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Praça Dr. Pessoa de Queirós em 1926. Foto José Severiano Netto. |
Em 14 de abril de 1907 foi aberto o tráfego
ferroviário da Great Western entre Pesqueira e Recife. O espaço em frente ao
terminal ferroviário passou a ser conhecido como o Largo da Estação, dando
origem a um logradouro que foi ponto de encontro, chegadas e partidas de tantos
viajantes. Nele muitas foram às vezes que a população se reuniu para receber
autoridades civis, militares e eclesiásticas com o espírito acolhedor do povo
pesqueirense.
A chegada do trem impulsionou o crescimento urbano,
o comércio e as melhorias de infraestrutura, como iluminação pública,
calçamento e praças. Nesse sentido, a primeira intervenção da administração
municipal para urbanização do Largo da Estação ocorreu na gestão do major
Cândido Cavalcanti de Brito (1923-1925) que adquiriu um terreno a senhora Maria
Brito para construção de uma praça ajardinada onde foram plantadas mudas em sua
maioria de Ficus benjamina, conhecido popularmente como Figueira-benjamim ou
simplesmente Benjamim, planta ornamental muito utilizada em paisagismo urbano
por oferecer sombra em abundância.
A nova praça era composta ao centro por um pavilhão
de concreto armado, estrutura de linhas retas, clara, composta por colunas em
estilo neoclássico para representar simplicidade, funcionalidade e a harmonia
com a ornamentação tendo como função dar eixo visual à praça, criando um
alinhamento entre a rua, o jardim e o prédio da estação. E para descanso dos
viajantes e das pessoas que estavam à espera havia os tradicionais bancos de
concreto, tão característicos do cotidiano das praças, onde as pessoas tinham
tempo para conversar e usufruir da vida.
Integravam a praça um conjunto de postes metálicos
equipados com braços curvos duplos, cada um sustentando uma luminária do tipo
globo, voltada para baixo. É provável que usassem lâmpadas feitas de filamentos
de carbono incandescentes dentro de um bulbo de vidro e emitiam uma luz
amarela, quente e suave com baixa eficiência luminosa onde grande parte da
energia virava calor, porém, era revolucionária para a época. Essas lâmpadas
foram pioneiras e comuns em iluminação elétrica pública desde o final do século
XIX até meados da década de 1920.
As lâmpadas eram alimentadas pelo sistema de
iluminação pública, cujo motor da marca “Fielding” foi encomendado pelo
prefeito Carlos Frederico Xavier de Brito e instalado em 24 de dezembro de 1913
no prédio construído para abrigar a Usina Elétrica Municipal - atual Escola
Cacilda Almeida. O referido motor teve a câmara de combustão trocada pelo
prefeito Cândido de Brito para melhorar e ampliar o sistema de iluminação
pública da cidade permitindo que chegasse à nova praça.
Detalhe importante, é que o design dos postes e das
luminárias não servia apenas para a iluminação, mas, compunham um estilo
ornamental e harmônico para o embelezamento da praça representando um processo
de modernização urbana de Pesqueira, tornando-a o logradouro mais encantador e
belo da cidade pelo conjunto formado pelas árvores, jardins, pavilhão colunado,
bancos e postes de iluminação.
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1ª Foto: projeto do Parque Sérgio Loreto na antiga Campina do Bodé - Revista de Pernambuco 02/07/1924. 2ª Foto: Praça Sérgio Loreto em 1925 - Blog do Ibá Mendes. |
Pois bem, o desenho arquitetônico da praça pesqueirense foi baseado na antiga Campina do Bodé que depois tornou-se a Praça Sérgio Loreto, no bairro de São José, área próxima à antiga Estação Ferroviária Central do Recife. A praça foi projetada em 1924 no estilo paisagístico inglês e implantada em 1926 pelo engenheiro e prefeito da capital Antônio de Góes, que fez o projeto e o executou em homenagem ao governador de Pernambuco na época, tornando-se mais belo jardim do Recife.
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Inauguração da Praça Dr. Pessoa de Queirós - Álbum Cândido de Brito. |
Após a sua modernização urbanística o antigo Largo da Estação recebeu o nome de Praça Dr. Pessoa de Queirós e foi inaugurada em 18 de outubro de 1925 pelo prefeito Cândido de Brito, sendo a primeira praça ajardinada de Pesqueira, um marco importante do desenvolvimento urbano da cidade que começou a partir da estação ferroviária que trouxe o progresso e a modernidade. Prova disso, é que a praça central D. José Lopes, defronte à Catedral de Santa Águeda só seria ajardinada 15 anos depois, em 1941.
Um dado interessante é que o homenageado Dr.
