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quinta-feira, 18 de junho de 2020

DR. IVO ISIDORO DE ASSIS: PROFESSOR E MAGISTRADO

            

Dr. Ivo Isidoro de Assis em discurso no povoado de Ipanema (Pesqueira-PE), tendo ao seu lado Manoel Tenório de Brito e entre outros aparecem: Sergio de Brito e seus filhos Romero e Luiz Sergio. Foto cortesia de Mônica Brito.

            Sua família

Nasceu na Fazenda Barra, atual povoado de Ipanema em Pesqueira/PE no dia 23 de dezembro de 1919, tendo completado em dezembro próximo passado o centenário do seu nascimento.

Filho de José Leopoldo de Carvalho (Fazenda Barra, Pesqueira-PE, 1887-08/11/1941) e Anna Eliziária de Carvalho (Fazenda Barra 1891- Pesqueira-PE, 24/09/1946). Neto paterno de Leopoldo de Carvalho Cavalcanti (Fazenda Barra, 30/09/1860-1925) e de Francisca de Moura Cavalcanti (Fazenda Jerimum, Pesqueira-PE, 27/11/1858 - Fazenda Barra, 1923). Neto materno de Isidoro Pereira Torres Galindo e Eliziária Lisarda da Conceição.

José Leopoldo e Anna Eliziária casaram civilmente em Pesqueira no dia 20 de agosto de 1912 e dessa união nasceram 5 filhos: 1 - Josafá de Carvalho Galindo (Faz. Barra, 04/11/1912) casado com Dominicia Silva de Carvalho; 2 – Eliziária Elza de Carvalho (Faz. Barra, 14/05/1914) casada com José Marcos de Carvalho; 3 – José Galindo de Carvalho (Faz. Barra, 29/01/1916) casado Maria José Bezerra; 4Ivo Isidoro de Assis; e 5 – Moacir Isidoro de Assis (Faz. Barra, 03/09/1920) casado com Amarina Botelho de Assis.

O casal se divorciou e José Leopoldo teve com Margarida Martins de Carvalho 07 filhos: Jason Leopoldo de Carvalho, Jaime Leopoldo de Carvalho, Joanício Leopoldo de Carvalho, Joacy Leopoldo de Carvalho, Jandira de Carvalho, Judith de Carvalho e Jalmenis de Carvalho.

Ivo Isidoro de Assis casou civilmente com Acilda Cavalcanti de Assis, nascida em Pesqueira no dia 17 de julho de 1924, filha de Mirabeau Cavalcanti e Eutália Cavalcanti. Neta paterna de Antônio Manoel de Siqueira Cavalcanti e Luiza Benvinda Bezerra Cavalcanti. Neta materna de Alfredo Bezerra Cavalcanti e Anna de Albuquerque Cavalcanti.

Ivo e Acilda tiveram 09 filhos: 1 – Maria Cavalcanti de Assis (Recife-PE, 26/04/1951); 2 – Maria Isabel Cavalcanti de Assis (Recife-PE, 02/08/1953); 3 – Maria Teresa Cavalcanti de Assis (Recife-PE, 06/09/1954); 4 – José Joaquim Cavalcanti de Assis (Recife-PE, 12/06/1956); 5 – José Clóvis Cavalcanti de Assis (Pesqueira-PE, 25/07/1957); 6 – Maria de Jesus Cavalcanti de Assis (Pesqueira-PE, 02/07/1958); 7 – José Mauro Cavalcanti de Assis (Pesqueira-PE, 09/11/1959); 8 – José Inácio Cavalcanti de Assis (Pesqueira-PE, 30/07/1963); e 9 – José Jorge Cavalcanti de Assis (Pesqueira-PE, 17/08/1965).

O casal divorciou-se e Ivo casou em Recife dia 07/03/1995 com Zilda de Queiroz Lima (Caruaru-PE, 25/07/1924 – Recife-PE, 18/07/2001), filha de Petronilo de Queiroz Lima e Maria Amália de Queiroz. Não tiveram filhos.

  Vida acadêmica e profissional

 Sabe-se que foi professor de Língua Portuguesa em Pesqueira antes de se formar bacharel, todavia não localizamos dados suficientes acerca da sua formação escolar e em quais instituições trabalhou.

Ingressou na Faculdade de Direito da Universidade do Recife onde colou grau no dia 13 de dezembro de 1952. Formado bacharel passou a exercer a advocacia em Pesqueira e em outras cidades do estado.

Prestou concurso para Juiz de Direito do judiciário do estado de Pernambuco, ao ser aprovado foi nomeado pelo governador Osvaldo Cordeiro de Farias através do decreto nº 2183 de 10/08/1955, sendo designado para assumir a Comarca da cidade de Poção onde permaneceu de 1955 até 1959. Depois passou pelas comarcas de Altinho (1959/1960) e Gravatá (1960/1964) até chegar a Pesqueira onde permaneceu por mais tempo como juiz (1964/1974). Enquanto estava na sua terra natal também assumiu interinamente a Comarca de Alagoinha e efetivamente a 3ª Vara da Comarca de Caruaru (1967).

Deixou a Comarca de Pesqueira em abril de 1974 para assumir as funções de Juiz de Direito Substituto na 9ª Vara Cível de Recife e em setembro deste mesmo ano passou a responder pela 3ª Vara de Família do Recife.

Aposentou-se como juiz e foi Diretor da 2ª Vara da Justiça Federal de Pernambuco a partir de 1977, onde aposentou-se em 1986.

 Vida social e política

O Dr. Ivo residia na Fazenda Maravilha, nas proximidades da cidade de Pesqueira, onde também dedicava-se a agricultura e a floricultura.

Além de Juiz de Direito, ele desempenhou várias atividades na sua terra natal entre elas podemos citar: atuou como colaborador do jornal A Voz de Pesqueira dos irmãos Eugênio e Wilson Chacon, fundado em 27/09/1936; foi membro de clubes sociais e de serviços sendo presidente do Clube dos 50 e do Lions Clube de Pesqueira; e foi presidente da Fundação Educacional do Agreste de Pernambuco (FEAPE), órgão mantenedor da Faculdade de Administração que funcionou em Pesqueira a partir de 1972.

