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Prefeito Laércio Valença. Cortesia do seu filho Pe. Eduardo Valença |
Laércio Vilela Valença nasceu na casa da fazenda de seu pai, nas margens do riacho Baixa Grande, em Pesqueira, no dia 13 de janeiro de 1914. Filho do professor, escrivão da coletoria estadual e delegado de polícia, coronel Desidério Alves da Silva Valença (1868-1938) e de sua segunda esposa Galiana Hermínia Teixeira Vilela (1874-1927) casados em São Bento do Una no dia 06/06/1900.
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Desidério Alves da Silva Valença |
Neto paterno de Joaquim Alves da Silva Valença
(1830-1884) e Cândida Emília Rodrigues (1836-1901) casados em São Bento do Una
no dia 11/11/1857. Neto materno do major Cândido Carlos da Costa Vilela
(1837-1907) e Francisca Quitéria de Barros (1843-1909) casados em Bom Conselho
no dia 30/07/1873.
Laércio Valença teve 11 irmãos: Joaquim e Cândida
Emília Mota Valença (filhos de Maria da Mota Valença, primeira esposa de
Desidério Valença); Libério, José Desidério, Viterbo, Luiza, Laura, Teresa,
Clarisse, Corsina e Maria Vilela Valença (2⁰ casamento).
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Laércio e Ady no seu casamento em 1947 Cortesia do Pe. Eduardo Valença |
Casou na Fazenda São Jorge (nova denominação da
Cacimba de Paus, na região de Salobro) em 22/11/1947 com Maria Ady de
Freitas Valença, nascida na Fazenda Cacimba de Paus em 15/04/1925.
Filha do major Jorge Rodrigues Pereira de Freitas e da sua segunda esposa Maria
Umbelina de Freitas. Neta paterna do capitão José Rodrigues Pereira de Freitas
e de Thereza Perpétua de Jesus Freitas “a jovem”, que casaram na Fazenda Mutuca
em 08/11/1864. Neta materna de Martim Francisco Ignácio da Silva e Umbelina
Benigna de Almeida.
Do matrimônio de Laércio e Ady nasceram 4 filhos: Eduardo, Célia, Sérgio e Mauro de Freitas
Valença.
Laércio Valença era proprietário, criador e nos
anos 1940 trabalhou na Fábrica Peixe, passando nos anos de 1950 a laborar na J.
Freitas, empresa que representava a Ford em Pesqueira e que pertencia à Fábrica
Peixe. Desempenhou também as funções de juiz substituto da Comarca de Pesqueira
a partir de 1950.
Além das funções profissionais, passou a dedicar-se
a política sendo nomeado prefeito de Pesqueira em 2 de agosto de 1947 e
permanecendo no cargo até 15 de novembro do mesmo ano quando passou a
prefeitura para Ésio Araújo que havia sido eleito em 26/10/1947.
A experiência de três de meses a frente do
executivo municipal e o seu prestígio perante a sociedade pesqueirense levaram
o Partido Social Democrático (PSD) a escolhê-lo como candidato a prefeito nas
eleições de 1º de julho de 1951, obteve uma votação expressiva de 4.601
sufrágios contra 650 votos do candidato oposicionista Emílio Araújo Cavalcanti
(Aliança Democrática – PDC/PTB).
Em entrevista ao jornalista M. Albuquerque do
Diário de Pernambuco (17/06/1951) durante a eleição declarou como suas
principais propostas realizar uma administração eficiente voltada para os
interesses e os problemas mais urgentes do município, sobretudo, priorizar a
conservação e ampliação das estradas interdistritais melhorando a malha
rodoviária pesqueirense. Por seu ponto de vista, o jornalista o define como
“cidadão modesto, trabalhador e esclarecido”, um verdadeiro “candidato
popular”.
O prefeito Laércio Valença tomou posse em 15 de
novembro de 1951 juntamente com o vice-prefeito Manuel Tenório de Brito e os
subprefeitos distritais Malaquias Vieira (Poção) e Josué Bezerra Leite
(Cimbres), todos do PSD. Como Secretario Municipal da Prefeitura assumiu Othon
Augusto de Almeida.
