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D. Carminha Freitas em 1944 Foto: Mário Paulo Freitas (Facebook) |
Família
Maria do Carmo Magalhães de Freitas Melo, popularmente conhecida como D. Carminha Freitas, nasceu em Pesqueira no dia 14 de maio de 1914. Filha do capitão Abílio Rodrigues Pereira de Freitas (Fazenda Cacimba de Paus, Pesqueira, 19/02/1880 – Pesqueira, 04/10/1950), proprietário e comerciante, e de Júlia Magalhães de Freitas (Pedra, 1880 – Pesqueira, 05/03/1975) que casaram em Pesqueira no dia 12/10/1907 e foram pais de 4 filhos: Cincinato, Eunice, Maria do Carmo e Armando Magalhães de Freitas.
Neta paterna do capitão José Rodrigues Pereira de Freitas (proprietário da Fazenda Cacimba de Paus na região do distrito de Salobro em Pesqueira) e de Thereza Pérpetua de Jesus Freitas “a Jovem”. Neta materna de Tito Magalhães da Silva Porto e Maria Cavalcanti de Medeiros.
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Severino Melo e Carminha Freitas (1946) Foto: Mário Paulo Freitas (Facebook) |
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Severino, Carminha, D. Júlia, Pe. Siqueira, e os filhos da esquerda para a direita:Tereza Cristina, Maurício, Mário Paulo e Marne (1956). Foto: Mário Paulo Freitas (Facebook) |
D. Carminha Freitas casou civilmente em Pesqueira no dia 15 de junho de 1946 com Severino Ferreira de Melo, nascido em Buíque aos 11 dias do mês de janeiro de 1921. Filho do oficial das forças públicas do estado Pedro Ferreira de Melo (Salobro, Pesqueira, 04/05/1893) e de Cristina Monteiro de Melo (Sítio Pintada de Salobro, Pesqueira, 14/07/1900). Neto paterno de Gerino Ferreira da Costa e Ignês Virgens de Melo. Neto materno de Belarmino Marques da Silva e Maria Madalena Monteiro.
Severino Melo era comerciário e foi chefe da firma P. Brito & Cia. Figura de respeito, cidadão honrado foi muito querido juntamente com a sua família pela sociedade pesqueirense que como reconhecimento o elegeu vereador para o legislatura de 1951 a 1955.
O casal Severino e Carminha tiveram 5 filhos todos criados sob os princípios e valores morais cristãos no lar da família localizado na histórica Rua Zeferino Galvão. São eles: 1 – Tereza Cristina Magalhães de Freitas Melo (Pesqueira, 19/07/1947); 2 – Marne José de Freitas Melo (Pesqueira, 18/07/1948); 3 – Mário Paulo de Freitas Melo (Pesqueira, 17/11/1949); 4 – Maurício José de Freitas Melo (Pesqueira, 10/01/1951); e 5 – Francisco José de Freitas Melo (Pesqueira, 19/02/1956).
Secretária Municipal e Prefeita
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Sede da prefeitura até a década de 1970 |
D. Carminha Freitas começou a trabalhar na Prefeitura Municipal de Pesqueira provavelmente no inicio da década de 1940. As fontes pesquisadas mostram-na como Secretária Municipal a partir de 1945, ao que consta a primeira mulher a exercer essa função, numa época em que não havia os secretários com pastas específicas como na atualidade. Tão somente existia um único secretário para auxiliar e substituir o prefeito quando houvesse necessidade.
É por isso que D. Carminha Freitas tornou-se
a primeira mulher a assumir a Prefeitura de Pesqueira em 5 de fevereiro de 1946
diante do pedido de exoneração do prefeito Dr. Lídio Paraíba (18/12/1945 – 05/02/1946).
Permaneceu como prefeita em exercício por 14 dias até a nomeação do bacharel João
Arruda Marinho dos Santos pelo interventor do estado, José Domingues da Silva.
