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Consumatus in brevi, explevit tempora multa (Sb 4,13). |
A infância e a família
Às
10 horas do dia 19 de fevereiro de 1919 na Fazenda Bom Nome do então distrito
de Alagoinha, município de Pesqueira/PE, nasceu uma criança que recebeu por
nome José França de Oliveira. Filho primogênito de Francisco França de Oliveira
(Alagoinha, 31/08/1896 - Fazenda Bom Nome, 19/08/1964) e de sua primeira esposa
Maria Prima de Oliveira “Cota” (Alagoinha, 30/11/1901 - Fazenda Bom Nome,
30/11/1926), casados no Sítio Mulungu de Alagoinha em 30 de novembro de 1916,
matrimônio celebrado pelo padre Frutuoso Rolim de Albuquerque.
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Sede da Fazenda Bom Nome na atualidade, na época do nascimento do Pe. França a casa era de taipa. Cortesia de Jorival França.
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Neto
paterno do capitão José Ignácio de Oliveira Paes (1858 - ?) e Maria Antonina
Torres Galindo (1869 - ?), casados civilmente na propriedade Canga em Alagoinha
no dia 31 de julho de 1894. “Neto materno de Francisco Ignácio de Oliveira Paes
que também aparece como Francisco Ignácio da Silva Filho “Chiquinho”“
(1864-1946) e sua primeira esposa Umbelina Benigna de Almeida “Bilú”
(1870-1922), casaram em Alagoinha no dia 1º de março de 1892.
Bisneto
pelo capitão José Ignácio e por Francisco, de Francisco Ignácio da Silva “Chico
Grande” e sua primeira esposa Francisca Paula de Jesus; bisneto por Maria
Antonina, de Cândido Miranda Torres Galindo e Jovina Lopes Rabelo; e bisneto
por Umbelina Benigna de Manoel Benigno de Almeida e Anna Cândida dos Santos.
Trineto por Francisco Ignácio, de José Ignácio Paes
de Lira e sua primeira esposa Palquéria Maria da Conceição. Tetraneto por José
Ignácio, de Luís Ignácio Paes de Lira e esposa desconhecida. Tetraneto por
Palquéria Maria, de Gonçalo Antunes Bezerra Júnior e Anna Bernarda Bezerril
Torres Galindo. Pentaneto por Gonçalo Júnior, de Gonçalo Antunes Bezerra
(fundador de Alagoinha) e Antônia Maria de Jesus. Pentaneto por Anna Bernarda,
do capitão José Teixeira Machado e Maria da Luz Torres Galindo. Hexaneto por
Gonçalo Antunes, do capitão Antunes Frutuoso de Matos e Antônia dos Anjos
Bezerra. Hexaneto pelo capitão José Teixeira, do capitão José Teixeira de
Siqueira e Bárbara Maria de São Pedro. Hexaneto por Maria da Luz, de Antônio
Francisco Torres Galindo e Maria Nunes Bizarril.
Em
1º de março de 1919, o menino José com 12 dias de nascido foi levado à pia
batismal por seus pais para receber o batismo. Existe uma dúvida quanto ao
local do batizado, o registro encontrado no familysearch diz que foi na Capela
de Pão de Açúcar, no entanto, como o mesmo aparenta ser uma cópia devido às
informações terem sido preenchidas em livro já impresso e ainda assim existirem
lacunas, algo que não era comum para a época onde os livros de registros
eclesiásticos eram manuscritos nos induz a duvidar da veracidade da informação.
Além do exposto, qual o sentido do batizado ter
sido em Pão de Açúcar na divisa entre Pesqueira e Poção, sendo que a família e
os padrinhos tinham todas as ligações com Alagoinha? O mais provável é que o
batismo tenha sido realizado na Matriz de Alagoinha ou mesmo na Catedral de
Santa Águeda.
No batismo, sacramento de iniciação da vida cristã,
a comunidade da igreja acolhe um novo membro que renasce para uma vida nova em
Cristo e faz a sua aliança com Deus, não por merecimento, mas, por graça
divina.
O
padre Frutuoso Rolim de Albuquerque ao derramar a água sobre a cabeça de José
como símbolo de purificação, renovação e vida nova proferiu as palavras
sacramentais do rito: “Eu te batizo em nome do Pai, do Filho e do Espírito
Santo." Foram seus padrinhos o casal José de Almeida Maciel e Florinda
de Almeida Maciel. E assim, José foi acolhido pela igreja à qual dedicaria sua
vida breve no tempo, mas, rica em sentido.
Em 18 de setembro de 1927, aos 8 anos de idade fez
a primeira comunhão na Igreja Matriz de Alagoinha. Este sacramento é um dos
momentos mais importantes na vida religiosa de um católico, pois marca a
primeira vez que a criança (ou adulto) recebe o Sacramento da Eucaristia, isto
é, o Corpo e Sangue de Cristo, sob as espécies do pão e do vinho consagrados.
De forma espiritual significa a união mais íntima com Jesus, como Ele mesmo
disse: "Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu
nele (João 6,56)”.
A
vida cristã e os valores morais teve como exemplo a educação recebida por seus
pais de cujo matrimônio nasceram 8 filhos: Maria José, José (1919), Antônio
(1920), Otília (1921), Libério (1922), Donatilia (1923), Nicácio (1925) e
Lourival de França Oliveira, tendo Cota falecido no parto deste, em 30 de
novembro de 1926 com apenas 25 anos de idade. Pelo óbito localizado, ela deixou
7 filhos vivos contando a partir de José, o que nos leva a crer que Maria José
faleceu em tenra idade.
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Francisco França de Oliveira. Cortesia de Jorival França. |
Francisco França casou novamente em Alagoinha no
dia 20/04/1928 com Marieta Inojosa de Oliveira (Alagoinha, 10/9/1911 - Recife,
31/8/2005), filha de Francisco Faustino de Inojosa e Maria Antonina Galindo que
ajudou na criação dos seus 7 filhos menores e de cuja união nasceram 19 filhos:
José, Odilia, Josaphat , Josias, Maria do Socorro, Jacques, Maria da Assumpção,
Marinete, Maria José, Jorival, Jabel, Maria do Carmo, Maria das Graças,
Josabel, Josival, Jason, Jaime, Maria Teresa e Maria Aparecida Inojosa de
Oliveira.
