terça-feira, 29 de abril de 2025

PREFEITO LAÉRCIO VALENÇA (1951-1955)

Prefeito Laércio Valença.
Cortesia do seu filho Pe. Eduardo Valença

  

Laércio Vilela Valença nasceu na casa da fazenda de seu pai, nas margens do riacho Baixa Grande, em Pesqueira,  no dia 13 de janeiro de 1914. Filho do professor, escrivão da coletoria estadual e delegado de polícia, coronel Desidério Alves da Silva Valença (1868-1938) e de sua segunda esposa Galiana Hermínia Teixeira Vilela (1874-1927) casados em São Bento do Una no dia 06/06/1900.

Desidério Alves da Silva Valença

Neto paterno de Joaquim Alves da Silva Valença (1830-1884) e Cândida Emília Rodrigues (1836-1901) casados em São Bento do Una no dia 11/11/1857. Neto materno do major Cândido Carlos da Costa Vilela (1837-1907) e Francisca Quitéria de Barros (1843-1909) casados em Bom Conselho no dia 30/07/1873.

Laércio Valença teve 11 irmãos: Joaquim e Cândida Emília Mota Valença (filhos de Maria da Mota Valença, primeira esposa de Desidério Valença); Libério, José Desidério, Viterbo, Luiza, Laura, Teresa, Clarisse, Corsina e Maria Vilela Valença (2⁰ casamento).


Laércio e Ady no seu casamento em 1947
Cortesia do Pe. Eduardo Valença

Casou na Fazenda São Jorge (nova denominação da Cacimba de Paus, na região de Salobro) em 22/11/1947 com Maria Ady de Freitas Valença, nascida na Fazenda Cacimba de Paus em 15/04/1925.  Filha do major Jorge Rodrigues Pereira de Freitas e da sua segunda esposa Maria Umbelina de Freitas. Neta paterna do capitão José Rodrigues Pereira de Freitas e de Thereza Perpétua de Jesus Freitas “a jovem”, que casaram na Fazenda Mutuca em 08/11/1864. Neta materna de Martim Francisco Ignácio da Silva e Umbelina Benigna de Almeida.

Do matrimônio de Laércio e Ady nasceram 4 filhos: Eduardo, Célia, Sérgio e Mauro de Freitas Valença.

Laércio Valença era proprietário, criador e nos anos 1940 trabalhou na Fábrica Peixe, passando nos anos de 1950 a laborar na J. Freitas, empresa que representava a Ford em Pesqueira e que pertencia à Fábrica Peixe. Desempenhou também as funções de juiz substituto da Comarca de Pesqueira a partir de 1950.

Além das funções profissionais, passou a dedicar-se a política sendo nomeado prefeito de Pesqueira em 2 de agosto de 1947 e permanecendo no cargo até 15 de novembro do mesmo ano quando passou a prefeitura para Ésio Araújo que havia sido eleito em 26/10/1947.

A experiência de três de meses a frente do executivo municipal e o seu prestígio perante a sociedade pesqueirense levaram o Partido Social Democrático (PSD) a escolhê-lo como candidato a prefeito nas eleições de 1º de julho de 1951, obteve uma votação expressiva de 4.601 sufrágios contra 650 votos do candidato oposicionista Emílio Araújo Cavalcanti (Aliança Democrática – PDC/PTB).

Em entrevista ao jornalista M. Albuquerque do Diário de Pernambuco (17/06/1951) durante a eleição declarou como suas principais propostas realizar uma administração eficiente voltada para os interesses e os problemas mais urgentes do município, sobretudo, priorizar a conservação e ampliação das estradas interdistritais melhorando a malha rodoviária pesqueirense. Por seu ponto de vista, o jornalista o define como “cidadão modesto, trabalhador e esclarecido”, um verdadeiro “candidato popular”.

O prefeito Laércio Valença tomou posse em 15 de novembro de 1951 juntamente com o vice-prefeito Manuel Tenório de Brito e os subprefeitos distritais Malaquias Vieira (Poção) e Josué Bezerra Leite (Cimbres), todos do PSD. Como Secretario Municipal da Prefeitura assumiu Othon Augusto de Almeida. 

No legislativo municipal assumiram os seguintes vereadores: PSD (7) – Enedino de Freitas (Mutuca), Amaury de Brito (Mimoso), Manuel Soares de Macedo (Salobro), Epifânio Vasconcelos (Poção), Malaquias Medeiros (Poção), Severino Melo (cidade) e Luiz Neves (cidade); PDC (1) – João Elias de Macedo (Salobro); e PTB (1) – Dr. Petronilo de Freitas (cidade).

A mesa diretora seria formada no primeiro biênio 1952/1953 pelos vereadores Enedino de Freitas (Presidente), Epifânio Vasconcelos (Vice-Presidente), Amaury de Brito (1º Secretário) e Severino Melo (2º Secretário). Luiz Neves era o líder da maioria e Dr. Petronilo de Freitas, líder da minoria.

Sobre a sua posse na prefeitura assim escreveu o jornalista Eugênio Chacon no Diário de Pernambuco (04/12/1951): “Assume assim as rédeas do governo municipal um moço cheio de esperança, desejoso de conduzir à nau administrativa dentro dos ditames da democracia, aplicando sua inteligência e sua integridade aos negócios públicos (...)”. Destacam-se as palavras esperança, inteligência e integridade quando se refere a Laércio Valença.

Com as informações obtidas através dos jornais podemos destacar as seguintes obras e ações como prefeito de Pesqueira:

 

Criação do Plano Municipal de Assistência à Agricultura e à Pecuária

 

            Aquisição do terreno e construção do Posto Agropecuário de Pesqueira para atender os criadores e agricultores do município. Em ação conjunta fez a doação de um terreno da prefeitura no Sítio Pedra D’Água para que a União instala-se o Campo de Sementeira sob a orientação técnica do Fomento Agrícola Federal destinado à manutenção e cultura de produtos cuja finalidade seria a utilização pelo Posto Agropecuário.

 

Linha Telefônica de Poção

 

            Substituição dos postes da rede telefônica distrital que fazia a ligação entre Pesqueira e o ainda distrito de Poção que seria emancipado em 29/12/1953 durante o seu mandato. Além disso, fez os reparos e a manutenção em todo sistema de comunicação.

 

Restauração de máquina para o serviço de luz

 

            Conserto com substituição de peças e construção de nova base em concreto para motor na Usina Elétrica Municipal no intuito de sanar o problema da falta de luz tanto na iluminação pública como particular.

 

Reforma de um logradouro no Bairro do Prado

 

            Colocação de aterro, serviço de terraplanagem e construção de bueiros para melhorar o trafego de carros e caminhões na avenida principal do Bairro do Prado, à época em fase de expansão e desenvolvimento.

