domingo, 28 de maio de 2017

SEMINÁRIO SÃO JOSÉ: NOTAS PARA SUA HISTÓRIA

Seminário São José, inaugurado em 02/04/1940.
Foto retirada da página no facebook de Gilmar Farias.
Antes de começar a expor dados a respeito da fundação do Seminário São José na cidade de Pesqueira é necessário mencionar que antes dele foi instituído em abril de 1929 o Seminário e Colégio Diocesano pelo primeiro Bispo da Diocese de Pesqueira, Dom José de Oliveira Lopes.

Funcionava a instituição como seminário para formação de sacerdotes e ao mesmo tempo como escola para 50 alunos do sexo masculino que estavam matriculados no curso secundário, ou seja, este primeiro seminário tinha dupla função e foi instalado no antigo palacete de Antônio Didier (fundador da Fábrica Rosa com o seu irmão comendador José Didier), que atualmente é a sede da prefeitura municipal.

Quanto ao Seminário São José, ao que consta o mesmo foi fundado pelo segundo Bispo da Diocese de Pesqueira, Dom Adalberto Sobral, sendo inaugurado em 02 de abril de 1940 e instalado no antigo Colégio Cardeal Arcoverde (sobrado ao lado da atual Câmara de Vereadores de Pesqueira) que foi adaptado para receber o seminário.
Seminário e Colégio Diocesano instalado por D. José Lopes
em 1929, conforme inscrição na fachada.
 Foto: Blog do Iba Mendes.

Sobre esta inauguração, uma reportagem intitulada: Em Pesqueira. A inauguração, ontem, do Seminário S. José, publicada no Jornal Pequeno (de 03/04/1940) traz algumas informações como por exemplo, antes da inauguração houve uma hora santa na catedral de Santa Águeda, a seguir às 8 horas e 30 minutos da manhã, Dom Adalberto Sobral celebrou missa na capela do novo seminário e por provisão do bispo foi nomeado Reitor o padre Luiz Madureira, que se formou no seminário de São Leopoldo no Rio Grande do Sul e veio servir na diocese pesqueirense.

O Seminário São José funcionaria neste local por 7 anos, quando por iniciativa de Dom Adalberto Sobral foi construído um novo prédio para o seminário, localizado ao sopé da serra do Ororubá, nas proximidades do lugar onde outrora existira o poço que possivelmente dera origem ao nome da nossa Pesqueira.

Manchete do Jornal Pequeno de 10/06/1940.
Baseado em informações contidas na reportagem intitulada: Inaugurado, hoje, o Seminário de Pesqueira, noticiada no Jornal Pequeno (de 10/06/1947), é possível saber que a planta do prédio foi feita pelo padre Hermano Hansen e a construção ficou a cargo do engenheiro civil J. B. Tony. Houve grande colaboração da sociedade pesqueirense, principalmente, da firma Carlos de Brito & Cia., que na pessoa do seu superintendente, o comendador Manoel Caetano de Brito doou material de construção e a vultosa soma de Cr$ 200.000,00 (duzentos mil cruzeiros).

Cabe registrar que à 21 de fevereiro de 1947, Dom Adalberto Sobral fora nomeado Arcebispo da Arquidiocese de São Luís do Maranhão em substituição a Dom Carlos Carmelo que tornara-se arcebispo de São Paulo, no entanto, continuou respondendo pela Diocese de Pesqueira, justamente para concluir a sua última obra a frente da diocese que foi o Seminário São José.

Em carta pastoral de 25 de maio de 1947 enviada ao clero e aos fiéis de sua diocese no Dia de Pentecostes, Dom Adalberto convoca a todos para se fazerem presentes ao ato inaugural do novo Seminário São José a se realizar na terça-feira, 10 de junho de 1947, dia consagrado a celebração de Corpus Christi. Num trecho desta carta, assim escreveu o bispo:

[…] Está pronto e apto para funcionar do modo mais perfeito, o nosso grande prédio em que todos encontram certo encantamento e de que muitos não podem esconder a admiração. Vemos, pois, coroados os nossos esforços a par de tantos trabalhos e preocupações, inaugurando este Seminário que é uma visível benção de Deus à Diocese de Pesqueira […] Reunamo-nos todos, no próximo dia 10 de junho, Pastor e amadíssimos Padres e fiéis, na mimosa Capelinha do novo Seminário, para render graças a Deus por mais este beneficio a caríssima gente pesqueirense. E que o bronze maciço dos interessantes sinos postados no alto do lindo campanário encha perenemente as quebradas da Serra, com harmoniosos sons, que conduzam o grito de nossa alma agradecida ao Senhor. “TE DEUM LAUDAMOS” - A TI LOUVAMOS, Ó DEUS. […]

