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Quadro de Anísio Galvão. Acervo da Câmara de Vereadores. |
A infância e a família
O pesqueirense Anísio Cordeiro Galvão foi daquelas
raras pessoas com o dom da palavra escrita e falada, se nas letras era
brilhante, na oratória era magistral. Nasceu na Fazenda Cacimbão no município
de Pesqueira em 4 de novembro de 1889, filho de Zeferino Cândido Galvão Filho e
Arminda Cordeiro da Fonseca.
Em 1900 estudou na escola pública primária do
professor João Camilo Cordeiro Valença que funcionava na Rua Cardeal Arcoverde
em frente ao sobrado onde funcionou a partir de 1925 o Colégio Diocesano
fundado por D. José Lopes. Na mesma escola em que foi aluno, tornou-se
professor em 1907 e entre seus alunos destacamos José de Araújo e Albuquerque
Filho, diretor-presidente das Casas José Araújo; e Gumercindo Saraiva de
Siqueira Duque, tabelião público em Pesqueira.
Em Pesqueira além de professor exerceu os cargos de
Promotor Público interino no período de 5 de novembro de 1911 a 2 de janeiro de
1912. Foi nomeado em 24 de março de 1916 como Adjunto do Promotor Público que
na época era o Dr. José Neves Filho, cargo que exerceu até 5 de dezembro de
1917.
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Anísio e Lourdes. Foto Revista de Pernambuco - 1926. |
Casou em Recife no dia 23 de setembro de 1926 com
Lourdes Leal de Barros, filha de Archimedes Leal de Barros (funcionário da
administração dos Correios em Recife) e Adalgisa Leal de Barros foram seus
padrinhos no civil o Coronel José Pessoa de Queiroz e sua esposa Tereza
Cordeiro de Queirós e no religioso o deputado federal Dr. F. Pessoa de Queirós
e sua esposa Maria Leontina Jouvin de Queirós. O matrimônio religioso foi
assistido pelo cônego Henrique Xavier.
Anísio e Lourdes residiam na Avenida João de
Barros, n⁰ 354, no Bairro do Espinheiro, em Recife. Não tiveram filhos.
O jornalista
Fundou em 1900 o jornal O SERRANO junto com o irmão
Alípio Galvão e os amigos Glicério Maciel, Elpídio Maciel, Aristides Bezerra
Cavalcanti, Osório Araújo e Pompeu Augusto dos Santos - jovens estudantes entre
11 e 13 anos de idade. O primeiro jornal pesqueirense tinha 4 páginas
manuscritas em folhas de papel pautado vendido por 60 réis onde divulgavam
notícias, troças, desenhos e exercícios escolares.
Em abril de 1906 assumiu o cargo de revisor do
jornal a Gazeta de Pesqueira, cujo proprietário passou a ser seu pai Zeferino
Galvão que substituiu o fundador Sebastião Cavalcanti que se mudou para Recife.
Passando a exercer a função de redator-secretário a partir de fevereiro de 1908
até o encerramento da 1ª fase do jornal em 28/8/1921.
Os sonhos e os ideais de vencer na vida e progredir
no jornalismo, somados às questões políticas locais que tornaram a permanência
na sua terra querida difícil, o levaram até o Recife nos idos de 1918,
trabalhou inicialmente como repórter e revisor no Diário de Pernambuco. Com a
fundação do Jornal do Commercio em 03/04/1919 de propriedade de João Pessoa de
Queirós mudou para a redação do novo matutino recifense onde foi repórter e em
abril de 1923 passou a integrar o quadro de redatores onde permaneceu até a
morte.
Por sua capacidade de escrever sobre temas como
política, economia, direito constitucional e administração tornou-se um dos
grandes jornalistas pernambucanos sendo na capital do estado colaborador de
diversos periódicos, a exemplo de O Jornal e no Olinda Jornal.
Destacou-se também nos magazines literários como A
Revista de Pernambuco, A Mauricea, A Nota, O Mez, A Rua Nova, A Pilhéria, Revista
do Norte, Revista da Cidade e a Revista Alvorada. Na Paraíba, a Revista Era
Nova divulgava seus textos literários. No Rio de Janeiro atuou no semanário ABC
e nas revistas Brasil Social e Brasil Contemporâneo.
No Recife, além do ofício de jornalista, Anísio
Galvão foi funcionário público da Fazenda Nacional tendo sido nomeado em
15/02/1921 para o cargo de escrivão da 1ª coletoria federal de São José,
inaugurada em 12/03/1921.
O intelectual
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Foto da Revista Brasil Social (RJ) - 1925. |
Viajou para a Europa a bordo do vapor Flandria em
18 de janeiro de 1925 para tratar da sua saúde, chegou em Lisboa (Portugal) no
dia 29 de janeiro de 1925, depois foi para Paris (França) e Monte Carlo
(Mônaco), retornou ao Recife a bordo do Orania em 11 de abril de 1925.
Durante sua viagem escreveu seu único livro
intitulado Vida que Corre, lançado em 1925 pelas oficinas gráficas da
Empresa Gráfica Editora, Paulo Pongetti & Cia do Rio de Janeiro e dentre as
suas crônicas lemos a belíssima “Cidade Serrana”.
“… “A minha terra tem um cruzeiro no
topo da serra.
A minha terra tem um convento no Alto
do Prado.
A minha terra tem fábricas, uvas e
rosas.
A minha terra tem uma casa onde fui
criança. Fica-lhe em frente a Capela de Nossa Senhora Mãe dos Homens, que eu
não vejo elegante como hoje é, mas velhinha como naquele tempo em que à noite
eu tinha medo de suas janelas, onde me diziam haver almas do outro mundo.
A minha terra tem um sobrado onde meus
pais continuaram a ensinar-me, a mim e a meu irmão, o trabalho e o culto à
Justiça, à Honradez e à Liberdade.
A minha terra tem, no caminho da
Estação, uma casa azul para onde depois nos mudamos e onde havia máquinas de
impressão, das quais saíam luz para o povo e amargor para nós”… (Wilson, 1986,
p. 59)
Mais do que um livro de crônicas de acordo com a
crítica especializada do país, de escritores e jornais de países como França,
Portugal e Argentina, era uma obra de arte por seu estilo leve, transparente,
rítmico e cativante pela intelectualidade e espírito observador de Anísio
Galvão.