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Padre França, tendo a sua esquerda o seu irmão e a sua direita o cunhado Edson Galindo casado com Otília França. Cortesia do Pe. Eduardo Valença.
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Segundo
estudo genealógico da Família França escrito por Wilka Inojosa e Kiriak Inojosa
a que tive acesso, e que gentilmente foi cedido pelo Pe. Eduardo Valença, em
janeiro de 2024 a descendência de Francisco França de Oliveira e suas duas
esposas Maria Prima de Oliveira/Marieta Inojosa de Oliveira contava com 27
filhos, 73 netos, 130 bisnetos, 97 trinetos e 1 tetraneto.
Uma
numerosa prole de cidadãos e cidadãs educados nos princípios e na moral cristã
sendo exemplo de homens e mulheres bem quistos na sociedade por sua retidão e
caráter nas mais diversas atividades e segmentos em que atuaram ou atuam
mantendo o legado da família França.
O curso primário e a vocação
O menino José dos 7 aos 12 anos fez o curso
primário na Escola da Fazenda Mulungu, distante quase 6 km da Fazenda Bom Nome,
percurso que fazia a pé, cumprindo o horário das 7 às 15 horas.
Aluno dedicado, logo que concluiu o curso primário
e foi crescendo sentiu-se chamado a vocação para servir à Igreja mostrando para
a sua família o desejo de ingressar no seminário.
Essa informação consta num esboço manuscrito com
traços biográficos breves, porém, com dados valiosos e no mesmo diz que foi
estudar no Seminário de Olinda, onde permaneceu por vários anos. Confrontando
com as atas em que constam o recebimento das ordens menores, constam ao se
referir ao clérigo José França de Oliveira o termo “minorista” usado na
tradição dos seminários católicos, especialmente antes do Concílio Vaticano II,
para indicar a etapa inicial da formação sacerdotal onde o vocacionado,
geralmente jovens entre 11 e 16 anos ingressavam no Seminário Menor que
funcionava como um colégio interno, preparando para o ingresso no Seminário Maior.
Porquanto, é bastante provável que José França de
Oliveira tenha ingressado no Seminário de Olinda ainda bem jovem como aluno
interno, logo após ter concluído o ensino primário. Seu pai, Francisco França,
em uma das suas cartas de agradecimento post mortem, escreveu: “Durante
os doze anos de estudos Colegiais e no Seminário palmilhando o caminho da
Verdade Eterna.”
Dessa forma, se fizermos as contas até o ano de
1946 quando foi ordenado sacerdote, teria o Padre França iniciado os estudos no
Seminário de Olinda em 1934 com 15 anos de idade.
Caminho Formativo ao Sacerdócio
Na época em que o jovem José França de Oliveira
ingressou no seminário o caminho formativo ao sacerdócio na Igreja Católica
anterior às reformas do Concílio Vaticano II (ou seja, até o início da década
de 1960) seguia uma estrutura tradicional e hierárquica, fundamentada na
progressiva consagração do homem ao serviço de Deus e da Igreja, por meio de
graus sucessivos. Era um percurso exigente, espiritual e disciplinar, que culminava
na ordenação presbiteral.
O ingresso no seminário geralmente ocorria no curso
ginasial após o ensino primário básico, onde os jovens eram submetidos à
formação espiritual, doutrinal, moral, litúrgica, filosófica e teológica.
Quanto aos estudos eles se dividiam: Curso menor (latim, humanidades,
catecismo, introdução à vida espiritual); e Curso maior (filosofia e teologia).
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Seminário de Olinda e Igreja de Nossa Senhora da Graça. |
Ao que consta a parte dos estudos ginasiais e o
curso menor foram feitos no Seminário Maior Nossa Senhora da Graça, mais
conhecido como Seminário de Olinda, que é um dos marcos mais importantes da
história religiosa e arquitetônica do Nordeste fundado em 16 de fevereiro de
1800 por Dom José Joaquim da Cunha Azeredo Coutinho, no espaço do antigo
colégio jesuítico ligado à Igreja de Nossa Senhora da Graça – construída
originalmente em 1551 por Duarte Coelho e transferida aos jesuítas como colégio
em meados do século XVI.
O Curso Maior e a parte final dos estudos foram
realizados no Seminário Arquidiocesano da Paraíba Imaculada Conceição (SAPIC),
fundado em 4 de março de 1894 por Dom Adauto Aurélio de Miranda Henriques —
primeiro bispo e depois arcebispo da Paraíba. Na década de 1940 o SAPIC
funcionava no histórico Convento de Santo Antônio que junto com Igreja de São
Francisco formam um dos mais importantes complexos barrocos do país concluído
em 1770.
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Convento de Santo Antônio e Igreja de São Francisco em João Pessoa/PB |
Aos 10 de abril de 1944 em missa celebrada pelo
bispo D. Adalberto Sobral na Catedral de Santa Águeda foi conferida ao
seminarista José França de Oliveira a ordem da 1ª Tonsura que consistia no
corte de alguns fios de cabelo em forma de cruz e o uso da batina para
simbolizar o abandono do mundo e a consagração a Deus. Após este primeiro rito
o seminarista passava a ser chamado de clérigo.
Em 19 de novembro de 1944 o clérigo José França de
Oliveira recebeu as primeiras ordens menores chamadas de Ostiariato e Leitorato
na Igreja Catedral de Nossa Senhora das Neves em João Pessoa/PB em missa
celebrada por D. Moisés Coelho, Arcebispo Metropolitano da Paraíba. Essas
ordens eram chamadas menores por serem passos preparatórios na caminhada rumo
ao sacerdócio e cujas funções eram a seguinte: o Ostiário tinha a responsabilidade
de zelar pela casa de Deus, abrir e fechar a igreja, manter ordem durante as
celebrações; e ao Leitor cabia fazer a leitura das Sagradas Escrituras
(exceto o Evangelho) nas celebrações litúrgicas e instruir os fiéis e
catecúmenos.
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Catedral de Nossa Senhora das Neves em João Pessoa/PB. |
Em 7 de março de 1946 recebeu as duas últimas
ordens menores: Exorcistato e Acolitato na Capela do Seminário Arquidiocesano
da Paraíba Imaculada Conceição (SAPIC) em missa celebrada por D. Moisés Coelho.