 

Calçamento na Rua Cardeal Arcoverde

 

Trecho da Rua Cardeal Arcoverde antes do calçamento
Álbum Ésio Araújo

       Iniciado em junho de 1952 o serviço de pavimentação em paralelepípedos da Rua Cardeal Arcoverde para concluir o trecho que faltava até encontrar a Praça Comendador José Didier.

 

Praça Dom José Lopes

 

            Inaugurada em 09/09/1941 passou por uma completa restauração dos seus jardins em 1954 para deixá-la ainda mais bela.

 

Galpão para silos

 

Construção em 1953 de galpão para instalação de 10 silos para armazenamento de 100 sacos cada, disponibilizados pelo Dr. Eudes Pinto de Souza Leão, Secretário de Agricultura do Estado, ação que beneficiava os agricultores. 

 

Apoio aos Jornais

 

Enviou para a Câmara de Vereadores o Projeto de Lei n⁰ 247/53 que concedia um auxílio mensal de 600 cruzeiros para apoiar os jornais Gazeta de Pesqueira, A Voz de Pesqueira e Folha de Pesqueira; e 250 cruzeiros trimestrais ao jornal literário O Itinerário.

 

Auxílio aos pobres 

 

Articulou junto a Legião Brasileira de Assistência (LBA) a distribuição de alimentos para as pessoas carentes do município durante a seca de 1953. A LBA distribuiu 600 kg de charque, 20 sacos de feijão, 20 sacos de farinha e 20 sacos de açúcar.

 

Cooperativa

 

Cooperação para instalação da filial da Cooperativa dos Rodoviários de Pernambuco ligada ao DNER em 1953, com vistas a prestar assistência médica e fornecer gêneros alimentícios aos trabalhadores da estrada Pesqueira-Monteiro. 

 

Aviação 

 

Por sua solicitação Pesqueira foi inclusa em abril de 1955 na rota área do interior através do Consórcio Real-Aerovias, uma das principais companhias áreas brasileira na década de 1950 e que operava com aviões Douglas DC-3 de pequeno porte ideais para aeroportos do interior e que pousariam no Campo de Aviação da cidade.

 

Fórum 

 

Apoio dado à magistratura e os serventuários da justiça com aquisição de móveis para as novas instalações do Fórum de Pesqueira inauguradas em 07/09/1953 pelo Dr. Cícero Galvão (juiz) e por Dr. Pedro Callou (promotor).

 

Banco do Povo

 

Banco do Povo, primeiro andar à esquerda ao lado do antigo Pesqueira Hotel

Apoiou a construção do novo prédio da agência do Banco do Povo inaugurado em 22/08/1953, localizado na atual Praça Getúlio Vargas (antiga Marquês do Herval), onde hoje se encontra a agência do Bradesco. Estiveram presentes entre outros: o Comendador Antônio Martins do Eirado (representando a diretoria do banco), Dr. Renato Pires Ferreira (gerente da matriz), Pedro de Souza (deputado federal) e Abel Viana (prefeito de Caruaru). Vale ressaltar que o Banco do Povo já possuía um escritório em Pesqueira desde 19/09/1936, ao que consta foi o primeiro correspondente bancário a se instalar na cidade.

 

Posto de Puericultura

 

            Manteve o apoio dado por seu antecessor Ésio Araújo, recebendo em 05/06/1952 a visita do Dr. Orlando Parahym (Secretário de Saúde do Estado), do Dr. José Maurício (Diretor do Serviço de Proteção à Maternidade e à Infância do Estado) e do Deputado José Rodrigues (representante de Arcoverde na Assembleia Legislativa). Ambos vieram dialogar sobre os últimos ajustes para funcionamento do Posto que seria inaugurado em 02/08/1952.

 

Estrada Pesqueira-Monteiro 

 

A qualidade das fotografias não são boas, mas vale o registro pela importância da obra.

            A reportagem intitulada “A construção da rodovia interestadual Pesqueira-Monteiro/PB” publicada no Diário de Pernambuco (13/09/1952) trás importantes elementos que denotam a magnitude dessa obra e revelam a coragem e a determinação do prefeito Laércio Valença em tirar do papel um sonho antigo dos pesqueirenses.

           Em meados da década de 1920 o escritor Zeferino Galvão e o jornalista Anísio Galvão defendiam em artigos publicados na Gazeta de Pesqueira a importância dessa estrada para o progresso e o desenvolvimento da região com a ligação entre os estados de Pernambuco e da Paraíba cortando a Serra do Ororubá passando pela secular Vila de Cimbres até chegar a Monteiro numa extensão aproximada de 60 quilômetros.

            O jornalista chama a atitude do prefeito de “um atrevimento louvável”, na medida em que indaga como pode se fazer uma obra tão grande com um orçamento limitado? Visto que, as receitas municipais para o exercício de 1952 seriam de 3 milhões e 600 mil cruzeiros com igual despesa prevista. Portanto, de onde tirar recursos?

            A resposta, em primeiro lugar foi à coragem do prefeito que iniciou as obras em julho de 1952 contando apenas com as quotas constitucionais obrigatórias do Departamento Estadual de Rodagem (DER) que nos meses de julho e agosto foram de Cr$ 67.819,00 e nenhum centavo a mais. Mesmo com toda dificuldade de uma receita restrita a prefeitura ainda deu a contrapartida para que chegasse ao valor de Cr$ 120.000,00 gastos nos dois meses iniciais da obra.

            Para termos ideia da coragem do prefeito, além dos recursos minguados disponíveis tinha outros obstáculos ainda maiores para abrir a estrada cortando a íngreme Serra do Ororubá: penhascos, pedras e rochas em quantidades incalculáveis que necessitariam de um projeto de engenharia, maquinários adequados e um bom volume de recursos.

            Todavia, pasmem os leitores a estrada foi aberta sem máquinas, da forma mais primitiva possível com a força braçal de trabalhadores destemidos usando picaretas, alavancas, marretas, enxadas, pás e dinamites para explodir as pedras e rochas que eram retiradas com o auxilio do único equipamento mecânico disponível: um tratorzinho emprestado pelas Fábricas Peixe.

         Tudo isso era feito com a supervisão e liderança de Laércio Valença que dirigia os serviços pessoalmente e com um sorriso no rosto. O seu otimismo era tanto que disse ao repórter: “A estrada tem que sair nem que eu bote talhadas de sangue!” Percebe-se a obstinação de um homem de boa vontade e ação em busca dos seus objetivos, mesmo diante da incredulidade de muitos que achavam impossível a obra.

Subida do Bairro Xucurus, antiga estrada para Cimbres em 1955
Fonte: IBGE

            Ao que consta o trajeto original da antiga estrada de Pesqueira a Vila de Cimbres foi mudado para que não tivesse uma subida tão íngreme, uma vez que o antigo acesso se dava pelo Bairro do Xucurus passando pela chamada Serrinha. Com isso o novo trajeto passou a iniciar na Avenida Ésio Araújo confrontando com a Rua Carlos da Silva Leitão, a popular Avenida do Estádio. Cabe registrar que com a abertura da estrada por esse novo caminho surge o Bairro da Caixa D’Água.

