domingo, 6 de abril de 2025

DR. CARLITO: PEDIATRA DE ALMA, MÉDICO DO POVO

 

Dr. Carlito Didier Pitta

Em meio às belezas naturais da cidade de Pesqueira encravada no sopé da Serra do Ororubá, viveu um homem cuja vocação ultrapassava a medicina. Dr. Carlito Didier Pitta não foi apenas um pediatra — foi um guardião da infância, um amigo das famílias humildes e um símbolo de cuidado verdadeiro, fazendo da medicina muito mais que vocação, mas um verdadeiro sacerdócio.

Família 

Carlito Didier Pitta nasceu na residência dos seus pais, o coronel José Pitta (Pesqueira/PE, 24/01/1892 – Recife/PE, 03/02/1966) e de Marieta Didier Pitta (Pesqueira/PE, 16/11/1894 – 07/08/1995), localizada na Rua Duque de Caxias, Pesqueira/PE, às 17 horas do dia 1º de março de 1914. Eles haviam casado civilmente em Pesqueira no dia 20 de abril de 1913.

O industrial e gerente da Fábrica Rosa, Cel. José Pitta e sua esposa
D. Marieta Didier Pitta

De acordo com o pesquisador Marcelo Nascimento é possível que Carlito tenha vindo ao mundo num dos sobrados coloniais construídos pelo capitão-mor Manuel José de Siqueira e que a partir de 1919 foi transformado por D. José Lopes no Palácio Episcopal e que fora a vivenda de José e Marieta antes de se mudarem para a Praça D. José Lopes, nº 102, local que é conhecido até os dias atuais como a “Casa de Marieta Pitta”, cuja fachada e arquitetura belíssima permanecem preservadas pelo comerciante José Mauro Barros, a quem saudamos pela louvável iniciativa.

No sobrado ao centro vemos um casal na varanda que segundo o Pe. Eduardo
Valença tratava-se de José e Marieta Pitta que ali residiram antes de virar
Palácio Episcopal e onde teria nascido o menino Carlito.

Dito isto, transcrevo a seguir um resumo da ascendência genealógica de Dr. Carlito: Neto paterno do português Francisco José Pita e de D. Joana de Araújo Pita. Neto materno do comendador José do Rego Maciel Didier (Brejo da Madre de Deus/PE, 19/03/1862 – Pesqueira/PE, 23/01/1942) e de Maria Alfina Didier “Dona Maroca” (Brejo da Madre de Deus/PE, 09/11/1859 – Pesqueira/PE, 29/12/1961).

Comendador José Didier e sua esposa D. Maria Alfina Didier 

Bisneto pelo comendador José Didier do coronel Didier do Rego Maciel (Brejo da Madre de Deus/PE, 01/04/1838 – Pesqueira/PE, 15/05/1936) e de D. Guilhermina Benvinda de Albuquerque “D. Vidinha” (Brejo da Madre de Deus/PE, 24/06/1836 – Pesqueira/PE, 21/02/1909). Bisneto por Maria Alfina do Major Firmino de Oliveira Melo e de D. Josefa Cândida de Melo.

Do casal José e Marieta Pitta nasceram cinco filhos: 1) Carlito Didier Pitta, solteiro; 2) Humberto Didier Pitta (Pesqueira/PE, 20/10/1915), casado com Maria Ivone Marinho Falcão Pitta (Brejo da Madre de Deus/PE, 1º/05/1923 – Recife/PE, 11/05/1983), pais de Carmem Dolores, Ana Elisabete, Maria Teresa, Maria Cristina, José Heráclio, Antônio Carlos e Humberto Falcão Pitta; 3) Hilda Didier Pitta Marinho (Pesqueira/PE, 22/12/1916), casada com o Dr. João Arruda Marinho dos Santos (Brejo da Madre de Deus/PE, 22/09/1908), prefeito de Pesqueira, deputado estadual e secretário de estado, pais de Antônio Paulo, Lúcia, José Augusto, Carlos Alberto e Francisco Luís Pitta Marinho; 4) Irene Didier Pitta Pontual (Pesqueira/PE, 21/03/1921), casada com o Dr. Silvio Amorim Pontual (Recife/PE, 06/01/1917 – 04/01/2011) , pais de Marcelo, Regina, Helena, Virgínia, Aline Maria, Dulce e Eduardo Pita Pontual; e 5) Fernando Didier Pitta (Pesqueira/PE, 12/04/1925 – Recife/PE, 11/04/2003), casado com Terezinha de Jesus Cavalcanti Pitta (Pesqueira/PE, 23/02/1927 – 30/12/2014), sem sucessão.

Segundo o historiador Luís Wilson (1980), o nome familiar Didier teve origem após a fundação da Fábrica de Doces Rosa em 1906, quando os irmãos comendador José Didier e Antônio do Rego Maciel Didier “Tonhé” passaram a usar o nome do pai como sobrenome para homenageá-lo. Surgindo a partir daí uma das famílias mais tradicionais pesqueirenses.

Formação

     Cursou o ensino primário e secundário como aluno externo no Colégio Diocesano Cardeal Arcoverde entre os anos de 1920 a 1928 que ficava localizado no sobrado ao lado da Câmara de Vereadores e que se mudara em 1928 para o palacete de seu tio avô Tonhé Didier, onde atualmente é a prefeitura municipal. Foram seus professores o Dr. Eduardo Correia da Silva, Monsenhor José Landim, Pe. Adalberto Dobbere, José Francisco dos Santos, Mariano de Souza Neto,  Pe. Urbano de Sá Carvalho, Pe. Antônio Duarte Cavalcanti e Monsenhor João Pires Araújo. Foi contemporâneo no antigo colégio que deu origem ao Colégio Cristo Rei dos celebres Luís Wilson, Wilson Chacon, Jurandir Brito, Moacir Brito, Ésio Araújo, Othon Almeida, Frederico Maciel, entres outros. Além do irmão Humberto e dos primos Walter, Milton e André, filhos de Praxedes Didier.