Para termos ideia da importância deste livro faz-se
mister citar alguns autores que elogiaram e fizeram comentários recomendando a
leitura. Foram eles: Blasco Ibáñez - escritor, jornalista e político espanhol;
Manuel Gahisto- crítico literário francês; Phileas Lebesgue - poeta, ensaísta e
tradutor francês; Fernand Divoire - crítico literário, jornalista e escritor
francês; René Maran - escritor e poeta francês nascido na Martinica; Charles
Lesca - jornalista e polemista francês; Fernand Divoire - crítico literário,
jornalista, poeta e dramaturgo francês; Octave Houdaïle - jornalista, poeta,
cronista literário e editor francês; e Sanchez Saez - escritor argentino.
Como escreveu o jornal fluminense Gazeta de
Notícias em 12/12/1925: “Assim, a publicação do seu encantador Vida que Corre
tem um duplo valor: o de revelar uma forte e completa personalidade de
verdadeiro artista, e os pujantes e nobres sentimentos de amor à Pátria.”
Todos os elogios dos críticos literários só
confirmam o quanto Anísio Galvão era intelectual e culto. Pois escrevia de forma
precisa e com espírito observador e sagaz com comentários leves e cheios de
humor. Era poeta de primeira linha, inicialmente da escola do parnasianismo e
depois aderindo ao modernismo, deixando crônicas, poesias e prosas espalhadas
por jornais e revistas do país, algumas assinadas com as suas iniciais A.G. e
tantas outras com o pseudônimo Licarião Selva.
Como literato venceu um Concurso Literário em 15 de
outubro de 1918 promovido pela Revista Leitura Para Todos - magazine mensal
ilustrado do Rio de Janeiro e escreveu artigos, ensaios e teses, a saber: Os
fatos de Pernambuco em 1922; A rodoviação em Pernambuco (1926); A introdução do
café em Pernambuco (1927); e Uma conferência modernista ou o sentido modernista
das conferências - palestra realizada na noite de 30/12/1927 no Teatro Carlos
Gomes em Natal/RN.
Nas palavras do crítico francês Manuel Gahisto seus
escritos eram “d’une sensibilité délicate
soutenue par une imagination harmonieuse”, isto é, “de uma sensibilidade
delicada sustentada por uma imaginação harmoniosa". Descrevendo Anísio
Galvão como um escritor que aliava uma percepção sensível e refinada a uma
imaginação equilibrada, criativa, mas contida na harmonia da frase e no domínio
da linguagem.
O deputado
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Deputado Anísio Galvão em pé de braços cruzados e apoiado na cadeira na qual está sentado o governador Sérgio Loreto em viagem à Pesqueira (1925). Fotografia da Revista de Pernambuco. |
Logo que chegou a Recife engajou-se na política
tendo participado da fundação do Centro de Imprensa Epitácio Pessoa para
propaganda da candidatura do paraibano à presidência da República.
O seu discurso no comício realizado em 22 de março
de 1919 no adro da matriz Santo Antônio na Praça Saldanha Marinho chamou a
atenção da plateia em que estava o coronel José Pessoa de Queirós, tendo-o
abraçado pelo brilhante discurso e o convidado a fazer parte do jornal que
estava fundando, surgindo a partir daí uma amizade entre Anísio Galvão e a família
Pessoa de Queirós.
Membro do Partido Republicano foi candidato a
Assembleia Legislativa de Pernambuco nas eleições de 15 de janeiro de 1925
sendo eleito com 15.455 votos pelo 3º distrito eleitoral, como o mais votado
obteve a seguinte votação nos municípios: Afogados da Ingazeira (657), Águas
Belas (358), Alagoa de Baixo - Sertânia (680), Belmonte (377), Bom Conselho
(586), Boa Vista (286), Buíque (712), Cabrobó (523), Canhotinho (384),
Correntes (318), Exu (433), Flores (498), Floresta (913), Garanhuns (1.480),
Granito (482), Ouricuri (777), Parnamirim (512), Pedra (575), Pesqueira
(1.746), Petrolina (287), Salgueiro (571), São Bento do Una (370), São José
do Egito (421), Serra talhada (603), Triunfo (439) e Tacaratu (407).
Tomou posse em 13 de abril de 1925 como deputado da
12ª legislatura do Congresso Estadual de Pernambuco, que à época tinha 30
deputados que cumpriam mandato de 3 anos, atuou como membro da Comissão de
Fazenda e Orçamento, da Comissão de Redação e Leis e da Comissão de Contas e
Negócios Municipais.
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Deputado Anísio Galvão em pé por trás do padre e a comitiva do governador Sérgio Loreto que está sentado ao centro. Também está no foto o prefeito Cândido de Brito, o primeiro sentado da esquerda para a direita. Revista de Pernambuco em 1925. |
A sua primeira viagem a Pesqueira depois de ter
tomado posse foi em 11 de maio de 1925. Esteve novamente na sua terra natal
como membro da comitiva do governador Dr. Sérgio Loreto e do secretário de
Justiça Dr. Aníbal Fernandes que vieram participar da inauguração do
Grupo Escolar Virgínia Loreto e da Escola Municipal Lídio Paraíba em 21 de
junho de 1925 construídos pelo estado em parceria com o município sob a
administração do prefeito Cândido de Brito.
Foi reeleito nas eleições de 25 de março de 1928
obtendo 16.127 sufrágios, sendo o terceiro mais votado do 3º distrito
eleitoral. Assumindo o mandato para a 13ª legislatura foi membro da Comissão de
Redação e Leis (presidente) e da Comissão de Fazenda e Orçamento. Em razão do
seu falecimento participou apenas da 1ª sessão ordinária no Congresso Estadual,
sendo substituído pelo Dr. Bartolomeu Anacleto do Nascimento.
A sua atuação parlamentar foi destacada por sua
liderança e conhecimento. Logo no início do mandato foi autor do projeto
nº41/1925 que propôs o 1⁰ Congresso de Estradas de Rodagem, Instrução e Saúde
Pública de Pernambuco, apresentado na sessão de 12/5/1925 e aprovado em
16/5/1925 do qual foram signatários os deputados João Cleofas, Walfredo Pessoa,
Souto Filho, Arruda Falcão, Júlio Bello, Sebastião Lins e Olympio de
Menezes.