Como exorcista podia rezar orações para libertação dos fiéis, especialmente
catecúmenos. Por sua vez, como acólito, cabia às funções de servir ao
altar, portar velas, preparar vinho e água, e auxiliar nas funções litúrgicas.
Em 27 de outubro de 1946, durante a Festa de Cristo
Rei na Capela do Seminário Arquidiocesano da Paraíba Imaculada Conceição
(SAPIC) pela imposição das mãos do arcebispo D. Moisés Coelho recebeu a
sua primeira ordem maior: o Subdiaconato, na qual eram impostas as
obrigações definitivas do celibato perpétuo e da recitação do Ofício Divino.
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Dom Moisés Sizenando Coelho (1877-1959) Arcebispo da Paraíba. |
Em 1⁰ de dezembro de 1946 foi ordenado Diácono na
Igreja Catedral de Nossa Senhora das Neves em missa celebrada pelo arcebispo D.
Moisés Coelho. Neste momento foi conferido ao novo diácono o poder sacramental
para proclamar o Evangelho, pregar, batizar, assistir ao matrimônio e ministrar
a Eucaristia (sem consagrar). Como vestes características o uso da dalmática e
da estola transversal.
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Matriz do Bom Jesus dos Remédios em Afogados da Ingazeira/PE |
Aos 29 de dezembro de 1946 após uma longa caminhada
preparatória foi ordenado Presbítero na Matriz do Bom Jesus dos Remédios em
Afogados da Ingazeira tendo recebido a consagração presbiteral do bispo D.
Adalberto Sobral como adiante podemos ler o registro em ata da Câmara
Eclesiástica de Pesqueira.
“Certifico
que no dia vinte e nove de dezembro de mil novecentos e quarenta e seis, S.Exa.
Revma. o Sr. Bispo Diocesano D. Adalberto Sobral, na missa que celebrou, por
ocasião do Congresso Eucarístico Sertanejo, na Matriz de Afogados da Ingazeira,
conferiu ao diácono José de França Oliveira, devidamente preparado, a Sagrada
Ordem do Presbiterato. E para constar como ainda para fins de direito, firmei o
presente termo. Câmara Eclesiástica de Pesqueira, 10 de fevereiro de 1947. Pe.
José Moreno de Santana - Secretário do Bispado”.
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Dom Adalberto Sobral, bispo de Pesqueira. |
O Pe. José França de Oliveira foi ordenado durante
o Congresso Eucarístico Sertanejo realizado no período de 28 de dezembro de
1946 a 1⁰ de janeiro de 1947. Idealizado pelo Vigário Pe. Luiz Madureira com a
aprovação do bispo D. Adalberto Sobral e o auxílio da comissão organizadora
formada além do próprio Vigário, pelo prefeito Jonas Veras e pelos senhores
José Correia de Siqueira, Helvécio Cézar Lima e Severino Pereira de Souza. Esse
Congresso cujo objetivo era a glorificação pública de Jesus Sacramentado reuniu
em Afogados da Ingazeira o clero de três regiões do sertão pernambucano: o São
Francisco, o Moxotó e o Pajeú.
A sua primeira missa foi celebrada no dia 1⁰ de
janeiro de 1947 na Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição em Alagoinha,
cidade berço da sua família. Vale salientar, que até a década de 1960 a festa
da padroeira Nossa Senhora da Conceição tinha o seu novenário de 23 a 31 de
dezembro com a procissão de encerramento das festividades no dia 1⁰ de janeiro,
o que se deduz que a primeira celebração eucarística do Padre França foi um
acontecimento jubiloso, pois a comunidade alagoinhense acolhia o primeiro sacerdote
filho da terra nas celebrações da sua gloriosa padroeira.
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Matriz de Nossa Senhora da Conceição em Alagoinha/PE |
Virtuoso, culto e operoso exercia seu ministério
com humildade e caridade, merecendo o apreço e a estima das comunidades de
Pesqueira e Alagoinha. Por essa razão, mesmo com pouco tempo de sacerdócio foi
secretário do Bispado de Pesqueira, Vice-reitor e professor do Seminário São
José de Pesqueira e do Colégio Cristo Rei, Capelão do Colégio Santa Dorotéia,
Capelão da Igreja São Sebastião de Pesqueira e Diretor da Juventude
Operária Cristã (JOC).
A fundação de uma escola
Padre
França assim como bom sacerdote tinha a vocação da catequese que ensina para a
formação cristã e humana, por isso, não foi apenas padre, mas também professor,
dada a sua paixão pela educação.
Como
Capelão da Igreja de São Sebastião fundou uma escola primária no bairro,
provavelmente entre os anos de 1947 ou 1948 e que depois recebeu seu nome tendo
funcionado até pelo menos 1966. Em ata da Câmara de Vereadores de 16/05/1951,
consta um requerimento do vereador Félix Alves Maciel solicitando iluminação
pública para a rua onde estava localizada a escola.
"Ata
da 7ª reunião da 2ª sessão ordinária do corrente, da 1ª legislatura, realizada
no dia 16 de maio de 1951, sob a presidência do senhor Manuel Tenório de Brito.
[...] Do expediente constou o seguinte: requerimento n. 9/51, do vereador Félix
Alves Maciel solicitando do prefeito iluminação pública para a Rua do Salgado e
uma outra onde fica localizada a Escola “Padre França” nesta cidade [...]”
A Escola Padre França constava na lista das
instituições pernambucanas que recebiam subvenção do Ministério da Educação
pagas pela Delegacia Fiscal nos orçamentos de 1954, 1955, 1956 e 1961
foram pagos o valor de 3 mil cruzeiros por ano para ajudar na manutenção da escola.
De acordo com as nomeações do Diário Oficial do
Estado, pudemos localizar as seguintes professoras: Maria Ady de Freitas
Valença (a primeira), Marina Mota de Avelar Alchorne, Maria Eutália Rocha,
Maria de Lourdes Pereira Gonçalves e Maria Lúcia de Andrade Freitas.