Foto retirada daopagina do facebook de Gilmar, s/d.
Para o início de suas atividades o novo seminário contava com um patrimônio de Cr$ 500.000,00 (quinhentos mil cruzeiros), além de 03 casas e numerosas cabeças de gado. Sobre a inauguração é importante registrar o trecho de um artigo contido no site da Diocese de Pesqueira:

O Seminário São José foi inaugurado no dia 10 de Junho de 1947 às 10 horas pelo Bispo Dom Adalberto Acciole Sobral trazendo à Cidade de Pesqueira grande alegria, essa expressada nas ruas ao som de bacamartes e banda de música.[…] Por volta das 6 horas e 30 minutos, foi celebrada a primeira Missa na Capela do Seminário, tendo em vista que a mesma foi realizada após a bênção litúrgica. Diante da multidão que na frente do edifício estavam quando o Exmo. Sr. Bispo chegou, ouviu-se na cidade o toque dos sinos, as sirenes das fábricas, a queima de fogos e para abrilhantar o momento de júbilo viu-se cair do céu pétalas de rosas soltadas pelo avião “Pesqueira”. Na presença de todas as autoridades e dos ilustres cidadãos entre eles comerciantes e donos de fábricas e todo o clero, foi cortada a fita inaugural à entrada do edifício pelo Cônego Carlos Bacelar (Arquidiocese de São Luis do Maranhão) seguida da bênção e fixação do retrato do Bispo no salão nobre do mesmo. Proferido os discursos, Dom Adalberto leu em Italiano e traduzindo o telegrama do Papa Pio XII congratulando-se com o Bispo, clero e seminaristas ficando assim solenemente inaugurado o Seminário Menor da Diocese de Pesqueira.
Seminário São José, 2017. Foto do site da Diocese de Pesqueira
Assim sendo, no próximo dia 10 de junho de 2017 o Seminário São José completa 70 anos da inauguração do seu atual prédio, onde o mesmo possui uma arquitetura com linhas sóbrias e marcantes, servindo a comunidade diocesana na formação sacerdotal e educacional.

D.Adalberto Sobral a espera do trem na Estação
Central do Recife. Foto Jornal Pequeno de
14/08/1934.
Ao final deste artigo aproveito para escrever um pouco sobre o idealizador do Seminário São José - DOM ADALBERTO ACCIOLE SOBRAL (Engenho São João-SE, 02/08/1887 – Aracaju-SE, 25/05/1951). Ordenado sacerdote em 12/11/1911, celebrou sua 1ª missa em 21/11/1911. Exerceu várias funções na Diocese de Aracaju/SE, sendo eleito Bispo da Diocese da Barra/BA em 11/04/1927, sucedendo Dom Augusto Álvaro da Silva. Foi eleito para ser o 2º Bispo da Diocese de Pesqueira, tendo sucedido Dom José de Oliveira Lopes. Assumiu a Diocese em 15 de agosto de 1934 nela permanecendo até agosto de 1947. No período de 1947 a 1951 foi Arcebispo da Arquidiocese de São Luís/MA.
D. Adalberto Sobral em 1936.
Foto Diário da Manhã.


Dentre as muitas obras do bispado de D. Adalberto Sobral vale destacar não só a construção do seminário mas, o lado educacional onde foi implantado a equiparação dos Colégios Santa Doroteia e Cristo Rei, permitindo o ingresso de jovens pobres com bolsas de estudo e o lado da assistência social, foi construído o Dispensário dos Pobres e organizados o Círculo Operário e um núcleo da Ação Católica.

Muito por conta de seu trabalho a frente das dioceses da Barra e de Pesqueira é que obteve o reconhecimento da Santa Sé e foi nomeado Arcebispo de São Luís foi, sem dúvida, um grande pastor na igreja e deixou sua marca na nossa amada Pesqueira coma concepção e edificação do profícuo Seminário São José.




Por Fábio Menino de Oliveira.