Na política, Dr. Ivo foi candidato a prefeito de Pesqueira pelo partido ARENA 1 no pleito de 15 de novembro de 1976 apoiado pelo prefeito José Valderique Tenório. Disputaram também os sufrágios dos pesqueirenses: o vereador e representante do distrito de Mutuca Eutrópio Monteiro Leite (ARENA 2); o advogado Paulo Gamboa da Silva (MDB 1); e o comerciante e vereador Daniel Bezerra da Silva (MDB 2).

Vale ressaltar que havia na época o instituto da sublegenda, ou seja, cada partido podia apresentar mais de um candidato e era permitido a soma de votos da legenda afim de eleger o candidato mais votado do partido.

O Dr. Ivo não logrou êxito na disputa, uma vez que a mesma foi polarizada entre Paulo Gamboa e Eutrópio Monteiro Leite que foi eleito tendo como vice-prefeito Luís Sergio de Brito Cavalcanti, primo do Dr. Ivo e seu conterrâneo nascido também em Ipanema, outrora Fazenda Barra.

Após uma vida dedicada ao magistério e a magistratura este ilustre pesqueirense faleceu em Recife no dia 05 de maio de 2004 e nestas linhas este blog presta uma singela homenagem ao Dr. Ivo Isidoro de Assis, que desempenhou suas funções com correção, probidade e honradez sempre dedicado ao seu povo e a sua terra.

           

Por Fábio Menino de Oliveira

 

Fontes:

Barra: Reminiscências e notas para a história de Ipanema, Pesqueira-PE / Fábio Menino de Oliveira. Ed. do autor, 2016.

Cartório do Registro Civil de Pesqueira/PE – livros disponíveis no site: https://www.familysearch.org/search/catalog/results?count=20&placeId=210338&query=%2Bplace%3A%22Brazil%2C%20Pernambuco%2C%20Pesqueira%22&subjectsOpen=586142-50

Diário de Pernambuco – edições de 03/03/1959; 29/07/1960; 27/07/1969; e 17/11/1976.

Diário Oficial de Pernambuco – edições de 11/08/1955; 24/01/1961; 15/09/1964; 30/03/1967; 19/04/1974; 06/09/1974; 26/02/1977; e 02/12/1986.

 


terça-feira, 7 de agosto de 2018

ESTAÇÃO DE IPANEMA: UMA FOTO PARA A HISTÓRIA

Estação de Ipanema, Pesqueira-PE, s.d., cortesia de Carla Rosanni Brito Cavalcanti Branco

Ao longo dos últimos dezesseis anos que tenho procurado um registro fotográfico da Estação ferroviária do povoado de Ipanema (Pesqueira/PE) inaugurada em 23 de dezembro de 1910 e qual foi a surpresa nesses dias quando recebi numa rede social esta foto que agora divulgo com exclusividade neste blog e reitero o meu agradecimento a Carla Rosanni Brito Cavalcanti Branco por tê-la me enviado.
Sobre a história da estação ipanemense segue-se um trecho do Capitulo Oitavo (p. 157-163) do livro de minha autoria: Barra – Reminiscências e notas para a História de Ipanema – Pesqueira PE.

A chegada dos trilhos da Great Western
Início do século XX; remonta desta época a chegada dos trilhos da Great Western do Brasil (GWBR), empresa inglesa que construiu a Estrada de Ferro Central de Pernambuco, aberta em 1885, de Recife a Jaboatão. Esta empresa mais tarde viria a incorporar quase todas as ferrovias de Pernambuco, estendendo-se pelos Estados limítrofes. Aos poucos, a linha foi sendo estendida, chegando ao seu extremo, em Salgueiro, somente no ano de 1963, sem se entroncar com linha alguma na região. Antes disso, em 1950, a União incorporou a rede da Great Western, que passou a se chamar Rede Ferroviária do Nordeste. A EFCP passou a se chamar Linha Centro. Esta linha, que como toda a RFN, passou a ser controlada pela RFFSA a partir de 1957, e a ser operada por esta a partir de 1975. Em 1983, os trens de passageiros foram suprimidos e mantidos apenas no trecho entre Recife e Jaboatão, como trens de subúrbio. Atualmente, de Jaboatão para frente, a linha está abandonada, sem movimento ferroviário por parte da CFN, concessionária da linha desde 1997.
Os trilhos começaram a chegar a partir de 1909 em Ipanema, sendo responsável por essa construção do trecho de Pesqueira a Rio Branco (Arcoverde), o engenheiro-chefe Dr. C. W. Stevenson, que ficou hospedado com sua esposa e seus filhos na residência do capitão Carlos de Brito (chalé vizinho à Fábrica Peixe). Vale salientar que o trecho entre Recife e Pesqueira já havia sido inaugurado em 14 de abril de 1907 e que no período de 1909 a 1913 a GWBR era administrada pelo Superintendente A. T. Connor e pelo Presidente David Simson.
A chegada dos trilhos trouxe progresso, desenvolvimento e, consequentemente, um período áureo da história do lugarejo que, já fora sítio, fazenda e que a partir de 1909 se tornaria a Povoação de Ipanema, denominação decorrente da localização na ribeira do rio desta designação. Detalhe: até aquela data Ipanema ainda se chamava Barra; a mudança do nome ocorreu por sugestão da Great Western, que andou rebatizando muitos lugares que receberam estações ferroviárias no Estado a fim de não haver dualidade de nomes e com o intuito de melhor identificação.
Transcrevo abaixo algumas notícias publicadas em jornais recifenses sobre Ipanema:
Inauguração do tráfego ferroviário e do serviço telegráfico: jornal A Província (ano XXXIII, nº 328, p.4) de 18 de dezembro de 1910. Segue-se:

The Great Western of Brazil railway company limited. Prolongamento de Flores – Secção Central. Horário provisório a vigorar de 23 do corrente, com inclusão do serviço telegráfico entre Pesqueira e Ipanema (13 quilômetros) para os trens mistos que correrão nas segundas e sextas-feiras: Estações de Pesqueira (partida 5:00 PM) e Ipanema (chegada 5:40). VOLTA – Estações de Ipanema (partida 6:00 PM) e Pesqueira (chegada 6:40). Recife, 15 de dezembro de 1910. A.T. Connor – Superintendente.

