Rua do Comércio do povoado de Mimoso em 1925, foto do Álbum da Adm. Cândido de Brito 1923/1925. |
Transcreverei
a seguir uma notícia publicada no Diário de Pernambuco de 12 de
junho de 1924i
que trata dos graves danos ocasionados em Mimoso por conta das fortes
chuvas ocorridas entre os dias 16 (sexta-feira) e 17 de maio
(sábado). Eis a notícia na íntegra:
O
“Diário” nos Municípios.
PESQUEIRA.
DE
MIMOSO:19-V-924. - Vem ocasionando grandes prejuízos o nosso
inverno. As chuvas têm caído fortes, e constantes. Na sexta-feira e
no sábado, tivemos pesados aguaceiros, caindo nas imediações deste
povoado diversas trombas d'água. As ruas da estação e do comércio,
ficaram intransitáveis no momento das chuvas.
Desde
o mês passado, porém num crescente assustador, o pequeno rio
Ipanema, que margeia este povoado, tem descido com cheias anormais,
sendo que a observada no sábado, ultrapassou cerca de 2 metros do
nível da maior enchente conhecida, alargando a rua do “Emboca”,
(lado baixo) nessa rua as águas subiram a altura de ½
metro.
A
impetuosidade da torrente, fez desabar uma casa onde residia uma
pobre velha e arrastou lavouras, árvores e etc.
À
tarde fica nublada, porém não aterroriza a suposição de tal
catástrofe. Às 15 horas começou a chover fortemente, com
fragorosos trovões e fuzilantes relâmpagos.
Aproximadamente
uma hora depois, ouviram-se
os primeiros gritos de alarme: as águas do rio invadiram as casas em
ondas que cresciam aos palmos!
Tomada
de pânico ante a repentina inundação a população ribeirinha
abandonou precipitadamente os seus lares, em busca de abrigo,
conduzindo crianças no colo, e transportando móveis que iam
acumulando nos altos.
Graças
à Providência, pouco antes das 20 horas, cessou o temporal,
entrando a enchente em rápido declínio não havendo desastre
pessoal.
Os
serviços de salvação foram dirigidos com atividade digna de
registro pelo 2º sargento da Força Pública Leopoldino Eloy de
Almeida, subdelegado de Polícia, auxiliado por muitas outras pessoas
gradas, e soldados do destacamento local.
Na
fazenda de propriedade do sr. major Luís Tenório, que dista deste
povoado 3 kilômetros, e que fica situada na margem da linha da
“Great Western”, em consequência das grandes chuvas, arrombou-se
o grande açude ali existente, carregando a ponte que media 20 metros
de comprimento e um grande
aterro, ficando os trilhos e dormentes suspensos, interrompendo deste
modo o tráfego de trens, não se registrando um grande desastre no
trem de passageiros que se destinava a Rio Branco, por ter sido
evitado pelo major Tenório, mandando incontinente um portador a
cavalo avisar ao chefe da estação de Ipanema o enorme perigo, pois
isto verificou-se às 17 horas do sábado, (hora da passagem do
passageiro pelo local) já se encontrando o referido trem naquela
estação, sendo por este motivo o major Luís Tenório alvo de uma
grande manifestação em sua fazenda por todos os passageiros que
para lá se transportaram a fim de agradecer o seu gesto de
humanidade poupando a vida de muitas pessoas, inclusive de famílias
que viajavam no referido comboio, crianças, etc.
O
major Cândido de Brito, prefeito do município de Pesqueira, foi
quem mais sofreu com a enorme cheia, tendo um prejuízo superior a 30
contos de réis.
Entre
os fatos principais da
referida notícia deve-se
destacar: 1-As
inundações ocorridas no então povoado de Mimoso atingindo a rua da
Emboca, que deveria ser a
parte baixa do lugar, além disso fala das outras duas ruas ali
existentes: Rua da Estação e Rua do Comércio; 2-O
arrombamento de um açude na Fazenda Propriedade do major Luís
Tenório de Albuquerque e o consequente estrago de uma ponte da linha
férrea que só não vitimou várias pessoas por causa do ato do
major Tenório que mandara avisar na estação de Ipanema; e 3-Tal
enchente causou um grande prejuízo ao major Cândido de Brito que em
1924 arrendou uma parte da Fazenda Propriedade e fez uma das
primeiras plantações de tomates das Fábricas Peixe no município
de Pesqueira.
Por
fim, vale salientar que o inverno de 1924 foi muito rigoroso causando
estragos, principalmente, no povoado de Mimoso e na Fazenda
Propriedade, todavia, como vimos anteriormente os prejuízos foram
materiais não sendo registradas vítimas.
Por Fábio Menino de Oliveira
iDiário
de Pernambuco, quinta-feira, 12/06/1924, ano 99, nº 134, p.8
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