            No início da década de 1980 quando iniciaram as obras de pavimentação da estrada, Francisco Leone defendia no Diário de Pernambuco (30/01/1981) que o nome de Laércio Valença fosse colocado na PE 219 como homenagem ao prefeito e justifica: 

 

“[...] Observo que máquinas pesadas trabalham na antiga estrada de Monteiro. Aquela subida poeirenta lembra-me o pioneirismo de Laércio Valença, abrindo na rocha, apenas com picaretas e marretas, suor e muito amor a Pesqueira a estrada de Monteiro. As grandes máquinas rasgam a Serra, indiferentes, talvez, ao trabalho realizado por Laércio na década de 50, quando prefeito do município. Trabalho executado ombro a ombro com operários dedicados, enfrentando problemas financeiros e, a bem da verdade, incompreensões de visões limitadas, de negativistas. Os da minha geração sabem que não estão mentindo.[...]”

 

            Esse trecho revela a magnitude da iniciativa do prefeito Laércio Valença, basta pensarmos que na atualidade mesmo dispondo de projetos rodoviários usando tecnologia de ponta, equipamentos de última geração e recursos financeiros bem mais volumosos que outrora, como explicar tantas rodovias em péssimas condições no nosso país? Falta boa vontade, ação e coragem aos nossos políticos, com raras exceções, e sem dúvida alguma o cidadão Laércio Valença foi uma delas há longínquos 73 anos.

        Depois de deixar a prefeitura, Laércio Valença ainda fundaria a Companhia Telefônica de Pesqueira CTP em 1968, e em janeiro daquele já tinha 130 assinantes para instalação de telefones automáticos em suas residências. Trazendo em março do mesmo ano as primeiras 70 unidades de telefones automáticos para serem comercializados em Pesqueira.

            Láercio Vilela Valença faleceu em Pesqueira no dia 11 de julho de 1981, deixando o legado de integridade, trabalho e coragem que norteou a sua vida como homem da justiça e da política com princípios morais e atitudes sempre voltadas para o bem comum, foi outro exemplo de quem fez do cargo público um ato de servir.

 

Por Fábio Menino de Oliveira

 

Referências Bibliográficas 

DIÁRIO DE PERNAMBUCO - edições de 02/08/1947; 10/06/1950; 17/06/1951; 17/10/1951; 04/12/1951; 22/06/1952; 13/09/1952; 08/05/1953; 29/08/1953; 14/10/1953; 02/10/1954; 03/04/1955; 26/01/1968; 21/07/1979; e 30/01/1981.

FAMILY SEARCH https://www.familysearch.org/pt/tree/pedigree/landscape/G6MR-2FN 

sexta-feira, 25 de abril de 2025

PREFEITO ÉSIO ARAÚJO (1947-1951)


 

Ésio Magalhães Araújo nasceu em Pesqueira no dia 26 de março de 1912. Filho de José Araújo e Albuquerque – fundador das Casas José Araújo em 1890 - e de Maria Magalhães de Araújo “D. Santa. Neto paterno do Major Thomás de Araújo e Albuquerque e Guilhermina Filotéia de Oliveira Melo, irmã entre outros do Cel. Didier do Rego Maciel. Neto materno do português Guilherme Rodrigues Belas e Cândida Magalhães da Silva Porto.

Casou em Pesqueira no dia 29 de outubro de 1938 com Dulzaura Mattos Guerra Paraíba que depois de casada passou a assinar Dulzaura Paraíba Araújo “D. Dulzinha” (Pesqueira, 18/06/1918 – Recife, 21/12/1983). Filha do médico rio-grandense radicado em Pesqueira, Dr. Lídio Paraíba e Acilda Mattos Guerra Paraíba.

Ésio e D. Dulzinha tiveram 6 filhos: 1 – Maria Enilda Paraíba Araújo (Pesqueira, 03/11/1939) casada com Ivan Brindeiro; 2 -  Glauce Paraíba Araújo (Pesqueira, 16/03/1941); 3 – Ana Júlia Paraíba Araújo (Pesqueira, 26/07/1947 – Recife, 27/05/2003); 4 -  Marília Paraíba Araújo (Pesqueira, 30/05/1945) casada com Rogério Teixeira Cavalcanti; 5 – Maria Paraíba Araújo (Recife, 22/04/1950 – 25/04/1950); e 6 – Ésio Magalhães Araújo Filho (Pesqueira, 26/06/1952) casado com Edna Lúcia de Melo Araújo.

Engenheiro Agrônomo formado em 1934 pela Escola Superior de Agricultura de São Bento, zona rural de Tapera, município de São Lourenço da Mata; criador de cavalos da raça inglesa, sendo proprietário do Haras Pesqueira; comerciante e diretor presidente da Auto e Acessórios Zé Araújo S/A; membro da Comissão de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco (CODEPE); e sócio fundador da Federação das Associações Rurais de Pernambuco (FARP).

Com esse currículo e gozando de prestígio entre a sociedade pesqueirense foi escolhido como candidato a prefeito pelo PSD vencendo na disputa o comerciante Adalberto Araújo Cavalcanti (PRP) no pleito realizado em 26 de outubro de 1947. Vale salientar que esta foi à primeira eleição democrática após onze anos, uma vez que a última tinha sido em 21/04/1936. Porquanto, no período de 17/10/1930 a 15/11/1947 todos os prefeitos foram nomeados em razão da Revolução de 30 e do Estado Novo, a exceção foi o tenente Dorgival Galindo que foi eleito em 1936, sendo afastado em 11/12/1937 pelo Estado Novo.

Ésio Araújo assumiu o mandato em 15 de novembro de 1947 na volta do regime democrático e nele permaneceu até 15 de novembro de 1951. Por coincidência o seu antecessor e sucessor foi o também competente prefeito Laércio Vilela Valença, sobre o qual trataremos em artigo posterior.

Na época o cargo de vice-prefeito era exclusivo de cidades com arrecadação superior a 100 milhões de Cruzeiros, com isso apenas em 6 cidades pernambucanas houve eleição para o cargo (Recife, Olinda, Jaboatão, Vitória de Santo Antão, Caruaru e Garanhuns). Nos demais municípios eram escolhidos subprefeitos de acordo com a densidade demográfica variando entre um e quatro.

No caso de Pesqueira, foram eleitos três subprefeitos: Alberto de Castro Sá Barreto (Pesqueira – distrito sede); João Alves Bezerra (Cimbres – 2º distrito) e Malaquias Batista Vieira de Melo (Poção – 4º distrito). Além destes colaborava com a administração o Secretário Municipal da Prefeitura, cuja função era desempenhada por Luís de Oliveira Neves, ainda jovem e que ganharia destaque na política pernambucana.

