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sábado, 16 de julho de 2016

A HISTÓRIA DE UMA LÁPIDE NO SÓTÃO DA MATRIZ DE CIMBRES


No último dia 14 deste mês estive junto com meu amigo Átila Frazão fazendo uma visita a histórica e belíssima Vila de Cimbres, município de Pesqueira-PE, berço de mais de 300 anos de uma história riquíssima.

Entre os lugares visitados, destaco a Matriz de Nossa Senhora das Montanhas, construída provavelmente na década de 1670 após a instalação da missão de Ararobá pelos padres oratorianos da congregação de São Felipe Néri, tendo passado por algumas reformas em 1852 e na década de 1920, onde fora construída a torre frontal e as sacristias.

Dentre tantos detalhes observados, teve um que me instigou a curiosidade a presença de uma lápide no sótão acima da sacristia do lado direto da Matriz, com os seguintes dizeres: RESTOS MORTAES DA PROFESSORA DE ALAGOINHAS D. JOAQUINA CORDEIRO DE JESUS ROCHA FALLECIDA A 26 DE DEZEMBRO DE 1883 (ipsis litteris).


Mais quem foi essa professora? Por que seus restos mortais estão no referido lugar? A partir desses questionamentos que me fiz e que, certamente, a maioria das pessoas fariam, fui pesquisar.

É notório observar que os sepultamentos eram feitos na Matriz até 1862 quando passou a funcionar o cemitério público de Cimbres, sendo batizado como Cemitério São Sebastião, um dos padroeiros da tricentenária vila. Todavia, pelo óbito localizado da Joaquina Cordeiro de Jesus Rocha a mesma foi sepultada numa catacumba no cemitério local e não na igreja. Vejamos o que diz dois registros de seu falecimento por mim localizados:

Aos vinte e seis de dezembro de mil oitocentos e oitenta e três, faleceu da vida presente, recebendo todos os sacramentos da Igreja Romana, Joaquina Cordeiro de Jesus Rocha, com idade de trinta e seis anos, professora pública da povoação d'Alagoinha, casada com o professor público desta povoação de Cimbres Joaquim Pedro da Rocha Pereira, e foi encomendada solenemente, e sepultada em uma catacumba do cemitério público desta Povão e amortalhada de preto, para constar mandei fazer este assento no qual me assino. Vigário Raphael Limai. (ortografia atualizada)

CIMBRES.- Escrevem-nos em 21 de janeiro findo: […]Já essa conceituada Revista Diária noticiou o prematuro falecimento da professora de Alagoinhas, D. Joaquina Cordeiro de Jesus Rocha, e esposa do professor desta vila, que ficou assim viúvo e com quatro filhos menores. Resta-nos acrescentar que no dia 3 deste mês teve lugar a missa do sétimo dia com momento solene e depois a visita à catacumba do cemitério pelo Revdm. Vigário, família da finada e amigos do mesmo professor; e nessa ocasião após sufrágios da religião, o Sr. Quintino Aragão proferiu um discurso necrológico, que muito sensibilizou o auditórioii. (ortografia atualizada)


Pelos registros supracitados podemos notar o prestígio que os professores Joaquim Pedro da Rocha Pereira e sua esposa Joaquina Cordeiro de Jesus Rocha detinham na comunidade cimbrense. Pelo seu óbito teria nascido Joaquina no ano de 1847, possivelmente no Recife, casaram na Matriz de São José, uma vez que em encontrei uma nota de jornal sobre as denunciações de proclamas em 18 de janeiro de 1869iii.


A professora Joaquina Cordeiro prestou exame de verificação de capacidade profissional para o magistério primário do sexo feminino entre os dias 2 e 7 de outubro de 1873, sendo aprovada pela antiga Secretária de Instrução Pública do estado de Pernambucoiv. Foi nomeada para exercer o magistério interinamente na cadeira do sexo feminino de Lagoa dos Gatos em 04/02/1874v. Em 10/07/1882 foi nomeada pela diretoria estadual de instrução pública como professora efetiva, sendo encaminhada para lecionar em Água Brancavi (não localizei onde ficava esse lugar).

No entanto, conforme notícia transcrita abaixo esse encaminhamento ficou sem efeito e a professora foi enviada para assumir a cadeira do sexo feminino do então povoado de Alagoinhas, hoje cidade do mesmo nome e que pertencia ao município de Cimbres, cuja sede administrativa já havia sido transferida desde 13/05/1836 para Pesqueira.

PARTE OFICIAL. Governo da Província. […] Expediente do dia 19 de agosto. Atos: - O presidente da província atendendo ao que requereu Joaquina Cordeiro de Jesus Rocha, resolve nomear a professora para a cadeira do sexo feminino de Alagoinhas; ficando sem efeito a portaria de 10 de julho findo que nomeou a peticionária professora da cadeira de Água Brancavii.

Todavia, seu período como professora de Alagoinha foi muito curto durou pouco mais de 01 anos, tendo falecido prematuramente aos 36 anos de idade e deixando 04 filhos menores, dos quais encontrei o nome de três: Jerônimo Eusébio da Rocha Pereira, Etelvina Cordeiro da Rocha Pereira e Alice Tecla da Rocha Pereira.