Francisco Pessoa de Queirós, conhecido como F. Pessoa de Queirós (Umbuzeiro/PB,
7/11/1890 — Recife/PE, 7/12/1980), estava vivo no ato da homenagem, algo que
era permitido pela legislação à época. Como justificativa para a escolha do
nome do então deputado federal por 4 mandatos entre 1921 e 1930, assim escreveu
o Álbum da Administração de Cândido de Brito: “Muitos têm sido os serviços em
benefício desta terra, à frente dos quais o Dr. Pessoa de Queiroz se tem posto,
numa defesa e justificação valiosas e eficazes, resultando sempre em brilhante
êxito, com real proveito para o progresso de Pesqueira.”
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Foto de outro ângulo no dia da inauguração, mostrando ao fundo o famoso chalé do Maestro Tomás de Aquino - Álbum Cândido de Brito. |
Cabe registrar que outra grande melhoria na infraestrutura foi a pavimentação em calçamento feito com pedras de um trecho ao lado da praça recém-construída no final de 1925, onde foi feito um grande aterro e que tinha a finalidade de melhorar o tráfego urbano e facilitar o acesso a estação ferroviária, sobretudo, nas épocas invernosas. Vale salientar, que esta foi à primeira rua calçada de Pesqueira e que ainda encontra-se em sua grande parte intacta, e que assim permaneça por ser um patrimônio histórico da cidade, representando as primeiras iniciativas de modernização urbana.
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Primeira rua calçada de Pesqueira e suas pedras irregulares que contam histórias. |
A nomenclatura do logradouro como Praça Dr. Pessoa
de Queirós durou cerca de 5 anos. Tendo Eliseu Elói Cavalcanti sido nomeado
prefeito de Pesqueira em 18 de outubro de 1930 pelo Interventor de Pernambuco
Carlos de Lima Cavalcanti e diante do novo governo que surgiu após a Revolução
de 1930 com a posse de Getúlio Vargas como presidente do Brasil ocorreram atos
imediatos para homenagear datas e personalidades em logradouros e escolas que
tivessem ligação com o movimento revolucionário.
Por esta razão, um dos que mais receberam
homenagens Brasil afora foi João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque
(Umbuzeiro/PB, 24/01/1878 — Recife/PE, 26/07/1930), ou simplesmente João
Pessoa, governador da Paraíba e candidato a vice-presidente na chapa de Getúlio
Vargas e que fora assassinado em Recife por João Dantas. A sua morte foi uma
das causas da Revolução de 1930, simbolizando a luta pela tomada de poder
contra as oligarquias que comandaram o país durante a República Velha.
Em Pesqueira não foi diferente com o nome de Praça João Pessoa substituindo o do Dr.
Pessoa de Queirós na praça da estação ferroviária, assim como ocorreu em todos
os municípios pernambucanos, é difícil encontrar uma cidade que não teve
um de seus logradouros designado como João Pessoa. Inclusive, o município de
Pesqueira fez a doação em 1932 de 209 mil réis para a construção de um
monumento que foi erigido no Rio de Janeiro, então capital brasileira.
A reportagem do Diário da Manhã de 6 de agosto de
1931 noticia um grande evento em homenagem ao primeiro aniversário da morte de
João Pessoa realizado em Pesqueira no domingo dia 2 de agosto. Na oportunidade
foram realizadas várias cerimônias cívicas com destaque para uma sessão magna
no Grupo Escolar Ruy Barbosa em que tomaram parte o prefeito Eliseu Elói
Cavalcanti, o padre Arruda Câmara e a professora Lívia Galvão, além de diversas
pessoas da sociedade pesqueirense que lotaram as dependências do grupo
escolar.
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Praça João Pessoa em 1932. Acervo de Marcelo Nascimento. |
Uma fotografia de 1932 mostra a praça diferente de
1926 nos seguintes aspectos: calçada completa no seu entorno, quantitativo
menor de árvores, jardins e retirada dos postes de ferro, já sendo possível ver
postes maiores com as linhas de transmissão da energia elétrica, uma vez que
toda a rede de iluminação pública de Pesqueira foi mudada na segunda gestão de
Cândido de Brito (1927-1928). Sobre estas mudanças paisagísticas na praça não
identificamos em que ano foram feitas, entretanto, é possível que tenha
ocorrido na gestão de Eliseu Elói Cavalcanti.
A terceira mudança do nome da praça ocorreu por
meio do Projeto de Lei nº 46/1956 do vereador Luiz Ferreira Rocha proposto na
sessão de 10 de outubro de 1956 e que previa a alteração do nome de Praça João
Pessoa para Praça Manoel Caetano de Brito, transferindo o mesmo para o último
trecho da Avenida Joaquim Nabuco começando no cruzamento que dá acesso ao
cemitério local e que atualmente chama-se Avenida Dr. Carlito Didier Pitta,
desaparecendo o nome de João Pessoa das artérias municipais.