Para a Câmara de Vereadores foram eleitos 10 edis: Manuel Tenório de Brito, Félix Alves Maciel, Epifânio Vasconcelos, Enedino de Freitas Mendonça, Tito Cordeiro Wanderley, Luiz Ferreira da Rocha, Luiz Clóvis de Freitas, José de Almeida Maciel – renunciou em 10/02/1949 e foi substituído por Laurentino Ventura Caracciolo (PSD – bancada da situação), Luiz Gonzaga Almeida (PDC) e Genésio de Oliveira Rosas (PRP). Estes dois últimos formavam a bancada de oposição.

Pois bem, feita estas linhas introdutórias convido os leitores a observarem a preocupação que o prefeito Ésio Araújo demonstrava com o desenvolvimento de nossa Pesqueira. Nesta entrevista concedida à Folha de Pesqueira, há 76 anos, ao jornalista Paulo de Oliveira, que também era diretor e editor do jornal, ele aborda os desafios administrativos enfrentados para dotar Pesqueira de infraestrutura básica, pavimentando o caminho rumo à modernidade.

O conteúdo da entrevista representa uma verdadeira lição para os prefeitos da atualidade, na medida em que Ésio Araújo evidenciava um compromisso exemplar com as finanças públicas, prezando pela correta aplicação dos recursos e pela transparência nas informações prestadas à população.

Apesar de datada de 23 de janeiro de 1949, essa entrevista continua atual em diversos aspectos, revelando que, já naquela época, havia gestores comprometidos com o bem comum e que conduziam a gestão pública com seriedade e responsabilidade.

Leiam a entrevista:

 

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    A AÇÃO ADMINISTRATIVA DO PREFEITO ÉSIO ARAÚJO

 

Precisamente em janeiro do ano findo este jornal dava ao público importante reportagem intitulada “RUMOS CERTO” sobre a atividade administrativa do dr. Ésio Araújo, em apenas dois meses que havia assumido o governo constitucional do município. E falou-nos então o prefeito pesqueirense sobre o volume de vales acumulados nos cofres da municipalidade, dando aos mesmos regularidades, através de créditos voltados pela Câmara Municipal.

FOLHA DE PESQUEIRA, reiniciando hoje sua publicação, precisamente no mês que coincide com aquela reportagem de que nos ocupamos oferece ao público este amplo noticiário obtido através de uma entrevista que nos concede o Sr. Ésio Araújo.

Encontramos o prefeito em seu gabinete de trabalho e manifestamos-lhe o desejo de ouvi-lo numa palestra que seria bem uma demonstração das atividades do seu governo, durante o ano findo. Atendendo-nos com a gentileza que lhe é peculiar, o ilustre pesqueirense à primeira indagação que fizemos, sobre qual o aspecto financeiro da Prefeitura em 1948, disse-nos, que durante o ano findo a arrecadação do município ultrapassou a todas as expectativas.

O Orçamento teve a sua receita prevista em Cr$ 1.220.000,00 (...) enquanto que a arrecadação atingiu Cr$ 1.904.532,60 (...), que resultou em superávit de Cr$ 684.532,60. Juntando-se a quantia de Cr$ 1.904.532.60 (...) arrecadada no exercício de 1948, com o saldo que veio de 1947 para o exercício em tela teremos o total de Cr$ 2.035.159,80 (...).

Ora, confrontando-se as receitas arrecadadas entre 1947 e 1948, encontraremos uma diferença de Cr$ 598.388,00. E é oportuno frisar que se a Prefeitura tivesse recebido a quota completa do governo federal, a que tem direito, conforme lei nº 305, de 18 de julho do ano findo, como igualmente a quota de 50% do Estado, referente ao Imposto Territorial Rural, a receita do município, em 1948, ascenderia, indubitavelmente a dois milhões de cruzeiros.

Concernente à despesa – continua o prefeito – esta ficou mais ou menos equilibrada com a receita, incluindo-se o saldo que veio de 1947, pois durante o exercício que terminou a municipalidade dispendeu, nos diversos serviços públicos com a quantia de Cr$ 1.936.343,00. Vê-se, pois, que a despesa foi invertida na justa proporção da capacidade financeira do município, atendendo assim ao interesse comum da coletividade. A Prefeitura está em dia com o comércio e o funcionalismo – concluiu o Sr. Ésio Araújo à nossa primeira indagação, sobre o estado financeiro do município no ano findo.

Abordamo-lo então sobre quais os melhoramentos executados na cidade e qual o montante dos dinheiros aplicados. E continuou a falar-nos acrescentado ter o melhor prazer em declarar como fora aplicado o dinheiro público, acentuando que a maior obra realizada no ano findo fora a ampliação do prédio da usina elétrica e concomitantemente, o conserto do motor “National” de 90 HP que, há quase quatro anos, estava sem funcionar, hoje, porém, em pleno funcionamento e fornecendo energia a três secções.

É de justiça acentuar que muito se deve ao ex-prefeito Sr. Laércio Valença, pelo inestimável serviço prestado quando da soldagem e do assentamento do eixo da máquina geradora, trabalho este que requereu de sua pessoa um esforço extraordinário, comprovante da sua competência por tão delicado empreendimento. Vale acrescentar os serviços de grande monta, como por exemplo: a construção da caldeira; a confecção de um quadro elétrico; a distribuição de nova rede no interior do prédio; a construção ainda de um prédio onde irá funcionar uma bomba destinada ao abastecimento d’água à usina – serviço precaríssimo, de ver que prejudicava seriamente o funcionamento das máquinas, dada a falta d’água para a necessária refrigeração.


 Adquirimos quatro grandes transformadores


E o prefeito numa conversa fluente continua dizendo que foram adquiridos quatro grandes transformadores e instalados cinquenta postes de cimento armado em diversas artérias da cidade, alguns focos de luz fluorescente, como se verifica na Rua Duque de Caxias e Praça Dom José Lopes. Nesses melhoramentos a municipalidade dispendeu com a quantia de Cr$ 277.411,60. O problema de luz está, assim, em dias de ser definitivamente resolvido, pois, pouco falta para os serviços serem concluídos.


No setor urbanístico

 

É ainda o Sr. Ésio Araújo que esta com a palavra, dizendo que não se descurou das cousas urbanísticas da cidade, acrescentando que providenciou a vinda à Pesqueira da Secretaria de Viação e Obras Públicas, para fazer um novo levantamento topográfico da cidade. Antes disso, porém, iniciou as obras de assentamento de meio-fio na Rua Barão de Lucena, numa extensão de 109 metros, tendo iniciado a pavimentação da Avenida Comendador José Didier, cuja área calçada já mede quinhentos e vinte e nove metros quadrados. Nessa artéria foram construídos mais de duzentos metros de galerias em tubo de dezesseis polegadas para o escoamento das águas pluviais.