Arruda Marinho pede afastamento em 8 de agosto de 1946 e D. Carminha Freitas volta
a ser prefeita por mais 13 dias até o retorno de Arruda Marinho em 21 de agosto
daquele ano.
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Fac-símile do Diário Oficial com a designação para assumir a prefeitura (09/08/1946) |
Porquanto, foram 32 dias como prefeita em exercício, o curto período não tira o brio e os méritos de D. Carminha Freitas, a grande pioneira da política pesqueirense que assumira num momento conturbado da política nacional que marcava o período de transição democrática após o Estado Novo, fase em que não havia eleições e os prefeitos eram nomeados, por isso que Pesqueira teve tantos chefes do poder executivo em tão pouco tempo.
Um dado interessante é que quando assumiu a prefeitura em fevereiro de 1946 iria completar 32 anos e ainda era solteira, pois, só viria a casar em junho do mesmo ano. Passados quase 80 anos do feito, ainda é difícil mensurar a importância desse momento da nossa história, sobretudo, quando pensamos em uma época onde o modelo patriarcal ainda era muito forte na sociedade, tendo D. Carminha, talvez até sem ter dado conta, quebrado tabus e paradigmas.
Prova disso, é que Pesqueira só voltaria a ter uma mulher sentada na cadeira de prefeita com a eleição de Cleide Maria de Souza Oliveira em 2008, ou seja, 62 anos depois de D. Carminha Freitas. Vindo a ser eleita na sequencia Maria José Castro Tenório em 2016.
Por fim, nesse tópico vale registrar que Cilene Martins de Lima eleita vice-prefeita em 2024, a segunda mulher a ocupar o cargo, e que desde o último dia 4 de abril está como prefeita em exercício, tornou-se a quarta mulher na história pesqueirense a ocupar o cargo maior do executivo municipal.
Vereadora
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Diploma de Vereadora |
Na Câmara de Vereadores tomou posse
em 10 de fevereiro de 1956, grávida do seu 5º filho que nasceria 9 dias depois.
Formavam o legislativo municipal os seguintes edis: Enedino de Freitas
(presidente), Amaury de Brito (vice-presidente), Luiz Rocha (1º secretário),
Albérico Soares, Dr. Petronilo de Freitas, Antônio Soares de Macedo, Josué
Bezerra Leite e Maviael Correia. O suplente José Miranda Primo assumiria o
mandato a partir de 10/02/1958 em razão da renúncia de Amaury de Brito.
Os seus primeiros requerimentos
apresentados nessa sessão foram: 1 – votos de pesar pelo falecimento do
prefeito de Sanharó, Heronides Nunes de Arruda; 2 – votos de solidariedade e
congratulações ao governador Cordeiro de Farias pelo aniversário de 1 ano do
seu governo; 3 – votos de aplausos à administração do prefeito Manuel Tenório
de Brito, pela sua boa vontade em solucionar os problemas mais urgentes da
cidade e dos distritos.
Fazer história era o forte de D.
Carminha Freitas, foi também a primeira mulher a ocupar um cargo na mesa
diretora da Câmara sendo sua 2ª secretária no biênio 1956/1957 e 1ª secretária
entre 1958/1959.
Eleita pelo PR depois passou a integrar
os quadros do Partido Socialista Brasileiro (PSB), não disputou novo mandato,
mas permaneceu atuando na politica municipal até meados de 1966, quando ocorreu
a reformulação partidária em face do surgimento do bipartidarismo decorrente do
regime militar a mesma perdeu os gostos pela política partidária.
Pois bem, para termos ideia da
grandiosidade desta eleição de 1955 é que Pesqueira só voltaria a ter uma
mulher ocupando um cargo eletivo com Maria Carmita Freitas Maciel, eleita
vice-prefeita na chapa de João Araújo Leite que obteve 9.619 votos no pleito de
15/11/1988. D. Carmita Maciel foi candidata à vereadora nas eleições de 03/10/1992,
porém não obteve êxito ficando na suplência.
