terça-feira, 29 de abril de 2025

PREFEITO LAÉRCIO VALENÇA (1951-1955)

Prefeito Laércio Valença.
Cortesia do seu filho Pe. Eduardo Valença

  

Laércio Vilela Valença nasceu na casa da fazenda de seu pai, nas margens do riacho Baixa Grande, em Pesqueira,  no dia 13 de janeiro de 1914. Filho do professor, escrivão da coletoria estadual e delegado de polícia, coronel Desidério Alves da Silva Valença (1868-1938) e de sua segunda esposa Galiana Hermínia Teixeira Vilela (1874-1927) casados em São Bento do Una no dia 06/06/1900.

Desidério Alves da Silva Valença

Neto paterno de Joaquim Alves da Silva Valença (1830-1884) e Cândida Emília Rodrigues (1836-1901) casados em São Bento do Una no dia 11/11/1857. Neto materno do major Cândido Carlos da Costa Vilela (1837-1907) e Francisca Quitéria de Barros (1843-1909) casados em Bom Conselho no dia 30/07/1873.

Laércio Valença teve 11 irmãos: Joaquim e Cândida Emília Mota Valença (filhos de Maria da Mota Valença, primeira esposa de Desidério Valença); Libério, José Desidério, Viterbo, Luiza, Laura, Teresa, Clarisse, Corsina e Maria Vilela Valença (2⁰ casamento).


Laércio e Ady no seu casamento em 1947
Cortesia do Pe. Eduardo Valença

Casou na Fazenda São Jorge (nova denominação da Cacimba de Paus, na região de Salobro) em 22/11/1947 com Maria Ady de Freitas Valença, nascida na Fazenda Cacimba de Paus em 15/04/1925.  Filha do major Jorge Rodrigues Pereira de Freitas e da sua segunda esposa Maria Umbelina de Freitas. Neta paterna do capitão José Rodrigues Pereira de Freitas e de Thereza Perpétua de Jesus Freitas “a jovem”, que casaram na Fazenda Mutuca em 08/11/1864. Neta materna de Martim Francisco Ignácio da Silva e Umbelina Benigna de Almeida.

Do matrimônio de Laércio e Ady nasceram 4 filhos: Eduardo, Célia, Sérgio e Mauro de Freitas Valença.

Laércio Valença era proprietário, criador e nos anos 1940 trabalhou na Fábrica Peixe, passando nos anos de 1950 a laborar na J. Freitas, empresa que representava a Ford em Pesqueira e que pertencia à Fábrica Peixe. Desempenhou também as funções de juiz substituto da Comarca de Pesqueira a partir de 1950.

Além das funções profissionais, passou a dedicar-se a política sendo nomeado prefeito de Pesqueira em 2 de agosto de 1947 e permanecendo no cargo até 15 de novembro do mesmo ano quando passou a prefeitura para Ésio Araújo que havia sido eleito em 26/10/1947.

A experiência de três de meses a frente do executivo municipal e o seu prestígio perante a sociedade pesqueirense levaram o Partido Social Democrático (PSD) a escolhê-lo como candidato a prefeito nas eleições de 1º de julho de 1951, obteve uma votação expressiva de 4.601 sufrágios contra 650 votos do candidato oposicionista Emílio Araújo Cavalcanti (Aliança Democrática – PDC/PTB).

Em entrevista ao jornalista M. Albuquerque do Diário de Pernambuco (17/06/1951) durante a eleição declarou como suas principais propostas realizar uma administração eficiente voltada para os interesses e os problemas mais urgentes do município, sobretudo, priorizar a conservação e ampliação das estradas interdistritais melhorando a malha rodoviária pesqueirense. Por seu ponto de vista, o jornalista o define como “cidadão modesto, trabalhador e esclarecido”, um verdadeiro “candidato popular”.

O prefeito Laércio Valença tomou posse em 15 de novembro de 1951 juntamente com o vice-prefeito Manuel Tenório de Brito e os subprefeitos distritais Malaquias Vieira (Poção) e Josué Bezerra Leite (Cimbres), todos do PSD. Como Secretario Municipal da Prefeitura assumiu Othon Augusto de Almeida. 