Abertura do tráfego até Mimoso: jornal A Província, (ano XXXIV, nº 136, p.2) de 19 de maio de 1911. Segue-se:

The Great Western of Brazil railway company limited. Prolongamento de Flores – Secção Central. Amanhã, 19 do corrente, será inaugurado provisoriamente o tráfego do trecho deste prolongamento entre Ipanema e Mimoso, 10 quilômetros não só para passageiros, como para encomendas, mercadorias e animais, bem assim o serviço telegráfico. Os trens, que serão mistos correrão provisoriamente, desde amanhã, nas segundas e sextas-feiras, conforme o seguinte horário: IDA – Estações de Pesqueira (partida 4:50 hs), Ipanema (partida 5:20 hs) e Mimoso (chegada 5:50 hs); VOLTA – Estações de Mimoso (partida 6:10 hs), Ipanema (partida 6:45) e Pesqueira (chegada 7:15). Recife, 18 de maio de 1911. A.T. Connor – Superintendente.
[...]
Segundo relatos, José Leopoldo de Carvalho foi o 1º chefe da estação de Ipanema. Os trens circulavam todos os dias, um dia com passageiros e no outro dia com cargas. O jornal A Voz de Pesqueira de 16.01.1949, mencionava os preços dos fretes de algumas mercadorias:

<< Nos fretes as tarifas eram cobradas pela unidade quilo (Kg): por exemplo, feijão Cr$ 0,139, farinha de mandioca Cr$ 0,106, arroz e querosene Cr$ 0,221, açúcar Cr$ 0,155, sal Cr$ 0,162, banha e sabão Cr$ 0,341. Essas eram as principais mercadorias trazidas do Recife para a Região>>.

 A estação de Ipanema funcionou até meados da década de 1980. Tudo indica que foi demolida ao final da mesma década, restando atualmente apenas às ruínas e a plataforma de embarque. Segundo estudos feitos pelo Projeto Memória Ferroviária de Pernambuco, a arquitetura desta estação tinha algumas semelhanças com a da estação do município de Sanharó, tais como: os ferros de sustentação da cobertura da plataforma, paredes de reboco inferior grosseiro e bases em pedra. [...]
Ruínas da estação de Ipanema, foto deste blog (2016).
      Concluo este artigo com a satisfação do objetivo alcançado e de estar diante da história, no entanto não deixo de sentir a tristeza de ver tão bela estação atualmente em ruinas, é um pedaço importante da história do lugar que se foi para nunca mais voltar como os trens e as pessoas que outrora por ela passaram.

Por Fábio Menino de Oliveira

sábado, 17 de março de 2018

A CAPELA DE IPANEMA




A capela do povoado de Ipanema foi construída entre os anos de 1912 e 1913 nas terras pertencentes ao fazendeiro Leopoldo de Carvalho de Cavalcanti (30/09/1860 – 1925), tendo sido ele e seus familiares os idealizadores da edificação de um templo de fé na comunidade.
A autorização para fazer celebrações e ministrar os sacramentos foi dada pelo Arcebispo de Olinda, Dom Luís Raimundo da Silva Brito, em 28 de setembro de 1915, conforme atesta o documento transcrito a seguir e que consta lavrado no Livro Tombo da Catedral de Santa Águeda (Diocese de Pesqueira). Segue-se:
Sobre Capela da Barra
Luís, por Mercê de Deus e da Santa Sé Apostólica
Arcebispo Metropolitano de Olinda
Aos que a presente virem por a benção no Senhor.
Fazemos saber, que atendendo ao que nos representou Leopoldo de Carvalho Cavalcanti, e considerando a esta Capela de Nossa Senhora da Conceição, única que (*ilegível) na estação de Ipanema, colocada na propriedade do mesmo, havemos por bem declará-la Capela (*ilegível), para nela puder ser celebrada o Santo Sacríficio da Missa, e o ministraram-se os sacramentos, salvos os direitos paroquiais. Esta será apresentada ao Rdo. Pároco competente para ser registrada no Livro do Tombo.
Dado e passado em Cimbres, aos 28 de Setembro de 1915, sob nosso sinal e valendo sem o selo (*ilegível).
Luís, Arcebispo de Olinda.

Baseado neste documento e nas buscas em livros eclesiásticos das Matrizes de Cimbres e Santa Águeda nos primeiros anos do século XX é possível comprovar que o primeiro sacramento celebrado na Capela de Ipanema foi o matrimônio de Vespasiano Ferreira da Silva e Sebastiana Pereira de Araújo, ocorrido em 25/09/1915.
Aos vinte e cinco de setembro de mil novecentos e quinze, em Olho d’Água dos Bredos desta Freguesia, digo, em Ipanema de Pesqueira, dispensados de consanguinidade, banhos e certidões, perante as testemunhas André Napoleão de Siqueira e Francisco de Moura Cavalcanti de licença do Exmo. Sr. Arcebispo de Olinda, O Reverendo Padre Manoel Gonçalves, assistiu ao enlace matrimonial de Vespasiano Ferreira da Silva e Sebastiana Pereira de Araújo; ele filho natural de Graça Ferreira da Anunciação; ela filha legítima de Sebastião Pereira de Araújo e Olegária Joaquina da Conceição. Os nubentes são naturais e moradores desta freguesia. E para constar faço este termo que assino. Padre Rafael Arcanjo de Meira Lima. Vigário1.
Na certidão lê-se claramente a licença concedida pelo Arcebispo de Olinda, só havendo uma divergência de 04 dias na data, possivelmente o documento enviado por D. Luís de Brito para a Matriz de Santa Águeda, tenha sido registrado no Livro Tombo alguns dias depois.
O referido documento que me foi cedido recentemente por Marcelo O. Nascimento é de suma importância no esclarecimento de dúvidas que não foram possíveis obtermos respostas quando escrevi o livro Barra: reminiscências e notas para a história do povoado de Ipanema.
A principal dúvida diz respeito ao primeiro padroeiro de Ipanema, Luís Wilson no livro Ararobá, Lendária e Eterna (1980, p. 64), ao falar sobre o antigo Sítio Barra que deu origem ao atual povoado de Ipanema, assim escreveu:
[...] no qual se instalou e é desde que ali chegaram em 1909 os trilhos da antiga “GreatWestern”, a povoação de IPANEMA, ribeira do rio desta designação, com a sua Igrejinha de São Joaquim e, em minha adolescência, com os seus pés de flamboyants e uma venda com uma gaiola de canário-de-briga, na porta da esquina da ruazinha. (grifos nossos)
Segundo Luís Wilson, o orago da igrejinha recentemente construída no povoado foi dado a São Joaquim, e a princípio pensávamos que só alguns anos depois é que o orago passou a ser Nossa Senhora da Conceição, todavia, a santa já era padroeira de Ipanema desde 1915.
Dom Luís de Brito (1840-1915)
  Mais como na pesquisa histórica se esclarece uma dúvida e surgem outras, nos indagamos o porquê de Luís Wilson que conheceu Ipanema na mocidade dizer que o primeiro orago da capela foi São Joaquim? Será que depois da construção a capela teve dois oragos ao mesmo tempo, ou seja, São Joaquim e Nossa Senhora da Conceição? 
       Quiçá em breve possamos responder esses questionamentos, por ora, nos cabe mostrar as novas informações localizadas e que não puderam estar no livro sobre a história do povoado.