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A seta indica a Escola Padre França. |
Em fotografia que mostra o Bairro de São Sebastião
no início da década de 1950 - estimativa feita em razão da Rua Barão de Cimbres
não está pavimentada, sendo que o calçamento iniciou em janeiro de 1954 na
gestão do prefeito Laércio Valença - é possível ver que Escola Padre França
estava localizada no espaço onde se encontra a praça, sendo demolida quando foi
construído o logradouro público que presta uma justa homenagem ao fundador da
escola.
O jornal
Padre França atuou também como colaborador do
jornal O Ideal, órgão mensal católico criado em 8 de dezembro de 1947, formato
de 25 x 19, com quatro páginas de quatro colunas, impresso pela Oficina Gráfica
Diocesana.
O Ideal tinha como subtítulo: “Todos Sejam Um Nas
Chagas de Cristo” e como lema: "Não é um jornal. É uma chama. É a chama de
uma vocação. É a chama de um ideal." A sua direção era composta pelo Pe.
Olímpio Torres (Assistente Eclesiástico), José Rabelo e Vicente de Alencar
(redatores) e José Goiana (gerente).
De acordo com Wilson (1980, p. 405) e Nascimento
(2002, p. 540-541) foram colaboradores do jornal além do Padre França os
seguintes religiosos: Pe. Faustino, Pe. Olímpio Tôrres ( com o pseudônimo de R.
de Spínola), Pe. Xisto, Pe. Augusto Carvalho, Pe. Luiz G. de Oliveira, Pe.
Honório Rocha, Pe. José Aragão, Pe. Nivaldo Monte, Pe. Álvaro Negromonte,
Monsenhor Ascânio Brandão, Monsenhor Urbano de Carvalho, Cônego Santana e D.
Augusto Álvaro da Silva (com o pseudônimo de Carlos Neto); os Seminaristas
Guilherme Marinho de Andrade, A. Nascimento e Lenivaldo Aragão; e leigos J. C.
Amaral, Murilo Viana, Domingos de Albuquerque, Jaques Trindade, Murilo Távora,
Djalma de Andrade, Potiguar Matos, Antônio Holanda, Maria do Rosário Ferraz,
Timóteo de Alcântara, Luiz de Freitas, Dulce Cristina Galindo, Raimundo Estrela
e Cícero Galindo.
Com conteúdos doutrinários, religiosos e literários
voltados à Diocese tornou-se a partir de janeiro de 1952 no “órgão apostólico
do Seminário São José”, incluindo a Página dos Seminaristas, tendo aumentado o
formato para 32 x 24. O Ideal circulou de forma ininterrupta até novembro de
1954, quando encerrou as atividades.
Vale salientar que o primeiro jornal da Diocese de
Pesqueira foi o Era Nova nos anos de 1920/1922, retornando para uma 2ª fase a
partir de 1955 sucedendo O Ideal que segundo o editorial de despedida, foram
distribuídos mais de cem mil exemplares no Estado influenciando vocações para o
jornalismo e a poesia.
E foi justamente através dos recortes dos jornais
que acreditamos serem de A VOZ DE PESQUEIRA, FOLHA DE PESQUEIRA e O IDEAL,
periódicos que circulavam em 1949 e que constam nos arquivos da família
gentilmente cedidos por Jorival França. Embora estejam sem as datas e sem a
identificação a qual jornal cada recorte pertence, pensamos ser o mais
importante o acesso às informações referentes ao período da enfermidade, da
morte e das homenagens póstumas ao Padre França.
A enfermidade
Padre França no auge da sua juventude e com o
desejo de servir a Deus se dividia em muitos afazeres como professor,
colaborador de jornal, capelão e secretário do Bispado, mas acima de tudo, era
o sacerdote, que não media esforços para visitar os pobres e os enfermos para
levar os sacramentos e dar uma palavra de conforto.
E foi justamente no ofício de Capelão da Igreja de
São Sebastião, ao atender o chamado para ministrar os sacramentos da confissão
e da unção dos enfermos a um acamado vítima da febre tifoide que contraiu a
doença.
Inicialmente permaneceu no Seminário São José,
sendo depois levado para a residência do seu pai na antiga Praça Marquês do
Herval, onde atualmente está localizada as Óticas Diniz, em razão da gravidade
da doença.
Assim escreveu um jornal pesqueirense: “Pe. José
França. Ao redigirmos esta nota, o revdo. Pe. José França, secretário do
Bispado e nosso dileto amigo, acha-se com a saúde profundamente afetada.
Auguramos ao bom Deus possa esse bondoso e dedicado sacerdote resistir às investidas
da moléstia, recuperando a saúde.”
Foram mais de 30 dias acamado com as complicações
da febre tifoide, tendo recebido a assistência médica do Dr. Lídio Paraíba,
amigo da família e clínico da confiança do Padre França, que desde os 5 meses
de vida quando teve um grave problema de saúde que foi tratado por Dr. Lídio
sempre o procurava, inclusive, quando vinha de férias dos estudos para
descansar junto aos seus, era certa a visita ao clínico pesqueirense para
cuidar da sua saúde.
Mesmo com o sofrimento do corpo pelas terríveis
dores a cada visita do Dr. Lídio Paraíba não lhe faltava como escreveu seu pai:
“toda a esperança de vencer a moléstia estampada no sorriso que lhe aflorava
dos lábios, obedecia todas as prescrições.” Tudo foi feito pelo médico para
salvar a sua vida e por isso o agradecimento da família, nas palavras de
Francisco França: “Por tudo isto protestamos a nossa imorredoura gratidão e ao
mesmo tempo manifestamos ao grande médico pesqueirense os nossos mais sinceros
agradecimentos”.
Enquanto estava no leito de dor estiveram ao lado
do Padre França além dos seus familiares, pessoas que o visitaram, pernoitaram
e auxiliaram no tratamento: representando o clero diocesano D. Adelmo Machado,
Pe. Olímpio Torres, Pe. José Noval de Oliveira, Pe. João de Souza Lima, Pe.
Augusto de Carvalho e o Monsenhor João Pires; os médicos Dr. Jenecy
Ramos, Dr. Carlito Didier Pitta e Dr. Walter Didier; o prefeito Ésio Araújo; os
senhores Petronilo Queiroz, José Tenório, Paulo Brito, Clovis de Freitas e Pedro
Acioly; a senhora Ana Leite; a senhorita Eliza Carvalho e os seus ´padrinhos
José de Almeida Maciel e Florinda de Almeida Maciel.
