No último dia
14 deste mês estive junto com meu amigo Átila Frazão fazendo uma visita a
histórica e belíssima Vila de Cimbres, município de Pesqueira-PE, berço de mais
de 300 anos de uma história riquíssima.
Entre os lugares visitados, destaco a
Matriz de Nossa Senhora das Montanhas, construída provavelmente na década de
1670 após a instalação da missão de Ararobá pelos padres oratorianos da
congregação de São Felipe Néri, tendo passado por algumas reformas em 1852 e na
década de 1920, onde fora construída a torre frontal e as sacristias.
Dentre tantos
detalhes observados, teve um que me instigou a curiosidade a presença de uma lápide no
sótão acima da sacristia do lado direto da Matriz, com os seguintes dizeres:
RESTOS MORTAES DA PROFESSORA DE ALAGOINHAS D. JOAQUINA CORDEIRO DE JESUS ROCHA
FALLECIDA A 26 DE DEZEMBRO DE 1883 (ipsis litteris).
Mais quem
foi essa professora? Por que seus restos mortais estão no referido lugar? A partir desses questionamentos que me
fiz e que, certamente, a maioria das pessoas fariam, fui pesquisar.
É notório
observar que os sepultamentos eram feitos na Matriz até 1862 quando passou a
funcionar o cemitério público de Cimbres, sendo batizado como Cemitério São
Sebastião, um dos padroeiros da tricentenária vila. Todavia, pelo óbito
localizado da Joaquina Cordeiro de Jesus Rocha a mesma foi sepultada numa
catacumba no cemitério local e não na igreja. Vejamos o que diz dois registros
de seu falecimento por mim localizados:
Aos vinte e seis de
dezembro de mil oitocentos e oitenta e três, faleceu da vida presente,
recebendo todos os sacramentos da Igreja Romana, Joaquina Cordeiro de Jesus
Rocha, com idade de trinta e seis anos, professora pública da povoação
d'Alagoinha, casada com o professor público desta povoação de Cimbres Joaquim
Pedro da Rocha Pereira, e foi encomendada solenemente, e sepultada em uma
catacumba do cemitério público desta Povão e amortalhada de preto,
para constar mandei fazer este assento no qual me assino. Vigário Raphael Limai. (ortografia atualizada)
CIMBRES.- Escrevem-nos
em 21 de janeiro findo: […]Já essa conceituada Revista Diária noticiou o
prematuro falecimento da professora de Alagoinhas, D. Joaquina Cordeiro de
Jesus Rocha, e esposa do professor desta vila, que ficou assim viúvo e com
quatro filhos menores. Resta-nos acrescentar que no dia 3 deste mês teve lugar
a missa do sétimo dia com momento solene e depois a visita à catacumba do
cemitério pelo Revdm. Vigário, família da finada e amigos do mesmo professor; e
nessa ocasião após sufrágios da religião, o Sr. Quintino Aragão proferiu um
discurso necrológico, que muito sensibilizou o auditórioii. (ortografia atualizada)
Pelos
registros supracitados podemos notar o prestígio que os professores Joaquim Pedro da Rocha Pereira e sua
esposa Joaquina Cordeiro de Jesus Rocha detinham na comunidade cimbrense. Pelo
seu óbito teria nascido Joaquina no ano de 1847, possivelmente no Recife,
casaram na Matriz de São José, uma vez que em encontrei uma nota de jornal
sobre as denunciações de proclamas em 18 de janeiro de 1869iii.
A professora
Joaquina Cordeiro prestou exame de verificação de capacidade profissional para
o magistério primário do sexo feminino entre os dias 2 e 7 de outubro de 1873,
sendo aprovada pela antiga Secretária de Instrução Pública do estado de
Pernambucoiv.
Foi nomeada para exercer o magistério interinamente na cadeira do sexo feminino
de Lagoa dos Gatos em 04/02/1874v. Em 10/07/1882 foi nomeada pela
diretoria estadual de instrução pública como professora efetiva, sendo
encaminhada para lecionar em Água Brancavi (não localizei onde ficava esse
lugar).
No entanto,
conforme notícia transcrita abaixo esse encaminhamento ficou sem efeito e a
professora foi enviada para assumir a cadeira do sexo feminino do então povoado
de Alagoinhas, hoje cidade do mesmo nome e que pertencia ao município de
Cimbres, cuja sede administrativa já havia sido transferida desde 13/05/1836
para Pesqueira.
PARTE OFICIAL. Governo
da Província. […] Expediente do dia 19 de agosto. Atos: - O presidente da
província atendendo ao que requereu Joaquina Cordeiro de Jesus Rocha, resolve
nomear a professora para a cadeira do sexo feminino de Alagoinhas; ficando sem
efeito a portaria de 10 de julho findo que nomeou a peticionária professora da
cadeira de Água Brancavii.