Colégio Diocesano Cardeal Arcoverde

        Terminado os estudos na sua cidade passa a residir em Recife em 1929 ingressando no tradicional e histórico Ginásio Pernambuco, localizado na Rua da Aurora no bairro de Santo Amaro, fundado em 1825 e que atualmente é a mais antiga instituição de ensino em atividade no país.

Ingressou em 1934 na histórica Faculdade de Medicina do Recife, fundada em 4 de abril de 1915, cujo prédio localizado no bairro do Derby foi construído em 1927 e que à época do seu ingresso era dirigida pelo Prof. Dr. Otávio de Freitas, uma das figuras mais proeminentes da medicina pernambucana. 

Não logramos êxito em localizar a data da sua formatura, devendo ter sido entre 1939 e 1940. Todavia, sabemos que escolheu como especialização a pediatria que mais do que uma vocação tornou-se seu sacerdócio de vida. 

De acordo com Luís Wilson (1980) depois de formado foi trabalhar na cidade de Tupã, no estado de São Paulo, o que deve ter ocorrido no inicio da década de 1940, pois foi nomeado em 27 de novembro de 1944 pelo Interventor Fernando Sousa Costa como prefeito interino de Tupã por 34 dias em substituição ao prefeito licenciado Walter Montanha Peixoto da Silva, o que demonstra que já gozava da confiança da sociedade desta cidade paulista.

Vida Profissional

 De volta a sua terra natal assume como médico do Serviço Público Estadual em 1º de junho de 1945. Ao longo da sua vida profissional prestou relevantes serviços a medicina pernambucana e pesqueirense sendo nomeado para atuar nas seguintes funções: Médico Assistente de Clínica Médica no Hospital Regional de Pesqueira (15/06/1946); Médico de Dispensário (01/061947); Médico Higienista (1957 – 1963); Médico Pediatra Auxiliar (01/02/1964); e Médico Pediatra Assistente (07/01/1970).

Dr. Carlito está no centro da foto de paletó cinza com a mão direita no bolso,
quanto a seu pai José Pitta é o penúltimo à direita.

Exerceu a função de Tesoureiro da Sociedade de Medicina de Pesqueira, fundada para organizar o III Congresso Médico Estadual, promovido pela Sociedade de Medicina de Pernambuco, realizado em Pesqueira entre 20 e 22 de dezembro de 1951. Compunham a diretoria o Dr. Lídio Paraíba (presidente) e o Dr. Arlindo Carneiro (secretário).

Coordenou a II Semana de Medicina Preventiva realizada em Pesqueira no mês de outubro de 1957 em parceria com o Departamento Nacional de Endemias Rurais sendo feita uma campanha contra as endemias da bouba, tracoma e helmintose. Como ações dessa iniciativa podemos citar a transformação do Posto de Endemias Rurais em Posto Polivalente, foram visitadas 7.889 habitações no município sendo recenseadas 25.560 pessoas, das quais foram medicadas 1.553 que estavam doentes e vacinadas 1.378.

Como especialização participou de vários congressos cabendo destacar o Curso Nestlé de Atualização em Pediatria, realizado em Recife no dia 04/06/1957 e que contou com a participação de 50 pediatras de vários estados do nordeste sob a coordenação do Prof. Dr. Álvaro Serra de Castro, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria. Tendo participado novamente do mesmo curso desta vez em Brasília/DF entre os dias 18 a 24 de setembro de 1966.

Por todo esse trabalho de dedicação e abnegação foi agraciado com o Diploma da Ordem do Ororubá em solenidade realizada no auditório da Rádio Jornal de Pesqueira no dia 6 de junho de 1971. Esta comenda foi dada pela Associação dos Antigos Alunos do Cristo Rei (AAACR) que na oportunidade homenageou outras 13 personalidades com relevantes serviços prestados a sociedade pesqueirense.

Posto de Puericultura: o sacerdócio e o legado

Pelo que já fora exposto nas linhas anteriores já merecia todas as homenagens e o reconhecimento a este grande pesqueirense. Todavia, Dr. Carlito Didier Pitta foi além como médico humanitário e combatente da mortalidade infantil. Em 1950 fundou a Liga de Proteção à Maternidade e à Infância de Pesqueira da qual foi seu presidente por toda a vida.

Após fundar a liga começou as tratativas com o prefeito de Pesqueira Ésio Magalhães Araújo (1948 – 1951) sobre o desejo de construir um Posto de Puericultura para proporcionar assistência social à infância e à maternidade no que concerne a acompanhar o pré-natal das gestantes e o desenvolvimento das crianças com orientação sobre alimentação, higiene e preparo físico.

Posto de Puericultura no processo final de construção em 1951

O prefeito Ésio Araújo abraçou a ideia e como gesto destinou a quantia de Cr$ 24.000,00 (vinte e quatro mil cruzeiros) dos seus próprios vencimentos para que a manutenção inicial do posto. Também conseguiu junto ao Governo do Estado através do Secretário de Saúde Dr. Orlando Parahym e do Serviço Nacional de Proteção à Maternidade e à Infância o financiamento de Cr$ 200.000,00 (duzentos mil cruzeiros) para a construção do prédio. Igualmente somaram-se aos esforços o bispo D. Adelmo Machado e a Sociedade Leão XIII que doou Cr$ 15.000,00 (quinze mil cruzeiros).

A obra do tipo “A” foi iniciada em fins de 1950 com instalações amplas contendo consultório, ambulatório, farmácia, copa, lactário, cantina, almoxarifado, depósito, sala de espera, sala de pesagem, tesouraria, secretaria e serviço dentário. O local escolhido foi o bairro da Pitanga em pleno desenvolvimento populacional e que abrigava, sobretudo, famílias de operários e trabalhadores rurais, ou seja, uma comunidade carente e necessitada de assistência social.

O funcionamento do Posto de Puericultura começa em 1º de agosto de 1952 e dele Dr. Carlito tornou-se diretor e benemérito até a sua morte, numa dedicação e abnegação única, tanto é que notas publicadas no Diário de Pernambuco nas décadas de 1950 e 1960 fazem questão de mencionar que o pediatra de alma e médico do povo pesqueirense custeava as despesas do posto com recursos próprios evitando o seu fechamento.