A febre tifoide que acometeu o Padre França é uma
infecção bacteriana causada pela Salmonella enterica sorotipo Typhi, e
os seus sintomas podem variar em intensidade e evoluir ao longo dos dias. De
forma resumida o enfermo na fase inicial (1ª semana) tem febre persistente,
mal-estar geral, fadiga e fraqueza, dor de cabeça (cefaleia), dores no corpo
(mialgia), tosse seca, falta de apetite e desconforto abdominal. Na fase
intermediária (2ª a 3ª semana): febre alta contínua (acima de 39ºC), distensão
abdominal, diarreia ou, em alguns casos, prisão de ventre, manchas róseas no
tronco (erupções discretas), hepatoesplenomegalia (aumento do fígado e do
baço), delírios ou confusão mental (em casos mais graves), e bradicardia
relativa (pulso mais lento que o esperado para a febre).
Como se pode ver é uma doença muito agressiva que
evolui para quadros graves, o que certamente ocorreu com o Padre França e,
principalmente, se levarmos em consideração que a medicina na época não
dispunha de tantos meios como na atualidade.
A páscoa
O
padre José França de Oliveira após uma luta hercúlea contra a enfermidade
entregou a sua alma a Deus às 22 horas da sexta-feira dia 18 de março de 1949,
tendo como causas mortis miocardite - inflamação do miocárdio provocada
pela presença da bactéria causadora da febre tifoide - atestada pelo Dr.
Lídio Paraíba.
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Trecho da nota de falecimento em jornal da época. |
Algumas
notas de jornais dão a ideia da grande consternação e pesar pela sua páscoa
definitiva destacando a tristeza da repercussão pelo falecimento do Padre
França aos 30 anos de idade e com pouco mais de dois anos de ministério
sacerdotal. Em uma delas dizia: “Sacerdote ainda muito moço, dotado de um
espírito de positiva vocação para o ministério de Deus, o padre José França era
bem uma esperança do clero pesqueirense”. A outra nota transcrevia uma mensagem
vinda do Maranhão cujo teor era o seguinte:
“Padre
França. A 21 de Março, às 7:10 da noite, a ‘Rádio Ribamar’, do Maranhão,
enviava à Pesqueira a seguinte mensagem de pêsames: Alô, Pesqueira! Unidos ao
eminente coração sacerdotal do Exmo. e Revmo. Sr. Arcebispo Metropolitano D.
Adalberto Sobral, bem como ao do Exmo. e Revmo. Sr. D. Adelmo Machado, dd.
Bispo de Pesqueira, todos os habitantes do Palácio Cristo Rei de S. Luiz do
Maranhão manifestam à mesma diocese de Pesqueira e à família enlutada os seus
sentimentos de pesar pelo prematuro falecimento do sempre lembrado, douto e virtuoso
Pe. José França de Oliveira. Sempre bendizendo a soberana vontade de Deus,
pedimos ao mesmo Senhor que, nesta hora, já tenha feito ouvir ao saudoso Padre
França o doce e felicíssimo convite que dirigiu aos seus eleitos: Muito bem,
servo bom e fiel! Já que foste fiel no pouco, constituir-te-ei sobre o muito.
Entra no gozo do teu Senhor (Mt. 25, 21).”
O
seu corpo foi conduzido à Catedral de Santa Águeda acompanhado por inúmeras
pessoas, inclusive pela banda musical 11 de Setembro. Na Igreja Mãe da Diocese
de Pesqueira foi presidida pelo Bispo D. Adelmo Machado e concelebrada pelo
clero diocesano a solene liturgia das exéquias e daí partiu o cortejo fúnebre
para ser sepultado no cemitério de Alagoinha no jazigo perpétuo da família,
onde também mereceu inúmeras homenagens com grandes demonstrações de
pesar.
A
Câmara de Vereadores por proposição do edil Genésio de Oliveira Rosas aprovou
um voto de pesar na sessão de 23 de março de 1949, ei-lo:
“Aos
vinte e três (23) dias do mês de março de mil novecentos e quarenta e nove
(1949), à hora regimental, presentes os vereadores Félix Alves Maciel, Epifânio
Vasconcelos e Silva, Tito Vanderlei, Luiz Clóvis de Freitas, Luiz Ferreira da
Rocha, José Basílio de Oliveira e Genésio, na ausência do senhor Manuel Tenório
de Brito, assumiu a presidência o senhor Félix Alves Maciel, na qualidade de
vice-presidente, que declarou aberta a sessão. Deixaram de comparecer os
vereadores Manuel Tenório de Brito, por motivo de doença, Laurentino Ventura
Caraciolo e Enedino de Freitas Mendonça. O presidente convidou o senhor Luiz
Ferreira da Rocha para servir de segundo secretário, compareceu o senhor
Laurentino Ventura Caraciolo. [...] Usou da palavra o senhor Genésio Rosas que
se reportou ao falecimento e à personalidade do padre José França de Oliveira,
requerendo que da ata ficasse constando uma nota de pesar e que a Câmara
telegrafasse à família do extinto, e ao exmo. Senhor bispo diocesano
apresentando condolências.”
A missa de 7º dia em sufrágio da sua alma foi
celebrada às 7 horas da quinta-feira, 24 de março de 1949 na Catedral de Santa
Águeda sendo presidida por D. Adelmo Machado com a presença do clero diocesano,
familiares, amigos e pessoas em geral que desejavam prestar a sua solidariedade
cristã. Também foram celebradas missas em intenção do Padre França na Matriz de
Alagoinha no mesmo dia, às 8 horas.
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Convite da missa de 30º dia. |
As
missas de 30º dia foram celebradas na Catedral de Santa Águeda e na Matriz de
Alagoinha as 7 e 8 horas, respectivamente, na segunda-feira, 18 de abril de
1949, ambas contaram com grande número de pessoas. Em nota de jornal assim
agradeceu a família: “Francisco França de Oliveira e família, Antônio França de
Oliveira e família, Libério França de Oliveira e família, Edson Simões Galindo
e família, agradecem penhorados a todas as pessoas que lhes confortaram no
doloroso transe por que acabam de passar quer pessoalmente, quer por meio de
cartões e telegramas, e aos que auxiliaram durante todo o período da doença,
assim como aos que compareceram ao sepultamento e missa de 7º dia do seu
inesquecível filho, irmão, cunhado e tio, Pe. JOSÉ FRANÇA DE OLIVEIRA.”