No legislativo municipal assumiram os seguintes
vereadores: PSD (7) – Enedino de Freitas (Mutuca), Amaury de Brito (Mimoso),
Manuel Soares de Macedo (Salobro), Epifânio Vasconcelos (Poção), Malaquias
Medeiros (Poção), Severino Melo (cidade) e Luiz Neves (cidade); PDC (1) – João
Elias de Macedo (Salobro); e PTB (1) – Dr. Petronilo de Freitas (cidade).
A mesa diretora seria formada no primeiro biênio
1952/1953 pelos vereadores Enedino de Freitas (Presidente), Epifânio
Vasconcelos (Vice-Presidente), Amaury de Brito (1º Secretário) e Severino Melo
(2º Secretário). Luiz Neves era o líder da maioria e Dr. Petronilo de Freitas,
líder da minoria.
Sobre a sua posse na prefeitura assim escreveu o
jornalista Eugênio Chacon no Diário de Pernambuco (04/12/1951): “Assume assim
as rédeas do governo municipal um moço cheio de esperança, desejoso de conduzir
à nau administrativa dentro dos ditames da democracia, aplicando sua
inteligência e sua integridade aos negócios públicos (...)”. Destacam-se as
palavras esperança, inteligência e integridade quando se refere a Laércio
Valença.
Com as informações obtidas através dos jornais
podemos destacar as seguintes obras e ações como prefeito de Pesqueira:
Criação do Plano Municipal de Assistência à Agricultura e à Pecuária
Aquisição do terreno e construção do
Posto Agropecuário de Pesqueira para atender os criadores e agricultores
do município. Em ação conjunta fez a doação de um terreno da prefeitura no
Sítio Pedra D’Água para que a União instala-se o Campo de Sementeira sob
a orientação técnica do Fomento Agrícola Federal destinado à manutenção e
cultura de produtos cuja finalidade seria a utilização pelo Posto Agropecuário.
Linha Telefônica de Poção
Substituição dos postes da rede
telefônica distrital que fazia a ligação entre Pesqueira e o ainda distrito de
Poção que seria emancipado em 29/12/1953 durante o seu mandato. Além disso, fez
os reparos e a manutenção em todo sistema de comunicação.
Restauração de máquina para o serviço de luz
Conserto com substituição de peças e
construção de nova base em concreto para motor na Usina Elétrica Municipal no
intuito de sanar o problema da falta de luz tanto na iluminação pública como
particular.
Reforma de um logradouro no Bairro do Prado
Colocação de aterro, serviço de
terraplanagem e construção de bueiros para melhorar o trafego de carros e
caminhões na avenida principal do Bairro do Prado, à época em fase de expansão
e desenvolvimento.
Calçamento na Rua Cardeal Arcoverde
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Trecho da Rua Cardeal Arcoverde antes do calçamento Álbum Ésio Araújo |
Iniciado em junho de 1952 o serviço
de pavimentação em paralelepípedos da Rua Cardeal Arcoverde para concluir o
trecho que faltava até encontrar a Praça Comendador José Didier.
Praça Dom José Lopes
Inaugurada em 09/09/1941 passou por
uma completa restauração dos seus jardins em 1954 para deixá-la ainda mais
bela.
Galpão para silos
Construção em 1953 de galpão para instalação de 10
silos para armazenamento de 100 sacos cada, disponibilizados pelo Dr. Eudes
Pinto de Souza Leão, Secretário de Agricultura do Estado, ação que beneficiava
os agricultores.
Apoio aos Jornais
Enviou para a Câmara de Vereadores o Projeto de Lei
n⁰ 247/53 que concedia um auxílio mensal de 600 cruzeiros para apoiar os
jornais Gazeta de Pesqueira, A Voz de Pesqueira e Folha de Pesqueira; e 250
cruzeiros trimestrais ao jornal literário O Itinerário.
Auxílio aos pobres
Articulou junto a Legião Brasileira de Assistência
(LBA) a distribuição de alimentos para as pessoas carentes do município durante
a seca de 1953. A LBA distribuiu 600 kg de charque, 20 sacos de feijão, 20
sacos de farinha e 20 sacos de açúcar.
