quarta-feira, 16 de abril de 2025

A HISTÓRIA DE UMA FOTO


Ao olharmos para esta fotografia publicada no livro Ararobá, Lendária e Eterna datada provavelmente de 1927, onde ao centro temos o antigo Casarão da Família Didier Pitta do alto de sua imponente arquitetura com fachada tendo porta central e 6 janelas. À esquerda, vemos a casa comercial do Coronel João do Rego Araújo Maciel que de acordo com Luís Wilson chamava-se "A Barateira" recebendo posteriormente o nome de "Loja Paulista" com 6 portas frontais.  

Nessa outra fotografia de 12/11/1939, já é possível ver a loja A Sertaneja, duas casas à esquerda do casarão.


Sobre o Cel. Araújo Maciel (Brejo da Madre de Deus/PE, 08/12/1861 – Pesqueira/PE, 13/08/1941), era casado com Antônia do Rego Maciel, irmã do Comendador José Didier, de quem além de cunhado era primo. Veio para Pesqueira em 1896 ou 1897. Na cidade estabeleceu pontos comerciais para venda de tecidos, estivas, padaria, depósito de açúcar e armazém de compra e venda de algodão. Sendo um deles o que estava localizado no nº 99 da Praça D. José Lopes. Além de ter construído mais de 100 casas.

Para compreender o que aconteceu com a casa comercial do Cel. Araújo Maciel voltamos ao ano de 1937 quando José de Almeida Maciel através dos seus escritos no jornal A Voz de Pesqueira defendia a reorganização das ruas da cidade para melhorar o fluxo de pessoas, dinamizar o comércio e porque não dizer fazer com que Pesqueira ficasse mais bela com casas alinhadas e ruas que se cruzassem permitindo acesso aos bairros.

José de Almeida Maciel
Nessa perspectiva, em relação à Praça D. José Lopes, o mesmo propõe duas possíveis modificações. A primeira seria a abertura de uma rua transversal cruzando a praça na direção norte sul dando acesso entre as ruas Santa Rita (atual Eliseu Elói que inicia ao lado da antiga padaria ABC em direção ao bairro do Xucurus) e a Barão de Cimbres (descida para a Baixa de São Sebastião), passando a referida avenida do lado da casa do Comendador José Didier.  

A segunda proposta caso não houvesse condições financeiras da prefeitura seria a abertura de uma rua transversal apenas do lado esquerdo da praça com a aquisição da Loja Paulista nº 99, do lado do casarão, com a possibilidade da casa contigua nº 98 onde seria construído o Mercado Público.


Fotografia de Severiano Jatobá Neto (1924 ou 1925)

José de Almeida Maciel, como célebre pensador não apenas da historiografia pesqueirense contribuiu com seu notório saber no plano urbanístico da cidade para melhorar a comunicação entre as ruas. Se observarmos a foto de Severiano Jatobá Neto do ano de 1924 ou 1925 que mostra a Rua Barão de Cimbres, é possível perceber que não existia acesso à Praça D. José Lopes, uma vez que a Rua Maestro Thomaz de Aquino tinha formato de T e com isso o crescente bairro de São Sebastião não se ligava ao centro da cidade.

Nas palavras de José de Almeida Maciel (1987) “essas aberturas de becos, travessas e ruas em confrontação com outras e de que indicamos aqui as principais, são de necessidade imprescindível e até inadiável”. No entanto, ainda demoraria certo tempo para que algo começasse a ser feito, para ser mais exato foram 13 anos.

O Álbum da Administração do Prefeito Ésio Magalhães Araújo (1947-1951) trás na sua página 37 a seguinte informação: “Durante o exercício de 1950, a Prefeitura dispendeu, com indenizações, a quantia de Cr$ 116.276,00. (...) para abertura de uma transversal, ligando a Praça D. José Lopes à Rua Barão de Cimbres, a edilidade abriu um crédito especial na quantia de Cr$ 184.100,00 para indenização do prédio nº 99, sito àquela praça e que foi pago apenas no final do exercício a quantia de Cr$ 94.026,00”.

Prefeito Ésio Araújo
De acordo com o referido álbum na página 48, após ser indenizada a antiga casa comercial foram executados pela prefeitura em 1951 os serviços de demolição, remoção dos entulhos, rebaixamento do terreno, construção de calçadas, assentamento de meio-fio e feita à encanação da linha de água. Com isso, nessa parte da obra foram investidos Cr$ 207.517,70, excetuando o que já havia sido gasto na indenização do imóvel.

Um adendo é que pela descrição não consta que tenha sido feita a pavimentação da nova rua que recebeu o nome Travessa Frederico do Rego Maciel, até a atualidade uma importante artéria de ligação entre o centro da cidade e o bairro de São Sebastião. 

Vale salientar, que a demolição da casa comercial foi para o crescimento e o melhoramento urbano de Pesqueira, graças à ideia de José de Almeida Maciel e da iniciativa do prefeito Ésio Araújo, um homem de visão que serviu ao município com grandeza e espirito público deixando como legado de sua administração inúmeras obras que serão motivo de artigos posteriores.

Travessa Frederico do Rego Maciel, 16/04/2025
Por tudo isso, acreditamos que a ideia e o pensamento de um homem não morrem com ele permanecem como seu legado para posteridade e foi isso que aconteceu com José de Almeida Maciel e Ésio Araújo, cujas memórias devem ser lembradas e celebradas por todos aqueles que amam e querem ver Pesqueira sempre conduzida às alturas.

Por Fábio Menino


Referências Bibliográficas

Álbum da Administração de Ésio Magalhães Araújo, 1948-1951. Recife, Oficina Tipográfica do Diário da Manhã, 1951.

Maciel, José de Almeida. Ruas de Pesqueira. Apresentação de Gilvan de Almeida Maciel. Recife, CEHM, 1987.

WILSON, Luís. Ararobá Lendária e Eterna. CEPE/Pref. de Pesqueira. Recife: 1980, p. 52.


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