Assim
como exemplifica a passagem bíblica do Livro da Sabedoria 4,13: “Consumatus
in brevi, explevit tempora multa". Cuja tradução é: “Consumado
em pouco tempo, cumpriu longos tempos" é um exemplo da caminhada
terrena do Padre França cuja vida embora tenha sido curta, cumpriu com justiça
a sua missão diante de Deus, mostrando que o valor da vida não está em sua
duração, mas em sua plenitude espiritual e moral.
Como bem estava escrito no santinho memorial da
missa de 7º dia: “Padre França era uma alma de Apóstolo. Deus o quer no céu
para que exerça o Apostolado da caridade, rezando e intercedendo junto do Cordeiro
Imaculado pelos sacerdotes e fiéis da Diocese de Pesqueira.”
Padre José França de Oliveira foi um exemplo de
sacerdote por todas as suas virtudes, viveu da FÉ, morreu na ESPERANÇA e
ressuscitará na CARIDADE (cf. 1Cor 13,13), uma vez que experimentou o martírio
por não se negar no exercício do seu ministério a ministrar os sacramentos a um
enfermo, tal qual a Jesus Cristo que ensinou que não há amor maior do que doar
a vida pelos irmãos (cf. João 15,13).
E o caminho da entrega, do sacrifício e do amor
cristão foram vividos integralmente pelo Padre França, cujos restos mortais
repousam na Matriz de Alagoinha depois de terem sido transladados do cemitério.
Editoriais
Os recortes de jornais pesqueirenses a que
tive acesso trazem três editoriais com palavras carregadas de afeto,
reconhecimento das virtudes e pesar pela páscoa do Padre França, ei-los:
A morte de Pe. França
Ontem à noite através do rádio, vim, a
saber, da morte do Pe. França. Fui tomado de profunda comoção e tristeza imensa
ante a dolorosa ocorrência.
Morrera justamente no dia em que se
completavam 26 anos que eu, ainda muito criança, perdia o meu próprio pai.
Todavia, pela tenra idade, nada me ficou do triste fato nem tão pouco o
sentira. Mas a vida futuramente me faria compreender o irreparável da perda e
quanto sentimos quando vemos tombar ao nosso lado aqueles a quem estimamos e
consagramos admiração. O primeiro brado que parte de nosso peito, num ímpeto de
animal ferido, é de revolta e protesto, contra a mísera e frágil contingência
humana. É em vão que buscamos na filosofia das coisas, explicação e
justificativa para domínio da dor que nos assalta. A voz e calor do sentimento
são mais fortes e eloquentes que a fria lógica do raciocínio. Os argumentos do
coração são às vezes mais poderosos e convincentes que as abstratas deduções da
razão. Eles nascem dentro de nós, fazem parte do nosso mundo e do nosso eu, são
vibrações do nosso próprio ser. Se não fora o sentimento cristão ajudando-nos a
compreender a realidade da existência, cairíamos por certo nas malhas do
desespero e não saberíamos compreender a sublimidade do sacrifício…
Morreu o Pe. França. Vestiu-se de crepe
a diocese de Pesqueira. Gemeram os sinos e espalharam sobre a cidade as
plangentes notas do grande luto. Não mais palpita aquele coração
verdadeiramente sacerdotal, simples e bondoso, desprovido de orgulho e vaidade,
presunção e aspirações. Fecharam-se lhe os olhos. Quebraram-se paralisados os
seus lábios, não mais deixando cair sobre as abertas feridas o suave bálsamo da
palavra divina. As mãos imóveis já não poderão apontar o alto, abençoar, unir,
perdoar os irmãos que porventura tenham caído. Sua alma num justo prêmio de
suas virtudes voou para os céus e o seu corpo desceu à laje do túmulo. De
silêncio e solidão de sua campa deserta e fria, orvalhada de lágrimas e
saudades, continuará a sua grande pregação, a maior de todas as pregações, a
pregação do exemplo!
Receba, pois, Deus, na oblação deste
levita, a oferenda do sacrifício das últimas refulgências de sua juventude, a
imolação de uma vida sacrificada em meios de esperanças de um longo e fecundo
apostolado…
Recife, 21/3/1949.
José Foerster.
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Lembranças sobre o Pe. França
Num misto de humildade e timidez que
caracterizam bem as pessoas menos orgulhosas, despidas de vaidade — passava o
Padre França pelas calçadas de Pesqueira para visitar os manos que estudam
ainda... Manso, calmo e sem alterar o passo, caminhava, olhando rara e
furtivamente as coisas…
Operário na oficina de Deus, o seu zelo
na grande fábrica da fé — que é a Igreja Católica — era inconteste. Porque
vivia, desde a infância, uma vida de bondade que o destino lhe presenteou.
Filho dileto e irmão de uma
fraternidade quase infantil, despediu-se do convívio dos seus para entrar nas
glórias do Sacerdócio. E a Igreja — a grande Mãe — chora, agora, a perda de um
amantíssimo filho e grande batalhador…
× × ×
Finou-se o Pe. França... Não mais ele,
aqui, na terra, poderá conquistar almas e multiplicar a fé.
Trago-o, ainda, em meus olhos, a sua
figura mansa, caminhando sem alterar o passo, olhando rara e furtivamente as
coisas.
Hoje ele não pode, em presença aqui na
terra, conquistar mais almas.
Deus não quis.
Mas... no Céu, com as suas incessantes
preces, o proveito é bem melhor.
× × ×
E, durante o percurso no seu enterramento,
refletindo eu nas coisas da vida, nos seus infinitos mistérios, lembrei-me dos
sábios ensinamentos de Landelino Rocha, palavras da minha meninice que, através
dos lábios de minha mãe, a Carta de Abecê me disse:
“Deus só quer quem faz bem. Eu não hei
de ser mau. É bem bom crer em Deus...”