Em início de janeiro do ano recém-findo, a prefeitura indenizou um prédio sito a Rua Maestro Tomaz de Aquino, o que veio atenuar bastante o aspecto desagradável ali então existente, visto que dito prédio impedia o trânsito de pedestres e veículos. É de notar que foram executados serviços de terraplanagem em diversas ruas da cidade, além dos trabalhos de conservação do campo de aviação e mais os de melhoramentos de jardins, conservação de uma variante com obra de arte, em demanda à rodovia central, bem assim a construção de uma bueira.

 

Melhoramentos nos distritos

 

Interrompeu o prefeito, a conversação para assinar um volume de documentos que o secretário da prefeitura colocara na mesa. E logo depois voltou à palestra, quando falamos-lhe se havia sua ação de trabalho se estendido aos distritos. - Perfeitamente – disse-nos com certo entusiasmo. Auxiliada pelo Departamento de Estradas e Rodagem a prefeitura iniciou a construção de um pontilhão no lugar denominado “Izabel Dias”, trecho entre Pesqueira e as vilas de Poção e Jenipapo, dispendendo Cr$ 14.043,00. Referente às rodovias o governo municipal procurou melhorar o mais possível às comunicações interdistritais, sendo conservados 19.118 metros da rodagem Pesqueira-Alagoinha-Venturosa. O mesmo sucedendo nas rodovias Pesqueira-Poção, Povoado de Mutuca, com 31.591 metros; Sanharó-Jenipapo, com 8.704 metros; Socorro-Alagoinha, com 5.304; Mutuca-Amarela, em ligação com o município de Brejo da Madre de Deus, 6.087 metros; Cimbres-Curral de Bois, 672 metros; Pesqueira-Socorro, com 2.609; Salobro-São Bento do Una, com 985. Pesqueira-Salobro com 5.000 metros; e pequenos melhoramentos e consertos num total de 28.105 metros.

No tocante aos currais – acrescenta o Sr. Ésio Araújo – para recolhimento de animais em dia de feira, praticamente não existia um só. Por esse motivo foram construídos os de Poção e Jenipapo, melhorados os de Alagoinha, Mutuca e Mimoso, e adquirido um terreno para a construção de outro no povoado de Socorro.

A Usina elétrica de Poção estava necessitando de sérios reparos ordenados em relação ao elevado padrão de vida que presentemente atinge a todas as camadas sociais do país.

 

A estrutura do orçamento de 1949

 

Indagamos do prefeito Ésio Araújo sobre a estrutura do orçamento de 1949 e, à pergunta que sacudimos, disse-nos que a receita prevista para o exercício vigente foi calculada de acordo com a arrecadação do ano de 1947, num montante de Cr$ 1.900,000,00. Na parte referente às taxas, foi incluída a de Contribuição de Calçamento que não constava nos orçamentos anteriores. Manuseando os orçamentos dos municípios mais adiantados do Estado, encontrá-la-emos figurando nos mesmos, desde há muitos anos.

Dita contribuição obriga os proprietários de prédios e terrenos situados em vias e logradouros públicos onde for calçado, ao pagamento das respectivas taxas, o que seria realizado em dez anuidades, na ocasião do pagamento do Imposto Predial. A despesa foi fixada em quantia idêntica à da Receita, obedecendo, estritamente, ao que preceitua a Constituição do Estado.

 

O Senado da Câmara de Cimbres

 

Quanto ao Senado da Câmara de Cimbres, a municipalidade já dispendeu com Cr$ 11.100,00 para a sua restauração, tendo adquirido portas, janelas e outras cousas mais, de modo a que venha a tradicional e história casa do parlamento adquirir muito do seu primitivo aspecto arquitetônico.

 

As escolas rurais

 

Já estão construídas as de Poção, Mimoso e Sanharó, em via de conclusão a de Cimbres. Esses prédios das escolas rurais foram construídos com um plano estabelecido entre o Ministério de Educação e o Governo do Estado. Para reforço de suas paredes e melhor cobertura, o município auxiliou com a quantia de Cr$ 8.687,00.

 

Pequenas diferenças nas rendas dos distritos de Sanharó e Alagoinha

 

Falamos ao Sr. Ésio Araújo sobre o palpitante assunto que tem sido a emancipação dos distritos de Sanharó e Alagoinha. Adiantou o entrevistado, naturalmente, que fará alguma diferença à receita do município, talvez que de uns duzentos mil cruzeiros, incluindo o distrito de Jenipapo. Este ano porém, Pesqueira terá a mais do que o ano passado vinte e cinco por cento de imposto de Indústria e Profissão, perfazendo o total de 75%, cujas importâncias são entregues a prefeitura pela coletoria estadual, quinzenalmente levantaremos também em conta a contribuição do governo federal, que por uma lei reguladora do assunto, segundo uma circula recentemente recebida, terão os municípios, no corrente exercício, as suas quotas aumentadas para Cr$ 220.000,00. Igualmente foi aumentada a quota do governo do Estado de 50 para 70% do Imposto Territorial.

O município com o que tem a receber cobrirá a falta que, financeiramente, poderia fazer os distritos de Sanharó, Alagoinha e Jenipapo. Naturalmente, que se esses distritos tivessem integrando o território pesqueirense, logicamente que a renda seria maior. Mesmo assim, contentamo-nos com o que ficou. Somente não nos contentamos pelo lado moral e social, porque vivíamos ligados desde o começo de nossa vida administrativa e agora nos separamos sem esperança de nos unirmos novamente.

 

Do domínio da Instrução Pública

 

Prosseguindo com a palavra, responde-nos o prefeito algo sobre a instrução municipal, dizendo que foi o que com mais carinho olhou logo que assumiu o governo. As vinte e nove escolas rurais subvencionadas, dois meses depois foram aumentadas para cinquenta e duas, havendo, portanto, um aumento de vinte e três escolas, ou seja, 78% a mais. Em alguns distritos, nas casas de aulas, os seus proprietários mantinham cafés, hotéis, etc., tudo isso funcionando conjuntamente com a escola. Logo informado, tomei providências imediatas alugando salões que se adaptassem ao fim requerido. Durante o exercício que se inicia, a prefeitura procurará, dentro de suas possibilidades, suprir as escolas municipais de todo o material didático e pedagógico de que estão necessitando.

 

Abono de Natal

 

Perguntamos se o funcionalismo fora contemplado com o abono de natal ao que respondeu que a Câmara Municipal aprovara em dezembro último uma lei concedendo aquele benefício aos servidores municipais. Não poderia ser negada tal concessão de vez que a mesma vem sendo concedida há anos pelos prefeitos anteriores, inclusive ele próprio. Nessa parte foram automaticamente aumentados os vencimentos de todos os funcionários, inclusive pensionistas.

 

O serviço de abastecimento d’água da cidade

 

Um serviço dos magnos problemas de Pesqueira é o da melhora do serviço de abastecimento d’água à população. Pedimos ao governador do município alguma coisa com que pudéssemos informar aos nossos leitores. Disse-nos então que o serviço do açude “Afetos” vai ser concluído ainda este ano, como lhe prometera pessoalmente o governador Barbosa Lima Sobrinho. No início do ano findo, o governo do Estado citou, conforme mensagem à Assembleia Legislativa, todas as dotações que se referiam ao Fundo de Saneamento do Interior.