Por Fábio Menino de Oliveira.
        

1 Livro de Matrimônios da Matriz de Cimbres, Jul. 1915-Jun.1921. Termo nº 78, fls. 6.

domingo, 28 de maio de 2017

SEMINÁRIO SÃO JOSÉ: NOTAS PARA SUA HISTÓRIA

Seminário São José, inaugurado em 02/04/1940.
Foto retirada da página no facebook de Gilmar Farias.
Antes de começar a expor dados a respeito da fundação do Seminário São José na cidade de Pesqueira é necessário mencionar que antes dele foi instituído em abril de 1929 o Seminário e Colégio Diocesano pelo primeiro Bispo da Diocese de Pesqueira, Dom José de Oliveira Lopes.

Funcionava a instituição como seminário para formação de sacerdotes e ao mesmo tempo como escola para 50 alunos do sexo masculino que estavam matriculados no curso secundário, ou seja, este primeiro seminário tinha dupla função e foi instalado no antigo palacete de Antônio Didier (fundador da Fábrica Rosa com o seu irmão comendador José Didier), que atualmente é a sede da prefeitura municipal.

Quanto ao Seminário São José, ao que consta o mesmo foi fundado pelo segundo Bispo da Diocese de Pesqueira, Dom Adalberto Sobral, sendo inaugurado em 02 de abril de 1940 e instalado no antigo Colégio Cardeal Arcoverde (sobrado ao lado da atual Câmara de Vereadores de Pesqueira) que foi adaptado para receber o seminário.
Seminário e Colégio Diocesano instalado por D. José Lopes
em 1929, conforme inscrição na fachada.
 Foto: Blog do Iba Mendes.

Sobre esta inauguração, uma reportagem intitulada: Em Pesqueira. A inauguração, ontem, do Seminário S. José, publicada no Jornal Pequeno (de 03/04/1940) traz algumas informações como por exemplo, antes da inauguração houve uma hora santa na catedral de Santa Águeda, a seguir às 8 horas e 30 minutos da manhã, Dom Adalberto Sobral celebrou missa na capela do novo seminário e por provisão do bispo foi nomeado Reitor o padre Luiz Madureira, que se formou no seminário de São Leopoldo no Rio Grande do Sul e veio servir na diocese pesqueirense.

O Seminário São José funcionaria neste local por 7 anos, quando por iniciativa de Dom Adalberto Sobral foi construído um novo prédio para o seminário, localizado ao sopé da serra do Ororubá, nas proximidades do lugar onde outrora existira o poço que possivelmente dera origem ao nome da nossa Pesqueira.

Manchete do Jornal Pequeno de 10/06/1940.
Baseado em informações contidas na reportagem intitulada: Inaugurado, hoje, o Seminário de Pesqueira, noticiada no Jornal Pequeno (de 10/06/1947), é possível saber que a planta do prédio foi feita pelo padre Hermano Hansen e a construção ficou a cargo do engenheiro civil J. B. Tony. Houve grande colaboração da sociedade pesqueirense, principalmente, da firma Carlos de Brito & Cia., que na pessoa do seu superintendente, o comendador Manoel Caetano de Brito doou material de construção e a vultosa soma de Cr$ 200.000,00 (duzentos mil cruzeiros).

Cabe registrar que à 21 de fevereiro de 1947, Dom Adalberto Sobral fora nomeado Arcebispo da Arquidiocese de São Luís do Maranhão em substituição a Dom Carlos Carmelo que tornara-se arcebispo de São Paulo, no entanto, continuou respondendo pela Diocese de Pesqueira, justamente para concluir a sua última obra a frente da diocese que foi o Seminário São José.

Em carta pastoral de 25 de maio de 1947 enviada ao clero e aos fiéis de sua diocese no Dia de Pentecostes, Dom Adalberto convoca a todos para se fazerem presentes ao ato inaugural do novo Seminário São José a se realizar na terça-feira, 10 de junho de 1947, dia consagrado a celebração de Corpus Christi. Num trecho desta carta, assim escreveu o bispo:

[…] Está pronto e apto para funcionar do modo mais perfeito, o nosso grande prédio em que todos encontram certo encantamento e de que muitos não podem esconder a admiração. Vemos, pois, coroados os nossos esforços a par de tantos trabalhos e preocupações, inaugurando este Seminário que é uma visível benção de Deus à Diocese de Pesqueira […] Reunamo-nos todos, no próximo dia 10 de junho, Pastor e amadíssimos Padres e fiéis, na mimosa Capelinha do novo Seminário, para render graças a Deus por mais este beneficio a caríssima gente pesqueirense. E que o bronze maciço dos interessantes sinos postados no alto do lindo campanário encha perenemente as quebradas da Serra, com harmoniosos sons, que conduzam o grito de nossa alma agradecida ao Senhor. “TE DEUM LAUDAMOS” - A TI LOUVAMOS, Ó DEUS. […]

Foto retirada daopagina do facebook de Gilmar, s/d.
Para o início de suas atividades o novo seminário contava com um patrimônio de Cr$ 500.000,00 (quinhentos mil cruzeiros), além de 03 casas e numerosas cabeças de gado. Sobre a inauguração é importante registrar o trecho de um artigo contido no site da Diocese de Pesqueira:

O Seminário São José foi inaugurado no dia 10 de Junho de 1947 às 10 horas pelo Bispo Dom Adalberto Acciole Sobral trazendo à Cidade de Pesqueira grande alegria, essa expressada nas ruas ao som de bacamartes e banda de música.[…] Por volta das 6 horas e 30 minutos, foi celebrada a primeira Missa na Capela do Seminário, tendo em vista que a mesma foi realizada após a bênção litúrgica. Diante da multidão que na frente do edifício estavam quando o Exmo. Sr. Bispo chegou, ouviu-se na cidade o toque dos sinos, as sirenes das fábricas, a queima de fogos e para abrilhantar o momento de júbilo viu-se cair do céu pétalas de rosas soltadas pelo avião “Pesqueira”. Na presença de todas as autoridades e dos ilustres cidadãos entre eles comerciantes e donos de fábricas e todo o clero, foi cortada a fita inaugural à entrada do edifício pelo Cônego Carlos Bacelar (Arquidiocese de São Luis do Maranhão) seguida da bênção e fixação do retrato do Bispo no salão nobre do mesmo. Proferido os discursos, Dom Adalberto leu em Italiano e traduzindo o telegrama do Papa Pio XII congratulando-se com o Bispo, clero e seminaristas ficando assim solenemente inaugurado o Seminário Menor da Diocese de Pesqueira.
Seminário São José, 2017. Foto do site da Diocese de Pesqueira
Assim sendo, no próximo dia 10 de junho de 2017 o Seminário São José completa 70 anos da inauguração do seu atual prédio, onde o mesmo possui uma arquitetura com linhas sóbrias e marcantes, servindo a comunidade diocesana na formação sacerdotal e educacional.

D.Adalberto Sobral a espera do trem na Estação
Central do Recife. Foto Jornal Pequeno de
14/08/1934.
Ao final deste artigo aproveito para escrever um pouco sobre o idealizador do Seminário São José - DOM ADALBERTO ACCIOLE SOBRAL (Engenho São João-SE, 02/08/1887 – Aracaju-SE, 25/05/1951). Ordenado sacerdote em 12/11/1911, celebrou sua 1ª missa em 21/11/1911. Exerceu várias funções na Diocese de Aracaju/SE, sendo eleito Bispo da Diocese da Barra/BA em 11/04/1927, sucedendo Dom Augusto Álvaro da Silva. Foi eleito para ser o 2º Bispo da Diocese de Pesqueira, tendo sucedido Dom José de Oliveira Lopes. Assumiu a Diocese em 15 de agosto de 1934 nela permanecendo até agosto de 1947. No período de 1947 a 1951 foi Arcebispo da Arquidiocese de São Luís/MA.
D. Adalberto Sobral em 1936.
Foto Diário da Manhã.


Dentre as muitas obras do bispado de D. Adalberto Sobral vale destacar não só a construção do seminário mas, o lado educacional onde foi implantado a equiparação dos Colégios Santa Doroteia e Cristo Rei, permitindo o ingresso de jovens pobres com bolsas de estudo e o lado da assistência social, foi construído o Dispensário dos Pobres e organizados o Círculo Operário e um núcleo da Ação Católica.

Muito por conta de seu trabalho a frente das dioceses da Barra e de Pesqueira é que obteve o reconhecimento da Santa Sé e foi nomeado Arcebispo de São Luís foi, sem dúvida, um grande pastor na igreja e deixou sua marca na nossa amada Pesqueira coma concepção e edificação do profícuo Seminário São José.




Por Fábio Menino de Oliveira.




Referências


DIÁRIO DA MANHÃ, Recife, quarta-feira, 10/04/1929, ano II, nº 608, p. 1.
________________, Recife, quinta-feira, 12/11/1936, ano X, nº 2871, p. 12.
________________, Recife, quinta-feira, 06/03/1947, ano XX, nº 4639, p. 12.
________________, Recife, quarta-feira, 12/08/1947, ano XX, nº 4831, p. 1.

JORNAL PEQUENO, Recife, quarta-feira, 03/04/1940, ano XLII, nº 76, p. 3.
_________________, Recife, quarta-feira, 05/03/1947, ano XLVIII, nº 52, p. 6.
_________________, Recife, quarta-feira, 04/06/1947, ano XLVIII, nº 124, p. 3.
_________________, Recife, terça-feira, 10/06/1947, ano XLVIII, nº 131, p. 1 e 3.

O SEMINÁRIO SÃO JOSÉ. Disponível em http://diocesedepesqueira.com.br/seminarios/seminario-sao-jose/. Acesso em 27/05/2017.

terça-feira, 18 de abril de 2017

GUARANY FUTEBOL CLUBE: O ALVIRRUBRO PESQUEIRENSE

Foto: Gilmar Farias
Fundado no início de 1924, o Guarany Futebol Clube é um clubes mais antigos a praticar futebol no município de Pesqueira-PE, antes dele existiam mais duas agremiações, sobre as quais mencionarei em artigo posterior.

Ao que consta o clube era alvirrubro, tendo nas camisas listas horizontais com as cores vermelho e branco, assim como usava os calções brancos.

Em matéria publicada no jornal A Província de 15/02/1925 é possível observar que em 01 ano de fundação a equipe pesqueirense ainda se mantinha invicta e sem sofrer gols, tendo disputado 01 partida oficial contra o Central Sport Club de Caruaru (resultado 0 x 0); 02 amistosos contra o Democrático Sport Club de Rio Branco, atual Arcoverde (resultados 2 x 0 e 0 x 0); e 02 amistosos contra estudantes que estavam em férias. Leia-se a referida reportagem:

FUTEBOLISMO. […] Pesqueira, 10 de fevereiro de 1925. O GUARANY, DE PESQUEIRA, E O CENTRAL DE CARUARU. Hoje dar-se-á mais um encontro do Guarany F. Club desta cidade com o Central S. Club Caruaruense, da próspera cidade de Caruaru. Este encontro tem despertado a sociedade pesqueirense pelo motivo de verem o valoroso Guarany bater-se com um dos clubes melhores do interior. O nosso quadro está bastante treinado e disposto a enfrentar o seu leal adversário, fazendo o possível para que a bandeira alvirrubra sempre tremule no alto da sua sede anunciando o valor dos seus filhos. O Guarany conta com um ano de fundação e ainda não foi derrotado, nem também a cidadela confiada ao intrépido Marçal foi vazada, pois que se bateu com o vice-campeão de Caruaru e o resultado foi 0 x 0. Depois de um jogo amistoso com o Democrático de Rio Branco (este estava enxertado com jogadores de liga) saiu vencedor o Guarany pelo score de 2 x 0 e depois em retorno conseguiu empatar, tendo dois jogos com estudantes em gozo de férias, o Guarany.

Foto: O Malho, 1925
Sobre esta partida entre Guarany e Central realizada em Pesqueira no dia 10 de fevereiro de 1925, localizamos uma fotografia na revista O Malho de 05/12/1925, onde consta a equipe caruaruense e diz na sua legenda que o resultado do jogo foi Guarany 1 x Central 1.

