segunda-feira, 6 de outubro de 2025

DO CÁRCERE À LIBERDADE: O CENTENÁRIO DA ANTIGA CADEIA PÚBLICA DE PESQUEIRA

 


O governador de Pernambuco Sérgio Loreto ao assumir em 18 de outubro de 1922 iniciou uma série de melhoramentos no estado com a abertura de estradas, construção de pontes, grupos escolares e cadeias públicas em várias cidades, inclusive em Pesqueira.

Na mensagem lida pelo governador na instalação da 3ª sessão da 11ª legislatura do Congresso Legislativo de Pernambuco em 6 de março de 1924 consta que foi autorizada a construção dos prédios destinados a cadeias públicas nos municípios de Pesqueira, Jaboatão, Correntes, Serra Talhada, Goiana, Bonito, Quipapá, Garanhuns e Itambé, assim como, a conclusão da cadeia de Amaraji.

Vale salientar, que além da construção de uma nova cadeia pública para Pesqueira foram autorizados os reparos na antiga Casa de Cadeia e Câmara atual Casa Legislativa Anísio Galvão em funcionamento desde 13 de maio de 1836. Nesse sentido, por ser um prédio que ficava no centro da cidade e sendo utilizado como sede da Câmara de Vereadores e do Fórum já não dispunha de condições para abrigar uma casa de detenção, com isso surgiu à necessidade de um novo prédio que dispusesse dos requisitos básicos para melhor atender os detentos.

Certamente, essa demanda chegou ao governo do Estado que atendeu o pleito e incluiu Pesqueira nos municípios que seriam contemplados com uma nova casa de detenção. O Diário de Pernambuco de 1º de julho de 1924 traz a informação que a concorrência pública para as empresas que desejassem participar da construção da Cadeia Pública de Pesqueira estaria aberta até o dia 5 de julho no valor base de 79:170$950 – setenta e nove contos, cento e setenta mil e novecentos e cinquenta réis.

Cadeia Pública de Pesqueira em construção - Revista de Pernambuco julho de 1925.

Foi vencedora da concorrência a firma do senhor Ulysses Vianna com o valor de 78:379$240 – setenta e oito contos, trezentos e setenta e nove mil e duzentos e quarenta réis – que iniciou os trabalhos de construção do prédio em agosto de 1924 no terreno que foi doado pela prefeitura para o estado e cujos materiais foram trazidos de Recife nos trens da Great Western.

O prédio foi projetado pelo Departamento de Viação e Obras Públicas sob a direção do engenheiro Odilon de Souza Leão (1922-1927) obedecendo às regras modernas do regime presidiário para a época visando à segurança, a higiene e a saúde, e cujo tamanho estava relacionado ao recenseamento dos presos do município.

A planta apresentava características típicas da arquitetura pública do início do século XX, com forte inspiração neoclássica, marcada pela simetria e pelo uso de elementos ornamentais sóbrios.

Detalhes arquitetônicos da belíssima fachada em estilo neoclássico.

Na parte externa que mede 23,80m de frente e 23m de fundo cabe registrar alguns pontos de destaque: 1) Fachada simétrica – o edifício tem equilíbrio nas linhas e proporções, com janelas alinhadas e emolduradas, transmitindo imponência e ordem; 2) Frontão triangular – na parte central superior, há um frontão clássico, que traz ao centro o brasão do Estado de Pernambuco, reforçando a identidade institucional do prédio; 3) Pilastrado – a fachada é marcada por pilastras de ordem simplificada que dividem e organizam os vãos das janelas, conferindo ritmo ao conjunto; 4) Janelas emolduradas – as aberturas possuem molduras destacadas, com vergas retas encimadas por pequenos frontões triangulares e grades de ferro — recurso comum em prédios destinados a funções de segurança, como cadeias; 5) Cornija e platibanda – a cobertura é escondida por uma platibanda decorada e uma cornija saliente, solução que dá ao edifício maior monumentalidade; e 6) Materiais e cores – alvenaria rebocada e pintada em tom amarelo claro, contrastando com o branco dos elementos de destaque (pilastras, molduras e frisos), além de detalhes ornamentais no frontão.