Sobre as dificuldades financeiras para manutenção do posto faz-se míster ouvir as palavras do Dr. Carlito na Coluna de Pesqueira escrita por Luiz Neves para o Diário de Pernambuco em 20/01/1958:

“Ao findar-se o exercício de 1956, foi constatado um saldo de Cr$ 74.463,40, que passou para o exercício de 1957. Esse saldo, uma decorrência de auxílios recebidos naquele exercício, nos permitiu a atravessar o ano passado, sem falar no auxilio de Cr$ 60.000,00 recebido do Departamento Estadual da Criança. Sucede, todavia, que a população necessitada dos serviços do Posto, aumenta de ano para ano; enquanto isso, os auxílios que recebemos do Estado e da Prefeitura não foram pagos um só mês no ano de 1957. Sem nenhuma causa que justifique isto, foram sustadas tais contribuições mensais, ou sejam, da Prefeitura, dois mil cruzeiros, e da LBA a mesma quantia. Mesmo assim, fazendo acrobacias, pudemos levar avante, milagrosamente, sem que o serviço assistencial do Posto, sofresse solução de continuidade. Quanto ao milagre a que me refiro, resume-se simplesmente nisto: os dois médicos do Posto, ganham, apenas, mensalmente, Cr$ 500,00, o que não dá nem pra pagar a gasolina do automóvel para os conduzir até ali, diariamente, e as gratificações que percebem os quatro esforçados funcionários são tão irrisórias que não vale a pena citar. Ao todo são seis funcionários. Pois bem: a despesa desse pessoal em 1957 foi de apenas Cr$ 32.150,00! Por aí você pode tirar o resto!”

        Vê-se o desabafo de alguém que lutou incansavelmente para que o Posto de Puericultura se mantivesse firme e em funcionamento atendendo a população mais carente do município. Um adendo é que o mesmo passou a se chamar Posto de Puericultura Ésio Araújo a partir de 26/02/1955 numa justa homenagem ao ex-prefeito recém falecido.

No antigo Posto de Puericultura funciona atualmente a Associação Comunitária Cristo Rei.
Foto: Marcelo Nascimento

            Sobre as ações sociais desenvolvidas no Posto de Puericultura no atendimento à população cabe destacar as seguintes: Distribuição de leite gratuito para as crianças; Higiene pré-natal e infantil; Lactário e Cantina para nutrição de gestantes e lactantes; Serviço de refeição as crianças assistidas pelo posto; Escola de Arte Culinária; Escola de Corte e Costura; Escola de Arte Decorativa e Escola Mista Noturna de Alfabetização de Adultos.

            Nota-se que o trabalho de Dr. Carlito à frente do Posto de Puericultura não cuidava apenas da saúde, mas havia uma preocupação com a educação pelos cursos ofertados. Prova disso é que o mesmo frequentava e desenvolvia ações nas escolas do município distribuindo exemplares de cartazes sobre a alimentação infantil.

            Numa iniciativa pioneira, defendia que a alimentação deveria fazer parte do programa de ensino de todas as escolas. Em artigo da colunista Zenaide Barbosa (Diário de Pernambuco, 11/09/1971) o médico pesqueirense diz que: “Poderá não haver dinheiro para a compra dos alimentos, porém ficará a noção certa de como deverão se alimentar”. E conclui falando: “Sou de opinião que todo movimento na comunidade deve começar na escola e, assim, melhorar as condições de vida do próximo, pois este é meu lema, na qualidade de médico e pessoa humana”.

          Como se pode notar em suas palavras foi um homem a frente do seu tempo e por merecimento recebeu como homenagem póstuma dar o nome a instituição de ensino que fora construída em 1994 e cujo funcionamento começou em 21 de setembro de 1995 na gestão do prefeito e também pediatra Dr. Evandro Mauro Maciel Chacon, outro grande exemplo de atenção, cuidado e dedicação com as crianças e o povo pesqueirense.

            O Centro de Atenção Integral à Criança – CAIC construído para prestar assistência integral em educação e saúde às crianças e adolescentes, bandeiras de uma vida de luta, recebeu o nome de Espaço Educacional Dr. Carlito Didier Pitta para dizer do orgulho que as comunidades da Pitanga e da Central, e porque não dizer de toda a sociedade pesqueirense devotavam aquele que foi como já disse anteriormente o pediatra de alma e o médico do povo.

Espaço Educação Dr. Carlito Didier Pitta - CAIC, inaugurado em 1995

Morte

 Dr. Carlito faleceu no Hospital Dr. Lídio Paraíba em Pesqueira, às 4h35 do dia 19 de março de 1979. Sua partida ainda prematura podemos assim dizer, porque tinha apenas 65 anos de idade foi sentida por toda Pesqueira e no estado de Pernambuco tendo sido aprovado na Assembleia Legislativa em 21/03/1979 um voto de pesar proposto pelo Deputado José Fernandes.

Seu Posto de Puericultura que depois de sua morte recebeu seu nome, assim como a principal avenida do bairro da Pitanga, na verdade, era um espaço de esperança. Seu consultório, um templo de empatia. Sua vida, um exemplo de humanidade vivida no dia a dia, sem alarde, com humildade.

Dr. Carlito foi daqueles que curam muito além do corpo. Seu legado permanece no carinho de quem o conheceu, na memória dos que ele cuidou e na inspiração que deixou para a medicina feita com alma e coração.

Pesqueira nunca o esquecerá, porque há médicos que passam pela vida — e há aqueles que permanecem nela, como parte da própria história de um povo.


 Por Fábio Menino de Oliveira


Referências Bibliográficas

Álbum da Administração de Ésio Magalhães Araújo, 1948-1951. Recife, Oficina Tipográfica do Diário da Manhã, 1951.

A Província – edição de 05/12/1929.

Correio Paulistano – edição de 25/11/1944.

Diário da Manhã – edição de 13/12/1934.

Diário de Pernambuco – edições de 15/06/1946; 04/05/1950; 12/08/1950; 01/11/1950; 21/11/1951; 13/05/1952; 28/08/1952; 06/04/1955; 04/02/1956; 21/02/1956; 25/09/1957; 24/01/1958; 29/01/1958; 06/03/1958; 08/07/1959; 03/09/1968; 14/05/1969; 19/03/1970; 26/05/1971; 02/06/1971; 11/09/1971; e 19/04/1980.

