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Praça D. José Lopes com o parque instalado para a Festa de Santa Águeda em 1941. Nota-se a praça com o meio-fio e parte da calçada construída, obra iniciada em junho de 1940. Acervo Marcelo Nascimento. |
Em 1º de agosto de 1939 quando o bacharel João
Arruda Marinho dos Santos foi nomeado pelo interventor Agamenon Magalhães para
assumir a prefeitura de Pesqueira o panorama da cidade do ponto de vista
urbanístico revelava uma urbes sem melhoramentos como o saneamento básico e a
pavimentação por paralelepípedos. O que destoava completamente do
desenvolvimento econômico do mesmo período por ser uma cidade industrial e
comercial.
Até o princípio de 1940, Pesqueira contava com uma
única rua calçada - a antiga Praça João Pessoa atual Praça Comendador Manoel
Caetano de Brito. A referida rua que dá acesso à Estação Ferroviária foi
pavimentada em fins de 1925, pelo prefeito Cândido de Brito que também realizou
a quebra de pedras que formavam um rochedo que descaracterizava a atual Praça
D. José Lopes com vistas a fazer melhoramentos futuros.
Depois de um período de 15 anos sem nenhum
calçamento feito, o prefeito Arruda Marinho iniciou em 1940 a pavimentação em
paralelepípedos rejuntados com cimento da Praça Marquês do Herval atual Praça Getúlio
Vargas com extensão de 1.892 metros quadrados concluídos em outubro de 1940.
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Inauguração da Praça D. José Lopes em 09/09/1941. |
Em telegrama enviado ao Interventor Federal de
Pernambuco publicado no Diário da Manhã em 03/07/1940 o prefeito comunica o
início das obras de calçamento da Praça Dom José Lopes numa extensão 2.760
metros quadrados. Em dezembro de 1940 começa a implantação dos jardins. Também
fizeram parte das obras o saneamento básico com a construção de galerias
pluviais e esgotos de alvenaria. Os melhoramentos da Praça Dom José Lopes foram
inaugurados em 9 de setembro de 1941.
Ainda em 1941 foi feito o aterro, a terraplanagem e
o assentamento de 1.076 metros de meio-fio da antiga Avenida Cleto Campelo até
o Jóquei Clube - atual Praça Joaquim Mota Valença no Bairro do Prado. Um adendo
é que Avenida Cleto Campelo compreendia o trecho que atualmente encontra-se
dividido entre as Avenidas Dr. Joaquim de Brito e F. Pessoa de Queirós até o
Hospital Dr. Lídio Paraíba, em cuja frente também foram realizados serviços de
nivelamento do terreno que permitiram o ajardinamento do espaço iniciado em
março de 1943.
Dando sequência aos melhoramentos no centro da urbes,
o prefeito Arruda Marinho executou o calçamento da Avenida Carlos de Brito em
frente à Fábrica Peixe, concluído em abril de 1942 numa extensão de 1.965 m²
tendo a prefeitura recebido das firmas Carlos de Brito e José Araújo a doação
de 220 sacos de cimento para auxiliar na realização das obras de
pavimentação.
Vale salientar, que a segunda parte da avenida foi
inaugurada em 15 de novembro de 1956 na gestão do prefeito Manoel Tenório de
Brito com mais 3.256 metros quadrados, e também foram concluídos os 1.743
metros quadrados de calçamento da Avenida Dr. Joaquim de Brito até o Hospital
Dr. Lídio Paraíba. Bem como, em março de 1958 foi concluído o calçamento no
entorno da Praça Jurandir de Brito.
Com relação à Rua Barão de Vila Bela, outra
importante artéria do centro da cidade por ter sido desde sempre uma artéria
comercial, não dispomos de maiores informações para definir o período em que
foi calçada. Todavia, de acordo com Cavalcanti (2005, p. 136) a mesma foi
pavimentada durante a gestão de Arruda Marinho. Corrobora essa informação uma
matéria divulgada pelo Diário de Pernambuco em 14/03/1953 onde ocorre uma cobrança
para que se execute calçamentos nas artérias do centro e cita nominalmente as
Ruas Zeferino Galvão, 6 de Março, Maestro Tomás de Aquino e Barão de Cimbres, e
as Avenidas Carlos de Brito e Dr. Joaquim de Brito.