Quanto à parte interna do prédio uma matéria publicada no Diário de Pernambuco em 27 de agosto de 1925 traz importantes elementos que nos permitem entender a funcionalidade de cada espaço. Vejamos: 1) à direita da entrada tinha a sala do corpo de guarda (espaço dos carcereiros e dos guardas) medindo 4m por 4,30m que se liga a outra destinada ao estado maior (espaço dos advogados, juízes e membros das forças armadas); 2) à esquerda da entrada tinha o gabinete da administração medindo 3,50m por 5,50m. Há, na sequencia dessas salas da entrada, uma área descoberta de 4m por 9m para ventilação e iluminação interna da cadeia; 3) do lado direito da área descoberta estão dispostas três salas independentes, cada uma com uma janela provida de grade de ferro: a primeira, de 3,40m por 3,50m, destinada à prisão de mulheres; a segunda, de 3m por 3,30m, destinada à enfermaria; e a terceira, de 3,10m por 5,50m, destinada aos correcionais (indivíduos mantidos em custódia legal no aguardo de julgamento ou para cumprir pena de menor gravidade); e 4) ao lado esquerdo, fica um salão de 9,80m por 5,50m, com três janelas, destinado aos sentenciados (detentos condenados por um crime em cumprimento de prisão).

Havia também o alojamento dos praças destinado ao descanso dos policiais, banheiros e gabinetes sanitários para presos de ambos os sexos e para os praças do destacamento. Todas essas dependências tinham o solo impermeabilizado para proporcionar higiene e conforto com vistas a garantir a saúde física dos detentos.

Esse conjunto de características mostra mais do que um edifício funcional construído para transmitir seriedade, solidez e autoridade. Ele é símbolo de uma arquitetura capaz de traduzir valores de uma época e por ser uma cadeia pública era um espaço onde quem observasse teria que ver ali um ambiente de ordem, disciplina e autoridade, sem, no entanto perder os traços de beleza capazes de perpassar o tempo.

As obras foram finalizadas no inicio de setembro de 1925, ou seja, pouco mais de um ano após serem iniciadas visto que, o diretor do Departamento de Viação e Obras Públicas, engenheiro Odilon de Souza Leão enviou um telegrama ao governador Sérgio Loreto pedindo autorização para entregar as chaves da cadeia pública ao Chefe de Polícia do Estado, Desembargador Arthur Silva Rego.

Cadeia Pública inaugurada em 18/10/1925. Álbum da administração Cândido de Brito.

No mês seguinte a Cadeia Pública de Pesqueira foi inaugurada pelo prefeito Cândido de Brito em 18 de outubro de 1925 por ocasião do 3º aniversário da administração do governador Sérgio Loreto num dia festivo para o município que contou com uma passeata de 350 alunos das escolas municipais e estaduais que saíram da Praça Dr. F. Pessoa de Queirós, atual Comendador Manoel Caetano de Brito, em direção à nova casa de detenção. Houve também uma missa de ação de graças pela paz nas terras pernambucanas.

 A histórica cadeia permaneceu em funcionamento até 1989 quando foi inaugurado o Presídio Desembargador Augusto Duque. Passando o prédio do estado para a prefeitura serviu como Secretaria de Educação, Biblioteca, Secretária de Turismo e atualmente sedia a Fundação de Cultura Zeferino Galvão, que, diga-se de passagem, está cuidando e zelando do prédio da forma como ele merece, tamanho o seu valor como patrimônio histórico.

Hoje, o que era símbolo de dor, perseguição e desalento transformou-se num centro de cultura para manter viva as tradições pesqueirense. Portanto, há muitos motivos para celebrar os 100 anos da construção da antiga cadeia pública, exemplo expressivo do patrimônio arquitetônico e histórico de Pesqueira. Ao contemplá-la, não se vê apenas um prédio, mas um capítulo vivo da memória da cidade, onde o cárcere virou liberdade.

 

Por Fábio Menino de Oliveira.


