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sexta-feira, 25 de março de 2016

CANGACEIROS ATACAM A FAZENDA CABO DO CAMPO, PESQUEIRA-PE


Sítio Cabo do Campo, localizado no centro do mapa, entre os sítios Capim Grosso e Campina Nova,
próximo à Vila de Cimbres, Pesqueira-PE,

O título deste artigo foi dado por mim, no entanto, abaixo transcreverei na íntegra a notícia publicada no jornal A NOITE (Rio de Janeiro, sábado, 30 de outubro de 1937, ano XXV, nº 9.239, p. 2):

Os bandidos da meia-noite

PESQUEIRA, Pernambuco, outubro (Serviço especial d' A NOITE) – A cidade acaba de ter a notícia da prisão de um cangaceiro autor de vários crimes, capturado na Vila de Cimbres.
Trata-se de um ex-comparsa de Lampeão, alcunhado de “Cobra Verde” e “Come-Longe”, que levou a efeito o assalto da fazenda chamada Cabo do Campo, à frente de mais dois bandidos, um deles também cangaceiro, o Ricardino, e um outro “cabra” chamado João Isidoro.

Quem são os bandidos

O chefe dos assaltantes chama-se Florentino Paulo da Silva, natural do Brejo da Madre de Deus, Pernambuco, conta 28 anos de idade, é um tipo repugnante, mas que agora de preso tenta dar à face uma expressão cínica de inocência, apesar de confessar sem comoção todos os seus hediondos crimes.
Contou-nos que esteve no grupo de “Lampeão” durante seis anos, tendo tomado parte em muitos tiroteios com as polícias de vários Estados.
Disse-nos no entanto que o seu papel no grupo não era o de bandido propriamente, mas encarregava-se das compras para o bando, e às vezes também na preparação da comida.
Fala muito mansamente, procurando dar um ar inocente à expressão do seu rosto, como dissemos acima, e entretanto enterrou friamente até o cabo enorme faca no peito da sua pobre vítima.
O outro assaltante, foi Antônio Ricardino da Silva, ex-sargento da polícia Paraibana, e, ao que informa “Cobra Verde”, também pertenceu a um grupo de cangaceiros, Ricardino é analfabeto, mas foi promovido àquele posto por atos de bravura quando as forças paraibanas sitiavam a cidade de Princesa, naquele Estado.
O terceiro “cabra” chamava-se João Isidoro e foi arranjado por “Cobra Verde” por sabê-lo “bem-disposto e valente”.

O motivo do crime

O cangaceiro capturado confessou que assaltara a fazenda porque soubera que o seu proprietário era homem rico e que tinha muito dinheiro em casa.
Essa informação foi prestada pelo indivíduo José Cabral, que também neste momento se acha preso na cadeia da cidade.

O crime

Assim, informados e guiados pelo indivíduo José Cabral, dirigiram-se para a fazenda Cabo do Campo, de propriedade de José Gabriel de Oliveira, que naquela ocasião estava em casa só com seu irmão Antônio Graciliano Leite.
À meia-noite, mais ou menos, bateram à porta do fazendeiro, que, ao abrir foi logo agarrado pelos criminosos.
Cobra Verde levava, como os outros, rifle, e uma faca conhecida em Pernambuco com o nome “peixeira”, porque é usada pelos vendedores para cortar peixe. Isidoro levava também um parabélum.
Pegados de surpresa, os dois homens tiveram que se render às ameaças dos facínoras, que exigiram logo que lhes fosse entregue todo o dinheiro que houvesse em casa, que eles acreditavam fossem 10 contos.
José Gabriel mostrou-lhes o dinheiro que possuía no momento, 1:400$000, que foi logo tomado pelos bandidos. Em seguida, duvidando que fosse aquele o único dinheiro que havia na casa, entraram a corrê-la, nada mais achando.
Após o saque, Cobra Verde saca da “peixeira” e friamente, enterra-a até o cabo no peito de José Gabriel. O irmão da vítima, ao ver o espetáculo, tenta reagir, mas no mesmo instante cai varado por duas balas de rifle e várias de parabélum.
Em seguida ao crime os bandidos evadiram-se.

A prisão de “Cobra Verde”

No dia seguinte, ao encontro dos corpos das vítimas, o comissário de Cimbres avisou o delegado de Pesqueira, capitão Manoel Maximiano dos Santos, que seguiu para o local do crime.
Imediatamente foram iniciadas as diligências para a captura dos cangaceiros, e somente muitos dias após o inspetor do distrito de Caroá conseguiu prender Cobra Verde em Afogados da Ingazeira.
Os outros dois criminosos continuam foragidos, mas com a polícia nas suas pegadas. (ortografia atualizada).

Cobra Verde (em pé e de braços cruzados) sendo interrogado na delegacia de Pesqueira.
Foto: d' A NOITE.

O crime praticado contra José Gabriel de Oliveira e Antônio Graciliano Leite ocorreu no dia 17 de setembro de 1937, conforme consta nas certidões de óbitos de ambos, que, localizei no Livro de Óbitos nº 3, 1935/1939, fls. 65v e 66, do Cartório do Registro Civil da Vila de Cimbres, Pesqueira-PE:

Assento de óbito número 558. Aos dezoito de Setembro de mil novecentos e trinta e sete, nesta Vila de Cimbres do município de Pesqueira, compareceu em meu cartório João Vitalino do Nascimento e declarou: Que ontem as onze digo as vinte e três horas no sítio Cabo do Campo, deste distrito devido homicídio faleceu, José Gabriel de Oliveira, solteiro, filho de Manoel Manoel Leite da Silva e Antônia Vitalina do Nascimento e foi sepultado no cemitério desta Vila. Eu, Francisco Tenório da Rocha Freire, Escrivão que o escrevi e assino. Francisco Tenório da Rocha Freire.

Assento de óbito número 559. Aos dezoito de Setembro de mil novecentos e trinta e sete, nesta Vila de Cimbres do município de Pesqueira, compareceu em meu cartório João Vitalino do Nascimento e declarou: Que ontem as onze digo as vinte e três horas no sítio Cabo do Campo, deste distrito devido homicídio faleceu, Antônio Graciliano Leite, filho de Manoel Lourenço Leite e Antônia Vitalina do Nascimento, solteiro, com quarenta anos de idade e foi sepultado no cemitério desta Vila. Eu, Francisco Tenório da Rocha Freire, Escrivão que o escrevi e assino. Francisco Tenório da Rocha Freire. João Vitalino.


Diante do contexto da notícia supracitada é possível notar a ação de grupos de cangaceiros na região compreendida entre os distritos de Mimoso e Cimbres, no município de Pesqueira-PE, demonstrando o quanto esse movimento estava presente e enraizado em todo o nordeste brasileiro, no período que compreende o final do século XIX e início do século XX.



Por Fábio Menino de Oliveira.

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