Cooperativa
Cooperação para instalação da filial da Cooperativa
dos Rodoviários de Pernambuco ligada ao DNER em 1953, com vistas a prestar
assistência médica e fornecer gêneros alimentícios aos trabalhadores da estrada
Pesqueira-Monteiro.
Aviação
Por sua solicitação Pesqueira foi inclusa em abril de 1955 na rota área
do interior através do Consórcio Real-Aerovias, uma das principais companhias
áreas brasileira na década de 1950 e que operava com aviões Douglas DC-3 de
pequeno porte ideais para aeroportos do interior e que pousariam no Campo de
Aviação da cidade.
Fórum
Apoio dado à magistratura e os serventuários da
justiça com aquisição de móveis para as novas instalações do Fórum de Pesqueira
inauguradas em 07/09/1953 pelo Dr. Cícero Galvão (juiz) e por Dr. Pedro Callou
(promotor).
Banco do Povo
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Banco do Povo, primeiro andar à esquerda ao lado do antigo Pesqueira Hotel |
Apoiou a construção do novo prédio da agência do
Banco do Povo inaugurado em 22/08/1953, localizado na atual Praça Getúlio
Vargas (antiga Marquês do Herval), onde hoje se encontra a agência do Bradesco.
Estiveram presentes entre outros: o Comendador Antônio Martins do Eirado
(representando a diretoria do banco), Dr. Renato Pires Ferreira (gerente da
matriz), Pedro de Souza (deputado federal) e Abel Viana (prefeito de Caruaru).
Vale ressaltar que o Banco do Povo já possuía um escritório em Pesqueira desde
19/09/1936, ao que consta foi o primeiro correspondente bancário a se instalar
na cidade.
Posto de Puericultura
Manteve o apoio dado por seu
antecessor Ésio Araújo, recebendo em 05/06/1952 a visita do Dr. Orlando Parahym
(Secretário de Saúde do Estado), do Dr. José Maurício (Diretor do Serviço de
Proteção à Maternidade e à Infância do Estado) e do Deputado José Rodrigues
(representante de Arcoverde na Assembleia Legislativa). Ambos vieram dialogar
sobre os últimos ajustes para funcionamento do Posto que seria inaugurado em
02/08/1952.
Estrada Pesqueira-Monteiro
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A qualidade das fotografias não são boas, mas vale o registro pela importância da obra. |
A reportagem intitulada “A
construção da rodovia interestadual Pesqueira-Monteiro/PB” publicada no
Diário de Pernambuco (13/09/1952) trás importantes elementos que denotam a
magnitude dessa obra e revelam a coragem e a determinação do prefeito Laércio
Valença em tirar do papel um sonho antigo dos pesqueirenses.
Em
meados da década de 1920 o escritor Zeferino Galvão e o jornalista Anísio
Galvão defendiam em artigos publicados na Gazeta de Pesqueira a importância
dessa estrada para o progresso e o desenvolvimento da região com a ligação
entre os estados de Pernambuco e da Paraíba cortando a Serra do Ororubá
passando pela secular Vila de Cimbres até chegar a Monteiro numa extensão
aproximada de 60 quilômetros.
O jornalista chama a atitude do
prefeito de “um atrevimento louvável”, na medida em que indaga como pode se
fazer uma obra tão grande com um orçamento limitado? Visto que, as receitas
municipais para o exercício de 1952 seriam de 3 milhões e 600 mil cruzeiros com
igual despesa prevista. Portanto, de onde tirar recursos?
A resposta, em primeiro lugar foi à
coragem do prefeito que iniciou as obras em julho de 1952 contando apenas com
as quotas constitucionais obrigatórias do Departamento Estadual de Rodagem
(DER) que nos meses de julho e agosto foram de Cr$ 67.819,00 e nenhum centavo a
mais. Mesmo com toda dificuldade de uma receita restrita a prefeitura ainda deu
a contrapartida para que chegasse ao valor de Cr$ 120.000,00 gastos nos dois
meses iniciais da obra.
Para termos ideia da coragem do
prefeito, além dos recursos minguados disponíveis tinha outros obstáculos ainda
maiores para abrir a estrada cortando a íngreme Serra do Ororubá: penhascos,
pedras e rochas em quantidades incalculáveis que necessitariam de um projeto de
engenharia, maquinários adequados e um bom volume de recursos.