Referências Bibliográficas

A PROVÍNCIA - edição de 17/10/1924.

DIÁRIO DE PERNAMBUCO – edições de 1º/07/1924; 20/03/1925; 14/06/1925; 27/08/1925; e 06/09/1925.

JORNAL PEQUENO – edição de 17/10/1925.

PERNAMBUCO. Mensagem do Exmo. Sr. Dr. Sergio T. Lins de B. Loreto, Governador do Estado, lida ao instalar-se a 3.ª sessão da 11.ª legislatura do Congresso Legislativo de Pernambuco aos 6 de março de 1924. Pernambuco: Oficinas Gráficas da Penitenciaria do Recife, 1924.

sexta-feira, 1 de agosto de 2025

PLACAS DE RUA: ÍCONES DO TEMPO

 

Nas esquinas da cidade toda a beleza, funcionalidade e memória
grafadas de branco em fundo esmaltado azul.

Tenho caminhado pelas ruas e praças de Pesqueira em busca de histórias e memórias para contar nas laudas desta página e preservar aquilo que o tempo não apagou e as mãos humanas não destruíram. E algo me chamou à atenção: às placas de ruas que ainda existem e resistem. Razão pela qual as tenho fotografado para guardar.

Destaco as famosas e emblemáticas placas azuis como símbolos de uma época de organização urbana a partir da década de 1930 em que se passou a ter a preocupação de colocá-las nas ruas para identificação de endereços e orientar as pessoas, ajudando-as a encontrar seu caminho pela cidade.  Assim como, tornou-se uma tradição das urbes os números das residências feitos com o mesmo material esmaltado e que ainda pudemos ver um bom número em Pesqueira.

Placa esmaltada com número de residência.

Outro ponto importante para a adoção de padrões mais claros e uniformes  de placas de ruas tornando-as mais fáceis de ler à distância foi a popularização dos veículos e o consequente aumento de tráfego urbano que necessitava de maior segurança tanto para os condutores quanto para os pedestres. Primeiro esse foi um movimento dos grandes centros urbanos do país e, depois, passou para as cidades do interior, a exemplo de Pesqueira.

No Brasil, entre os anos de 1930 e 1970 tornaram-se comuns as placas esmaltadas com letras brancas em caixa alta sobre fundo azul-escuro, geralmente com moldura branca, substituindo as antigas placas de madeira ou de ferro fundido. Suas origens foram no Reino Unido, mas precisamente no bairro industrial de Selly Oak da cidade de Birmingham, onde Benjamin Baugh fundou em 1889 a fábrica Patent Enamel Company para produção das placas esmaltadas cuja ideia havia sido patenteada por ele em 1859.

A técnica usada para a produção das placas obedece às seguintes etapas: 1) Preparação da base metálica, que é limpa e tratada para receber o esmalte; 2) Aplicação de camadas de esmalte vitrificável (vidro em pó colorido) sobre a superfície; 3) Desenho e escrita feitos com o uso de estênceis (moldes vazados) ou marcadores, que delimitam as áreas onde o esmalte será aplicado com diferentes cores; 4) A chapa com o desenho é então submetida a um processo de queima em forno de alta temperatura, o que funde o vidro ao metal e fixa permanentemente a imagem; e 5) O processo pode ser repetido em múltiplas camadas e queimas, especialmente quando há cores sobrepostas ou detalhes finos.

O processo permite que as placas adquiram um brilho único em razão do esmalte de vidro. Sem contar que não perdem a cor com facilidade, levando em consideração as intempéries do tempo devido a serem apostas em ambientes abertos. E com isso vêm outros dois pontos fortes do uso e da popularização destas placas: a durabilidade pela vida útil do material muito resistente à corrosão e a facilidade da manutenção, caso fossem pintadas em poucos segundos, a tinta pode ser removida com qualquer solvente sem sofrer avarias.

Do ponto de vista da estética eram usadas nas placas esmaltadas as fontes em caixa alta na maioria dos casos sem serifa, a exemplo da Arial, Helvética e Verdana, cujas letras têm um aspecto mais limpo e moderno, sem prolongamentos nas extremidades facilitando a legibilidade à distância, proporcionando clareza e uniformidade visual. Em cidades maiores, até o tipo de letra podia indicar a época ou o bairro.