A segunda mulher a ser eleita vereadora foi Maria Isabel de Araújo Barros (Isabel da Lobal) que obteve 767 votos no pleito de 1º/10/2000. Ou seja, 45 longos anos separaram a primeira da segunda eleição de uma mulher para o legislativo municipal. Para constar foram eleitas na sequência de Isabel da Lobal: Arinete Bezerra Aciole 2008, 2016 e 2024; Valéria Alves, 2016; Rochevania Rocha, 2020 e 2024; Izabela Lins 2020; Raniele Lopes da Silva, 2020 e 2024.
Desde a sua instalação como Conselho Municipal após o advento da República em 1892 até o último pleito de 2024, apenas 7 mulheres foram eleitas para compor o legislativo municipal em seus 132 anos. O que demonstra o pioneirismo de D. Carminha Freitas quando conseguiu seu mandato em 1955.
O Comício de Mulheres
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Charge publicada no DP em 1º/11/1972 |
Outro grande ato da atuação política e cidadã de D. Carminha Freitas foi quando reunida com outras mulheres organizou o histórico e pioneiro Comício de Mulheres, realizado na Praça D. José Lopes no domingo à noite do dia 22 de outubro de 1972.
O ineditismo foi tão grande que virou notícia no Diário de Pernambuco e na revista carioca Manchete Fatos & Fotos. Nas palavras de D. Carminha Freitas citadas por Inaldo Sampaio na sua coluna do Jornal do Commercio (1992): “Avisamos nas ruas que só mulheres poderiam participar e o aviso foi cumprido à risca. Não se viu um só homem na praça.”
O comício reuniu donas de casa, professoras, comerciárias, estudantes e na oportunidade discursaram 26 mulheres pesqueirenses, entre elas estava à professora Diamantina de Freitas, que por sinal era a única mulher concorrendo a uma vaga no legislativo no pleito que ocorreu em 15 de novembro daquele ano, que registrava um total de 27 candidaturas, sendo 26 masculinas para vereador em Pesqueira.
Apesar de apoiarem as candidaturas do MDB, o movimento foi além do lado partidário tanto é que o candidato a prefeito Dr. Petronilo de Freitas não foi convidado a participar. O foco durante as três horas de comício foram à defesa de ideias quanto à afirmação, a valorização e a emancipação feminina.
A Cruzada Feminina
Os encontros semanais aconteciam no prédio localizado na Praça D. José Lopes, nº 110, onde funcionava o consultório de Dr. Carlito Didier Pitta, que gentilmente o cedeu, pois era um pesqueirense simpático as causas populares. Após reuniões e preparações e contando com mais de 100 sócias foi fundada em 31 de março de 1973 a Cruzada Feminina de Pesqueira.
D. Carminha Freitas fez parte da sua primeira diretoria executiva como 1ª Secretária. Também foram membros do corpo diretivo da instituição as seguintes mulheres pesqueirenses: Presidente: Paula Frassinetti Alcântara do Amaral; Primeira vice-presidente: Maria Lúcia Santos Jatobá; Segunda vice: Aldemira Mourcout do Rego Barros; Primeira Secretária: Maria do Carmo Freitas de Melo; Segunda Secretária: Acilda Cavalcanti Assis; Primeira Tesoureira: Maria Salomé de Freitas Valença; Segunda Tesoureira: Alzira Barros; Diretoras: Maria de Freitas Correia e Eloá Araújo Cavalcanti. Conselho Deliberativo - Presidente: Alda Sousa Didier; Vice-Presidente: Maria Auxiliadora Soares Costa; Secretária: Maria Auxiliadora Vanderlei Freitas; Vogais: Irmã Gomes, Sebastiana Brito, Diamantina Galvão Barbosa, Nair Falcão, Judite Oliveira, Elizabete Guimarães, Isolina Sobral, Elisa Barbalho Falcão, Nazaré Melo Bezerra, Odete Andrada, Abigail Cavalcanti, Maria da Glória Cavalcanti, Maria de Lourdes Aragão, Maria de Lourdes Guimarães.