O pioneirismo da proposição se dava pelo objetivo
de criar um plano rodoviário estadual, uniformizar o sistema de registros de
veículos e resolver sobre as taxas de manutenção dos serviços de viação. O
evento pioneiro foi realizado no teatro Santa Isabel no Recife de 19 a 26 de
janeiro de 1926, tendo Anísio Galvão ocupado a 2ª vice-presidência da Comissão
Executiva Organizadora e Secretário da 2ª Comissão de Conservação das
Estradas e Taxas Necessárias ao Serviço Rodoviário.
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Presidente Washington Luís discursando na abertura do 4º Congresso Nacional de Estradas e Rodagens. Fotografia Automóvel Club. |
Por sua atuação no congresso estadual foi escolhido
pelo governador Dr. Estácio Coimbra para representá-lo no 4⁰ Congresso Nacional
de Estradas e Rodagens promovido pelo Automóvel Clube do Brasil e realizado no
Rio de Janeiro levando consigo a tese “A Rodoviação em Pernambuco” sobre a
situação rodoviária deste estado com 55 páginas divididas em 6 capítulos.
Na abertura do evento em 26 de dezembro de 1926 fez
um discurso primoroso e épico na defesa da criação de um caixa nacional para
financiar a construção de estradas de rodagem e na expansão da produção de
veículos como meio de transporte mais rápido e eficiente por facilitar a
comunicação entre o interior e os centros urbanos promovendo o progresso do
país.
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Congressistas. Fotografia Automóvel Club. |
Assim disse o deputado pernambucano: “Brasileiro, há em mim um anseio de
que todo o país venha a ser estreitado pelas correntes fortes das vias de comunicação,
que, como um fluido vital, hão de animar-lhe as artérias entorpecidas,
robustecendo-o e diminuindo as separações que, pela inexistência desse
encadeamento, se tornam consideráveis, fazendo com que patrícios, mesmo de um
Estado a outro vizinho, permaneçam como estranhos, tal se entre ambos se levantassem
pesadas muralhas tártaras” (REVISTA AUTOMÓVEL CLUB - RJ, janeiro de 1927, p.
71).
Presenciaram o pronunciamento do deputado
pernambucano, o Dr. Washington Luís Pereira de Sousa, presidente da República,
Dr. Victor Konder, ministro da Viação e Obras Públicas, ministros de estado,
senadores, deputados e delegados de todos os estados brasileiros. Como
reconhecimento pela defesa da sua tese recebeu uma carta do ministro da Viação
e Obras Públicas.
“Rio,
26 de Julho de 1927. — Prezado amigo sr. Anísio Galvão. Venho de percorrer, com
prazer sempre crescente, o opúsculo em que deu forma duradoura ao seu
substancioso discurso relativo à rodagem em Pernambuco. Eu, que já o continuava
a prezar através dos seus trabalhos puramente literários, não menos rejubilai
agora ao vê-lo voltar-se, como representante que é do povo pernambucano, para a
solução dos problemas de alcance vital como o da criação de estradas de
rodagem, de tanta relevância para Estados essencialmente produtivos qual a
formosa região cujas aspirações progressistas encontram intérpretes vigorosos
em mentalidades moças e criadoras à feição do meu nobre amigo, herdeiro que é
do nome apreciado de Zeferino Galvão, polígrafo que tanto honrou as letras locais.
Receba, portanto, os aplausos e os agradecimentos de quem subscreve com estima
e considerações sinceras. — Victor Konder.”(Diário de Pernambuco, 07/08/1927)
No retorno a Pernambuco, em fevereiro de 1927
apresentou um relatório ao governador com as seguintes propostas: 1) a
viabilização de estudos sobre um novo combustível que sucedesse a gasolina a
fim de baratear os custos e facilitar o acesso aos veículos a exemplo do
álcool; 2) o aumento do uso de caminhões para transporte de cargas; 3) a
expansão das estradas para favorecer o turismo; 4) a construção da estrada
central no sentido leste e oeste do estado ligando inicialmente o Recife a Rio
Branco (Arcoverde) e daí partiria passando por Floresta, Salgueiro, Parnamirim,
Ouricuri até os limites do estado do Piauí; 5) a construção da estrada
litorânea ligando a parte norte com a já existente estrada de Itambé ao litoral
sul passando pelo Cabo, Rio Formoso, Ipojuca, Sirinhaém e Barreiros até chegar
a Porto Calvo em Alagoas; e 6) a construção de uma rodovia do norte ao sul do
estado ligando Paraíba e Alagoas, partindo de Monteiro passaria por Cimbres,
Pesqueira, Alagoinha, Salobro, Garanhuns, Correntes até chegar a Laje do
Canhoto (Alagoas).
Podemos perceber o quanto Anísio Galvão foi à
frente do seu tempo, nas propostas temos o embrião do que seriam as rodovias BR
232 cortando o estado de leste a oeste e a BR 101 que liga o litoral pernambucano
de norte a sul. E por fim, tanto Anísio quanto o pai Zeferino Galvão sempre
foram defensores da rodovia Monteiro-Cimbres-Pesqueira cortando a Serra do
Ororubá, indo além, fazendo que a mesma contemplasse Alagoinha, Salobro até
chegar a Garanhuns, para beneficiar os produtores de leite daquela região e que
infelizmente, nunca saiu do papel e olha que já são quase cem anos da proposta
de Anísio.
O seu trabalho sobre a rodoviação do estado de
Pernambuco foi o grande marco do seu mandato e culminou com a aprovação de uma
lei a partir do projeto n⁰1/1927 de sua autoria que criou o Fundo Especial para
Estradas e Rodagens no estado de Pernambuco, aprovado pela Assembleia
Legislativa em 7 de julho de 1927.