Pois bem, temos nas ruas pesqueirenses o exemplo da beleza, durabilidade e da resistência destas placas, visto que ainda temos alguns exemplares - não tantos como gostaríamos, é verdade. Mas, teima em resistir uma quantidade que nos ajuda a contar a história, ao tempo em que lamentamos pelas que foram perdidas em ruas históricas como a Cardeal Arcoverde, Barão de Cimbres, Barão de Vila Bela e Maestro Tomás de Aquino. 

Rua Barão de Cimbres, uma das placas perdidas.
Acervo Marcelo Nascimento.

Lembrando que ainda existem alguns exemplares de placas esmaltadas com propagandas de lojas que certamente patrocinavam os custos para que as mesmas fossem adquiridas e que aparentam serem das décadas de 1960 e 1970, como as que têm na Rua Duque de Caxias, na Avenida Ésio Araújo e na Praça Padre José França para citar os exemplos conhecidos e também tiveram destas que foram perdidas a exemplo da que existia na Praça Getúlio Vargas.

Exemplo de placa esmaltada com patrocínio.

Indo além da durabilidade, estas placas tornaram-se icônicas ao longo do tempo por sua estética que fazem parte da identidade visual de Pesqueira, ainda que muitas vezes, sejam relegadas à invisibilidade e ao esquecimento, as placas esmaltadas azuis são peças importantes para o design urbano não só pela funcionalidade, mas pelo ar nostálgico e charmoso para as urbes brasileiras.

O período de declínio em que as mesmas foram caindo em desuso se deu a partir da década de 1980, com a popularização de materiais como o alumínio, PVC e acrílico que por possibilitarem versões mais baratas, leves e fáceis de fabricar foram substituindo as placas esmaltadas, no entanto, cidades históricas como Paraty, Ouro Preto e Olinda mantêm em suas ruas essas placas como símbolo histórico, visual e cultural.

Inauguração da Avenida Joaquim de Brito em setembro de 1951, 
onde é possível ver no canto superior direito da placa esmaltada azul. 

A placa esmaltada, a tinta azul e as letras brancas são mais do que simples detalhes ou meros indicativos de endereços, são marcas do tempo que merecem ser preservadas pelo seu valor histórico e cultural. Fica nosso apelo aos proprietários das residências e casas comerciais das que ainda restam para que cuidem com vistas a manter esses tesouros que ajudam a contar a nossa história e quiçá possamos fazer um movimento de restauração destes letreiros do tempo.

Porquanto, fica o registro para mostrar a importância das placas esmaltadas de ruas e praças como verdadeiras relíquias urbanas que marcaram uma época do design e da sinalização pública no Brasil, e em Pesqueira não foi diferente, por isso, nossa preocupação com a preservação deste patrimônio da nossa cidade e não se trata apenas de ser saudosista e nostálgico, todavia, de reconhecer o valor histórico transcrito em letras maiúsculas no esmalte azul que transcende o tempo para mostrar que beleza não tem época. 

 

Por Fábio Menino de Oliveira


Placas que ainda resistem acervo do Pesqueira Lendária e Eterna












Placas que ainda resistem acervo de Oliveira Nascimento











Placas perdidas acervo de Oliveira Nascimento








domingo, 27 de julho de 2025

PEDRAS E PROGRESSO: O CALÇAMENTO DO CENTRO DE PESQUEIRA

 

Praça D. José Lopes com o parque instalado para a Festa de Santa Águeda em 1941.
Nota-se a praça com o meio-fio e parte da calçada construída, obra iniciada em junho
de 1940. Acervo Marcelo Nascimento. 


Em 1º de agosto de 1939 quando o bacharel João Arruda Marinho dos Santos foi nomeado pelo interventor Agamenon Magalhães para assumir a prefeitura de Pesqueira o panorama da cidade do ponto de vista urbanístico revelava uma urbes sem melhoramentos como o saneamento básico e a pavimentação por paralelepípedos. O que destoava completamente do desenvolvimento econômico do mesmo período por ser uma cidade industrial e comercial.