No legislativo municipal assumiram os seguintes vereadores: PSD (7) – Enedino de Freitas (Mutuca), Amaury de Brito (Mimoso), Manuel Soares de Macedo (Salobro), Epifânio Vasconcelos (Poção), Malaquias Medeiros (Poção), Severino Melo (cidade) e Luiz Neves (cidade); PDC (1) – João Elias de Macedo (Salobro); e PTB (1) – Dr. Petronilo de Freitas (cidade).

A mesa diretora seria formada no primeiro biênio 1952/1953 pelos vereadores Enedino de Freitas (Presidente), Epifânio Vasconcelos (Vice-Presidente), Amaury de Brito (1º Secretário) e Severino Melo (2º Secretário). Luiz Neves era o líder da maioria e Dr. Petronilo de Freitas, líder da minoria.

Sobre a sua posse na prefeitura assim escreveu o jornalista Eugênio Chacon no Diário de Pernambuco (04/12/1951): “Assume assim as rédeas do governo municipal um moço cheio de esperança, desejoso de conduzir à nau administrativa dentro dos ditames da democracia, aplicando sua inteligência e sua integridade aos negócios públicos (...)”. Destacam-se as palavras esperança, inteligência e integridade quando se refere a Laércio Valença.

Com as informações obtidas através dos jornais podemos destacar as seguintes obras e ações como prefeito de Pesqueira:

 

Criação do Plano Municipal de Assistência à Agricultura e à Pecuária

 

            Aquisição do terreno e construção do Posto Agropecuário de Pesqueira para atender os criadores e agricultores do município. Em ação conjunta fez a doação de um terreno da prefeitura no Sítio Pedra D’Água para que a União instala-se o Campo de Sementeira sob a orientação técnica do Fomento Agrícola Federal destinado à manutenção e cultura de produtos cuja finalidade seria a utilização pelo Posto Agropecuário.

 

Linha Telefônica de Poção

 

            Substituição dos postes da rede telefônica distrital que fazia a ligação entre Pesqueira e o ainda distrito de Poção que seria emancipado em 29/12/1953 durante o seu mandato. Além disso, fez os reparos e a manutenção em todo sistema de comunicação.

 

Restauração de máquina para o serviço de luz

 

            Conserto com substituição de peças e construção de nova base em concreto para motor na Usina Elétrica Municipal no intuito de sanar o problema da falta de luz tanto na iluminação pública como particular.

 

Reforma de um logradouro no Bairro do Prado

 

            Colocação de aterro, serviço de terraplanagem e construção de bueiros para melhorar o trafego de carros e caminhões na avenida principal do Bairro do Prado, à época em fase de expansão e desenvolvimento.

 

Calçamento na Rua Cardeal Arcoverde

 

Trecho da Rua Cardeal Arcoverde antes do calçamento
Álbum Ésio Araújo

       Iniciado em junho de 1952 o serviço de pavimentação em paralelepípedos da Rua Cardeal Arcoverde para concluir o trecho que faltava até encontrar a Praça Comendador José Didier.

 

Praça Dom José Lopes

 

            Inaugurada em 09/09/1941 passou por uma completa restauração dos seus jardins em 1954 para deixá-la ainda mais bela.

 

Galpão para silos

 

Construção em 1953 de galpão para instalação de 10 silos para armazenamento de 100 sacos cada, disponibilizados pelo Dr. Eudes Pinto de Souza Leão, Secretário de Agricultura do Estado, ação que beneficiava os agricultores. 

 

Apoio aos Jornais

 

Enviou para a Câmara de Vereadores o Projeto de Lei n⁰ 247/53 que concedia um auxílio mensal de 600 cruzeiros para apoiar os jornais Gazeta de Pesqueira, A Voz de Pesqueira e Folha de Pesqueira; e 250 cruzeiros trimestrais ao jornal literário O Itinerário.

 

Auxílio aos pobres 

 

Articulou junto a Legião Brasileira de Assistência (LBA) a distribuição de alimentos para as pessoas carentes do município durante a seca de 1953. A LBA distribuiu 600 kg de charque, 20 sacos de feijão, 20 sacos de farinha e 20 sacos de açúcar.