Contudo, não foi apenas na questão rodoviária que
ele focou. Também merece destaque as proposições para beneficiar os municípios
pernambucanos entre elas podem citar o Projeto n⁰ 26 apresentado em 27/04/1925
autorizando o governador a despender a quantia de 25 contos de réis para
melhoramentos nos tanques naturais de Alagoinha, e na sessão de 30/08/1928
apresentou quatro projetos: 1⁰) autoriza o governo do estado a fazer um prédio
para escolas reunidas na cidade de Leopoldina (Parnamirim); 2⁰) auxiliar com
50:000$ a conclusão do edifício onde funciona o Colégio Dorotéia na cidade de
Pesqueira; 3⁰) construção de pontes sobre o Rio Ipanema no município de Águas
Belas e Rio Boa Vista no município de Pedra; e 4⁰) construção de uma estrada de
Pesqueira a Villa de Alagoinha.
Como congressista participou também do Congresso do
Café realizado em Garanhuns de 11 a 13 de outubro de 1927, alusivo às
comemorações do 2⁰ centenário do café em Pernambuco e do 1⁰ Congresso de
Crédito Popular e Agrícola de Pernambuco realizado em Recife de 15 a 18 de
janeiro de 1928. Com relação a este último congresso atuou como membro da
Comissão de Estudo e Elaboração do Plano Tributário de Pernambuco, nomeado pelo
governador Dr. Estácio Coimbra em 05/11/1927.
Na tribuna, Anísio Galvão se destacou pelo
conhecimento que possuía sobre todos os problemas do estado, seja da economia a
política, afinal, isso fazia parte do seu dia a dia como redator de um dos
principais jornais pernambucanos. Todavia, não era apenas na máquina de
datilografar que o deputado mostrava sua versatilidade e sim, o quanto
transformava tudo isso pela oratória.
O ilustre pesqueirense Potyguar Mattos em editorial
publicado no Diário de Pernambuco em 4/11/1989 para homenageá-lo pelo seu
centenário natalício assim escreveu em letras laureadas sobre a sua
oratória:
“Os
que o ouviram jamais esqueceram-lhe o domínio da palavra, a magia do verbo,
levantando ideias ou conduzindo homens. Infelizmente, sua grande arte morreu
com ele. A beleza da eloquência é frágil como o voo do pássaro. Risca o espaço,
seduz e encanta, logo se apaga e morre no esquecimento. Mesmo quando se
capturam as palavras pela escrita, faltam o orador, o gesto, a voz, a música do
instante, feita de emoção, desafios, empaticamente criada pelo que fala e
os que ouvem.”
Diante do que foi mencionado, conclui-se que nos
poucos mais de 3 anos como deputado estadual, Anísio Galvão deixou sua
marca pela atuação pautada na ética e na defesa de causas pioneiras. A
sua inteligência ficou registrada nos anais legislativos e a eloquência ainda
ecoa no plenário do Palácio Joaquim Nabuco.
A morte prematura
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Único registro do seu sepultamento. Revista O MALHO (RJ) - 1929. |
Por
três anos Anísio Galvão lutou bravamente contra problemas respiratórios, buscou
tratamento na Europa, outras vezes se recolheu em casa ou nas fazendas de
amigos, chegou a fazer uma cirurgia no Hospital Português em Recife no mês de
julho de 1928.
Sentindo-se pior pelo estágio avançado da
tuberculose achou por bem se recolher em uma propriedade no então distrito de
Alagoinha, aonde veio a óbito às 18h20 da segunda-feira, 28 de novembro de
1928, sendo sepultado no dia seguinte às 10h no cemitério de Pesqueira.
A morte prematura do homem das letras foi sentida
por todos que o admiravam não apenas como intelectual e político, mas como uma
pessoa ética, educada e de intangível caráter que soube conquistar ao longo da
sua breve passagem aqui na terra muitos amigos. Viveu apenas 39 anos,
entretanto, deixou um legado que foi escrito com letras douradas na história de
Pesqueira e de Pernambuco.
Os jornais do país repercutiram o seu falecimento
enaltecendo a figura como literato, jornalista e político, em nota do seu
Jornal do Commercio de 29/11/1928 (apud WILSON, 1986, p.72) sobre a sua atuação
como redator disse que o mesmo “deu lustre pela vivacidade de espírito,
serenidade de comentários e firmeza de caráter”. O governador Estácio Coimbra
enviou telegrama para a viúva, a Câmara dos Deputados, a Assembleia
Legislativa, os Conselhos Municipais do Recife, Olinda e Arcoverde aprovaram
por unanimidade votos de pesar.
O Conselho Municipal de Pesqueira se reuniu
em sessão especial no dia 25 de novembro de 1928 com a presença de diversas
autoridades: “D. José Antônio de Oliveira Lopes (Bispo Diocesano de Pesqueira),
Monsenhor Urbano de Carvalho (Diretor do Colégio Diocesano Cardeal Arcoverde),
Dr. Arthur Santa Cruz de Oliveira (Juiz de Direito da Comarca), Dr. Zacarias
dos Santos (Juiz Municipal), Dr. Rômulo Maia (Promotor Público), Sr. Antônio
Soares (Prefeito do Município), Dr. Joaquim de Brito (Subprefeito, representado
pelo secretário da Prefeitura) e os Conselheiros José de Almeida Maciel
(Presidente da Câmara), Dorgival Galindo (1º Secretário), Eliseu Araújo (2º
Secretário), Agostinho Bezerra Cavalcanti, Otávio Bezerra do Rego Barros e
Rogério Cavalcanti de Brito.
Os conselheiros municipais aprovaram o seguinte
voto de pesar:
“Proponho
que seja inserido na acta um voto de profundo pesar por motivo do infausto
passamento, no dia 19 do corrente, do nosso próximo conterrâneo deputado Anísio
Galvão que, com o maior brilho, representava o 3.° distrito do Estado na Câmara
dos deputados e que, depois de transmitido, telegramas de condolências do
Estado de Pernambuco ao seu eminente e virtuoso extinto, à ilustre redação do
Jornal do Commercio” e à contristada família, seja a presente sessão suspensa
como homenagem à memoria do ilustre morto.” (A Província, 11/12/1928)
Na mesma sessão, o historiador e conselheiro José
de Almeida Maciel fez um discurso épico e emocionante do qual destacamos o
trecho:
“Todos
nós sabemos do extremado amor que ele votava ao torrão natal; todos nós lhe
conhecíamos o formoso espírito e a inteligência de escol, o caráter sem jaça e
a lealdade que não trastejava; todos nós temos, pois, motivos bastante para
chorar-lhe a perda irreparável, nesta nevrose justificável que nos domina, e
ter o coração coberto de luto na presente hora de tristeza e de amargura!”