Em Recife entrou em entendimento com o industrial Manuel de Britto e o deputado Arruda Marinho e todos em palácio mostraram ao governador Barbosa Lima Sobrinho o prejuízo que essa medida iria causar à Pesqueira, tendo então o chefe do executivo estadual prometido ajudar o andamento dos serviços do açude “Afetos” com uma verba mensal que, embora modesta, não ficariam os trabalhos paralisados. Mas o governador Barbosa Lima Sobrinho fez mais do que prometeu, prontificando-se, por fim, a concluir no seu governo, aquele importante melhoramento público. A prefeitura tem facilitado tanto quanto possível a ação dos engenheiros encarregados dos serviços.

 

A população está satisfeita

 

A curiosa bisbilhotice desta reportagem informou ao prefeito que, ao que se dizia nos bastidores da cidade, a população pesqueirense está satisfeita com o seu governo. E em tom de quem encerra a entrevista já íamos com cerca de sessenta minutos de palestra, falou-nos textualmente o Sr. Ésio Araújo:

Concluindo minhas declarações, tenho a dizer que certas acusações que de quanto em vez, surgem, não partem de um grupo maciço. A oposição, a verdadeira oposição de minha terra, pelas atitudes de seus líderes, não faz a menor restrição aos meus atos administrativos. A moção que a Câmara de Vereadores me dirigiu, no dia 15 de novembro último, era assinada por dois representantes dos partidos oposicionistas. A moção é clara e concisa, não deixa margem a comentários desairosos. São unânimes os srs. Vereadores municipais em apoiar todos os meus atos, pois eles refletem o sentimento de um pesqueirense que só deseja ter em vista a grandeza de Pesqueira.

Como administrador, só prejuízo venho tendo, ao contrário de muitos que se aboletam no poder para enriquecerem facilmente. Infelizmente, este é um dos quadros desoladores que ultimamente o Brasil tem apresentado ante os olhos de seus filhos.

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            A leitura da entrevista por si já revela a profícua administração do prefeito Ésio Araújo com apenas 1 ano e 2 meses de mandato, muito ainda seria feito e o mesmo foi muito perspicaz e sábio ao incluir os feitos de sua gestão exitosa num Álbum Administrativo contendo as ações e conquistas do seu período à frente da Prefeitura Municipal de Pesqueira e que serão ainda muito mencionadas por este site.

          Faleceu no Hospital Português em Recife no dia 18 de fevereiro de 1955 pouco antes de completar 42 anos, moço ainda, poderia ter deixado um legado ainda maior para Pesqueira, tanto é que tinha o nome lembrado para disputar o mandato de Deputado Estadual, e não o quis por achar que já havia cumprido a missão enquanto prefeito.

     Parafraseando o próprio Ésio Araújo quando discursou por ocasião da morte de outro saudoso pesqueirense, Jurandir Brito de Freitas, no longínquo ano de 1947: “Foi à morte prematura da bondade”. Morreu o homem, mas seu legado administrativo ainda permanece na Pesqueira da atualidade, pois, foi alguém que fez da política o ato de servir e não dela servisse.

 

Por Fábio Menino de Oliveira


Referências Bibliográficas

 

DIÁRIO DA MANHÃ. Recife/PE, edições de 18/11/1934; 31/10/1947; e 25/05/1950.

FOLHA DE PESQUEIRA. Ano II, Nº XII, Pesqueira/PE, 23/01/1949, páginas 1 e 3.

JORNAL PEQUENO. Recife/PE, edição de 03/09/1947.

WILSON, Luís. Ararobá, Lendária e Eterna. CEPE/Pref. de Pesqueira. Recife: 1980.


sábado, 19 de abril de 2025

D. CARMINHA FREITAS: PIONEIRA E PROTAGONISTA

D. Carminha Freitas em 1944
Foto: Mário Paulo Freitas (Facebook)

Família 

Maria do Carmo Magalhães de Freitas Melo, popularmente conhecida como D. Carminha Freitas, nasceu em Pesqueira no dia 14 de maio de 1914. Filha do capitão Abílio Rodrigues Pereira de Freitas (Fazenda Cacimba de Paus, Pesqueira, 19/02/1880 – Pesqueira, 04/10/1950), proprietário e comerciante, e de Júlia Magalhães de Freitas (Pedra, 1880 – Pesqueira, 05/03/1975) que casaram em Pesqueira no dia 12/10/1907 e foram pais de 4 filhos: Cincinato, Eunice, Maria do Carmo e Armando Magalhães de Freitas.

Neta paterna do capitão José Rodrigues Pereira de Freitas (proprietário da Fazenda Cacimba de Paus na região do distrito de Salobro em Pesqueira) e de Thereza Pérpetua de Jesus Freitas “a Jovem”. Neta materna de Tito Magalhães da Silva Porto e Maria Cavalcanti de Medeiros.

Severino Melo e Carminha Freitas (1946)
Foto: Mário Paulo Freitas (Facebook)

Severino, Carminha, D. Júlia, Pe. Siqueira,
 e os filhos da esquerda para a direita:Tereza Cristina,
Maurício, Mário Paulo e Marne (1956). 
Foto: Mário Paulo Freitas (Facebook)












D. Carminha Freitas casou civilmente em Pesqueira no dia 15 de junho de 1946 com Severino Ferreira de Melo, nascido em Buíque aos 11 dias do mês de janeiro de 1921. Filho do oficial das forças públicas do estado Pedro Ferreira de Melo (Salobro, Pesqueira, 04/05/1893) e de Cristina Monteiro de Melo (Sítio Pintada de Salobro, Pesqueira, 14/07/1900). Neto paterno de Gerino Ferreira da Costa e Ignês Virgens de Melo. Neto materno de Belarmino Marques da Silva e Maria Madalena Monteiro.

Severino Melo era comerciário e foi chefe da firma P. Brito & Cia. Figura de respeito, cidadão honrado foi muito querido juntamente com a sua família pela sociedade pesqueirense que como reconhecimento o elegeu vereador para o legislatura de 1951 a 1955.

O casal Severino e Carminha tiveram 5 filhos todos criados sob os princípios e valores morais cristãos no lar da família localizado na histórica Rua Zeferino Galvão. São eles: 1 – Tereza Cristina Magalhães de Freitas Melo (Pesqueira, 19/07/1947); 2 – Marne José de Freitas Melo (Pesqueira, 18/07/1948); 3 – Mário Paulo de Freitas Melo (Pesqueira, 17/11/1949); 4 – Maurício José de Freitas Melo (Pesqueira, 10/01/1951); e 5 – Francisco José de Freitas Melo (Pesqueira, 19/02/1956).