Nos anos de 1920 haveria outra famosa partida da equipe do Guarany contra o time do Tiro de Guerra 45 da cidade de Garanhuns-PE, tendo vindo uma carava garanhuense para Pesqueira em 25 de agosto de 1929, da qual faziam parte o Dr. Jonathas Costa (Juiz de Direito de Garanhuns e Presidente da delegação), Sr. Mário Lira (representando o Prefeito Euclydes Dourado), Hybernon Wanderley (jornalista e orador oficial), soldados do tiro de guerra e jogadores.

Manchete da reportagem de A PROVÍNCIA
em 14/09/1929
De acordo com a reportagem do jornal A Província de 14/09/1929, a delegação foi recebida pelos senhores Antônio Soares (Prefeito de Pesqueira), coronel Cândido de Brito (das Fábricas Peixe), Paulo de Oliveira (redator do Correio de Pesqueira), José Guimarães (presidente do Guarany) e Fernandes da Costa (orador oficial). Tendo sido hospedados no palacete de Cândido de Brito, onde almoçaram.

O jogo entre as agremiações de Pesqueira e Garanhuns se realizou às 16 horas do mesmo dia, onde a forte equipe do Guarany venceu por 4 x 2 numa boa exibição, segundo consta na reportagem. Após a partida, às 20 horas foi oferecido pela prefeitura pesqueirense um sarau dançante ao som do jazz-band para confraternização dos membros da caravana esportiva garanhuense. Isso revela uma época romântica do futebol, que transcendia a parte esportiva e atingia o social, era uma forma de convivência pacífica entre as cidades, um verdadeiro intercambio.

Manchete do Diário da Manhã de 01/09/1939.
Na década de 1930, o Guarany continua merecendo destaque nos jornais da capital pernambucana pois, foi o primeiro concorrente inscrito para participar do II Campeonato Intermunicipal de Futebol, organizado pela Federação Pernambucana de Desportos em 1937 (Diário da Manhã de 01/09/1937). Bem como, é noticiado que o Guarany venceu em Pesqueira no dia 19/04/1937 a equipe do Santa Cruz de Belo Jardim pelo placar de 2 x 1 (Diário de Pernambuco de 20/04/1937).

Outra matéria que merece ser destacada é a visita que o Guarany faria para enfrentar o Central de Caruaru no dia 23/04/1939, a partida teria lugar no campo do Parque Central às 16 horas e à noite a equipe caruaruense prestaria homenagens ao alvirrubro pesqueirense (Diário de Pernambuco de 23/04/1939).

Com relação a sede do Guarany, a referência localizada é do ano de 1944 e a mesma estava localizada na rua Barão de Vila Bela, nº 163, no centro da cidade de Pesqueira. Vale salientar que nesse mesmo ano a equipe era filiada e tinha licença de funcionamento outorgada pelo Conselho Regional de Desportos de Pernambuco.

Quanto ao lugar onde mandava seus jogos, não localizamos referências, todavia a partir de 1938 deve ter jogado no Estádio Everardo Maciel, inaugurado em junho de 1938, conforme noticiou a Voz de Pesqueira de 06/06/1938 apud Bartolomeu Cavalcanti (2005, p. 136). Cabe registrar que depois seria instalada luz elétrica nesse estádio pelo Prefeito Arruda Marinho e eram realizadas partidas todas as sextas-feiras às 19 horas.

Tendo em vista que não dispomos de fontes pesquisas suficientes, afinal, nem sempre o futebol era citado nos livros de historiografia municipal, nos valemos dos jornais da capital pernambucana para encontrar dados que nos permitissem contar um pouco da história desse clube pesqueirense das décadas de 1920 a 1940. Diante disso, não foi possível localizar outros times pesqueirenses para saber quem foi o grande rival do Guarany Futebol Clube.

Isto posto, concluímos este artigo sobre o alvirrubro pesqueirense cuja a única fotografia data de 1940, onde o Guarany assim era escalado: Odilon, Eugênio, Elói, Peba, Mário, Raul, Moura, Biu Ferreira, Luiz Rocha, Biu Leonardo, Luiz, Gordinho, Zé Rocha e Negrão. Em memória desses desportistas e do futebol amador pesqueirense o dedicamos.

Por Fábio Menino de Oliveira

Referências:

A PROVÍNCIA, Recife, domingo, 15/02/1925, ano LIX, nº 39, p. 7.

_____________, Recife, sábado, 14/09/1929, ano LVIII, nº211, p. 1.

CAVALCANTI, Bartolomeu. No tacho, o ponto desandou: história de Pesqueira de 1930 a 1950. Recife: O autor, 2005.

DIÁRIO DA MANHÃ, Recife, quarta-feira, 01/09/1937, p. 10.

DIÁRIO DE PERNAMBUCO, Recife, terça-feira, 20/04/1937, ano 112, nº 136, p. 14.

_________________________, Recife, domingo, 23/04/1939, ano 114, nº 140, p. 8.

O MALHO (Revista), Rio de Janeiro, 05/12/1925, ano XXIV, nº 1.212, p. 40.


quarta-feira, 12 de abril de 2017

HOSPITAL DE PESQUEIRA: DE REGIONAL A DR. LÍDIO PARAÍBA

Hospital em 1941, foto: Ilustração Brasileira
A ideia da construção de um hospital na cidade de Pesqueira surge em 1935 com a criação de uma Comissão para Arrecadação de Donativos, tendo a sua frente o médico Dr. Lídio Paraíba, o industrial Manoel de Brito (Superintendente das Fábricas Peixe) e o bispo de Pesqueira Dom Adalberto Sobral, entre outros membros da sociedade pesqueirense. De início já foram arrecadados 10 contos de réis.

O Dr. Lídio Paraíba escreveu uma petição a Assembleia Legislativa de Pernambuco solicitando auxílio para a construção do hospital, a mesma foi lida na Comissão de Fazenda, Orçamento e Contas do Estado no dia 21/10/1936, sendo aceita pela comissão foi designado como relator da matéria o deputado Souto Filho.