(Wilson, 1986, p. 75)
Parafraseando
outro mestre das letras pesqueirense, o professor Potyguar Mattos, Anísio
Galvão não foi caminhando para a sepultura, neste trajeto foi acompanhado e
levado pelos amigos para a integração definitiva com a sua terra, no estranho
casamento que ocorre entre o chão e a carne cumprindo o destino de quem voa
como a ave nas asas do vento.
A inauguração do Parque Anísio Galvão
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Parque Anísio Galvão, s/d. Acervo Marcelo Nascimento. |
Assim que Anísio Galvão faleceu seus amigos
envoltos no luto como é possível ver pela sessão do Conselho Municipal se
reuniram e organizaram uma comissão composta por José de Almeida Maciel
(presidente), José Araújo Filho (tesoureiro), Aristides Bezerra Cavalcanti
(secretário), Agostinho Bezerra Cavalcanti (vice-secretário), José Pitta, José
Araújo e Albuquerque, Gumercindo Saraiva Duque, Luís Cícero Galvão, José
Peixoto Sobrinho, Dorgival de Oliveira Galindo, Otávio Bezerra do Rego Barros,
Joel de Holanda Cavalcanti, Paulo de Oliveira, Austriclinio de Oliveira Galindo
e Eliseu Araújo.
O objetivo de acordo com A Província de 11/12/1928
que transcrevia uma nota enviada de Pesqueira em 6 de dezembro do mesmo ano
seria o seguinte: “Amigos e admiradores do deputado Anísio Galvão pretendem
levar a efeito a construção de um mausoléu, no cemitério desta cidade, onde
ficarão depositados os restos mortais do mesmo ilustre conterrâneo.”
Segundo notícia publicada no Correio de Pesqueira
em 15/03/1931 (apud WILSON, 1986, p. 81-82) foram arrecadados em donativos até
esta data a quantia de 5:050$000 (cinco contos e cinquenta mil réis). Por este
valor ser superior ao necessário para construção do mausoléu a comissão em
acordo com a família decidiu construir primeiro um jardim onde seria colocado
um busto e receberia o nome de Parque Anísio Galvão.
O local escolhido foi o terreno vizinho ao antigo
Grupo Escolar Virgínia Loreto que havia sido inaugurado em 21/06/1925 na
descida para a Avenida Comendador José Didier, este trecho que ligava a chamada
parte alta da cidade a parte baixa seria calçada muitos anos depois em 1952 na
administração do prefeito Laércio Vilela Valença, sendo que seu antecessor Ésio
Magalhães Araújo já havia feito à terraplanagem da rua em frente ao parque.
Em 1929 a comissão entrou em acordo com a
administração municipal representada pelo prefeito Antônio Arthur de Almeida
Soares para construir o parque com os valores recebidos dos donativos e que
seriam depois restituídos pela prefeitura para que pudesse ser feito o busto e
o mausoléu. Ou seja, foi feito um empréstimo da comissão para a prefeitura no
valor total de 4:870$100 (quatro contos e oitocentos e setenta mil e cem réis) quantia
esta que foi dividida com a expedição de 10 cheques.
Acontece que com o advento da Revolução de 1930, o
prefeito Antônio Soares que assumiu poucos dias depois da morte de Anísio
Galvão em 15/11/1928 e que teria mandato até 15/11/1931 foi destituído do cargo
em 7 de outubro de 1930, sendo substituído por Eliseu Elói Cavalcanti. Neste
ínterim, não houve pagamento do empréstimo por parte da prefeitura nos anos de
1929 e 1930 o que atrasou o pagamento de dívidas como: itens do funeral -
264$550; construção da cova em alvenaria - 44$000; cerimônias religiosas -
171$000; e a construção da coluna para o busto - 577$000. Assim como,
impossibilitou a aquisição do busto e a construção do mausoléu.
Mesmo com as dificuldades financeiras foi dado
início a construção do parque, uma vez que a reportagem de O Jornal - RJ em
10/06/1930 assim escreveu: “Está recebendo arborização o parque Anísio Galvão,
desta cidade. Nesse logradouro, que está sendo preparado com grande esmero, vai
ser colocado o busto deste pranteado pesqueirense.” Informação corroborada
com a notícia do Correio de Pesqueira acima mencionada, onde já cita a
construção da coluna para o monumento em março de 1931.
Ainda em 1931, a prefeitura liquidou 3 cheques dos
10 que devia a comissão no valor de 743$200 (setecentos e quarenta e três mil e
duzentos réis). Em 1932 foram pagos mais 1:000$000 (um conto de réis). Os
valores pagos permitiram a conclusão do jardim que já se encontrava pronto em
1933, entretanto, ainda faltava a colocação do busto, pois a quitação do
empréstimo ainda não havia sido efetuada.
Alípio Galvão em carta publicada no Diário de
Pernambuco em 05/07/1933 após a visita que jornalistas fizeram ao túmulo em
razão da Festa do Tomate em 22/06/1933 que não encontraram o monumento erigido
explica o porquê do atraso na construção do mausoléu e da aposição do busto no
parque: “Os atuais administradores, entre os quais se encontram também amigos
do extinto, encontraram o débito em apreço regularmente escriturado, mas devido
às condições financeiras do município, conforme alegam, não puderam efetuar a
sua liquidação, o que, contudo, vem prometendo fazê-lo o quanto antes.”
A Prefeitura Municipal de Pesqueira emitiu nota
assinada pelo prefeito Eliseu Elói e divulgada no Diário da Manhã em 09/07/1933
esclarecendo que por conta das dificuldades financeiras encontradas com um
débito de quase 93 contos de réis e com os pagamentos do funcionalismo público
em atraso de 8 a 12 meses, não tinha condições ainda de quitar todo o
empréstimo obtido junto à comissão. E que o faria assim que fosse organizando
as contas da edilidade e concluía dizendo que tal empréstimo constituía “um
caso inédito nos anais da administração pública.”