Até o princípio de 1940, Pesqueira contava com uma única rua calçada - a antiga Praça João Pessoa atual Praça Comendador Manoel Caetano de Brito. A referida rua que dá acesso à Estação Ferroviária foi pavimentada em fins de 1925, pelo prefeito Cândido de Brito que também realizou a quebra de pedras que formavam um rochedo que descaracterizava a atual Praça D. José Lopes com vistas a fazer melhoramentos futuros.

Depois de um período de 15 anos sem nenhum calçamento feito, o prefeito Arruda Marinho iniciou em 1940 a pavimentação em paralelepípedos rejuntados com cimento da Praça Marquês do Herval atual Praça Getúlio Vargas com extensão de 1.892 metros quadrados concluídos em outubro de 1940.

Inauguração da Praça D. José Lopes em 09/09/1941.

Em telegrama enviado ao Interventor Federal de Pernambuco publicado no Diário da Manhã em 03/07/1940 o prefeito comunica o início das obras de calçamento da Praça Dom José Lopes numa extensão 2.760 metros quadrados. Em dezembro de 1940 começa a implantação dos jardins. Também fizeram parte das obras o saneamento básico com a construção de galerias pluviais e esgotos de alvenaria. Os melhoramentos da Praça Dom José Lopes foram inaugurados em 9 de setembro de 1941.

Ainda em 1941 foi feito o aterro, a terraplanagem e o assentamento de 1.076 metros de meio-fio da antiga Avenida Cleto Campelo até o Jóquei Clube - atual Praça Joaquim Mota Valença no Bairro do Prado. Um adendo é que Avenida Cleto Campelo compreendia o trecho que atualmente encontra-se dividido entre as Avenidas Dr. Joaquim de Brito e F. Pessoa de Queirós até o Hospital Dr. Lídio Paraíba, em cuja frente também foram realizados serviços de nivelamento do terreno que permitiram o ajardinamento do espaço iniciado em março de 1943.

Dando sequência aos melhoramentos no centro da urbes, o prefeito Arruda Marinho executou o calçamento da Avenida Carlos de Brito em frente à Fábrica Peixe, concluído em abril de 1942 numa extensão de 1.965 m² tendo a prefeitura recebido das firmas Carlos de Brito e José Araújo a doação de 220 sacos de cimento para auxiliar na realização das obras de pavimentação. 

Vale salientar, que a segunda parte da avenida foi inaugurada em 15 de novembro de 1956 na gestão do prefeito Manoel Tenório de Brito com mais 3.256 metros quadrados, e também foram concluídos os 1.743 metros quadrados de calçamento da Avenida Dr. Joaquim de Brito até o Hospital Dr. Lídio Paraíba. Bem como, em março de 1958 foi concluído o calçamento no entorno da Praça Jurandir de Brito.

Com relação à Rua Barão de Vila Bela, outra importante artéria do centro da cidade por ter sido desde sempre uma artéria comercial, não dispomos de maiores informações para definir o período em que foi calçada. Todavia, de acordo com Cavalcanti (2005, p. 136) a mesma foi pavimentada durante a gestão de Arruda Marinho. Corrobora essa informação uma matéria divulgada pelo Diário de Pernambuco em 14/03/1953 onde ocorre uma cobrança para que se execute calçamentos nas artérias do centro e cita nominalmente as Ruas Zeferino Galvão, 6 de Março, Maestro Tomás de Aquino e Barão de Cimbres, e as Avenidas Carlos de Brito e Dr. Joaquim de Brito.

Outro dado importante é o requerimento n⁰ 21 de 2 de junho de 1948, no qual o vereador José de Almeida Maciel cobra ao prefeito Ésio Araújo a continuidade dos serviços de calçamento da Avenida Comendador José Didier e da Rua Maestro Tomás de Aquino cujas obras de assentamento de meio-fio tiveram início em agosto de 1947 na gestão do prefeito Laércio Valença. 