A petição teve parecer favorável da Comissão de Fazenda e se tornou o Projeto nº 81/1936, que autorizava o governador do Estado a abrir um crédito orçamentário de 50 contos de réis no exercício de 1937 para auxiliar na construção do hospital em Pesqueira. Todavia, o projeto foi vetado pelo Interventor Federal General Amaro Azambuja Vilanova que governou Pernambuco num curto período (10/11 a 03/12/1937).
Agamenon Magalhães

Acontece que a partir de 03/12/1937 assume como Interventor o Dr. Agamenon Magalhães e entre as suas principais ações no governo pernambucano estava a preocupação com a saúde e a construção de hospitais, por isso cria em julho de 1938 o Instituto de Assistência Hospitalar (IAH), que teve como primeiro presidente o professor Barros Lima, catedrático de clínica ortopédica da Faculdade de Medicina do Recife, com a missão de orientar, dirigir e fiscalizar todas as instituições hospitalares do estado.

Nesse novo contexto se insere o hospital de Pesqueira, o contrato para sua construção foi assinado em Recife na sede do IAH no dia 30 de julho de 1940. Foi designada para a obra a firma Lisboa Rego Ltda e o prazo para sua conclusão foi estipulado em 07 meses.


A pedra fundamental simbolizando o início da obra foi aposta pelo interventor Agamenon Magalhães em 03 de agosto de 1940, tendo a seu lado secretários estaduais, deputados e o prefeito de Pesqueira, João Arruda Marinho dos Santos, além de diversas autoridades civis e militares. Sobre o ato vale registrar as palavras de Agamenon Magalhães em seu artigo – Pesqueira (publicado na Folha da Manhã de 22/08/1940):
Prefeito Arruda Marinho


[…] Lançada a pedra fundamental do Hospital Regional de Pesqueira, eu disse que o homem no Sertão era maior que a terra. Vou demonstrar a minha tese com vários exemplos. Exemplos de trabalho. De poder de iniciativa. De esforço ciclópico para arrancar da Terra seca frutos e riquezas inesperadas. Vamos começar por Pesqueira, que é a porta do Sertão. Onde o agreste se acaba com os últimos ventos frescos do litoral. Onde começa a catinga. […]

O prédio do hospital foi projetado pelo arquiteto Heitor Maia Filho, que ao lado de Mário Nunes e Joaquim Cardoso foram os grandes arquitetos modernistas em Pernambuco das décadas de 1940 e 1950. Foi dele o desenho da reforma em 1939 do Estádio dos Aflitos do Clube Náutico Capibaribe. Destacava-se no desenho de Heitor Maia as linhas sóbrias e modernas distribuídas em toda construção do hospital pesqueirense.






Hospital em 1942, foto: Correio da Manhã
A inauguração do Hospital Regional de Pesqueira ocorreu às 11 horas da manhã de terça-feira, 09 de setembro de 1941. Recebeu a benção solene do bispo D. Adalberto Sobral e em seguida foi oficialmente inaugurado pelo Interventor Agamenon Magalhães,  o comandante da 7ª Região Militar General Mascarenhas de Morais, o Prefeito João Arruda Marinho dos Santos, entre outras autoridades. Discursaram na ocasião Agamenon Magalhães, professor Barros Lima e o Dr. Lídio Paraíba.

Vale registrar um trecho do telegrama enviado por Agamenon Magalhães ao Presidente Getúlio Vargas, publicado no Jornal do Brasil de 12/11/1941:

[…] Recife – Tenho o prazer de comunicar a V. Ex. que em avião da Navegação Aérea Brasileira e em companhia do General Mascarenhas de Morais, inaugurei segunda-feira, o campo de pouso de Serra Talhada e hospitais regionais de Serra Talhada e Pesqueira, com 150 leitos cada um e Maternidade. Esses hospitais foram construídos pelo Estado na zona sertaneja, onde existem uma população de 400 mil habitantes, até então sem nenhuma assistência hospitalar. A maternidade do hospital de Pesqueira foi construída com o auxílio de duzentos contos de réis concedidos no ano passado por V. Ex. para aquele fim. […] Cordiais saudações – Interventor Agamenon Magalhães.

Aparelho de Raio X, foto: Correio da Manhã

Contava o novo hospital com 150 leitos, maternidade, laboratório, ambulatório, clínica cirúrgica, clínica médica, sala de isolamento e raio X. Reitere-se que para custeio da obra e aparelhagem com equipamentos hospitalares foram gastos 675 contos de réis, assim divididos: Governo Federal (200 contos de réis), Estado (450 contos) e Prefeitura de Pesqueira/ Comissão de Arrecadação de Donativos (25 contos).

O hospital era regional porque Pesqueira sediava um distrito de assistência hospitalar, do qual faziam parte os municípios de Belo Jardim, São Bento do Una, Brejo da Madre de Deus, Arcoverde, Buíque e Sertânia, vale salientar que nessa época Sanharó, Alagoinha e Poção ainda eram distritos pesqueirenses. Com isso, temos a noção do tamanho da região atendida pelo novo hospital.

Quanto ao primeiro corpo clínico do Hospital Regional de Pesqueira assim, ficou constituído: Dr. Lídio Paraíba (1º Diretor), Dr. Waldemir Ferreira Lopes (cirurgião), Dr. Luís Wilson de Sá Ferraz (oftalmologista e assistente de cirurgia), Dr. Jorge Gomes de Sá (clínico), Dr. Adalberto da Silva Castro (clínico), Dr. Wálter do Rego Barros Didier (cirurgião-dentista) e José Cristóvão dos Santos (farmacêutico).

Registre-se também outros médicos que atuaram no hospital na década de 1940 e sobre os quais localizamos registros de nomeações em jornais, foram eles: Dr. Olímpio Ronald da Cunha Pedrosa Filho (cirurgião), Dr. Inaldo Soares Carneiro da Cunha (médico assistente), Dr. Jenecy Ramos (clínico e cirurgião), Dra. Urze Prado de Barros Correia (clínica), Dr. Hélio Ferreira Lopes (assistente clínico), Dr. Lívio de Sousa Valença (médico), Dr. Luís Gonzaga Tavares Gouveia (clínico), Dr. Aníbal Teixeira de Vasconcelos (assistente de cirurgia) e Dr. Benévolo Wanderley do Amaral (clínico).

No que se refere a direção do hospital, encontramos dados sobre os 04 primeiros diretores: Dr. Lídio Paraíba (08/09/1941-02/02/1949), Dr. Benévolo Wanderley do Amaral (31/04/1947), Dra. Urze Prado de Barros Correia (24/12/1948) e Dr. Jenecy Ramos (02/02/1949). Um adendo, tanto o Dr. Benévolo Amaral quanto a Dra. Urze Prado foram nomeados para substituir interinamente o Dr. Lídio Paraíba enquanto exercia o mandato de Deputado Estadual.