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Parque Anísio Galvão na década de 1930. Livro Anísio Galvão de Luís Wilson (1986). |
A inauguração do Parque Anísio Galvão com o
respectivo busto ocorreu no domingo 25 de novembro de 1934 a partir das 17
horas. Estiveram presentes o senhor Miguel Mendonça, tesoureiro da prefeitura,
representando o prefeito Dr. Severiano Jatobá; o monsenhor Urbano de Carvalho,
representando o bispo D. Adalberto Sobral; Cícero Galvão, representando a
família; Luiz Coelho, prefeito de Arcoverde acompanhado de Antônio Japiassú e
Isaías Lima; Sebastião Gomes da Silva, sargento da brigada; Abílio Maia,
diretor do Jornal de Pesqueira; e Austriclinio de Oliveira Galindo,
representante da comissão.
Coube ao monsenhor Urbano de Carvalho fazer o
discurso inaugural da solenidade, seguido pela fala da menina Sylvia Maciel
Abreu, de José Farias e de Austriclinio Galindo que em nome da comissão
agradeceu a presença e a colaboração de todos para que pudesse ter sido
construído o empreendimento em homenagem a Anísio Galvão.
Executado o Hino Nacional pela Banda de Música do
Centro Musical Pesqueirense e cantado pelas crianças, seguiu-se o discurso do
sargento Sebastião Gomes. Todos os oradores foram aplaudidos calorosamente
pelos presentes.
Como ápice da cerimônia assim escreveu o Jornal de
Pesqueira em 1º de janeiro de 1934: “O busto de Anísio Galvão, que se achava
envolvido pela bandeira nacional, foi descoberto pelo representante do sr.
prefeito, ouvindo-se, então, prolongada salva de palmas.”
O
busto
 |
Nesta fotografia panorâmica de 1948 é possível ver a imponência do busto de Anísio Galvão erigido no parque. Fotografia O MALHO (RJ). |
As tratativas iniciais para a confecção do busto
foram realizadas com o escultor paulista André Costa pelo coronel Antônio
Didier que residia em São Paulo e que de acordo com o Correio de Pesqueira em
15/03/1931 (apud WILSON, 1986, p. 82) já havia preparado a maquete em gesso e
estava aguardando o valor inicial de um conto de réis para continuar o
serviço.
Tal serviço não foi à frente tendo em vista a
questão dos recursos financeiros, como bem disse Alípio Galvão na carta ao
Diário de Pernambuco (05/07/1933): “pelo seu preço elevado não pôde ser aceita,
tornou-se mister aguardar a remessa de outras, cujos preços fossem razoáveis,
pois a comissão dispondo já de limitados recursos pecuniários, necessitava ter
ciência primeiramente da quantia exata a ser despendida com o busto”.
Em abril de 1934 foi contratado pela comissão o
jovem Luiz Ferrer, talentoso escultor pernambucano, natural de Vitória de Santo
Antão que estudou na Escola Nacional de Belas Artes no Rio de Janeiro e foi um
dos mais renomados escultores do país na primeira metade do século XX com obras
e monumentos espalhados por vários estados brasileiros.
Estando de férias dos estudos no Recife, onde fez
uma exposição, Luiz Ferrer esculpiu o busto do prefeito de Bezerros José Pessoa
Souto Maior, e em seguida veio à Pesqueira para acertar a elaboração do busto
do seu filho ilustre. Conforme nota do Diário de Pernambuco em 1º/05/1934: “O
busto de Anísio Galvão está sendo confeccionado pelo escultor conterrâneo Luiz
Ferrer, devendo ser, em breve, inaugurado.”
Luiz Ferrer esculpiu o busto em Recife, assim
confirma uma nota do Diário da Manhã em 09/05/1934 (apud MORAIS, 2024, p.112):
“Por uma deferência especial e muito atenciosa do escultor, o sr. Luís Ferrer,
tivemos a satisfação de uma visita a obra que está confeccionando, nesta
cidade, do busto do nosso patrício Anísio Galvão.” O mesmo Diário da Manhã em
20/06/1934 notícia o retorno de Luiz Ferrer para continuar os estudos no Rio de
Janeiro: “Em curta permanência neste Estado em gozo de férias regulamentares, o
vitorioso escultor teve a oportunidade de confeccionar os bustos do saudoso
jornalista Anísio Galvão e do sr. José Pessoa Souto Maior, ambos com grande
perfeição”.
Deste modo, o busto de Anísio Galvão foi elaborado
entre os meses de maio a junho de 1934. Feito em bronze assentado sobre um
pedestal em forma de coluna com base robusta, em forma de prisma quadrangular
que se eleva com linhas retas e limpas, onde havia uma placa alusiva ao
homenageado, infelizmente, as fotografias conhecidas não nos permitiram
identificar o texto. A parte superior do pedestal era decorada com faixas
horizontais esculpidas, dando um ar de imponência e elegância ao
conjunto.
A estrutura repousava sobre uma base de seis
degraus, que criava um platô elevado, recurso arquitetônico clássico em
monumentos cívicos para dar destaque ao busto, tornando-o visível a certa
distância. E as fotos raríssimas que temos revelam esta imponência de beleza
sem igual para homenagear um dos filhos mais destacados de Pesqueira em toda a
sua história.
O
mausoléu
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Mausoléu Monumento de Anísio Galvão. Fotografia Acervo Marcelo Nascimento. |
Completando o conjunto de homenagens idealizado
pela comissão de amigos e admiradores foi finalizado em 1934 o seu túmulo que
tamanha a sua expressividade no cemitério de Pesqueira podemos chamar de o
“Mausoléu Monumento de Anísio Galvão”.
O monumento possui uma estrutura imponente de
alvenaria, erguida em forma de obelisco com base mais larga e um topo
trabalhado, com detalhes em relevo, sendo um dos mais belos jazigos localizados
no cemitério de Pesqueira.
Perto do topo, há um busto em relevo de Anísio
Galvão em um nicho semicircular decorado, que o destaca como figura central da
homenagem. Abaixo do busto, há uma placa onde se lê: “A ANÍSIO GALVÃO,
HOMENAGEM DOS SEUS AMIGOS E ADMIRADORES 1934.”