Em outro requerimento de n⁰ 16 apresentado na sessão de 13 de maio de 1948, o vereador José de Almeida Maciel cita que a única artéria sem calçamento no perímetro central era a travessa do sobrado dos herdeiros de Domingos Cruz e o prédio da Farmácia São José que ligava a Praça D. José à Rua Maestro Tomás de Aquino, além disso, propõe a mudança de Beco Domingos Cruz para a Travessa São José.

Com isso, todas as informações disponíveis nos leva a crer que a Rua Barão de Vila Bela foi calçada pelo prefeito Arruda Marinho, visto que administrou Pesqueira até 1946 e que pode realizar os melhoramentos urbanos graças ao seu trabalho e empenho de gestor eficiente, só para termos uma ideia ele aumentou a arrecadação municipal de 400 contos de réis em 1940 para 750 contos em 1941 que deram lastro financeiro para o saneamento e a pavimentação.

Cabe registrar a colaboração efetiva dos auxiliares do prefeito: Maria do Carmo Magalhães de Freitas Melo - secretária da prefeitura e que chegou a assumir o mandato em duas oportunidades que Arruda Marinho se afastou; Severino Melo - escriturário da Despesa; Ruiter Figueiredo Matos - escriturário da Receita; e Eugênio Chacon - secretário de obras que entre outras ações foi o desenhista da Praça Dom José Lopes e responsável pela execução da obra.

Vista panorâmica da Praça D. José Lopes e das Ruas Duque de Caxias e
Cardeal Arcoverde, fotografia de 1943 ou 1944.Cortesia de Francisco Neves.

Fechando o perímetro urbano central de Pesqueira temos as históricas Ruas Duque de Caxias e Cardeal Arcoverde. A primeira consta como uma das artérias mais antigas da cidade remontando à época do Império e que fora dividida para homenagear D. Joaquim Arcoverde, o 1º Cardeal da América Latina, natural da Fazenda Fundão do então município de Cimbres. O padre Joaquim Arcoverde quando foi vigário em Cimbres no ano de 1879 hospedava-se no sobrado pertencente a suas irmãs ao lado da Câmara de Vereadores e que seria em tempos depois a sede da Gazeta de Pesqueira, do Colégio Diocesano Cardeal Arcoverde, da Ação Católica e da Associação Comercial de Pesqueira.

Tendo o cardeal falecido em 18 de abril de 1930, segundo nos conta José de Almeida Maciel (1987, p.114) o deputado federal Solidônio Leite, líder da bancada pernambucana, telegrafou para o município informando do ocorrido e na sequência o Conselho Municipal se reuniu para prestar homenagens  e uma delas foi dividir a Rua Duque de Caxias - a partir da atual Travessa Vereador Libério França - para dar a denominação de Rua Cardeal Arcoverde no trecho em que se formou o núcleo primitivo de Pesqueira e dela fazem parte as históricas construções da Capela de Nossa Senhora Mãe dos Homens, o Palácio Episcopal, o Solar dos Maciéis, a Câmara de Vereadores, os Correios e Telégrafos, a Escola Cacilda Almeida e o Pólo da UFRPE/UAB - que em outras épocas foram a Usina Elétrica Municipal e a sede da Prefeitura.

Aspecto do calçamento da Rua Duque de Caxias em 1945 ou 1946.
Vê-se o Cinema Moderno com funcionamento a partir de 1938.
Acervo Marcelo Nascimento.

O calçamento em paralelepípedos rejuntados de cimento das Ruas Duque de Caxias e Cardeal Arcoverde teve início em fins de 1942 ou início de 1943. De acordo com telegrama do prefeito para o interventor Agamenon Magalhães publicado no Diário de Pernambuco de 27/03/1943 consta a seguinte mensagem: “Tenho satisfação de comunicar vossência esta prefeitura iniciou construção Jardim Hospital Regional e está concluindo calçamento da Rua Cardeal Arcoverde.” A pavimentação em tela incluía a travessa ao lado da Capela Mãe dos Homens, atual Rua Vereador Libério França.