Referências


DIÁRIO DA MANHÃ, Recife, quarta-feira, 10/04/1929, ano II, nº 608, p. 1.
________________, Recife, quinta-feira, 12/11/1936, ano X, nº 2871, p. 12.
________________, Recife, quinta-feira, 06/03/1947, ano XX, nº 4639, p. 12.
________________, Recife, quarta-feira, 12/08/1947, ano XX, nº 4831, p. 1.

JORNAL PEQUENO, Recife, quarta-feira, 03/04/1940, ano XLII, nº 76, p. 3.
_________________, Recife, quarta-feira, 05/03/1947, ano XLVIII, nº 52, p. 6.
_________________, Recife, quarta-feira, 04/06/1947, ano XLVIII, nº 124, p. 3.
_________________, Recife, terça-feira, 10/06/1947, ano XLVIII, nº 131, p. 1 e 3.

O SEMINÁRIO SÃO JOSÉ. Disponível em http://diocesedepesqueira.com.br/seminarios/seminario-sao-jose/. Acesso em 27/05/2017.

terça-feira, 18 de abril de 2017

GUARANY FUTEBOL CLUBE: O ALVIRRUBRO PESQUEIRENSE

Foto: Gilmar Farias
Fundado no início de 1924, o Guarany Futebol Clube é um clubes mais antigos a praticar futebol no município de Pesqueira-PE, antes dele existiam mais duas agremiações, sobre as quais mencionarei em artigo posterior.

Ao que consta o clube era alvirrubro, tendo nas camisas listas horizontais com as cores vermelho e branco, assim como usava os calções brancos.

Em matéria publicada no jornal A Província de 15/02/1925 é possível observar que em 01 ano de fundação a equipe pesqueirense ainda se mantinha invicta e sem sofrer gols, tendo disputado 01 partida oficial contra o Central Sport Club de Caruaru (resultado 0 x 0); 02 amistosos contra o Democrático Sport Club de Rio Branco, atual Arcoverde (resultados 2 x 0 e 0 x 0); e 02 amistosos contra estudantes que estavam em férias. Leia-se a referida reportagem:

FUTEBOLISMO. […] Pesqueira, 10 de fevereiro de 1925. O GUARANY, DE PESQUEIRA, E O CENTRAL DE CARUARU. Hoje dar-se-á mais um encontro do Guarany F. Club desta cidade com o Central S. Club Caruaruense, da próspera cidade de Caruaru. Este encontro tem despertado a sociedade pesqueirense pelo motivo de verem o valoroso Guarany bater-se com um dos clubes melhores do interior. O nosso quadro está bastante treinado e disposto a enfrentar o seu leal adversário, fazendo o possível para que a bandeira alvirrubra sempre tremule no alto da sua sede anunciando o valor dos seus filhos. O Guarany conta com um ano de fundação e ainda não foi derrotado, nem também a cidadela confiada ao intrépido Marçal foi vazada, pois que se bateu com o vice-campeão de Caruaru e o resultado foi 0 x 0. Depois de um jogo amistoso com o Democrático de Rio Branco (este estava enxertado com jogadores de liga) saiu vencedor o Guarany pelo score de 2 x 0 e depois em retorno conseguiu empatar, tendo dois jogos com estudantes em gozo de férias, o Guarany.

Foto: O Malho, 1925
Sobre esta partida entre Guarany e Central realizada em Pesqueira no dia 10 de fevereiro de 1925, localizamos uma fotografia na revista O Malho de 05/12/1925, onde consta a equipe caruaruense e diz na sua legenda que o resultado do jogo foi Guarany 1 x Central 1.

Nos anos de 1920 haveria outra famosa partida da equipe do Guarany contra o time do Tiro de Guerra 45 da cidade de Garanhuns-PE, tendo vindo uma carava garanhuense para Pesqueira em 25 de agosto de 1929, da qual faziam parte o Dr. Jonathas Costa (Juiz de Direito de Garanhuns e Presidente da delegação), Sr. Mário Lira (representando o Prefeito Euclydes Dourado), Hybernon Wanderley (jornalista e orador oficial), soldados do tiro de guerra e jogadores.

Manchete da reportagem de A PROVÍNCIA
em 14/09/1929
De acordo com a reportagem do jornal A Província de 14/09/1929, a delegação foi recebida pelos senhores Antônio Soares (Prefeito de Pesqueira), coronel Cândido de Brito (das Fábricas Peixe), Paulo de Oliveira (redator do Correio de Pesqueira), José Guimarães (presidente do Guarany) e Fernandes da Costa (orador oficial). Tendo sido hospedados no palacete de Cândido de Brito, onde almoçaram.