Deus chamou tão cedo o Pe. França
porque ele era bom: Palmilhava o Caminho, acreditava na Verdade e habitava a
Vida cristã.
Pio Jardim.
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Ainda Saudade
Um combate de mágoas e tormentos, uma
luta sombria e inesperada que veio trespassar invencivelmente o nosso coração,
podemos dizer, sem nenhuma dúvida, que foi a morte do Pe. França. E a saudade
está sempre furando, de lado a lado, o nosso coração. Em vez dos tempos
d’agora, vivíamos mais satisfeitos porque estávamos perante um pai educador,
gozando mais alegria perante o nosso digníssimo vice-reitor.
Nós o comparávamos com um pai porque
tinha seu semblante sempre risonho, suas palavras sempre encantadoras, seu modo
de proceder sempre elegante e seu coração sempre cheio de humanidade. Mas
agora... Nenhuma palavra, nenhum gesto e nenhum encanto; só nos resta saudade:
Só em nos lembrar de tantas vezes que o nosso padre, cansado e lavado de suor,
com a secretária sob o seu corpo, saía ao meio dia apressadamente de moradia em
moradia dos pobres a pregar, confessar e dar a santa extrema unção, ficamos com
o nosso coração gemendo de confusão.
Cada um dos seminaristas que o conheceu
como vice-reitor, já sente desde aquele tempo o seu coração dorido em relembrar
mentalmente as alegrias de outrora. Só observando visualmente naquelas páginas
do santo evangelho tão verdadeiras e infalíveis palavras, é que podemos
consoladamente acreditar que o nosso padre morreu para se dar cumprida a santa
vontade de Deus.
Contudo isto ainda surge uma dor em
nosso coração, porque, quando morre um homem de idade avançada, já com sua face
invadida pelas rugas e com seus cabelos brancos como flocos de algodão, não é
tanto! Mas um homem forte, no decorrer da sua adolescência como era padre
França?!
É bem triste!
Pois ficamos agora esperando que, com
orações e sacrifícios dos nossos caros leitores e cooperadores, ordene-se do
Seminário de Pesqueira um padre que lhe seja semelhante.
Novembro - 1949
Geraldo F. Silva
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A
escolha da transcrição integral dos editoriais se justifica pelo valor desses
textos tão bem escritos por José Foerster, Pio Jardim e Geraldo F. Silva,
profundamente emocionados e ricos em sentimento — cada um oferecendo uma
perspectiva singular sobre o Pe. José França de Oliveira, sua espiritualidade e
exemplo de vida.
As homenagens póstumas
Imediatamente
após a sua morte, o prefeito de Alagoinha, sr. Austriclinio Galindo como
homenagem póstuma nomeou a principal artéria do distrito de Perpétuo Socorro de
Avenida Padre José França.
Na sua terra passou também a denominar a
Biblioteca do Grupo Escolar Gonçalo Antunes Bezerra inaugurada em 24 de março
de 1953, conforme noticiou o Diário de Pernambuco em 03/04/1953:
“BIBLIOTECA
PADRE JOSÉ FRANÇA: Como havia sido programado, realizou-se, no dia 24 deste, no
Grupo Escolar Gonçalo Antunes Bezerra, a inauguração de sua biblioteca, que
tomou o nome do saudoso Padre José França, e também a fundação da Caixa Escolar
desse educandário. Ao ato, entre outros, compareceram os srs. etc. Dorival de
Oliveira Galindo, delegado do ensino neste município; os vereadores Raul de
Oliveira Galindo e Sobrinho e Manoel Francisco Barbosa, aquele representando o
sr. Anacleto Inácio de Oliveira, prefeito municipal; o delegado de polícia
Arlindo Sistélos de Lira, Hercílio Torres Barbosa, agente de Estatística,
Nelson Cordeiro de Souza; José de Farias Lins; às professoras municipais: Luiza
Lima e Luzia Antunes; o corpo docente, representado pelas professoras: Maria do
Carmo Simões Galindo, diretora do Grupo Escolar, Maria de Lourdes Galindo Dulce
Cristina, Cornélia Silva, Maria do Carmo Bezerra Galindo e o corpo discente
deste Grupo, composto de 180 alunos de ambos os sexos. Presidiu a sessão o
delegado de Ensino. Após, falou a professora Maria do Carmo Simões, dizendo da
finalidade da Caixa e da biblioteca. Finalizando, falou a professora Dulce
Cristina. Fundada a Caixa Escolar, transportaram-se todos para a sala onde
ficou instalada a Biblioteca. Chegado ali o delegado do Ensino cortou uma fita
simbólica, dando-a por inaugurada.”
Ainda
em Alagoinha recebeu como homenagem a denominação do cemitério da cidade cujo
projeto foi aprovado por unanimidade em 27/11/2001:
“PROJETO
DE LEI Nº 004/2001
EMENTA:
Denomina o nome do Cemitério da cidade de Alagoinha-PE e dá outras
providências.
Art. 1º
– Passará a denominar-se "Padre José França" o Cemitério desta
cidade, localizado na Rua Capitão Neco Galindo, nesta cidade.
Art. 2º
– O presente Projeto de Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Art. 3º
– Revogam-se as disposições em contrário.
[...] Sala
das Sessões, em 19 de novembro de 2001.
José
Silvestre Galindo Filho - Vereador
(Autor).”
Em Pesqueira, a primeira homenagem que temos
notícia foi a denominação da Escola Padre França que fora por ele fundada. E
que na década de 1960 passou a fazer parte do Instituto de Educação Padre
França com sede na Praça Jurandir de Brito, n⁰ 110, no antigo galpão onde
funcionou o Cinema Santa Cruz e que na atualidade é a Loja Narcizo Colchões,
fundado em 18 de janeiro de 1963 pelas irmãs: Maria José Inojosa França
(Diretora), Maria da Assunção Inojosa de Oliveira (Secretária) e Marinete
Inojosa França (Tesoureira).
De acordo com o Estatuto do Instituto de Educação
Padre França o seu objetivo seria oferecer cursos de Jardim da Infância,
Primário e Admissão, sem restrição de número de alunos, gênero, cor, religião
ou nacionalidade, seguindo as normas oficiais de ensino, tendo como orientação
basilar que a educação seja pautada na doutrina e na moral cristã.