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Inscrição no mausoléu. Fotografia do acervo de Marcelo Nascimento. |
Entre os ornamentos presentes para simbolizar a
glória e a eternidade do falecido destacamos os adornos esculpidos em
alto-relevo de folhas e ramos entrelaçados nas cores verdes musgo para
realçá-los ante a pintura branca do túmulo.
Por fim, o estilo do monumento mostra a influência
da arte funerária do início do século XX, típica de personalidades de grande
importância para sua comunidade. A grandiosidade, o busto e a inscrição indicam
respeito e reconhecimento público a Anísio Galvão.
A
depredação e o desaparecimento
 |
Busto em 1950. Fotografia Jornal de Pesqueira - 1989. |
No
dia 10 de março de 1958, a população de Pesqueira amanheceu estarrecida com um
fato triste e revoltante: a depredação do busto. Conforme escreveu Luiz Neves
na sua coluna no Diário de Pernambuco em 15/03/1958: “O fato indignou os
habitantes toda a cidade, segunda-feira passada, o busto de Anísio Galvão,
homenagem dos pesqueirenses ao seu expoente nas letras, fora destroçado por
pedradas, às caladas da noite, uma obra perfeita de vandalismo.”
Ao
que consta o busto sofreu diversos danos em razão das pedradas e cacetadas
pelas mãos de vândalos que num ato de extrema selvageria atentaram contra o
monumento que cultuava as letras do município. O assunto repercutiu na cidade e
no estado em razão da sua gravidade.
Os
jornais pesqueirenses Era Nova e A Voz de Pesqueira cobriram os fatos com
reportagens e editoriais. No domingo 23 de março, o padre José Aragão, diretor
da Era Nova (apud Diário de Pernambuco, 27/03/1958), sobre o ato lamentável
assim escreveu: “A incapacidade de entender o simbolismo dos bustos é a nítida
expressão do abismo que separa o povo educado da gente grotesca e ignóbil. O
acontecido com a estátua de Anísio Galvão é um índice tristemente significativo
da completa ausência de sensibilidade moral em certas pessoas desta cidade.”
Por
sua vez, o jornalista Rinaldo Jatobá na sua crônica em A Voz de Pesqueira (apud
Diário de Pernambuco, 26/03/1958): “Não sabemos mesmo qual o mal, que em vida,
praticou Anísio Galvão, aqui. E, no entanto, aí está seu busto, na praça que
tem seu nome quebrado como se fosse de um agitador, de um perigoso facínora.
Revoltante, brutal, selvagem mesmo foi o ato praticado, naquela madrugada de
crepe para as letras pesqueirenses, com o busto do ilustre conterrâneo morto.
Qual o filho desta terra não se sentiu ferido com tão entristecedora notícia?”.
Na
Assembleia Legislativa de Pernambuco, o deputado Júlio de Melo usou da palavra
na sessão de 19 de março de 1958 solicitando a mesa que encaminhasse ofício ao
Secretário de Segurança Pública no sentido de ordenar as autoridades
policiais de Pesqueira que fizesse diligências com afinco no intuito de
descobrir e punir os autores dos atos de vandalismo. As investigações ficaram a
cargo do coronel Feliciano Paiva, que ao que consta não logrou êxito no seu
intento.
A Câmara de Vereadores, reunida em 12/03/1958
aprovou o Requerimento nº 7 do vereador Luiz Rocha de repulsa ao atentado e
cena de vandalismo praticado contra o busto do saudoso jornalista Anísio
Galvão. Quanto à prefeitura, de imediato mandou fazer os consertos necessários
na escultura.
Mesmo reconstruído, o busto não ficou com a sua
beleza original e terminou por ter um destino ainda mais melancólico que foi o
seu desaparecimento. Os dados disponíveis não nos permitiu precisar a data em
que o mesmo sumiu do Parque Anísio Galvão, contudo, através do Requerimento nº
02/79 do vereador Severino Ferreira de Lima apresentado na sessão de 10 de
abril de 1979 é possível inferir que o busto já havia sido retirado, pois assim
diz o texto:
“Sr.
Presidente. Srs. Vereadores: Requeiro à Mesa, depois de ouvido o Plenário, na
forma regimental, que se aprove este nosso requerimento, no sentido de fazer
reformas nas Praças Comendador José Didier e Anísio Galvão, colocando lâmpadas
de mercúrio a vapor, repondo o busto de Anísio Galvão, as referidas
Praças são no coração da cidade.”
O grifo nosso dá destaque a expressão “repondo o
busto” o que significa que ali não mais estava e mais ainda que fosse algo
recente, uma vez que nas buscas feitas nos arquivos da Câmara de Vereadores esta
foi a primeira referência sobre o busto. Por outro lado, ao requerer a melhoria
na iluminação o vereador mostra o descuido com o parque, que, diga-se de passagem,
não teve o devido zelo por parte da edilidade municipal, sendo relegado a quase
extinção tamanha foram às intervenções que o desfiguraram por completo.
 |
O parque em 1951 com sinais de deterioração. Fotografia Jornal de Pesqueira - 1989. |
Lamentável que o segundo jardim a existir em
Pesqueira, graças à abnegação de amigos e admiradores que com muito custo o
construíram tenha tido esse fim, que bem merecia ser corrigido. E mais ainda
por carregar o nome de Anísio Galvão, o homem das letras que tão bem soube
escrever e descrever as emoções em crônicas, poesias e discursos.
Patrono da Câmara de Vereadores
 |
Casa Anísio Galvão. |
O vereador e líder do PSD Luiz Neves apresentou na
Câmara de Vereadores na sessão de 20 de agosto de 1952 o Projeto de Lei nº
204/52 dando a denominação de Rua Anísio Galvão ao trecho que passa em frente
ao parque compreendido entre a antiga sede da Prefeitura Municipal - atual Polo
da UAB/UFRPE e a Praça Comendador José Didier. O referido projeto foi aprovado
por unanimidade em 2ª discussão no dia 22 de agosto e promulgado na mesma data
pelo presidente do legislativo municipal, vereador Enedino de Freitas Mendonça.