O jogo entre as agremiações de Pesqueira e Garanhuns se realizou às 16 horas do mesmo dia, onde a forte equipe do Guarany venceu por 4 x 2 numa boa exibição, segundo consta na reportagem. Após a partida, às 20 horas foi oferecido pela prefeitura pesqueirense um sarau dançante ao som do jazz-band para confraternização dos membros da caravana esportiva garanhuense. Isso revela uma época romântica do futebol, que transcendia a parte esportiva e atingia o social, era uma forma de convivência pacífica entre as cidades, um verdadeiro intercambio.

Manchete do Diário da Manhã de 01/09/1939.
Na década de 1930, o Guarany continua merecendo destaque nos jornais da capital pernambucana pois, foi o primeiro concorrente inscrito para participar do II Campeonato Intermunicipal de Futebol, organizado pela Federação Pernambucana de Desportos em 1937 (Diário da Manhã de 01/09/1937). Bem como, é noticiado que o Guarany venceu em Pesqueira no dia 19/04/1937 a equipe do Santa Cruz de Belo Jardim pelo placar de 2 x 1 (Diário de Pernambuco de 20/04/1937).

Outra matéria que merece ser destacada é a visita que o Guarany faria para enfrentar o Central de Caruaru no dia 23/04/1939, a partida teria lugar no campo do Parque Central às 16 horas e à noite a equipe caruaruense prestaria homenagens ao alvirrubro pesqueirense (Diário de Pernambuco de 23/04/1939).

Com relação a sede do Guarany, a referência localizada é do ano de 1944 e a mesma estava localizada na rua Barão de Vila Bela, nº 163, no centro da cidade de Pesqueira. Vale salientar que nesse mesmo ano a equipe era filiada e tinha licença de funcionamento outorgada pelo Conselho Regional de Desportos de Pernambuco.

Quanto ao lugar onde mandava seus jogos, não localizamos referências, todavia a partir de 1938 deve ter jogado no Estádio Everardo Maciel, inaugurado em junho de 1938, conforme noticiou a Voz de Pesqueira de 06/06/1938 apud Bartolomeu Cavalcanti (2005, p. 136). Cabe registrar que depois seria instalada luz elétrica nesse estádio pelo Prefeito Arruda Marinho e eram realizadas partidas todas as sextas-feiras às 19 horas.

Tendo em vista que não dispomos de fontes pesquisas suficientes, afinal, nem sempre o futebol era citado nos livros de historiografia municipal, nos valemos dos jornais da capital pernambucana para encontrar dados que nos permitissem contar um pouco da história desse clube pesqueirense das décadas de 1920 a 1940. Diante disso, não foi possível localizar outros times pesqueirenses para saber quem foi o grande rival do Guarany Futebol Clube.

Isto posto, concluímos este artigo sobre o alvirrubro pesqueirense cuja a única fotografia data de 1940, onde o Guarany assim era escalado: Odilon, Eugênio, Elói, Peba, Mário, Raul, Moura, Biu Ferreira, Luiz Rocha, Biu Leonardo, Luiz, Gordinho, Zé Rocha e Negrão. Em memória desses desportistas e do futebol amador pesqueirense o dedicamos.

Por Fábio Menino de Oliveira

Referências:

A PROVÍNCIA, Recife, domingo, 15/02/1925, ano LIX, nº 39, p. 7.

_____________, Recife, sábado, 14/09/1929, ano LVIII, nº211, p. 1.

CAVALCANTI, Bartolomeu. No tacho, o ponto desandou: história de Pesqueira de 1930 a 1950. Recife: O autor, 2005.

DIÁRIO DA MANHÃ, Recife, quarta-feira, 01/09/1937, p. 10.

DIÁRIO DE PERNAMBUCO, Recife, terça-feira, 20/04/1937, ano 112, nº 136, p. 14.