Diário Oficial do Estado de Pernambuco – edições de 27/04/1945; 15/06/1946; 02/08/1952; 08/07/1959; 07/09/1961; 1º/02/1964; 05/11/1965; 28/07/1966; 15/03/1967; 07/01/1970; 24/09/1971; e 22/03/1979.

Pesqueira Histórica –  A família Didier de Pesqueira e os fundadores da Fábrica Rosa | Ph045

WILSON, Luís. Ararobá Lendária e Eterna. CEPE/Pref. de Pesqueira. Recife: 1980, p. 52.

            

           Agradecimento

Ao amigo Marcelo Nascimento do Pesqueira Histórica pela colaboração nas fotografias.



quinta-feira, 18 de junho de 2020

DR. IVO ISIDORO DE ASSIS: PROFESSOR E MAGISTRADO

            

Dr. Ivo Isidoro de Assis em discurso no povoado de Ipanema (Pesqueira-PE), tendo ao seu lado Manoel Tenório de Brito e entre outros aparecem: Sergio de Brito e seus filhos Romero e Luiz Sergio. Foto cortesia de Mônica Brito.

            Sua família

Nasceu na Fazenda Barra, atual povoado de Ipanema em Pesqueira/PE no dia 23 de dezembro de 1919, tendo completado em dezembro próximo passado o centenário do seu nascimento.

Filho de José Leopoldo de Carvalho (Fazenda Barra, Pesqueira-PE, 1887-08/11/1941) e Anna Eliziária de Carvalho (Fazenda Barra 1891- Pesqueira-PE, 24/09/1946). Neto paterno de Leopoldo de Carvalho Cavalcanti (Fazenda Barra, 30/09/1860-1925) e de Francisca de Moura Cavalcanti (Fazenda Jerimum, Pesqueira-PE, 27/11/1858 - Fazenda Barra, 1923). Neto materno de Isidoro Pereira Torres Galindo e Eliziária Lisarda da Conceição.

José Leopoldo e Anna Eliziária casaram civilmente em Pesqueira no dia 20 de agosto de 1912 e dessa união nasceram 5 filhos: 1 - Josafá de Carvalho Galindo (Faz. Barra, 04/11/1912) casado com Dominicia Silva de Carvalho; 2 – Eliziária Elza de Carvalho (Faz. Barra, 14/05/1914) casada com José Marcos de Carvalho; 3 – José Galindo de Carvalho (Faz. Barra, 29/01/1916) casado Maria José Bezerra; 4Ivo Isidoro de Assis; e 5 – Moacir Isidoro de Assis (Faz. Barra, 03/09/1920) casado com Amarina Botelho de Assis.

O casal se divorciou e José Leopoldo teve com Margarida Martins de Carvalho 07 filhos: Jason Leopoldo de Carvalho, Jaime Leopoldo de Carvalho, Joanício Leopoldo de Carvalho, Joacy Leopoldo de Carvalho, Jandira de Carvalho, Judith de Carvalho e Jalmenis de Carvalho.

Ivo Isidoro de Assis casou civilmente com Acilda Cavalcanti de Assis, nascida em Pesqueira no dia 17 de julho de 1924, filha de Mirabeau Cavalcanti e Eutália Cavalcanti. Neta paterna de Antônio Manoel de Siqueira Cavalcanti e Luiza Benvinda Bezerra Cavalcanti. Neta materna de Alfredo Bezerra Cavalcanti e Anna de Albuquerque Cavalcanti.

Ivo e Acilda tiveram 09 filhos: 1 – Maria Cavalcanti de Assis (Recife-PE, 26/04/1951); 2 – Maria Isabel Cavalcanti de Assis (Recife-PE, 02/08/1953); 3 – Maria Teresa Cavalcanti de Assis (Recife-PE, 06/09/1954); 4 – José Joaquim Cavalcanti de Assis (Recife-PE, 12/06/1956); 5 – José Clóvis Cavalcanti de Assis (Pesqueira-PE, 25/07/1957); 6 – Maria de Jesus Cavalcanti de Assis (Pesqueira-PE, 02/07/1958); 7 – José Mauro Cavalcanti de Assis (Pesqueira-PE, 09/11/1959); 8 – José Inácio Cavalcanti de Assis (Pesqueira-PE, 30/07/1963); e 9 – José Jorge Cavalcanti de Assis (Pesqueira-PE, 17/08/1965).

O casal divorciou-se e Ivo casou em Recife dia 07/03/1995 com Zilda de Queiroz Lima (Caruaru-PE, 25/07/1924 – Recife-PE, 18/07/2001), filha de Petronilo de Queiroz Lima e Maria Amália de Queiroz. Não tiveram filhos.

  Vida acadêmica e profissional

 Sabe-se que foi professor de Língua Portuguesa em Pesqueira antes de se formar bacharel, todavia não localizamos dados suficientes acerca da sua formação escolar e em quais instituições trabalhou.

Ingressou na Faculdade de Direito da Universidade do Recife onde colou grau no dia 13 de dezembro de 1952. Formado bacharel passou a exercer a advocacia em Pesqueira e em outras cidades do estado.

Prestou concurso para Juiz de Direito do judiciário do estado de Pernambuco, ao ser aprovado foi nomeado pelo governador Osvaldo Cordeiro de Farias através do decreto nº 2183 de 10/08/1955, sendo designado para assumir a Comarca da cidade de Poção onde permaneceu de 1955 até 1959. Depois passou pelas comarcas de Altinho (1959/1960) e Gravatá (1960/1964) até chegar a Pesqueira onde permaneceu por mais tempo como juiz (1964/1974). Enquanto estava na sua terra natal também assumiu interinamente a Comarca de Alagoinha e efetivamente a 3ª Vara da Comarca de Caruaru (1967).

Deixou a Comarca de Pesqueira em abril de 1974 para assumir as funções de Juiz de Direito Substituto na 9ª Vara Cível de Recife e em setembro deste mesmo ano passou a responder pela 3ª Vara de Família do Recife.