Secretária Municipal e Prefeita

Sede da prefeitura até a década de 1970

D. Carminha Freitas começou a trabalhar na Prefeitura Municipal de Pesqueira provavelmente no inicio da década de 1940. As fontes pesquisadas mostram-na como Secretária Municipal a partir de 1945, ao que consta a primeira mulher a exercer essa função, numa época em que não havia os secretários com pastas específicas como na atualidade. Tão somente existia um único secretário para auxiliar e substituir o prefeito quando houvesse necessidade.


É por isso que D. Carminha Freitas tornou-se a primeira mulher a assumir a Prefeitura de Pesqueira em 5 de fevereiro de 1946 diante do pedido de exoneração do prefeito Dr. Lídio Paraíba (18/12/1945 – 05/02/1946). Permaneceu como prefeita em exercício por 14 dias até a nomeação do bacharel João Arruda Marinho dos Santos pelo interventor do estado, José Domingues da Silva. Arruda Marinho pede afastamento em 8 de agosto de 1946 e D. Carminha Freitas volta a ser prefeita por mais 13 dias até o retorno de Arruda Marinho em 21 de agosto daquele ano.

Fac-símile do Diário Oficial com a designação
para assumir a prefeitura (09/08/1946)

O terceiro momento em que foi prefeita em exercício deveria ser por 30 dias a partir de 23 de dezembro de 1946 diante do pedido de afastamento para tratamento de saúde do prefeito Cel. Urbano Ribeiro de Sena que havia substituído Arruda Marinho em 16/11/1946. Entretanto, esse período durou apenas 9 dias, pois o interventor nomeou em 2 de janeiro de 1947 como prefeito Eugênio Maciel Chacon que ficaria no cargo até 31 de julho do mesmo ano.

Porquanto, foram 32 dias como prefeita em exercício, o curto período não tira o brio e os méritos de D. Carminha Freitas, a grande pioneira da política pesqueirense que assumira num momento conturbado da política nacional que marcava o período de transição democrática após o Estado Novo, fase em que não havia eleições e os prefeitos eram nomeados, por isso que Pesqueira teve tantos chefes do poder executivo em tão pouco tempo.

Um dado interessante é que quando assumiu a prefeitura em fevereiro de 1946 iria completar 32 anos e ainda era solteira, pois, só viria a casar em junho do mesmo ano. Passados quase 80 anos do feito, ainda é difícil mensurar a importância desse momento da nossa história, sobretudo, quando pensamos em uma época onde o modelo patriarcal ainda era muito forte na sociedade, tendo D. Carminha, talvez até sem ter dado conta, quebrado tabus e paradigmas.           

Prova disso, é que Pesqueira só voltaria a ter uma mulher sentada na cadeira de prefeita com a eleição de Cleide Maria de Souza Oliveira em 2008, ou seja, 62 anos depois de D. Carminha Freitas. Vindo a ser eleita na sequencia Maria José Castro Tenório em 2016.

Por fim, nesse tópico vale registrar que Cilene Martins de Lima eleita vice-prefeita em 2024, a segunda mulher a ocupar o cargo, e que desde o último dia 4 de abril está como prefeita em exercício, tornou-se a quarta mulher na história pesqueirense a ocupar o cargo maior do executivo municipal.


Vereadora

Diploma de Vereadora

Nas eleições de 3 de outubro de 1955, foi eleita vereadora pelo Partido Republicano com 7,7% dos votos válidos, recebendo 320 sufrágios nominais de um total de 4.923 que foram apurados no pleito.

Aos 41 anos D. Carminha Freitas conseguiu ser eleita à primeira vereadora não só de Pernambuco, mas do Nordeste. Sua eleição representa um marco por simbolizar a abertura de espaços políticos para mulheres em uma época de predominância masculina, o que vem diminuindo ao longo dos anos, mas que ainda é muito marcante na política brasileira.

Na Câmara de Vereadores tomou posse em 10 de fevereiro de 1956, grávida do seu 5º filho que nasceria 9 dias depois. Formavam o legislativo municipal os seguintes edis: Enedino de Freitas (presidente), Amaury de Brito (vice-presidente), Luiz Rocha (1º secretário), Albérico Soares, Dr. Petronilo de Freitas, Antônio Soares de Macedo, Josué Bezerra Leite e Maviael Correia. O suplente José Miranda Primo assumiria o mandato a partir de 10/02/1958 em razão da renúncia de Amaury de Brito.

Os seus primeiros requerimentos apresentados nessa sessão foram: 1 – votos de pesar pelo falecimento do prefeito de Sanharó, Heronides Nunes de Arruda; 2 – votos de solidariedade e congratulações ao governador Cordeiro de Farias pelo aniversário de 1 ano do seu governo; 3 – votos de aplausos à administração do prefeito Manuel Tenório de Brito, pela sua boa vontade em solucionar os problemas mais urgentes da cidade e dos distritos.

Fazer história era o forte de D. Carminha Freitas, foi também a primeira mulher a ocupar um cargo na mesa diretora da Câmara sendo sua 2ª secretária no biênio 1956/1957 e 1ª secretária entre 1958/1959.

Eleita pelo PR depois passou a integrar os quadros do Partido Socialista Brasileiro (PSB), não disputou novo mandato, mas permaneceu atuando na politica municipal até meados de 1966, quando ocorreu a reformulação partidária em face do surgimento do bipartidarismo decorrente do regime militar a mesma perdeu os gostos pela política partidária.

Pois bem, para termos ideia da grandiosidade desta eleição de 1955 é que Pesqueira só voltaria a ter uma mulher ocupando um cargo eletivo com Maria Carmita Freitas Maciel, eleita vice-prefeita na chapa de João Araújo Leite que obteve 9.619 votos no pleito de 15/11/1988. D. Carmita Maciel foi candidata à vereadora nas eleições de 03/10/1992, porém não obteve êxito ficando na suplência.

A segunda mulher a ser eleita vereadora foi Maria Isabel de Araújo Barros (Isabel da Lobal) que obteve 767 votos no pleito de 1º/10/2000. Ou seja, 45 longos anos separaram a primeira da segunda eleição de uma mulher para o legislativo municipal. Para constar foram eleitas na sequência de Isabel da Lobal: Arinete Bezerra Aciole 2008, 2016 e 2024; Valéria Alves, 2016; Rochevania Rocha, 2020 e 2024; Izabela Lins 2020; Raniele Lopes da Silva, 2020 e 2024.

Desde a sua instalação como Conselho Municipal após o advento da República em 1892 até o último pleito de 2024, apenas 7 mulheres foram eleitas para compor o legislativo municipal em seus 132 anos. O que demonstra o pioneirismo de D. Carminha Freitas quando conseguiu seu mandato em 1955.