Fica o registro como homenagem a estas mulheres que sem dúvida, foram à frente do seu tempo por ideias, pensamentos e ações.
O filho vereador
A política sempre fez parte da família Freitas, o pai de D. Carminha Freitas, o Capitão Abílio de Freitas foi Conselheiro Municipal (1910/1913); seu esposo, Severino Melo foi vereador na legislatura anterior a ela entre 1951 e 1955.
No final da década de 1980 quem entrou para a política foi seu filho Francisco Freitas que se elegeu por duas vezes vereador de Pesqueira pelo PFL (1989/1992 – 1993/1996) e teve o apoio irrestrito da sua mãe que mesmo septuagenária fez campanha porta a porta para pedir votos.
Mas, não foi só pelo filho que D.
Carminha Freitas se engajou, em ambas as eleições apoiou os candidatos a
prefeito João Leite (1988) que tinha como companheira de chapa D. Carmita
Maciel, sua amiga de longas datas, e Evandro Maciel Chacon (1992).
A
cidadã e a democrata
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Severino Melo e Carminha Freitas Foto: Mário Paulo de Freitas (Facebook) |
D. Carminha Freitas, foi sem sombra de dúvidas, símbolo da força, da garra e da coragem feminina como mãe, esposa e política. Fiel na defesa do que acreditava manteve-se como eleitora assídua até os seus mais de 90 anos de idade, exercendo com altivez a cidadania e a democracia durante toda a sua vida.
Na sua humildade revelou ao jornalista Inaldo Sampaio em 1992: “Acho que fiz história em Pesqueira por duas razões. Primeiro, pela organização do comício das mulheres, depois, porque depois de mim nenhuma outra mulher conseguiu eleger-se vereadora”.
Não ache que fez história D. Carminha Freitas, a senhora de fato o fez e que toda a sociedade pesqueirense possa reconhecer e aplaudir suas conquistas, e que permaneça como legado e inspiração de vida o seu pioneirismo e protagonismo.
Maria do Carmo Magalhães de Freitas Melo faleceu prestes a completar seus 98 anos de vida em 10 de março de 2012 na sua residência na Rua Zeferino Galvão. Severino Melo, seu companheiro de uma vida faleceu 15 dias depois em 25 de março aos 91 anos. Foram quase 66 anos de um lindo matrimônio.
Nossa homenagem a memória de D. Carminha Freitas e os votos de que sua história permaneça viva.
Por
Fábio Menino de Oliveira
Referências Bibliográficas
Cruzada Feminina de Pesqueira. Cruzada Feminina: História da Cruzada
Diário Oficial
do Estado de Pernambuco – edições de 06/02/1946; e 09/08/1946.
Diário de
Pernambuco – edições de 09/08/1946; 25/02/1956; 01/03/1958; 21/10/1972; 1º/11/1972;
e 21/07/1979.
Family Search Maria do
Carmo Magalhaes de Freitas, “Brasil, Pernambuco, Registro Civil, 1804-2023”
Jornal do
Commercio. Aos 78 anos, Dona Carminha
retoma o gosto pela política – Inaldo Sampaio, 1992.
_________________.
Carminha, a pioneira – Paulo Augusto,
18/03/2012.
TSE. Resultados das Eleições. https://www.tre-pe.jus.br/eleicoes/eleicoes-anteriores
Um texto belíssimo !!! Digno da história e força de D. Carminha. Impossível ler e não viajar na linda trajetória dessa mulher incrível ! Parabéns Fabio !!!
ResponderExcluirObrigado pelas palavras Rosimery.
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