Outro dado importante é o requerimento n⁰ 21 de 2
de junho de 1948, no qual o vereador José de Almeida Maciel cobra ao prefeito
Ésio Araújo a continuidade dos serviços de calçamento da Avenida Comendador
José Didier e da Rua Maestro Tomás de Aquino cujas obras de assentamento de
meio-fio tiveram início em agosto de 1947 na gestão do prefeito Laércio
Valença.
Em outro requerimento de n⁰ 16 apresentado na
sessão de 13 de maio de 1948, o vereador José de Almeida Maciel cita que a única artéria
sem calçamento no perímetro central era a travessa do sobrado dos herdeiros de
Domingos Cruz e o prédio da Farmácia São José que ligava a Praça D. José à Rua
Maestro Tomás de Aquino, além disso, propõe a mudança de Beco Domingos Cruz
para a Travessa São José.
Com isso, todas as informações disponíveis nos leva
a crer que a Rua Barão de Vila Bela foi calçada pelo prefeito Arruda Marinho,
visto que administrou Pesqueira até 1946 e que pode realizar os melhoramentos
urbanos graças ao seu trabalho e empenho de gestor eficiente, só para termos
uma ideia ele aumentou a arrecadação municipal de 400 contos de réis em 1940
para 750 contos em 1941 que deram lastro financeiro para o saneamento e a
pavimentação.
Cabe registrar a colaboração efetiva dos auxiliares
do prefeito: Maria do Carmo Magalhães de Freitas Melo - secretária da
prefeitura e que chegou a assumir o mandato em duas oportunidades que Arruda
Marinho se afastou; Severino Melo - escriturário da Despesa; Ruiter
Figueiredo Matos - escriturário da Receita; e Eugênio Chacon - secretário de obras que entre outras ações foi o desenhista da Praça Dom José Lopes e responsável pela execução da obra.
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Vista panorâmica da Praça D. José Lopes e das Ruas Duque de Caxias e Cardeal Arcoverde, fotografia de 1943 ou 1944.Cortesia de Francisco Neves. |
Fechando o perímetro urbano central de Pesqueira
temos as históricas Ruas Duque de Caxias e Cardeal Arcoverde. A primeira consta
como uma das artérias mais antigas da cidade remontando à época do Império e
que fora dividida para homenagear D. Joaquim Arcoverde, o 1º Cardeal da América
Latina, natural da Fazenda Fundão do então município de Cimbres. O padre
Joaquim Arcoverde quando foi vigário em Cimbres no ano de 1879 hospedava-se no
sobrado pertencente a suas irmãs ao lado da Câmara de Vereadores e que seria em
tempos depois a sede da Gazeta de Pesqueira, do Colégio Diocesano Cardeal
Arcoverde, da Ação Católica e da Associação Comercial de Pesqueira.
Tendo o cardeal falecido em 18 de abril de 1930,
segundo nos conta José de Almeida Maciel (1987, p.114) o deputado federal
Solidônio Leite, líder da bancada pernambucana, telegrafou para o município
informando do ocorrido e na sequência o Conselho Municipal se reuniu para
prestar homenagens e uma delas foi dividir a Rua Duque de Caxias - a
partir da atual Travessa Vereador Libério França - para dar a denominação de
Rua Cardeal Arcoverde no trecho em que se formou o núcleo primitivo de
Pesqueira e dela fazem parte as históricas construções da Capela de Nossa
Senhora Mãe dos Homens, o Palácio Episcopal, o Solar dos Maciéis, a Câmara de
Vereadores, os Correios e Telégrafos, a Escola Cacilda Almeida e o Pólo da
UFRPE/UAB - que em outras épocas foram a Usina Elétrica Municipal e a sede da
Prefeitura.