 

Cooperativa

 

Cooperação para instalação da filial da Cooperativa dos Rodoviários de Pernambuco ligada ao DNER em 1953, com vistas a prestar assistência médica e fornecer gêneros alimentícios aos trabalhadores da estrada Pesqueira-Monteiro. 

 

Aviação 

 

Por sua solicitação Pesqueira foi inclusa em abril de 1955 na rota área do interior através do Consórcio Real-Aerovias, uma das principais companhias áreas brasileira na década de 1950 e que operava com aviões Douglas DC-3 de pequeno porte ideais para aeroportos do interior e que pousariam no Campo de Aviação da cidade.

 

Fórum 

 

Apoio dado à magistratura e os serventuários da justiça com aquisição de móveis para as novas instalações do Fórum de Pesqueira inauguradas em 07/09/1953 pelo Dr. Cícero Galvão (juiz) e por Dr. Pedro Callou (promotor).

 

Banco do Povo

 

Banco do Povo, primeiro andar à esquerda ao lado do antigo Pesqueira Hotel

Apoiou a construção do novo prédio da agência do Banco do Povo inaugurado em 22/08/1953, localizado na atual Praça Getúlio Vargas (antiga Marquês do Herval), onde hoje se encontra a agência do Bradesco. Estiveram presentes entre outros: o Comendador Antônio Martins do Eirado (representando a diretoria do banco), Dr. Renato Pires Ferreira (gerente da matriz), Pedro de Souza (deputado federal) e Abel Viana (prefeito de Caruaru). Vale ressaltar que o Banco do Povo já possuía um escritório em Pesqueira desde 19/09/1936, ao que consta foi o primeiro correspondente bancário a se instalar na cidade.

 

Posto de Puericultura

 

            Manteve o apoio dado por seu antecessor Ésio Araújo, recebendo em 05/06/1952 a visita do Dr. Orlando Parahym (Secretário de Saúde do Estado), do Dr. José Maurício (Diretor do Serviço de Proteção à Maternidade e à Infância do Estado) e do Deputado José Rodrigues (representante de Arcoverde na Assembleia Legislativa). Ambos vieram dialogar sobre os últimos ajustes para funcionamento do Posto que seria inaugurado em 02/08/1952.

 

Estrada Pesqueira-Monteiro 

 

A qualidade das fotografias não são boas, mas vale o registro pela importância da obra.

            A reportagem intitulada “A construção da rodovia interestadual Pesqueira-Monteiro/PB” publicada no Diário de Pernambuco (13/09/1952) trás importantes elementos que denotam a magnitude dessa obra e revelam a coragem e a determinação do prefeito Laércio Valença em tirar do papel um sonho antigo dos pesqueirenses.

           Em meados da década de 1920 o escritor Zeferino Galvão e o jornalista Anísio Galvão defendiam em artigos publicados na Gazeta de Pesqueira a importância dessa estrada para o progresso e o desenvolvimento da região com a ligação entre os estados de Pernambuco e da Paraíba cortando a Serra do Ororubá passando pela secular Vila de Cimbres até chegar a Monteiro numa extensão aproximada de 60 quilômetros.

            O jornalista chama a atitude do prefeito de “um atrevimento louvável”, na medida em que indaga como pode se fazer uma obra tão grande com um orçamento limitado? Visto que, as receitas municipais para o exercício de 1952 seriam de 3 milhões e 600 mil cruzeiros com igual despesa prevista. Portanto, de onde tirar recursos?

            A resposta, em primeiro lugar foi à coragem do prefeito que iniciou as obras em julho de 1952 contando apenas com as quotas constitucionais obrigatórias do Departamento Estadual de Rodagem (DER) que nos meses de julho e agosto foram de Cr$ 67.819,00 e nenhum centavo a mais. Mesmo com toda dificuldade de uma receita restrita a prefeitura ainda deu a contrapartida para que chegasse ao valor de Cr$ 120.000,00 gastos nos dois meses iniciais da obra.

            Para termos ideia da coragem do prefeito, além dos recursos minguados disponíveis tinha outros obstáculos ainda maiores para abrir a estrada cortando a íngreme Serra do Ororubá: penhascos, pedras e rochas em quantidades incalculáveis que necessitariam de um projeto de engenharia, maquinários adequados e um bom volume de recursos.