_________________________, Recife, domingo, 23/04/1939, ano 114, nº 140, p. 8.

O MALHO (Revista), Rio de Janeiro, 05/12/1925, ano XXIV, nº 1.212, p. 40.


quarta-feira, 12 de abril de 2017

HOSPITAL DE PESQUEIRA: DE REGIONAL A DR. LÍDIO PARAÍBA

Hospital em 1941, foto: Ilustração Brasileira
A ideia da construção de um hospital na cidade de Pesqueira surge em 1935 com a criação de uma Comissão para Arrecadação de Donativos, tendo a sua frente o médico Dr. Lídio Paraíba, o industrial Manoel de Brito (Superintendente das Fábricas Peixe) e o bispo de Pesqueira Dom Adalberto Sobral, entre outros membros da sociedade pesqueirense. De início já foram arrecadados 10 contos de réis.

O Dr. Lídio Paraíba escreveu uma petição a Assembleia Legislativa de Pernambuco solicitando auxílio para a construção do hospital, a mesma foi lida na Comissão de Fazenda, Orçamento e Contas do Estado no dia 21/10/1936, sendo aceita pela comissão foi designado como relator da matéria o deputado Souto Filho.

A petição teve parecer favorável da Comissão de Fazenda e se tornou o Projeto nº 81/1936, que autorizava o governador do Estado a abrir um crédito orçamentário de 50 contos de réis no exercício de 1937 para auxiliar na construção do hospital em Pesqueira. Todavia, o projeto foi vetado pelo Interventor Federal General Amaro Azambuja Vilanova que governou Pernambuco num curto período (10/11 a 03/12/1937).
Agamenon Magalhães

Acontece que a partir de 03/12/1937 assume como Interventor o Dr. Agamenon Magalhães e entre as suas principais ações no governo pernambucano estava a preocupação com a saúde e a construção de hospitais, por isso cria em julho de 1938 o Instituto de Assistência Hospitalar (IAH), que teve como primeiro presidente o professor Barros Lima, catedrático de clínica ortopédica da Faculdade de Medicina do Recife, com a missão de orientar, dirigir e fiscalizar todas as instituições hospitalares do estado.

Nesse novo contexto se insere o hospital de Pesqueira, o contrato para sua construção foi assinado em Recife na sede do IAH no dia 30 de julho de 1940. Foi designada para a obra a firma Lisboa Rego Ltda e o prazo para sua conclusão foi estipulado em 07 meses.


A pedra fundamental simbolizando o início da obra foi aposta pelo interventor Agamenon Magalhães em 03 de agosto de 1940, tendo a seu lado secretários estaduais, deputados e o prefeito de Pesqueira, João Arruda Marinho dos Santos, além de diversas autoridades civis e militares. Sobre o ato vale registrar as palavras de Agamenon Magalhães em seu artigo – Pesqueira (publicado na Folha da Manhã de 22/08/1940):
Prefeito Arruda Marinho


[…] Lançada a pedra fundamental do Hospital Regional de Pesqueira, eu disse que o homem no Sertão era maior que a terra. Vou demonstrar a minha tese com vários exemplos. Exemplos de trabalho. De poder de iniciativa. De esforço ciclópico para arrancar da Terra seca frutos e riquezas inesperadas. Vamos começar por Pesqueira, que é a porta do Sertão. Onde o agreste se acaba com os últimos ventos frescos do litoral. Onde começa a catinga. […]

O prédio do hospital foi projetado pelo arquiteto Heitor Maia Filho, que ao lado de Mário Nunes e Joaquim Cardoso foram os grandes arquitetos modernistas em Pernambuco das décadas de 1940 e 1950. Foi dele o desenho da reforma em 1939 do Estádio dos Aflitos do Clube Náutico Capibaribe. Destacava-se no desenho de Heitor Maia as linhas sóbrias e modernas distribuídas em toda construção do hospital pesqueirense.






Hospital em 1942, foto: Correio da Manhã
A inauguração do Hospital Regional de Pesqueira ocorreu às 11 horas da manhã de terça-feira, 09 de setembro de 1941. Recebeu a benção solene do bispo D. Adalberto Sobral e em seguida foi oficialmente inaugurado pelo Interventor Agamenon Magalhães,  o comandante da 7ª Região Militar General Mascarenhas de Morais, o Prefeito João Arruda Marinho dos Santos, entre outras autoridades. Discursaram na ocasião Agamenon Magalhães, professor Barros Lima e o Dr. Lídio Paraíba.