Na sessão de 26 de agosto de 1959, o vereador pelo
PTB Maviael Lopes da Costa apresentou os projetos nº 28 e nº 29, o primeiro
propunha que a Câmara Municipal passasse a se chamar Casa Anísio Galvão e o
segundo previa a abertura de um crédito de Cr$ 3.000,00 (três mil cruzeiros)
para ampliação de um retrato cujo quadro deveria ser colocado no salão do
legislativo.
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Maviael Lopes (1929-2004), vereador na legislatura 1955-1959. Fotografia cortesia de sua neta Mayana Lopes.
|
A louvável iniciativa do vereador Maviael Lopes foi
aprovada por unanimidade pelos seus pares presentes à sessão: Enedino de
Freitas, Luiz Rocha, Maria do Carmo Freitas, José Miranda Primo e Antônio Soares
de Macedo. Com isso, a histórica Casa Legislativa de Pesqueira funcionando como
Câmara Municipal desde 1836 prestou uma grande homenagem a Anísio Galvão ao
torná-lo seu Patrono em 29 de agosto de 1959 com a promulgação do Projeto de
Resolução nº 9/1959.
“CÂMARA
MUNICIPAL DE PESQUEIRA. Resolução nº 9/1959
A Câmara Municipal de Pesqueira
resolve:
Artigo I
— A Câmara Municipal de Pesqueira passa a denominar-se também CASA DE ANÍSIO
GALVÃO, numa justa homenagem ao grande jornalista pesqueirense e homem de
letras desaparecido.
Artigo II
— A Comissão de Legislação providenciará sobre o que determina o Art. 191 da
Constituição do Estado.
Artigo III
— Sendo a Câmara autônoma, naquilo que se relaciona com qualquer modificação no
seu âmbito interno, depois de aprovada esta Resolução, obedecidas as
formalidades legais, a Comissão Executiva fará a devida promulgação desta Lei.
Artigo
IV — Revogam-se as disposições em contrário.
Sala das Sessões da Câmara Municipal de
Pesqueira, em 29 de agosto de 1959. Enedino de Freitas Mendonça (Presidente).
Petronilo Rodrigues de Freitas (pelo 1º Secretário) e José Miranda Primo (servindo
de 2º Secretário).” (Wilson, 1986, p.27)
Justo reconhecimento, tendo em vista que foi
proposta do deputado Anísio Galvão o dispositivo nº 1774 na lei orçamentária do
Estado em 1926 solicitando a cedência do prédio onde funcionava a Câmara para o
município de Pesqueira a fim de que fosse adaptado para servir como sede do
Paço Municipal, Fórum e Tribunal do Júri, além de ser mantida a Câmara de
Vereadores, o que foi atendido pelo ato nº 1597 de 06/11/1926 assinado pelo
presidente da Assembleia Legislativa e governador interino, Dr. Júlio de Melo.
Tendo o historiador e prefeito José de Almeida
Maciel (1926-1927) executado a remodelação do prédio fazendo a caiação, pintura
e instalação elétrica ficando a Prefeitura de Pesqueira em ambiente adequado e
com condições de conforto para atender a população.
Pois bem, a homenagem como patrono da Câmara de
Vereadores constitui-se em algo que ainda mantém viva a memória do grande
polígrafo pesqueirense, que tão bem soube honrar a tribuna legislativa estadual
representando não só os interesses de Pesqueira, mas, de tantos municípios
pernambucanos.
Anísio, cujo nome vem do verbo grego anyo, de
fato foi a tradução literal do termo, era completo. Sua pena escrevia suave
tal qual um pássaro em voo livre a contemplar as belezas que se escondem além
do horizonte e a sua fala na tribuna soava cativante tal qual o canto do
sabiá-laranjeira - suave, melodiosa e ao mesmo tempo forte como as raízes
sertanejas.
Sua história, trajetória e memória resistem ao
tempo, pois cada vez que uma poesia sua for lida, em cada reunião da Câmara que
for mencionado o seu nome e, sobretudo, cada vez que o hino de Pesqueira for
cantado dele lembraremos. Afinal, o grande escritor pesqueirense Luís Cristóvão
dos Santos foi muito feliz quando escreveu no hino o verso: “Terra querida de
Anísio Galvão, tu és bonita e mais risonha não há, teu nome trago no coração,
oh Rainha do Ororubá!”
Anísio Galvão vive pelo seu legado e pela sua história
escrita nas redações, nas poesias e nas prosas. Cada vez que lermos um texto dele lembraremos
em sinal de respeito a sua memória e que motivaram estas linhas.
Por
Fábio Menino de Oliveira.
Referências
Bibliográficas
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23/06/1925; 21/11/1925; 21/12/1926; 12/02/1927; 11/12/1928.
AUTOMÓVEL CLUB. Órgão Oficial do Automóvel
Club do Brasil. Edições de dezembro de 1926, janeiro de 1927 e julho de 1927.
Rio de Janeiro. Capa ilustrada.
BRASIL SOCIAL. Ano 1, números 3 e 4.
Rio de Janeiro, 1 jan. 1925. Capa ilustrada.
CÂMARA MUNICIPAL DE PESQUEIRA. Projeto
de Lei nº 204/1952. Denomina o nome de Rua Anísio Galvão a uma das artérias da
cidade. Pesqueira, PE: Câmara Municipal de Vereadores, 22 ago. 1952.
_______________________________. Ata da
3ª reunião da 3ª Sessão Ordinária da 3ª Legislatura, realizada em 26 de agosto
de 1959. Pesqueira: Câmara Municipal, 1959. Manuscrito.
_______________________________.
Requerimento nº 02/79, de 10 de abril de 1979. Solicita reformas nas Praças
Comendador José Didier e Anísio Galvão, com colocação de lâmpadas de mercúrio a
vapor e reposição do busto de Anísio Galvão. Aprovado em 10 abr. 1979. Arquivo
da Câmara Municipal de Pesqueira.
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DIÁRIO DE PERNAMBUCO — edições de
13/05/1925; 16/05/1925; 06/12/1925; 23/09/1926; 07/08/1927; e 23/05/1929.
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___________. Ararobá, Lendária e
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