            Todavia, pasmem os leitores a estrada foi aberta sem máquinas, da forma mais primitiva possível com a força braçal de trabalhadores destemidos usando picaretas, alavancas, marretas, enxadas, pás e dinamites para explodir as pedras e rochas que eram retiradas com o auxilio do único equipamento mecânico disponível: um tratorzinho emprestado pelas Fábricas Peixe.

         Tudo isso era feito com a supervisão e liderança de Laércio Valença que dirigia os serviços pessoalmente e com um sorriso no rosto. O seu otimismo era tanto que disse ao repórter: “A estrada tem que sair nem que eu bote talhadas de sangue!” Percebe-se a obstinação de um homem de boa vontade e ação em busca dos seus objetivos, mesmo diante da incredulidade de muitos que achavam impossível a obra.

Subida do Bairro Xucurus, antiga estrada para Cimbres em 1955
Fonte: IBGE

            Ao que consta o trajeto original da antiga estrada de Pesqueira a Vila de Cimbres foi mudado para que não tivesse uma subida tão íngreme, uma vez que o antigo acesso se dava pelo Bairro do Xucurus passando pela chamada Serrinha. Com isso o novo trajeto passou a iniciar na Avenida Ésio Araújo confrontando com a Rua Carlos da Silva Leitão, a popular Avenida do Estádio. Cabe registrar que com a abertura da estrada por esse novo caminho surge o Bairro da Caixa D’Água.

            No início da década de 1980 quando iniciaram as obras de pavimentação da estrada, Francisco Leone defendia no Diário de Pernambuco (30/01/1981) que o nome de Laércio Valença fosse colocado na PE 219 como homenagem ao prefeito e justifica: 

 

“[...] Observo que máquinas pesadas trabalham na antiga estrada de Monteiro. Aquela subida poeirenta lembra-me o pioneirismo de Laércio Valença, abrindo na rocha, apenas com picaretas e marretas, suor e muito amor a Pesqueira a estrada de Monteiro. As grandes máquinas rasgam a Serra, indiferentes, talvez, ao trabalho realizado por Laércio na década de 50, quando prefeito do município. Trabalho executado ombro a ombro com operários dedicados, enfrentando problemas financeiros e, a bem da verdade, incompreensões de visões limitadas, de negativistas. Os da minha geração sabem que não estão mentindo.[...]”

 

            Esse trecho revela a magnitude da iniciativa do prefeito Laércio Valença, basta pensarmos que na atualidade mesmo dispondo de projetos rodoviários usando tecnologia de ponta, equipamentos de última geração e recursos financeiros bem mais volumosos que outrora, como explicar tantas rodovias em péssimas condições no nosso país? Falta boa vontade, ação e coragem aos nossos políticos, com raras exceções, e sem dúvida alguma o cidadão Laércio Valença foi uma delas há longínquos 73 anos.

        Depois de deixar a prefeitura, Laércio Valença ainda fundaria a Companhia Telefônica de Pesqueira CTP em 1968, e em janeiro daquele já tinha 130 assinantes para instalação de telefones automáticos em suas residências. Trazendo em março do mesmo ano as primeiras 70 unidades de telefones automáticos para serem comercializados em Pesqueira.

            Láercio Vilela Valença faleceu em Pesqueira no dia 11 de julho de 1981, deixando o legado de integridade, trabalho e coragem que norteou a sua vida como homem da justiça e da política com princípios morais e atitudes sempre voltadas para o bem comum, foi outro exemplo de quem fez do cargo público um ato de servir.

 

Por Fábio Menino de Oliveira

 

Referências Bibliográficas 

DIÁRIO DE PERNAMBUCO - edições de 02/08/1947; 10/06/1950; 17/06/1951; 17/10/1951; 04/12/1951; 22/06/1952; 13/09/1952; 08/05/1953; 29/08/1953; 14/10/1953; 02/10/1954; 03/04/1955; 26/01/1968; 21/07/1979; e 30/01/1981.

FAMILY SEARCH https://www.familysearch.org/pt/tree/pedigree/landscape/G6MR-2FN 

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