Dr. Lídio Paraíba em 1925
Diante do exposto, nota-se a importância da atuação do Dr. Lídio Paraíba como um dos maiores batalhadores para que fosse construído o hospital em Pesqueira e, portanto, merece algumas considerações sobre o médico.

Natural de Uruguaiana-RS, onde nasceu em 05 de junho de 1890. Formou-se em medicina no Rio de Janeiro em 1911, veio para Pesqueira em 1912. Exerceu por mais de 50 anos a medicina, encarando-a não apenas como profissão mas, como sacerdócio. Clinicou diante de todas as dificuldades de uma cidade do interior, da qual foi o único médico por anos, atendendo a crianças, jovens, adultos, gestantes e idosos de Pesqueira e cidades circunvizinhas. O Álbum da Administração do major Cândido de Brito em 1925 já reconhecia a sua importância e o prestígio do médico na sociedade pesqueirense:

[…] Ilustrado, criterioso, devotado, bondoso, modesto, sincero, o dr. Lídio Parahyba vive em primeiro plano entre as pessoas mais distintas de Pesqueira. Ele faz da medicina o que realmente ela deve ser – um ministério de sacrifícios, de dedicações, de consolo, de coragem, de resignação tantas vezes![…]

Cabe registrar também um trecho da justificativa do médico e deputado Lívio Valença, quando apresentou o projeto nº 09 de 16/03/1963, que solicitava a Assembleia Legislativa estadual a alteração do nome do hospital de Pesqueira para Hospital Dr. Lídio Paraíba:

[…] Transposto o batente da sala de seu consultório, o rico era igual ao pobre, o preto ao branco. Em nome do seu sacerdócio profissional, todos eram iguais. […]

Em ambas as citações podemos notar o excelente profissional que foi o Dr. Lídio Paraíba, o povo pesqueirense e da região como prova de reconhecimento o elegeram Deputado Estadual no pleito de 19 de janeiro de 1947, sendo eleito pelo Partido da Representação Popular (PRP) com 999 votos, dos quais 683 foram em Pesqueira. Exerceu o mandato de 1947 a 1951 e com isso foi membro da legislatura que elaborou a 3ª Constituição do Estado, promulgada em 25/07/1947. Vale ressaltar, que o Dr. Lídio foi nomeado Prefeito de Pesqueira, exercendo o cargo num curto período de tempo entre 21 de novembro de 1945 a 20 de fevereiro de 1946.

Dr. Lídio Paraíba faleceu no Recife em 17 de fevereiro de 1963, depois de uma longa jornada dedicada a medicina e principalmente a Pesqueira, terra que não o viu nascer mais, que ele adotou e amou de forma abnegada.

Em razão de todo o serviço profissional, político e como ser humano, é que o Dr. Lídio Paraíba obteve o reconhecimento da Assembleia Legislativa que aprovou o projeto do deputado Lívio Valença e assim foi publicada no Diário Oficial do Estado (25/05/1963) a Lei nº 4594/1963:

LEI N. 4594 DE 24 DE MAIO DE 1963
EMENTA: - Dá nova denominação ao Hospital Regional de Pesqueira.
O VICE GOVERNADOR, no exercício do cargo de GOVERNADOR DO ESTADO DE PERNAMBUCO:
Faço saber que a Assembleia Legislativa decretou e eu sancionei a seguinte lei:
ART. 1º – Fica denominado Hospital Dr. Lídio Paraíba o atual Hospital Regional de Pesqueira.
ART. 2º – A presente Lei entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário
Palácio do Governo do Estado de Pernambuco, em 24 de maio de 1963.
(a) PAULO PESSOA GUERRA
João Ferreira Lima Filho.


Em suma, neste artigo levantou-se dados e informações para contar a história do hospital de Pesqueira no período 1935 a 1963, desde a época em que foi Hospital Regional até se tornar Hospital Dr. Lídio Paraíba, numa justa homenagem àquele cujo nome é sinônimo da concepção e da criação desta unidade de saúde que há 76 anos vem servindo ao povo pesqueirense e da região.

Por Fábio Menino de Oliveira.




Referências


Álbum da Administração Cândido de Brito, 1923/1925.

CORREIO DA MANHÃ. Rio de Janeiro, sexta-feira, 19/06/1942, ano XLII, nº 14.609, p. 10.

DIÁRIO DA MANHÃ. Recife, domingo, 01/09/1935, ano IX, nº 2512, p. 3.

__________________. Recife, quinta-feira, 22/10/1936, ano X, nº 2854, p. 2.

__________________. Recife, sexta-feira, 30/10/1936, ano X, nº 2861, p. 2.

__________________. Recife, quinta-feira, 12/11/1936, ano X, nº 2871, p. 12.

__________________. Recife, quinta-feira, 19/11/1936, ano X, nº 2877, p. 12.

__________________. Recife, sábado, 19/07/1941, ano XV, nº 4170, p. 8.

DIÁRIO DE NOTÍCIAS. Rio de Janeiro, quarta-feira, 31/07/1940, ano XI, nº 5448, p. 5.

DIÁRIO DE PERNAMBUCO. Recife, sexta-feira, 02/08/1940, ano 115, nº 180, p. 5.

__________________. Recife, domingo, 07/07/1941, ano 116, nº 210, p. 7.

__________________. Recife, terça-feira, 09/09/1941, ano 116, nº 211, p. 5.

DIÁRIO OFICIAL DO ESTADO DE PERNAMBUCO. Recife, sábado, 25/05/1963, ano XL, nº 117, p. 1.

ILUSTRAÇÃO BRASILEIRA (revista). Rio de Janeiro, junho de 1945, ano XXIII, nº 122, p. 80.

JORNAL DO BRASIL. Rio de Janeiro, sexta-feira, 12/11/1941, ano LI, nº 215, p. 5.

NASCIMENTO, Marcelo O. do. Os 100 Anos da Chegada de Dr. Lídio Paraíba. Disponível em: http://www.pesqueirahistorica.com/2012/12/31/os-100-anos-da-chegada-de-dr-lidio-paraiba/. Acesso em 12/04/2017.

WILSON, Luís. Ararobá Lendária e Eterna. CEPE/Pref. de Pesqueira. Recife: 1980, p. 52.