Na sessão de 17 de outubro de 1956 sob a
presidência do vereador Enedino de Freitas e com a presença dos edis: Luiz
Rocha (autor do projeto), Amauri de Brito, Maria do Carmo Freitas, Albérico
Soares e Maviael Lopes, estando ausente Petronilo de Freitas. Foi aprovado por
unanimidade em 2ª discussão o Projeto de Lei nº 46/1956 dando o nome de Praça Manoel Caetano de Brito em
homenagem ao industrial pesqueirense falecido no Rio de Janeiro em 17 de agosto
de 1956.
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Comendador Manoel Caetano de Brito. Acervo Marcelo Nascimento. |
Manoel Caetano de Brito nasceu em Pesqueira no dia
31 de julho de 1898, era filho de Carlos Frederico Xavier de Brito e Maria da
Conceição Cavalcanti de Brito, fundadores das Fábricas Peixe. Casou com Maria
Carolina Guimarães de Brito (Marly) e teve duas filhas: Cecília Maria Brito de
Azevedo e Maria Carolina Guimarães de Brito.
O industrial pesqueirense exerceu funções
empresariais de destaque como Diretor Superintendente Geral das Indústrias
Alimentícias Carlos de Brito S.A e Presidente da Cooperativa dos Usineiros de
Pernambuco e nas instituições filantrópicas foi Presidente da Liga Social
Contra o Mocambo. Em 1949 foi agraciado pelo Papa Pio XII com o título de
Comendador da Ordem de São Gregório Magno.
Sua morte repentina por conta de um infarto causou
consternação no país, sendo homenageado com votos de pesar pelo Congresso
Nacional, Assembleia Legislativa de Pernambuco, Câmara de Vereadores de
Pesqueira e pela prefeitura que decretou luto oficial de 3 dias. Luís Wilson
(1980 p. 224) assim escreveu: “O que eu mais, no entanto, admirava em Manoel de
Brito era o imenso coração, a bondade e o tratamento sempre amigo e afetuoso
para com todo mundo”.
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Praça Manoel Caetano de Brito em 2025. |
A Praça Manoel Caetano de Brito carrega a história
de ser a primeira praça ajardinada e onde foi construído o calçamento pioneiro
de Pesqueira marcando muito além do avanço urbanístico, pois, tornou-se símbolo
do desejo de modernização e embelezamento da cidade. Mais do que um espaço
verde, a praça tornou-se ponto de encontro, convivência e memória afetiva
para gerações pesqueirenses.
Por esta razão, sua história deve ser mantida como
patrimônio pesqueirense, nos ensinando que lugares públicos têm que ser
preservados e não destruídos ou desfigurados para beneficiar interesses
particulares. A originalidade conta trajetórias, narra histórias e desperta
memórias. Do contrário perdemos a nossa identidade e o sentimento de
pertencimento, tão próprios de quem ama a sua terra, seja por nascimento ou
adoção, o que importa é o pulsar do coração pesqueirista que valoriza a sua
história.
Por Fábio Menino de Oliveira
Referências Bibliográfica
CÂMARA MUNICIPAL DE PESQUEIRA. Ata de instalação dos trabalhos da 4ª e última sessão ordinária do corrente ano, realizada no dia 10 de outubro de 1956. Arquivo da Câmara Municipal de Pesqueira, 1956.
___________________________________________. Ata da 2ª reunião da
4ª e última sessão ordinária do corrente ano, realizada no dia 17 de outubro de
1956. Arquivo da Câmara Municipal de Pesqueira, 1956.
DIÁRIO DA MANHÃ - edições de 06/08/1931;
02/02/1932; e 1º/11/1932.
JORNAL DO RECIFE - edição de 12/7/1931.
MACIEL, José de Almeida. Ruas de Pesqueira.
Apresentação de Gilvan de Almeida Maciel. Recife, CEHM, 1987.
MACHADO, Fernando. Da Praça Sérgio Loreto para o
Mundo. Disponível em: https://fernandomachado.blog.br. Acesso em: 7 jul.
2025.
PESQUEIRA. Álbum de Pesqueira: Estado de
Pernambuco. Organizado na administração do Coronel Cândido Cavalcanti de
Britto, na gestão de 1923 a 1925. [S.l.]: [s.n.], 1925.
WILSON, Luís. Ararobá, Lendária e Eterna.
CEPE/Pref. de Pesqueira. Recife: 1980.
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