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Aspecto do calçamento da Rua Duque de Caxias em 1945 ou 1946. Vê-se o Cinema Moderno com funcionamento a partir de 1938. Acervo Marcelo Nascimento. |
O calçamento em paralelepípedos rejuntados de cimento das Ruas Duque de Caxias e Cardeal Arcoverde teve início em fins de 1942 ou início de 1943. De acordo com telegrama do prefeito para o interventor Agamenon Magalhães publicado no Diário de Pernambuco de 27/03/1943 consta a seguinte mensagem: “Tenho satisfação de comunicar vossência esta prefeitura iniciou construção Jardim Hospital Regional e está concluindo calçamento da Rua Cardeal Arcoverde.” A pavimentação em tela incluía a travessa ao lado da Capela Mãe dos Homens, atual Rua Vereador Libério França.
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Ruas Duque de Caxias e Cardeal Arcoverde em 07/09/1948. Cortesia de Francisco Neves. |
O domingo dia 15 de agosto de 1943 registrou um dia
festivo para a cidade de Pesqueira com a inauguração do calçamento das Ruas
Duque de Caxias e Cardeal Arcoverde. Às 9h30 houve a concentração das escolas
municipais, estaduais e particulares, a exemplo do Colégio Santa Dorotéia,
Ginásio Cristo Rei, Grupo Escolar Rui Barbosa e Escola Maria Brito; a Tropa de
Escoteiros Pio X; o Círculo Operário Católico; a Banda de Música 11 de
Setembro; e a população em geral para recepcionar às autoridades.
Estiveram em Pesqueira representando o interventor
Agamenon Magalhães, o Dr. José do Rego Maciel, secretário da Fazenda - pesqueirense, filho
de Frederico Alves do Rego Maciel e de Maria Eulália Falcão Maciel e pai de
Marco Maciel; o Dr.
Nilo Pereira, diretor do Departamento de Imprensa e Propaganda (DEIP); e outras
pessoas que integravam a comitiva do governo estadual.
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Ruas Duque de Caxias e Cardeal Arcoverde em 1958. Destaque para o poste no canteiro central com o cartaz do filme Prisioneiros Diabólicos lançado no Brasil em 1958. Acervo Marcelo Nascimento. |
O ato inaugural da pavimentação das Ruas Duque de
Caxias e Cardeal Arcoverde teve lugar a partir das 10h com a chegada dos
representantes do interventor em que foram recepcionados com a saudação do
prefeito Arruda Marinho.
Vale destacar que neste mesmo dia tiveram outras
atividades como a visita às escolas, ao Hospital Regional e o Dispensário dos
Pobres; além da inauguração no prédio da Cooperativa Agropecuária no qual se
realizou a Exposição das Realizações do Estado Novo em Pernambuco e na qual
discursou o prefeito e o Dr. Miguel Braz, juiz de Direito da Comarca.
As Ruas Duque de Caxias e Cardeal Arcoverde formam uma reta com calçamento largo se estendendo a partir da Praça D. José Lopes. A área central possuía cinco canteiros centrais retangulares elevados dispostos em sequência, criando uma divisão visual organizada e pequenos postes de iluminação pública.
Compunha a estética das ruas recém pavimentadas a simetria das árvores que as ladeavam de forma alinhada criando um corredor urbano arborizado que levava o olhar até o horizonte para contemplar a beleza do casario antigo e histórico que concentravam o comércio e a vida urbana da cidade.
A configuração do conjunto formado pelas Praças
Getúlio Vargas e Dom José Lopes juntamente com as Ruas Duque de Caxias e
Cardeal Arcoverde pavimentadas entre 1940 e 1943 transmitia a ideia de
planejamento urbano formal, com forte inspiração nos princípios de ordem, eixo
central e repetição modular — elementos comuns em projetos de urbanização do
início do século XX.
E foram possíveis graças aos investimentos
realizados por Arruda Marinho demonstrando o cuidado, o zelo e boa vontade da
sua administração para com Pesqueira ao longo dos quase 6 anos de mandato, por
suas ações se tornou merecedor da gratidão dos pesqueirenses que o ajudaram a
se eleger deputado estadual em duas legislaturas.
