérias desta cidade, justamente aquela em que se localiza a grande fábrica José Didier& Cia. Ltda., não exprime bem, por lacônica, a homenagem prestada a benemérito membro da tradicional família;

Considerando que, consoante à praxe, as homenagens quando expostas em logradouros públicos devem ser individualizadas por isso que identifica o vulto que delas se faz merecedor;

Considerando que o Comendador José Didier foi também um dos pioneiros da grande indústria que, dando renome a Pesqueira, tem sido um dos fatores quiçá o mais preponderante do seu progresso;

Considerando que o saudoso e venerando industrial pesqueirense contribuiu generosamente para todas as obras pias e religiosas desta cidade, inclusive o "Dispensário dos Pobres" que lhe deve assinalados benefícios;

Considerando que, pelo espírito caritativo e pela magnanimidade do coração, atributos estes de grande elevação moral, ficou sendo tido o Comendador José Didier, o conceito público o proclama, como a encarnação da filantropia nesta cidade;

Requeiro seja enviada ao sr. Prefeito a presente indicação no sentido de ser providenciada a retificação das placas da Avenida Didier para Avenida Comendador José Didier, denominação que melhor exprime a homenagem prestada a um dos grandes benfeitores de Pesqueira.”

 

            Decerto é que a indicação foi aceita pelo Conselho Municipal e em entrevista do prefeito Ésio Araújo publicada na Folha de Pesqueira em 23 de janeiro de 1949 é citada o inicio da pavimentação da Avenida Comendador José Didier, cuja área calçada já compreendia 529 m2 com a construção de 200 metros de galerias com tubos de 16 polegadas para o escoamento das águas pluviais.

Fotografia de 1948 antes do início do calçamento e da praça, pois o terreno em frente a Fábrica Rosa ainda está sem o meio-fio e o calçamento.

          No orçamento de 1948 constava um investimento de Cr$ 42.834,90 para o calçamento de 5.292 m2 da Avenida Comendador José Didier e no ano de 1949 o valor foi de Cr$ 73.067,30 para a continuidade da obra numa extensão de 2.206 m2. Com isso temos o valor global de Cr$ 115.902,20 para o calçamento de 7.498 m2 em razão da grande extensão da avenida.

Fotografia provavelmente de 1948 quando foi colocado o meio-fio para ser feito o calçamento. Acervo Marcelo Nascimento.

          A abertura e a pavimentação da avenida faziam parte do planejamento do prefeito Ésio Araújo para melhorar as condições urbanísticas do município que estava em pleno desenvolvimento. Por conta disso e em continuidade dos serviços a prefeitura deu inicio em 1951 a construção da Praça Comendador José Didier com um investimento previsto de Cr$ 94.869,80.

            A praça foi construída num espaço amplo, onde foram plantadas as tradicionais castanholas que se tornariam árvores frondosas. Muito utilizadas no paisagismo urbano por oferecerem sombra e beleza, além de serem resistentes ao clima tropical e que contribuíam para conforto térmico e a estética do local.

Fotografia da construção da Praça em fase de conclusão - 1951.
Álbum Ésio Araújo.


        Para compor um cenário harmônico e acolhedor da praça, foi construído um tanque para o espelho d’água, um playground para o lazer e a brincadeira das crianças e colocado um busto com 80 cm do Comendador José Didier, esculpido em bronze pelo professor Bibiano Silva que foi posto num pedestal de granito medindo 2 metros e que custou Cr$ 40.000,00 tendo sido ofertado à prefeitura pela viúva D. Maria Alfina Didier, um gesto de agradecimento pela iniciativa da edilidade em homenagear seu amabilíssimo e saudoso esposo.

Busto do Comendador José Didier.


        A atraente e aprazível Praça Comendador José Didier – também conhecida por Praça da Rosa – foi inaugurada em 9 de novembro de 1951, data do 92º aniversário de D. Maroca Didier e seis dias antes do encerramento do mandato do prefeito Ésio Araújo que realizou uma das gestões mais exitosas da história de Pesqueira.