Ruas Duque de Caxias e Cardeal Arcoverde em 07/09/1948.
Cortesia de Francisco Neves.

O domingo dia 15 de agosto de 1943 registrou um dia festivo para a cidade de Pesqueira com a inauguração do calçamento das Ruas Duque de Caxias e Cardeal Arcoverde. Às 9h30 houve a concentração das escolas municipais, estaduais e particulares, a exemplo do Colégio Santa Dorotéia, Ginásio Cristo Rei, Grupo Escolar Rui Barbosa e Escola Maria Brito; a Tropa de Escoteiros Pio X; o Círculo Operário Católico; a Banda de Música 11 de Setembro; e a população em geral para recepcionar às autoridades.

Estiveram em Pesqueira representando o interventor Agamenon Magalhães, o Dr. José do Rego Maciel, secretário da Fazenda - pesqueirense, filho de Frederico Alves do Rego Maciel e de Maria Eulália Falcão Maciel e pai de Marco Maciel; o Dr. Nilo Pereira, diretor do Departamento de Imprensa e Propaganda (DEIP); e outras pessoas que integravam a comitiva do governo estadual.

Ruas Duque de Caxias e Cardeal Arcoverde em 1958. Destaque para o poste no canteiro central
com o cartaz do filme Prisioneiros Diabólicos lançado no Brasil em 1958. Acervo Marcelo Nascimento.

O ato inaugural da pavimentação das Ruas Duque de Caxias e Cardeal Arcoverde teve lugar a partir das 10h com a chegada dos representantes do interventor em que foram recepcionados com a saudação do prefeito Arruda Marinho.

Vale destacar que neste mesmo dia tiveram outras atividades como a visita às escolas, ao Hospital Regional e o Dispensário dos Pobres; além da inauguração no prédio da Cooperativa Agropecuária no qual se realizou a Exposição das Realizações do Estado Novo em Pernambuco e na qual discursou o prefeito e o Dr. Miguel Braz, juiz de Direito da Comarca.

Praça D. José Lopes com as Ruas Duque de Caxias e Cardeal Arcoverde ao fundo
em 1959 ou 1960. Destaque para as árvores plantadas no canteiro central que não 
aparecem na foto de 1958 e para o Jeep ao lado esquerdo da praça e que foi lançado
no Brasil em 1957. Acervo Marcelo Nascimento.

As Ruas Duque de Caxias e Cardeal Arcoverde formam uma reta com calçamento largo se estendendo a partir da Praça D. José Lopes. A área central possuía cinco canteiros centrais retangulares elevados dispostos em sequência, criando uma divisão visual organizada e pequenos postes de iluminação pública.

Compunha a estética das ruas recém pavimentadas a simetria das árvores que as ladeavam de forma alinhada criando um corredor urbano arborizado que levava o olhar até o horizonte para contemplar a beleza do casario antigo e histórico que concentravam o comércio e a vida urbana da cidade. 

A configuração do conjunto formado pelas Praças Getúlio Vargas e Dom José Lopes juntamente com as Ruas Duque de Caxias e Cardeal Arcoverde pavimentadas entre 1940 e 1943 transmitia a ideia de planejamento urbano formal, com forte inspiração nos princípios de ordem, eixo central e repetição modular — elementos comuns em projetos de urbanização do início do século XX.

E foram possíveis graças aos investimentos realizados por Arruda Marinho demonstrando o cuidado, o zelo e boa vontade da sua administração para com Pesqueira ao longo dos quase 6 anos de mandato, por suas ações se tornou merecedor da gratidão dos pesqueirenses que o ajudaram a se eleger deputado estadual em duas legislaturas.

Ruas Duque de Caxias e Cardeal Arcoverde na década de 1960. Detalhe para o tamanho das
árvores no canteiro central e de um novo prédio no lugar do antigo Cinema Ideal cuja demolição
data do inicio dos anos 1960. Cortesia de Francisco Neves.