Aposentou-se como juiz e foi Diretor da 2ª Vara da Justiça Federal de Pernambuco a partir de 1977, onde aposentou-se em 1986.

 Vida social e política

O Dr. Ivo residia na Fazenda Maravilha, nas proximidades da cidade de Pesqueira, onde também dedicava-se a agricultura e a floricultura.

Além de Juiz de Direito, ele desempenhou várias atividades na sua terra natal entre elas podemos citar: atuou como colaborador do jornal A Voz de Pesqueira dos irmãos Eugênio e Wilson Chacon, fundado em 27/09/1936; foi membro de clubes sociais e de serviços sendo presidente do Clube dos 50 e do Lions Clube de Pesqueira; e foi presidente da Fundação Educacional do Agreste de Pernambuco (FEAPE), órgão mantenedor da Faculdade de Administração que funcionou em Pesqueira a partir de 1972.

Na política, Dr. Ivo foi candidato a prefeito de Pesqueira pelo partido ARENA 1 no pleito de 15 de novembro de 1976 apoiado pelo prefeito José Valderique Tenório. Disputaram também os sufrágios dos pesqueirenses: o vereador e representante do distrito de Mutuca Eutrópio Monteiro Leite (ARENA 2); o advogado Paulo Gamboa da Silva (MDB 1); e o comerciante e vereador Daniel Bezerra da Silva (MDB 2).

Vale ressaltar que havia na época o instituto da sublegenda, ou seja, cada partido podia apresentar mais de um candidato e era permitido a soma de votos da legenda afim de eleger o candidato mais votado do partido.

O Dr. Ivo não logrou êxito na disputa, uma vez que a mesma foi polarizada entre Paulo Gamboa e Eutrópio Monteiro Leite que foi eleito tendo como vice-prefeito Luís Sergio de Brito Cavalcanti, primo do Dr. Ivo e seu conterrâneo nascido também em Ipanema, outrora Fazenda Barra.

Após uma vida dedicada ao magistério e a magistratura este ilustre pesqueirense faleceu em Recife no dia 05 de maio de 2004 e nestas linhas este blog presta uma singela homenagem ao Dr. Ivo Isidoro de Assis, que desempenhou suas funções com correção, probidade e honradez sempre dedicado ao seu povo e a sua terra.

           

Por Fábio Menino de Oliveira

 

Fontes:

Barra: Reminiscências e notas para a história de Ipanema, Pesqueira-PE / Fábio Menino de Oliveira. Ed. do autor, 2016.

Cartório do Registro Civil de Pesqueira/PE – livros disponíveis no site: https://www.familysearch.org/search/catalog/results?count=20&placeId=210338&query=%2Bplace%3A%22Brazil%2C%20Pernambuco%2C%20Pesqueira%22&subjectsOpen=586142-50

Diário de Pernambuco – edições de 03/03/1959; 29/07/1960; 27/07/1969; e 17/11/1976.

Diário Oficial de Pernambuco – edições de 11/08/1955; 24/01/1961; 15/09/1964; 30/03/1967; 19/04/1974; 06/09/1974; 26/02/1977; e 02/12/1986.

 


terça-feira, 7 de agosto de 2018

ESTAÇÃO DE IPANEMA: UMA FOTO PARA A HISTÓRIA

Estação de Ipanema, Pesqueira-PE, s.d., cortesia de Carla Rosanni Brito Cavalcanti Branco

Ao longo dos últimos dezesseis anos que tenho procurado um registro fotográfico da Estação ferroviária do povoado de Ipanema (Pesqueira/PE) inaugurada em 23 de dezembro de 1910 e qual foi a surpresa nesses dias quando recebi numa rede social esta foto que agora divulgo com exclusividade neste blog e reitero o meu agradecimento a Carla Rosanni Brito Cavalcanti Branco por tê-la me enviado.
Sobre a história da estação ipanemense segue-se um trecho do Capitulo Oitavo (p. 157-163) do livro de minha autoria: Barra – Reminiscências e notas para a História de Ipanema – Pesqueira PE.

A chegada dos trilhos da Great Western
Início do século XX; remonta desta época a chegada dos trilhos da Great Western do Brasil (GWBR), empresa inglesa que construiu a Estrada de Ferro Central de Pernambuco, aberta em 1885, de Recife a Jaboatão. Esta empresa mais tarde viria a incorporar quase todas as ferrovias de Pernambuco, estendendo-se pelos Estados limítrofes. Aos poucos, a linha foi sendo estendida, chegando ao seu extremo, em Salgueiro, somente no ano de 1963, sem se entroncar com linha alguma na região. Antes disso, em 1950, a União incorporou a rede da Great Western, que passou a se chamar Rede Ferroviária do Nordeste. A EFCP passou a se chamar Linha Centro. Esta linha, que como toda a RFN, passou a ser controlada pela RFFSA a partir de 1957, e a ser operada por esta a partir de 1975. Em 1983, os trens de passageiros foram suprimidos e mantidos apenas no trecho entre Recife e Jaboatão, como trens de subúrbio. Atualmente, de Jaboatão para frente, a linha está abandonada, sem movimento ferroviário por parte da CFN, concessionária da linha desde 1997.
Os trilhos começaram a chegar a partir de 1909 em Ipanema, sendo responsável por essa construção do trecho de Pesqueira a Rio Branco (Arcoverde), o engenheiro-chefe Dr. C. W. Stevenson, que ficou hospedado com sua esposa e seus filhos na residência do capitão Carlos de Brito (chalé vizinho à Fábrica Peixe). Vale salientar que o trecho entre Recife e Pesqueira já havia sido inaugurado em 14 de abril de 1907 e que no período de 1909 a 1913 a GWBR era administrada pelo Superintendente A. T. Connor e pelo Presidente David Simson.
A chegada dos trilhos trouxe progresso, desenvolvimento e, consequentemente, um período áureo da história do lugarejo que, já fora sítio, fazenda e que a partir de 1909 se tornaria a Povoação de Ipanema, denominação decorrente da localização na ribeira do rio desta designação. Detalhe: até aquela data Ipanema ainda se chamava Barra; a mudança do nome ocorreu por sugestão da Great Western, que andou rebatizando muitos lugares que receberam estações ferroviárias no Estado a fim de não haver dualidade de nomes e com o intuito de melhor identificação.
Transcrevo abaixo algumas notícias publicadas em jornais recifenses sobre Ipanema:
Inauguração do tráfego ferroviário e do serviço telegráfico: jornal A Província (ano XXXIII, nº 328, p.4) de 18 de dezembro de 1910. Segue-se:

The Great Western of Brazil railway company limited. Prolongamento de Flores – Secção Central. Horário provisório a vigorar de 23 do corrente, com inclusão do serviço telegráfico entre Pesqueira e Ipanema (13 quilômetros) para os trens mistos que correrão nas segundas e sextas-feiras: Estações de Pesqueira (partida 5:00 PM) e Ipanema (chegada 5:40). VOLTA – Estações de Ipanema (partida 6:00 PM) e Pesqueira (chegada 6:40). Recife, 15 de dezembro de 1910. A.T. Connor – Superintendente.

Abertura do tráfego até Mimoso: jornal A Província, (ano XXXIV, nº 136, p.2) de 19 de maio de 1911. Segue-se:

The Great Western of Brazil railway company limited. Prolongamento de Flores – Secção Central. Amanhã, 19 do corrente, será inaugurado provisoriamente o tráfego do trecho deste prolongamento entre Ipanema e Mimoso, 10 quilômetros não só para passageiros, como para encomendas, mercadorias e animais, bem assim o serviço telegráfico. Os trens, que serão mistos correrão provisoriamente, desde amanhã, nas segundas e sextas-feiras, conforme o seguinte horário: IDA – Estações de Pesqueira (partida 4:50 hs), Ipanema (partida 5:20 hs) e Mimoso (chegada 5:50 hs); VOLTA – Estações de Mimoso (partida 6:10 hs), Ipanema (partida 6:45) e Pesqueira (chegada 7:15). Recife, 18 de maio de 1911. A.T. Connor – Superintendente.
[...]
Segundo relatos, José Leopoldo de Carvalho foi o 1º chefe da estação de Ipanema. Os trens circulavam todos os dias, um dia com passageiros e no outro dia com cargas. O jornal A Voz de Pesqueira de 16.01.1949, mencionava os preços dos fretes de algumas mercadorias:

<< Nos fretes as tarifas eram cobradas pela unidade quilo (Kg): por exemplo, feijão Cr$ 0,139, farinha de mandioca Cr$ 0,106, arroz e querosene Cr$ 0,221, açúcar Cr$ 0,155, sal Cr$ 0,162, banha e sabão Cr$ 0,341. Essas eram as principais mercadorias trazidas do Recife para a Região>>.

 A estação de Ipanema funcionou até meados da década de 1980. Tudo indica que foi demolida ao final da mesma década, restando atualmente apenas às ruínas e a plataforma de embarque. Segundo estudos feitos pelo Projeto Memória Ferroviária de Pernambuco, a arquitetura desta estação tinha algumas semelhanças com a da estação do município de Sanharó, tais como: os ferros de sustentação da cobertura da plataforma, paredes de reboco inferior grosseiro e bases em pedra. [...]
Ruínas da estação de Ipanema, foto deste blog (2016).
      Concluo este artigo com a satisfação do objetivo alcançado e de estar diante da história, no entanto não deixo de sentir a tristeza de ver tão bela estação atualmente em ruinas, é um pedaço importante da história do lugar que se foi para nunca mais voltar como os trens e as pessoas que outrora por ela passaram.

Por Fábio Menino de Oliveira

sábado, 17 de março de 2018

A CAPELA DE IPANEMA




A capela do povoado de Ipanema foi construída entre os anos de 1912 e 1913 nas terras pertencentes ao fazendeiro Leopoldo de Carvalho de Cavalcanti (30/09/1860 – 1925), tendo sido ele e seus familiares os idealizadores da edificação de um templo de fé na comunidade.
A autorização para fazer celebrações e ministrar os sacramentos foi dada pelo Arcebispo de Olinda, Dom Luís Raimundo da Silva Brito, em 28 de setembro de 1915, conforme atesta o documento transcrito a seguir e que consta lavrado no Livro Tombo da Catedral de Santa Águeda (Diocese de Pesqueira). Segue-se:
Sobre Capela da Barra
Luís, por Mercê de Deus e da Santa Sé Apostólica
Arcebispo Metropolitano de Olinda
Aos que a presente virem por a benção no Senhor.
Fazemos saber, que atendendo ao que nos representou Leopoldo de Carvalho Cavalcanti, e considerando a esta Capela de Nossa Senhora da Conceição, única que (*ilegível) na estação de Ipanema, colocada na propriedade do mesmo, havemos por bem declará-la Capela (*ilegível), para nela puder ser celebrada o Santo Sacríficio da Missa, e o ministraram-se os sacramentos, salvos os direitos paroquiais. Esta será apresentada ao Rdo. Pároco competente para ser registrada no Livro do Tombo.
Dado e passado em Cimbres, aos 28 de Setembro de 1915, sob nosso sinal e valendo sem o selo (*ilegível).
Luís, Arcebispo de Olinda.