O Comício de Mulheres

Charge publicada no DP
em 1º/11/1972

Outro grande ato da atuação política e cidadã de D. Carminha Freitas foi quando reunida com outras mulheres organizou o histórico e pioneiro Comício de Mulheres, realizado na Praça D. José Lopes no domingo à noite do dia 22 de outubro de 1972. 

O ineditismo foi tão grande que virou notícia no Diário de Pernambuco e na revista carioca Manchete Fatos & Fotos. Nas palavras de D. Carminha Freitas citadas por Inaldo Sampaio na sua coluna do Jornal do Commercio (1992): “Avisamos nas ruas que só mulheres poderiam participar e o aviso foi cumprido à risca. Não se viu um só homem na praça.”

O comício reuniu donas de casa, professoras, comerciárias, estudantes e na oportunidade discursaram 26 mulheres pesqueirenses, entre elas estava à professora Diamantina de Freitas, que por sinal era a única mulher concorrendo a uma vaga no legislativo no pleito que ocorreu em 15 de novembro daquele ano, que registrava um total de 27 candidaturas, sendo 26 masculinas para vereador em Pesqueira.

Apesar de apoiarem as candidaturas do MDB, o movimento foi além do lado partidário tanto é que o candidato a prefeito Dr. Petronilo de Freitas não foi convidado a participar. O foco durante as três horas de comício foram à defesa de ideias quanto à afirmação, a valorização e a emancipação feminina.


A Cruzada Feminina


Pesqueira, 31/03/1990 - 17º aniversário da Cruzada Feminina
com a entrega de Comendas à Velha Guarda. Da esquerda para
a direita Zezinho Amaral, José Duque, Nildinha, Francisquinha,
Erivaldo Jatobá, Carminha Freitas e Dulce.
C

Do ponto de vista político partidário o movimento não logrou êxito nas urnas, todavia, a semente foi plantada por essas mulheres politizadas e a frente do seu tempo. Passada as eleições voltaram a se reunir para organizar uma fundação que pudesse trabalhar com os pobres e para os pobres, e cooperar com os poderes públicos constituídos.

Os encontros semanais aconteciam no prédio localizado na Praça D. José Lopes, nº 110, onde funcionava o consultório de Dr. Carlito Didier Pitta, que gentilmente o cedeu, pois era um pesqueirense simpático as causas populares. Após reuniões e preparações e contando com mais de 100 sócias foi fundada em 31 de março de 1973 a Cruzada Feminina de Pesqueira.

D. Carminha Freitas fez parte da sua primeira diretoria executiva como 1ª Secretária. Também foram membros do corpo diretivo da instituição as seguintes mulheres pesqueirenses: Presidente: Paula Frassinetti Alcântara do Amaral; Primeira vice-presidente: Maria Lúcia Santos Jatobá; Segunda vice: Aldemira Mourcout do Rego Barros; Primeira Secretária: Maria do Carmo Freitas de Melo; Segunda Secretária: Acilda Cavalcanti Assis; Primeira Tesoureira: Maria Salomé de Freitas Valença; Segunda Tesoureira: Alzira Barros; Diretoras: Maria de Freitas Correia e Eloá Araújo Cavalcanti. Conselho Deliberativo - Presidente: Alda Sousa Didier; Vice-Presidente: Maria Auxiliadora Soares Costa; Secretária: Maria Auxiliadora Vanderlei Freitas; Vogais: Irmã Gomes, Sebastiana Brito, Diamantina Galvão Barbosa, Nair Falcão, Judite Oliveira, Elizabete Guimarães, Isolina Sobral, Elisa Barbalho Falcão, Nazaré Melo Bezerra, Odete Andrada, Abigail Cavalcanti, Maria da Glória Cavalcanti, Maria de Lourdes Aragão, Maria de Lourdes Guimarães.

Fica o registro como homenagem a estas mulheres que sem dúvida, foram à frente do seu tempo por ideias, pensamentos e ações.


 O filho vereador

A política sempre fez parte da família Freitas, o pai de D. Carminha Freitas, o Capitão Abílio de Freitas foi Conselheiro Municipal (1910/1913); seu esposo, Severino Melo foi vereador na legislatura anterior a ela entre 1951 e 1955.

No final da década de 1980 quem entrou para a política foi seu filho Francisco Freitas que se elegeu por duas vezes vereador de Pesqueira pelo PFL (1989/1992 – 1993/1996) e teve o apoio irrestrito da sua mãe que mesmo septuagenária fez campanha porta a porta para pedir votos.

Mas, não foi só pelo filho que D. Carminha Freitas se engajou, em ambas as eleições apoiou os candidatos a prefeito João Leite (1988) que tinha como companheira de chapa D. Carmita Maciel, sua amiga de longas datas, e Evandro Maciel Chacon (1992).


 A cidadã e a democrata

Severino Melo e Carminha Freitas
Foto: Mário Paulo de Freitas (Facebook)

D. Carminha Freitas, foi sem sombra de dúvidas, símbolo da força, da garra e da coragem feminina como mãe, esposa e política. Fiel na defesa do que acreditava manteve-se como eleitora assídua até os seus mais de 90 anos de idade, exercendo com altivez a cidadania e a democracia durante toda a sua vida.

Na sua humildade revelou ao jornalista Inaldo Sampaio em 1992: “Acho que fiz história em Pesqueira por duas razões. Primeiro, pela organização do comício das mulheres, depois, porque depois de mim nenhuma outra mulher conseguiu eleger-se vereadora”.

Não ache que fez história D. Carminha Freitas, a senhora de fato o fez e que toda a sociedade pesqueirense possa reconhecer e aplaudir suas conquistas, e que permaneça como legado e inspiração de vida o seu pioneirismo e protagonismo.

Maria do Carmo Magalhães de Freitas Melo faleceu prestes a completar seus 98 anos de vida em 10 de março de 2012 na sua residência na Rua Zeferino Galvão. Severino Melo, seu companheiro de uma vida faleceu 15 dias depois em 25 de março aos 91 anos. Foram quase 66 anos de um lindo matrimônio.

Nossa homenagem a memória de D. Carminha Freitas e os votos de que sua história permaneça viva.

Por Fábio Menino de Oliveira

 

 Referências Bibliográficas

Cruzada Feminina de Pesqueira. Cruzada Feminina: História da Cruzada

Diário Oficial do Estado de Pernambuco – edições de 06/02/1946; e 09/08/1946.

Diário de Pernambuco – edições de 09/08/1946; 25/02/1956; 01/03/1958; 21/10/1972; 1º/11/1972; e 21/07/1979.

Family Search Maria do Carmo Magalhaes de Freitas, “Brasil, Pernambuco, Registro Civil, 1804-2023”

Jornal do Commercio. Aos 78 anos, Dona Carminha retoma o gosto pela política – Inaldo Sampaio, 1992.

_________________. Carminha, a pioneira – Paulo Augusto, 18/03/2012.

TSE. Resultados das Eleições. https://www.tre-pe.jus.br/eleicoes/eleicoes-anteriores