Quanto ao professor Joaquim Pedro da Rocha Pereira (10/04/1840-Recife,27/03/1914viii) é importante fazer algumas considerações. Exerceu o magistério público por mais de 30 anos, lecionando nos seguintes lugares: Lagoa dos Gatos (1868); Colônia Isabel (1879); Catende (1880); Bonito (1881); Cimbres (1882), Escada (1882), Afogados, Recife (1892); Boa Vista, Recife (1894). Aposentando-se em 1898 como professor jubilado.

O professor Joaquim tomou parte em várias entidades na capital pernambucana, nelas ocupando funções diretivas, dentre as quais destaco: 1-Sócio efetivo do Instituto Arqueológico Histórico e Geográfico Pernambucano (IAHGP), dele fazendo parte das comissões de admissão de sócios (1902/1903) e de fundos e orçamento (1905/1906), sendo presidentes do Instituto nos períodos o desembargador Adelino Antônio de Luna Freire e o Dr. João Batista Rigueira Costa, respectivamente; 2-Conselheiro (1897), Presidente (1906 e 1909) e Tesoureiro (1907) do Grêmio dos Professores Primários do Recife; 3-Vice-presidente (1895) e Conselheiro (1900 e 1902) da Sociedade União Beneficente dos Professores; 4-Sócio da Cooperativa dos Funcionários Públicos de Pernambuco; 5-Jurado do conselho do júri da comarca do Recife; 6-Presidente da comissão examinadora da Instrução Pública municipal na Freguesia das Graças no Recife (1899).

Também foi sócio efetivo da Biblioteca Popular Pesqueirense, fundada em 01/01/1883, cuja primeira diretoria foi a seguinte: Diretor: Cônego Francisco Peixoto Duarte; Vice-diretor: Major Sátiro Ferreira Leite; 1º Secretário: Prof. Rufino Epifânio Rodrigues dos Santos; 2º Secretário: Capitão Manoel Cordeiro de Carvalho; Tesoureiro: José Martins Leitão; Orador: Prof. Franklin M. Martins; Consultores: Carlos Frederico Xavier de Brito, André Bezerra do Rego Barros e Antônio Armínio Gomes Coimbraix.

Ficando viúvo da professora Joaquina Cordeiro casou novamente com Josefa Carolina da Rocha Pereira, falecida em Olinda-PE dia 14/10/1934x e com ela teve os seguintes filhos: 1-Joaquim Pedro da Rocha Pereira Júnior, inspetor escolar; 2-Alfredo Erasmo da Rocha Pereira, funcionário dos Correios; 3-Beatriz Augusta Pereira de Lucena, professora estadual do Cabo; 4-Virgílio da Rocha Pereira; 5-Honorina Marieta da Rocha Pereira; 6- Olinto da Rocha Pereira; 7- Afonso Henrique da Rocha Pereira, falecido com apenas 07 anos 09/04/1902xi; e 8-Renato da Rocha Pereira.

Diante do exposto neste artigo, pudemos esclarecer os questionamentos iniciais descrevendo quem foi a finada professora e o seu esposo. Assim como, através das pesquisas foi possível localizar muitos registros em jornais da capital pernambucana como: Jornal do Recife, A Província e o Diário de Pernambuco, que muito contribuíram como fontes históricas. No entanto, ao final deste fica uma indagação:

Sendo que o sepultamento foi feito no cemitério da vila, por que os restos mortais de Joaquina Cordeiro de Jesus Pereira foi transladado para uma parede no sótão da Matriz de Cimbres? Por ora, o rabiscador destas linhas ainda não sabe, mais isso é o que apaixona na pesquisa histórica, ter a dúvida e sempre procurar por respostas.


Por Fábio Menino de Oliveira. 


NOTAS:

i Livro de óbitos da Matriz de Nossa Senhora das Montanhas de Cimbres, período de maio de 1865 a fevereiro de 1899, fls. 45, s/n de termo.
ii Diário de Pernambuco, Recife, sexta-feira, 01 de fevereiro de 1884, ano LX, nº 27, p. 2.
iii Jornal do Recife, segunda-feira, 18 de janeiro de 1869, ano XI, nº 13, p.1.
iv Diário de Pernambuco, Recife, sábado, 14 de outubro de 1873, ano XLIX, nº 234, p. 4.
v Diário de Pernambuco, Recife, sexta-feira, 08 de maio de 1874, ano L, nº 104, p.1.
vi Jornal do Recife, terça-feira, 25 de julho de 1882, ano XXV, nº 167, p.1.
vii Diário de Pernambuco, Recife, quinta-feira, 14 de setembro de 1882, ano LVIII, nº 209, p. 1.
viii Diário de Pernambuco, Recife, segunda-feira, 02 de março de 1914, ano 90, nº 31, p. 3.
ix Jornal do Recife, terça-feira, 22 de maio de 1883, ano XXVI, nº 116, p. 2.
x Diário de Pernambuco, Recife, 15 de outubro de 1939, ano 114, nº 289, p.6.
xi A Província, Recife, sexta-feira, 11 de abril de 1902, ano XXV, nº 81, p. 1.

3 comentários:

  1. Fico alegre em ver está pesquisa na qual conheci a história do meu avô, pois conhecia muito pouco sendo filho de Olnto Pio da Rocha Pereira e com a morte do meu avô meu pai tinha apenas 12 anos é pouco nos contou desta história.

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  2. João Batista da Rocha Pereira, filho de Olinto Pio da Rocha Pereira e neto de Joaquim Pedro da Rocha Pereira.

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