Os melhoramentos urbanos continuaram a partir de 1947, primeiro com o prefeito Laércio Valença que na primeira vez que administrou a cidade no curto espaço de três meses deu início a colocação de meio-fio na Rua Maestro Tomás de Aquino e Avenida Comendador José Didier, cujo calçamento se deu na gestão de Ésio Araújo juntamente com o Largo Bernardo Vieira de Melo entre 1949 e 1951 até chegar à Praça Comendador Manoel Caetano de Brito.

Em 1950,  Ésio Araújo, também realizou o calçamento da Rua 15 de Novembro atual Dr. Lídio Paraíba com 1.440 metros quadrados de extensão, sendo feita a abertura de uma transversal ligando esta rua à Praça Jurandir de Brito com a indenização e demolição do prédio nº 57 de propriedade de Firmino de Carvalho - atual Travessa Monsenhor Rolim.

No mesmo ano foi feito o nivelamento do terreno entre o Parque Anísio Galvão e a Avenida Comendador José Didier que possuía um grande aterro da linha férrea preparando a rua em frente ao parque para ser calçada, o que aconteceu a partir de junho de 1952, já na volta a prefeitura de Laércio Valença, que também deu início a pavimentação da Rua Barão de Cimbres em janeiro de 1953.

Porquanto, é importante salientar que com a saída de Arruda Marinho e após alguns prefeitos terem sido nomeados e governado por pouco tempo. Ao voltar à normalidade democrática com a eleição em 1947 de Ésio Araújo, em 1951 de Laércio Valença e em 1955 de Manoel Tenório de Brito, ambos tiveram mais tempo à frente da administração municipal e com isso oportunidades de continuar a executar melhoramentos urbanos na cidade, o que de fato fizeram. E assim, no período das décadas de 1940 e 1950, Pesqueira experimentou grande desenvolvimento na pavimentação e no saneamento que mudaram a sua estética urbana. 

Prefeito Arruda Marinho

O idealizador e executor destas mudanças foi o bacharel João Arruda Marinho dos Santos que foi capaz de dar os primeiros passos no caminho de modernizar a urbes, primeiro como prefeito e depois como deputado estadual e secretário do governo de Pernambuco auxiliando os prefeitos que lhe sucederam. Nas palavras de José de Almeida Maciel (1987, p.233), Arruda Marinho como prefeito de Pesqueira “transformou a feição estética da cidade, levando a efeito calçamentos e jardins públicos, resultando a grande movimentação que hoje se nota principalmente no logradouro central.”

Pois bem, ao calçar as Praças Dom José Lopes e Getúlio Vargas; a Avenida Carlos de Brito (1ª parte); e as Ruas Cardeal Arcoverde, Duque de Caxias e Barão de Vila Bela. O prefeito Arruda Marinho, mais do que fixar pedras no chão do centro da cidade, plantou o progresso e o desenvolvimento de Pesqueira, trazendo qualidade de vida à população e valorizando a beleza do casario antigo realçado com o toque da modernidade, deixando claro que não precisa destruir o passado, ele dialoga e tem sintonia com o presente, basta que abramos os olhos para enxergar - e com isso evitar que a memória se perca, pois uma cidade sem memória, torna-se indubitavelmente, em um lugar sem história.

 

Por Fábio Menino de Oliveira


Referências Bibliográficas

DIÁRIO DA MANHÃ - edições de 09/03/1940; 31/03/1940; 03/07/1940; 26/09/1940; 24/10/1940; 03/07/1941; e 05/05/1942. 

DIÁRIO DE PERNAMBUCO - edições de 23/10/1941; 08/11/1941; 27/03/1943; e 23/07/1943. 

DIÁRIO OFICIAL DO ESTADO - edições de 16/04/1941; e 08/04/1942. 

JORNAL DO RECIFE - edição de 12/07/1931. 

JORNAL PEQUENO - edição de 14/08/1943. 

MACIEL, José de Almeida. Ruas de Pesqueira. Apresentação de Gilvan de Almeida Maciel. Recife, CEHM, 1987. 

PESQUEIRA (PE). Álbum da Administração Ésio Magalhães Araújo: Município de Pesqueira – 1948 a 1951. Pesqueira: Prefeitura Municipal, 1951.