Os melhoramentos urbanos continuaram a partir de
1947, primeiro com o prefeito Laércio Valença que na primeira vez que
administrou a cidade no curto espaço de três meses deu início a colocação de
meio-fio na Rua Maestro Tomás de Aquino e Avenida Comendador José Didier, cujo
calçamento se deu na gestão de Ésio Araújo juntamente com o Largo Bernardo
Vieira de Melo entre 1949 e 1951 até chegar à Praça Comendador Manoel Caetano
de Brito.
Em 1950, Ésio Araújo, também realizou o
calçamento da Rua 15 de Novembro atual Dr. Lídio Paraíba com 1.440 metros
quadrados de extensão, sendo feita a abertura de uma transversal ligando esta
rua à Praça Jurandir de Brito com a indenização e demolição do prédio nº 57 de
propriedade de Firmino de Carvalho - atual Travessa Monsenhor Rolim.
No mesmo ano foi feito o nivelamento do terreno entre o Parque Anísio Galvão e a Avenida Comendador José Didier que possuía um grande aterro da linha férrea preparando a rua em frente ao parque para ser calçada, o que aconteceu a partir de junho de 1952, já na volta a prefeitura de Laércio Valença, que também deu início a pavimentação da Rua Barão de Cimbres em janeiro de 1953.
Porquanto, é importante salientar que com a saída
de Arruda Marinho e após alguns prefeitos terem sido nomeados e governado por
pouco tempo. Ao voltar à normalidade democrática com a eleição em 1947 de Ésio
Araújo, em 1951 de Laércio Valença e em 1955 de Manoel Tenório de Brito, ambos
tiveram mais tempo à frente da administração municipal e com isso oportunidades
de continuar a executar melhoramentos urbanos na cidade, o que de fato fizeram.
E assim, no período das décadas de 1940 e 1950, Pesqueira experimentou grande
desenvolvimento na pavimentação e no saneamento que mudaram a sua estética
urbana.
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Prefeito Arruda Marinho |
O idealizador e executor destas mudanças foi o
bacharel João Arruda Marinho dos Santos que foi capaz de dar os primeiros
passos no caminho de modernizar a urbes, primeiro como prefeito e depois como deputado estadual e secretário do governo de Pernambuco auxiliando os prefeitos que lhe sucederam. Nas palavras de José de Almeida Maciel
(1987, p.233), Arruda Marinho como prefeito de Pesqueira “transformou a feição
estética da cidade, levando a efeito calçamentos e jardins públicos, resultando
a grande movimentação que hoje se nota principalmente no logradouro central.”
Pois bem, ao calçar as Praças Dom José Lopes e
Getúlio Vargas; a Avenida Carlos de Brito (1ª parte); e as Ruas Cardeal
Arcoverde, Duque de Caxias e Barão de Vila Bela. O prefeito Arruda Marinho,
mais do que fixar pedras no chão do centro da cidade, plantou o progresso e o
desenvolvimento de Pesqueira, trazendo qualidade de vida à população e
valorizando a beleza do casario antigo realçado com o toque da modernidade,
deixando claro que não precisa destruir o passado, ele dialoga e tem
sintonia com o presente, basta que abramos os olhos para enxergar - e com isso
evitar que a memória se perca, pois uma cidade sem memória, torna-se indubitavelmente,
em um lugar sem história.
Por Fábio Menino de Oliveira
Referências Bibliográficas
DIÁRIO DA MANHÃ - edições de 09/03/1940; 31/03/1940; 03/07/1940; 26/09/1940; 24/10/1940; 03/07/1941; e 05/05/1942.
DIÁRIO DE PERNAMBUCO - edições de 23/10/1941; 08/11/1941; 27/03/1943; e 23/07/1943.
DIÁRIO OFICIAL DO ESTADO - edições de 16/04/1941; e 08/04/1942.
JORNAL DO RECIFE - edição de 12/07/1931.
JORNAL PEQUENO - edição de 14/08/1943.
MACIEL, José de Almeida. Ruas de Pesqueira. Apresentação de Gilvan de Almeida Maciel. Recife, CEHM, 1987.
PESQUEIRA (PE). Álbum da Administração
Ésio Magalhães Araújo: Município de Pesqueira – 1948 a 1951. Pesqueira:
Prefeitura Municipal, 1951.
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