Baseado neste documento e nas buscas em livros eclesiásticos das Matrizes de Cimbres e Santa Águeda nos primeiros anos do século XX é possível comprovar que o primeiro sacramento celebrado na Capela de Ipanema foi o matrimônio de Vespasiano Ferreira da Silva e Sebastiana Pereira de Araújo, ocorrido em 25/09/1915.
Aos vinte e cinco de setembro de mil novecentos e quinze, em Olho d’Água dos Bredos desta Freguesia, digo, em Ipanema de Pesqueira, dispensados de consanguinidade, banhos e certidões, perante as testemunhas André Napoleão de Siqueira e Francisco de Moura Cavalcanti de licença do Exmo. Sr. Arcebispo de Olinda, O Reverendo Padre Manoel Gonçalves, assistiu ao enlace matrimonial de Vespasiano Ferreira da Silva e Sebastiana Pereira de Araújo; ele filho natural de Graça Ferreira da Anunciação; ela filha legítima de Sebastião Pereira de Araújo e Olegária Joaquina da Conceição. Os nubentes são naturais e moradores desta freguesia. E para constar faço este termo que assino. Padre Rafael Arcanjo de Meira Lima. Vigário1.
Na certidão lê-se claramente a licença concedida pelo Arcebispo de Olinda, só havendo uma divergência de 04 dias na data, possivelmente o documento enviado por D. Luís de Brito para a Matriz de Santa Águeda, tenha sido registrado no Livro Tombo alguns dias depois.
O referido documento que me foi cedido recentemente por Marcelo O. Nascimento é de suma importância no esclarecimento de dúvidas que não foram possíveis obtermos respostas quando escrevi o livro Barra: reminiscências e notas para a história do povoado de Ipanema.
A principal dúvida diz respeito ao primeiro padroeiro de Ipanema, Luís Wilson no livro Ararobá, Lendária e Eterna (1980, p. 64), ao falar sobre o antigo Sítio Barra que deu origem ao atual povoado de Ipanema, assim escreveu:
[...] no qual se instalou e é desde que ali chegaram em 1909 os trilhos da antiga “GreatWestern”, a povoação de IPANEMA, ribeira do rio desta designação, com a sua Igrejinha de São Joaquim e, em minha adolescência, com os seus pés de flamboyants e uma venda com uma gaiola de canário-de-briga, na porta da esquina da ruazinha. (grifos nossos)
Segundo Luís Wilson, o orago da igrejinha recentemente construída no povoado foi dado a São Joaquim, e a princípio pensávamos que só alguns anos depois é que o orago passou a ser Nossa Senhora da Conceição, todavia, a santa já era padroeira de Ipanema desde 1915.
Dom Luís de Brito (1840-1915)
  Mais como na pesquisa histórica se esclarece uma dúvida e surgem outras, nos indagamos o porquê de Luís Wilson que conheceu Ipanema na mocidade dizer que o primeiro orago da capela foi São Joaquim? Será que depois da construção a capela teve dois oragos ao mesmo tempo, ou seja, São Joaquim e Nossa Senhora da Conceição? 
       Quiçá em breve possamos responder esses questionamentos, por ora, nos cabe mostrar as novas informações localizadas e que não puderam estar no livro sobre a história do povoado.

Por Fábio Menino de Oliveira.
        

1 Livro de Matrimônios da Matriz de Cimbres, Jul. 1915-Jun.1921. Termo nº 78, fls. 6.

domingo, 28 de maio de 2017

SEMINÁRIO SÃO JOSÉ: NOTAS PARA SUA HISTÓRIA

Seminário São José, inaugurado em 02/04/1940.
Foto retirada da página no facebook de Gilmar Farias.
Antes de começar a expor dados a respeito da fundação do Seminário São José na cidade de Pesqueira é necessário mencionar que antes dele foi instituído em abril de 1929 o Seminário e Colégio Diocesano pelo primeiro Bispo da Diocese de Pesqueira, Dom José de Oliveira Lopes.

Funcionava a instituição como seminário para formação de sacerdotes e ao mesmo tempo como escola para 50 alunos do sexo masculino que estavam matriculados no curso secundário, ou seja, este primeiro seminário tinha dupla função e foi instalado no antigo palacete de Antônio Didier (fundador da Fábrica Rosa com o seu irmão comendador José Didier), que atualmente é a sede da prefeitura municipal.

Quanto ao Seminário São José, ao que consta o mesmo foi fundado pelo segundo Bispo da Diocese de Pesqueira, Dom Adalberto Sobral, sendo inaugurado em 02 de abril de 1940 e instalado no antigo Colégio Cardeal Arcoverde (sobrado ao lado da atual Câmara de Vereadores de Pesqueira) que foi adaptado para receber o seminário.
Seminário e Colégio Diocesano instalado por D. José Lopes
em 1929, conforme inscrição na fachada.
 Foto: Blog do Iba Mendes.

Sobre esta inauguração, uma reportagem intitulada: Em Pesqueira. A inauguração, ontem, do Seminário S. José, publicada no Jornal Pequeno (de 03/04/1940) traz algumas informações como por exemplo, antes da inauguração houve uma hora santa na catedral de Santa Águeda, a seguir às 8 horas e 30 minutos da manhã, Dom Adalberto Sobral celebrou missa na capela do novo seminário e por provisão do bispo foi nomeado Reitor o padre Luiz Madureira, que se formou no seminário de São Leopoldo no Rio Grande do Sul e veio servir na diocese pesqueirense.

O Seminário São José funcionaria neste local por 7 anos, quando por iniciativa de Dom Adalberto Sobral foi construído um novo prédio para o seminário, localizado ao sopé da serra do Ororubá, nas proximidades do lugar onde outrora existira o poço que possivelmente dera origem ao nome da nossa Pesqueira.

Manchete do Jornal Pequeno de 10/06/1940.
Baseado em informações contidas na reportagem intitulada: Inaugurado, hoje, o Seminário de Pesqueira, noticiada no Jornal Pequeno (de 10/06/1947), é possível saber que a planta do prédio foi feita pelo padre Hermano Hansen e a construção ficou a cargo do engenheiro civil J. B. Tony. Houve grande colaboração da sociedade pesqueirense, principalmente, da firma Carlos de Brito & Cia., que na pessoa do seu superintendente, o comendador Manoel Caetano de Brito doou material de construção e a vultosa soma de Cr$ 200.000,00 (duzentos mil cruzeiros).

Cabe registrar que à 21 de fevereiro de 1947, Dom Adalberto Sobral fora nomeado Arcebispo da Arquidiocese de São Luís do Maranhão em substituição a Dom Carlos Carmelo que tornara-se arcebispo de São Paulo, no entanto, continuou respondendo pela Diocese de Pesqueira, justamente para concluir a sua última obra a frente da diocese que foi o Seminário São José.