À esquerda vemos a placa frontal com a data da inauguração e à direita a placa que fica nas costas do monumento com o registro do 92⁰ aniversário de D. Maroca Didier.


            Encravada no coração de Pesqueira, a Praça Comendador José Didier, é espaço de sombra, flor e memória. Por esse motivo o rabiscador dessas linhas que não teve o privilégio de contemplá-la nos seus tempos áureos ousa escrever sobre cinco características que marcaram a memória de muitos pesqueirenses: as castanholas, as papoulas, os pergolados, os bancos e o tanque espelho d’água.

Fotografia provavelmente da década de 1960, pois não se observa modificações na estética original da Praça.


        Sob o balançar sereno das castanholas, que se erguem como guardiãs do tempo com suas copas largas e acolhedoras, a praça abriga histórias sussurradas pelo vento. Suas folhas, que no outono tingem o chão de vermelho e ouro, desenham um tapete natural onde os passos dos antigos moradores ainda ecoam.

Entre os caminhos de pedra, despontavam delicadas papoulas, com suas pétalas leves e vibrantes. Pequenas centelhas de cor em meio ao verde, flores que parecem sorrisos da terra, nascidos para enfeitar os dias e perfumar as lembranças. Em sua simplicidade, carregam a beleza da vida que resiste — suave, mas presente.

Neste ângulo vemos o busto em meio às árvores e a sua esquerda o pergolado coberto pelas trepadeiras, fazendo sombra aos bancos. Cortesia de Erika Gonçalves.

E ali, como um convite ao repouso e à contemplação, erguiam-se os pergolados, estrutura leve entrelaçada por trepadeiras como as buganvílias e a alegria das suas cores que davam ares de beleza tropical e porque não dizer de charme e romantismo à Praça. Suas colunas sustentavam não apenas a sombra, mas também as conversas longas, os olhares perdidos no tempo, os sonhos utópicos e o silêncio confortável dos encontros antigos.

Espalhados sob a sombra das árvores e ao longo dos caminhos repousavam os bancos, silenciosos confidentes de tantas histórias. Foram testemunhas do cotidiano, visto que neles, senhores cochilaram, crianças tomaram sorvete, pais assistiram seus filhos brincarem livres, namorados dividiram silêncios e senhoras bordaram lembranças.

Aspecto do tanque espelho d'água tendo ao fundo a Vila Operária da Fábrica Rosa, provavelmente na década de 1960.

Ao centro, o tanque onde descansava mais que um espelho d’água, era um verdadeiro espelho do céu, pois um dia refletiu rostos, luas e brincadeiras de criança. A sua presença era símbolo de um tempo charmoso em que o encontro era rotina e a praça, um palco de afetos cotidianos.

Muito do que foi à Praça Comendador José Didier ficou gravado apenas na memória e nos registros fotográficos, por isso o uso de muitos verbos no passado, já não existem o tanque, os pergolados e os bancos. Por isso, nos fica o sentimento de saudades daquilo que não vivemos e de um tempo em que se respeitava o ritmo da vida que passava devagar sem a pressa da modernidade.

Em síntese, juntos, esses elementos compunham mais do que um espaço urbano — eram a alma viva da cidade e que construíram memórias afetivas de uma Pesqueira que pulsava em cada sombra, flor e no silêncio d’água presentes na bela e acolhedora Praça Comendador José Didier que evoca memórias do coração.

 

Por Fábio Menino de Oliveira

 

Referências Bibliográficas

ÁLBUM DA ADMINISTRAÇÃO DE ÉSIO MAGALHÃES ARAÚJO, 1948-1951. Recife, Oficina Tipográfica do Diário da Manhã, 1951.

FOLHA DE PESQUEIRA. Ano II, Nº XII, Pesqueira/PE, 23/01/1949.

MACIEL, José de Almeida. Ruas de Pesqueira. Apresentação de Gilvan de Almeida Maciel. Recife, CEHM, 1987.

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