Outra lembrança para eternizar a memória do padre
se deu no Distrito de Papagaio criado pela Lei Municipal nº 67 de 4 de março de
1961. O vereador Antônio Soares de Macedo na sessão da Câmara de 16 de
fevereiro de 1956 apresentou o Projeto de Lei nº 8/1956 nomeando ruas do então
povoado de Papagaio da forma seguinte: Rua Padre França (principal artéria do
lugar), Rua Major Dode (Jorge Rodrigues Pereira de Freitas), Rua Constâncio
Duvoisin e Rua Manuel Alves de Assis. O projeto foi aprovado por unanimidade na
sessão de 22 de fevereiro de 1956.
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Placa que consta ao lado da praça. |
Na administração do prefeito José Walderique
Tenório (1973-1977) foi construída uma praça situada ao centro do triângulo
formado pelo entroncamento de vias importantes: Rua Henrique Dias, Rua Frei
Caneca e Rua Epaminondas de Melo e a ela foi dado o nome Praça Padre José
França por proposição de seu irmão, o vereador Libério França de Oliveira que
exerceu o mandato entre 1970 e 1973. Todavia, não logrei êxito de encontrar a
referida lei e nem a data da inauguração da nova praça, sendo objeto de artigo
futuro.
Além da construção da Praça Padre José França foi
feito durante o mandato de José Walderique Tenório o calçamento do seu entorno
e das artérias perpendiculares Rua Henrique Dias e Rua Epaminondas de Melo
complementando uma obra expressiva para melhorar a urbanização da cidade no que
tange ao fluxo de pessoas e veículos, assim como de possibilitar novos espaços
de convivência e lazer para os munícipes.
 |
Praça Padre José França. |
Decerto, fica o registro das muitas homenagens
póstumas como reconhecimento feito àquele que tanto fez como padre, professor e
jornalista para o bem do povo e para edificação do Reino de Deus.
Conclusão
A morte prematura do Pe. José França de Oliveira
tocou profundamente todos aqueles que com ele conviveram — familiares, amigos,
seminaristas, fiéis e companheiros de ministério. Em cada testemunho aqui
registrado, transparece a grandeza de uma vida marcada pela humildade, pela
dedicação pastoral e por um amor incondicional à missão sacerdotal.
Sua juventude não foi obstáculo, mas testemunho;
sua breve caminhada neste mundo foi longa em frutos e memorável em virtudes.
Ficam a saudade, a inspiração e o apelo silencioso de sua memória: que
continuemos, cada um à sua maneira, a obra da fé, da esperança e da caridade
que ele viveu com tanta verdade.
 |
Santinho Memorial da Missa de 7º dia. |
Como bem estava escrito no seu santinho memorial da
missa de 7º dia: “Na juventude dos anos sacerdotais — na maturidade de uma alma
em zelo abrasada pela glória do Senhor das misericórdias, espera o galardão
sempiterno por suas múltiplas canseiras em prol do BEM e da VERDADE. Paz à sua
alma.”
Que o exemplo de Padre França, como bem disseram
aqueles que o conheceram, continue como a maior de todas as pregações — a
pregação do exemplo. E que não pode ser esquecido, por isso, nosso esforço com
a valorosa contribuição do seu irmão Jorival França de Oliveira, dos padres
Eduardo Valença e Fábio Pereira - digníssimos sacerdotes da Diocese de
Pesqueira e admiradores da história do Padre França. Sem a colaboração dos
mesmos dificilmente poderíamos escrever estas laudas em homenagem a sua memória
para que ela permaneça viva.
Por fim, a nossa oração pela alma deste servo de
Cristo - Mártir da Confissão e Apóstolo da Caridade.
“Nós Vos pedimos, Senhor, que a alma de
vosso servo Pe. José França de Oliveira, possa compartilhar da sorte de vossos
Santos e Eleitos, e mereça receber de Vós, o orvalho perene de vossa
misericórdia.Por Nosso Senhor Jesus Cristo. Amém!”
Descanse em Deus Pe. José França de Oliveira.
Por Fábio Menino de Oliveira
Referências Bibliográficas
ALAGOINHA. Câmara Municipal de
Vereadores. Projeto de Lei nº 004/2001. Denomina o nome do Cemitério da cidade
de Alagoinha-PE e dá outras providências. Alagoinha, PE: Câmara Municipal de
Vereadores, 27 nov. 2001.
CÂMARA MUNICIPAL DE PESQUEIRA. Ata da
7ª reunião da 2ª sessão ordinária do corrente, da 1ª legislatura realizada no
dia 16 de maio de 1951. Arquivo da Câmara Municipal de Pesqueira, 1951.
_________________________________. Ata
da 12ª reunião da 1ª sessão ordinária (3ª legislatura) do corrente ano, realizada
no dia 16 de fevereiro de 1956. Arquivo da Câmara Municipal de Pesqueira, 1956.
_________________________________. Ata
da 3ª reunião da 1ª sessão ordinária (3ª legislatura) do corrente ano,
realizada no dia 22 de fevereiro de 1956. Arquivo da Câmara Municipal de
Pesqueira, 1956.
COSTA FILHO, Adilson. Festividades
natalinas: tradição e identidade cultural com a cara do Nordeste. Blog do
Adilson Costa Filho, 18 dez. 2021. Disponível em:
https://adilsoncostafilho.blogspot.com/2021/12/festividades-natalinas-tradicao-e.html.
Acesso em: 26 jun. 2025.
DIÁRIO DE PERNAMBUCO - edições de
03/04/1953; 1⁰/01/1954; 19/12/1954; 30/12/1955; e 25/5/1960.
DIÁRIO OFICIAL DO ESTADO - edições de
21/07/1959; 27/02/1960; 12/03/1960; 13/09/1960; 17/02/1961; 20/07/1963; e
24/03/1966.
NASCIMENTO, Luiz do. História da
Imprensa de Pernambuco (1821-1954). Vol. XIII – Municípios das letras L a P.
Reconstituição dos originais por Geraldo Cavalcanti; coordenação editorial de
Eleny Pinto da Silveira. Recife: Ed. Universitária da UFPE, 2002.
WILSON, Luís. Ararobá, Lendária e
Eterna. CEPE/Pref. de Pesqueira. Recife: 1980.