Em carta pastoral de 25 de maio de 1947 enviada ao clero e aos fiéis de sua diocese no Dia de Pentecostes, Dom Adalberto convoca a todos para se fazerem presentes ao ato inaugural do novo Seminário São José a se realizar na terça-feira, 10 de junho de 1947, dia consagrado a celebração de Corpus Christi. Num trecho desta carta, assim escreveu o bispo:

[…] Está pronto e apto para funcionar do modo mais perfeito, o nosso grande prédio em que todos encontram certo encantamento e de que muitos não podem esconder a admiração. Vemos, pois, coroados os nossos esforços a par de tantos trabalhos e preocupações, inaugurando este Seminário que é uma visível benção de Deus à Diocese de Pesqueira […] Reunamo-nos todos, no próximo dia 10 de junho, Pastor e amadíssimos Padres e fiéis, na mimosa Capelinha do novo Seminário, para render graças a Deus por mais este beneficio a caríssima gente pesqueirense. E que o bronze maciço dos interessantes sinos postados no alto do lindo campanário encha perenemente as quebradas da Serra, com harmoniosos sons, que conduzam o grito de nossa alma agradecida ao Senhor. “TE DEUM LAUDAMOS” - A TI LOUVAMOS, Ó DEUS. […]

Foto retirada daopagina do facebook de Gilmar, s/d.
Para o início de suas atividades o novo seminário contava com um patrimônio de Cr$ 500.000,00 (quinhentos mil cruzeiros), além de 03 casas e numerosas cabeças de gado. Sobre a inauguração é importante registrar o trecho de um artigo contido no site da Diocese de Pesqueira:

O Seminário São José foi inaugurado no dia 10 de Junho de 1947 às 10 horas pelo Bispo Dom Adalberto Acciole Sobral trazendo à Cidade de Pesqueira grande alegria, essa expressada nas ruas ao som de bacamartes e banda de música.[…] Por volta das 6 horas e 30 minutos, foi celebrada a primeira Missa na Capela do Seminário, tendo em vista que a mesma foi realizada após a bênção litúrgica. Diante da multidão que na frente do edifício estavam quando o Exmo. Sr. Bispo chegou, ouviu-se na cidade o toque dos sinos, as sirenes das fábricas, a queima de fogos e para abrilhantar o momento de júbilo viu-se cair do céu pétalas de rosas soltadas pelo avião “Pesqueira”. Na presença de todas as autoridades e dos ilustres cidadãos entre eles comerciantes e donos de fábricas e todo o clero, foi cortada a fita inaugural à entrada do edifício pelo Cônego Carlos Bacelar (Arquidiocese de São Luis do Maranhão) seguida da bênção e fixação do retrato do Bispo no salão nobre do mesmo. Proferido os discursos, Dom Adalberto leu em Italiano e traduzindo o telegrama do Papa Pio XII congratulando-se com o Bispo, clero e seminaristas ficando assim solenemente inaugurado o Seminário Menor da Diocese de Pesqueira.
Seminário São José, 2017. Foto do site da Diocese de Pesqueira
Assim sendo, no próximo dia 10 de junho de 2017 o Seminário São José completa 70 anos da inauguração do seu atual prédio, onde o mesmo possui uma arquitetura com linhas sóbrias e marcantes, servindo a comunidade diocesana na formação sacerdotal e educacional.

D.Adalberto Sobral a espera do trem na Estação
Central do Recife. Foto Jornal Pequeno de
14/08/1934.
Ao final deste artigo aproveito para escrever um pouco sobre o idealizador do Seminário São José - DOM ADALBERTO ACCIOLE SOBRAL (Engenho São João-SE, 02/08/1887 – Aracaju-SE, 25/05/1951). Ordenado sacerdote em 12/11/1911, celebrou sua 1ª missa em 21/11/1911. Exerceu várias funções na Diocese de Aracaju/SE, sendo eleito Bispo da Diocese da Barra/BA em 11/04/1927, sucedendo Dom Augusto Álvaro da Silva. Foi eleito para ser o 2º Bispo da Diocese de Pesqueira, tendo sucedido Dom José de Oliveira Lopes. Assumiu a Diocese em 15 de agosto de 1934 nela permanecendo até agosto de 1947. No período de 1947 a 1951 foi Arcebispo da Arquidiocese de São Luís/MA.
D. Adalberto Sobral em 1936.
Foto Diário da Manhã.


Dentre as muitas obras do bispado de D. Adalberto Sobral vale destacar não só a construção do seminário mas, o lado educacional onde foi implantado a equiparação dos Colégios Santa Doroteia e Cristo Rei, permitindo o ingresso de jovens pobres com bolsas de estudo e o lado da assistência social, foi construído o Dispensário dos Pobres e organizados o Círculo Operário e um núcleo da Ação Católica.

Muito por conta de seu trabalho a frente das dioceses da Barra e de Pesqueira é que obteve o reconhecimento da Santa Sé e foi nomeado Arcebispo de São Luís foi, sem dúvida, um grande pastor na igreja e deixou sua marca na nossa amada Pesqueira coma concepção e edificação do profícuo Seminário São José.




Por Fábio Menino de Oliveira.




Referências


DIÁRIO DA MANHÃ, Recife, quarta-feira, 10/04/1929, ano II, nº 608, p. 1.
________________, Recife, quinta-feira, 12/11/1936, ano X, nº 2871, p. 12.
________________, Recife, quinta-feira, 06/03/1947, ano XX, nº 4639, p. 12.
________________, Recife, quarta-feira, 12/08/1947, ano XX, nº 4831, p. 1.

JORNAL PEQUENO, Recife, quarta-feira, 03/04/1940, ano XLII, nº 76, p. 3.
_________________, Recife, quarta-feira, 05/03/1947, ano XLVIII, nº 52, p. 6.
_________________, Recife, quarta-feira, 04/06/1947, ano XLVIII, nº 124, p. 3.
_________________, Recife, terça-feira, 10/06/1947, ano XLVIII, nº 131, p. 1 e 3.

O SEMINÁRIO SÃO JOSÉ. Disponível em http://diocesedepesqueira.com.br/seminarios/seminario-sao-jose/. Acesso em 27/05/2017.