Todavia, pasmem os leitores a
estrada foi aberta sem máquinas, da forma mais primitiva possível com a força
braçal de trabalhadores destemidos usando picaretas, alavancas, marretas,
enxadas, pás e dinamites para explodir as pedras e rochas que eram retiradas
com o auxilio do único equipamento mecânico disponível: um tratorzinho
emprestado pelas Fábricas Peixe.
Tudo isso era feito com a supervisão
e liderança de Laércio Valença que dirigia os serviços pessoalmente e com um
sorriso no rosto. O seu otimismo era tanto que disse ao repórter: “A estrada
tem que sair nem que eu bote talhadas de sangue!” Percebe-se a obstinação de um
homem de boa vontade e ação em busca dos seus objetivos, mesmo diante da
incredulidade de muitos que achavam impossível a obra.
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Subida do Bairro Xucurus, antiga estrada para Cimbres em 1955 Fonte: IBGE |
Ao que consta o trajeto original da
antiga estrada de Pesqueira a Vila de Cimbres foi mudado para que não tivesse
uma subida tão íngreme, uma vez que o antigo acesso se dava pelo Bairro do
Xucurus passando pela chamada Serrinha. Com isso o novo trajeto passou a
iniciar na Avenida Ésio Araújo confrontando com a Rua Carlos da Silva Leitão, a
popular Avenida do Estádio. Cabe registrar que com a abertura da estrada por
esse novo caminho surge o Bairro da Caixa D’Água.
No início da década de 1980 quando
iniciaram as obras de pavimentação da estrada, Francisco Leone defendia no
Diário de Pernambuco (30/01/1981) que o nome de Laércio Valença fosse colocado
na PE 219 como homenagem ao prefeito e justifica:
“[...] Observo que
máquinas pesadas trabalham na antiga estrada de Monteiro. Aquela subida
poeirenta lembra-me o pioneirismo de Laércio Valença, abrindo na rocha, apenas
com picaretas e marretas, suor e muito amor a Pesqueira a estrada de Monteiro.
As grandes máquinas rasgam a Serra, indiferentes, talvez, ao trabalho realizado
por Laércio na década de 50, quando prefeito do município. Trabalho executado
ombro a ombro com operários dedicados, enfrentando problemas financeiros e, a
bem da verdade, incompreensões de visões limitadas, de negativistas. Os da
minha geração sabem que não estão mentindo.[...]”
Esse trecho revela a magnitude da
iniciativa do prefeito Laércio Valença, basta pensarmos que na atualidade mesmo
dispondo de projetos rodoviários usando tecnologia de ponta, equipamentos de
última geração e recursos financeiros bem mais volumosos que outrora, como
explicar tantas rodovias em péssimas condições no nosso país? Falta boa
vontade, ação e coragem aos nossos políticos, com raras exceções, e sem dúvida
alguma o cidadão Laércio Valença foi uma delas há longínquos 73 anos.
Depois de deixar a prefeitura,
Laércio Valença ainda fundaria a Companhia Telefônica de Pesqueira CTP em 1968,
e em janeiro daquele já tinha 130 assinantes para instalação de telefones
automáticos em suas residências. Trazendo em março do mesmo ano as primeiras 70
unidades de telefones automáticos para serem comercializados em Pesqueira.
Láercio Vilela Valença faleceu em
Pesqueira no dia 11 de julho de 1981, deixando o legado de integridade,
trabalho e coragem que norteou a sua vida como homem da justiça e da política
com princípios morais e atitudes sempre voltadas para o bem comum, foi outro
exemplo de quem fez do cargo público um ato de servir.
Por
Fábio Menino de Oliveira
Referências Bibliográficas
DIÁRIO DE PERNAMBUCO - edições de 02/08/1947; 10/06/1950; 17/06/1951; 17/10/1951; 04/12/1951; 22/06/1952; 13/09/1952; 08/05/1953; 29/08/1953; 14/10/1953; 02/10/1954; 03/04/1955; 26/01/1968; 21/07/1979; e 30/01/1981.
FAMILY SEARCH https://www.familysearch.org/pt/tree/pedigree/landscape/G6MR-2FN