Todavia, seu
período como professora de Alagoinha foi muito curto durou pouco mais de 01
anos, tendo falecido prematuramente aos 36 anos de idade e deixando 04 filhos
menores, dos quais encontrei o nome de três: Jerônimo Eusébio da Rocha Pereira,
Etelvina Cordeiro da Rocha Pereira e Alice Tecla da Rocha Pereira.
Quanto ao
professor Joaquim Pedro da Rocha Pereira (10/04/1840-Recife,27/03/1914viii) é importante fazer algumas
considerações. Exerceu o magistério público por mais de 30 anos, lecionando nos
seguintes lugares: Lagoa dos Gatos (1868); Colônia Isabel (1879); Catende
(1880); Bonito (1881); Cimbres (1882), Escada (1882), Afogados, Recife (1892);
Boa Vista, Recife (1894). Aposentando-se em 1898 como professor jubilado.
O professor
Joaquim tomou parte em várias entidades na capital pernambucana, nelas ocupando
funções diretivas, dentre as quais destaco: 1-Sócio efetivo do Instituto
Arqueológico Histórico e Geográfico Pernambucano (IAHGP), dele fazendo parte
das comissões de admissão de sócios (1902/1903) e de fundos e orçamento
(1905/1906), sendo presidentes do Instituto nos períodos o desembargador
Adelino Antônio de Luna Freire e o Dr. João Batista Rigueira Costa,
respectivamente; 2-Conselheiro (1897), Presidente (1906 e 1909) e
Tesoureiro (1907) do Grêmio dos Professores Primários do Recife; 3-Vice-presidente
(1895) e Conselheiro (1900 e 1902) da Sociedade União Beneficente dos
Professores; 4-Sócio da Cooperativa dos Funcionários Públicos de
Pernambuco; 5-Jurado do conselho do júri da comarca do Recife;
6-Presidente da comissão examinadora da Instrução Pública municipal na
Freguesia das Graças no Recife (1899).
Também foi
sócio efetivo da Biblioteca Popular Pesqueirense, fundada em 01/01/1883, cuja
primeira diretoria foi a seguinte: Diretor: Cônego Francisco Peixoto Duarte;
Vice-diretor: Major Sátiro Ferreira Leite; 1º Secretário: Prof. Rufino Epifânio
Rodrigues dos Santos; 2º Secretário: Capitão Manoel Cordeiro de Carvalho;
Tesoureiro: José Martins Leitão; Orador: Prof. Franklin M. Martins;
Consultores: Carlos Frederico Xavier de Brito, André Bezerra do Rego Barros e
Antônio Armínio Gomes Coimbraix.
Ficando viúvo
da professora Joaquina Cordeiro casou novamente com Josefa Carolina da Rocha
Pereira, falecida em Olinda-PE dia 14/10/1934x e com ela teve os seguintes filhos:
1-Joaquim Pedro da Rocha Pereira Júnior, inspetor escolar; 2-Alfredo Erasmo da
Rocha Pereira, funcionário dos Correios; 3-Beatriz Augusta Pereira de Lucena,
professora estadual do Cabo; 4-Virgílio da Rocha Pereira; 5-Honorina Marieta da
Rocha Pereira; 6- Olinto da Rocha Pereira; 7- Afonso Henrique da Rocha Pereira,
falecido com apenas 07 anos 09/04/1902xi; e 8-Renato da Rocha Pereira.
Diante do
exposto neste artigo, pudemos esclarecer os questionamentos iniciais
descrevendo quem foi a finada professora e o seu esposo. Assim como, através
das pesquisas foi possível localizar muitos registros em jornais da capital
pernambucana como: Jornal do Recife, A Província e o Diário de Pernambuco, que
muito contribuíram como fontes históricas. No entanto, ao final deste fica uma
indagação:
Sendo que o
sepultamento foi feito no cemitério da vila, por que os restos mortais de
Joaquina Cordeiro de Jesus Pereira foi transladado para uma parede no sótão da
Matriz de Cimbres? Por
ora, o rabiscador destas linhas ainda não sabe, mais isso é o que apaixona na
pesquisa histórica, ter a dúvida e sempre procurar por respostas.
Por
Fábio Menino de Oliveira.
i Livro de óbitos da Matriz de Nossa
Senhora das Montanhas de Cimbres, período de maio de 1865 a fevereiro de 1899,
fls. 45, s/n de termo.
Fico alegre em ver está pesquisa na qual conheci a história do meu avô, pois conhecia muito pouco sendo filho de Olnto Pio da Rocha Pereira e com a morte do meu avô meu pai tinha apenas 12 anos é pouco nos contou desta história.
ResponderExcluirJoão Batista da Rocha Pereira, filho de Olinto Pio da Rocha Pereira e neto de Joaquim Pedro da Rocha Pereira.
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