Vale registrar um trecho do telegrama enviado por Agamenon Magalhães ao Presidente Getúlio Vargas, publicado no Jornal do Brasil de 12/11/1941:

[…] Recife – Tenho o prazer de comunicar a V. Ex. que em avião da Navegação Aérea Brasileira e em companhia do General Mascarenhas de Morais, inaugurei segunda-feira, o campo de pouso de Serra Talhada e hospitais regionais de Serra Talhada e Pesqueira, com 150 leitos cada um e Maternidade. Esses hospitais foram construídos pelo Estado na zona sertaneja, onde existem uma população de 400 mil habitantes, até então sem nenhuma assistência hospitalar. A maternidade do hospital de Pesqueira foi construída com o auxílio de duzentos contos de réis concedidos no ano passado por V. Ex. para aquele fim. […] Cordiais saudações – Interventor Agamenon Magalhães.

Aparelho de Raio X, foto: Correio da Manhã

Contava o novo hospital com 150 leitos, maternidade, laboratório, ambulatório, clínica cirúrgica, clínica médica, sala de isolamento e raio X. Reitere-se que para custeio da obra e aparelhagem com equipamentos hospitalares foram gastos 675 contos de réis, assim divididos: Governo Federal (200 contos de réis), Estado (450 contos) e Prefeitura de Pesqueira/ Comissão de Arrecadação de Donativos (25 contos).

O hospital era regional porque Pesqueira sediava um distrito de assistência hospitalar, do qual faziam parte os municípios de Belo Jardim, São Bento do Una, Brejo da Madre de Deus, Arcoverde, Buíque e Sertânia, vale salientar que nessa época Sanharó, Alagoinha e Poção ainda eram distritos pesqueirenses. Com isso, temos a noção do tamanho da região atendida pelo novo hospital.

Quanto ao primeiro corpo clínico do Hospital Regional de Pesqueira assim, ficou constituído: Dr. Lídio Paraíba (1º Diretor), Dr. Waldemir Ferreira Lopes (cirurgião), Dr. Luís Wilson de Sá Ferraz (oftalmologista e assistente de cirurgia), Dr. Jorge Gomes de Sá (clínico), Dr. Adalberto da Silva Castro (clínico), Dr. Wálter do Rego Barros Didier (cirurgião-dentista) e José Cristóvão dos Santos (farmacêutico).

Registre-se também outros médicos que atuaram no hospital na década de 1940 e sobre os quais localizamos registros de nomeações em jornais, foram eles: Dr. Olímpio Ronald da Cunha Pedrosa Filho (cirurgião), Dr. Inaldo Soares Carneiro da Cunha (médico assistente), Dr. Jenecy Ramos (clínico e cirurgião), Dra. Urze Prado de Barros Correia (clínica), Dr. Hélio Ferreira Lopes (assistente clínico), Dr. Lívio de Sousa Valença (médico), Dr. Luís Gonzaga Tavares Gouveia (clínico), Dr. Aníbal Teixeira de Vasconcelos (assistente de cirurgia) e Dr. Benévolo Wanderley do Amaral (clínico).

No que se refere a direção do hospital, encontramos dados sobre os 04 primeiros diretores: Dr. Lídio Paraíba (08/09/1941-02/02/1949), Dr. Benévolo Wanderley do Amaral (31/04/1947), Dra. Urze Prado de Barros Correia (24/12/1948) e Dr. Jenecy Ramos (02/02/1949). Um adendo, tanto o Dr. Benévolo Amaral quanto a Dra. Urze Prado foram nomeados para substituir interinamente o Dr. Lídio Paraíba enquanto exercia o mandato de Deputado Estadual.

Dr. Lídio Paraíba em 1925
Diante do exposto, nota-se a importância da atuação do Dr. Lídio Paraíba como um dos maiores batalhadores para que fosse construído o hospital em Pesqueira e, portanto, merece algumas considerações sobre o médico.

Natural de Uruguaiana-RS, onde nasceu em 05 de junho de 1890. Formou-se em medicina no Rio de Janeiro em 1911, veio para Pesqueira em 1912. Exerceu por mais de 50 anos a medicina, encarando-a não apenas como profissão mas, como sacerdócio. Clinicou diante de todas as dificuldades de uma cidade do interior, da qual foi o único médico por anos, atendendo a crianças, jovens, adultos, gestantes e idosos de Pesqueira e cidades circunvizinhas. O Álbum da Administração do major Cândido de Brito em 1925 já reconhecia a sua importância e o prestígio do médico na sociedade pesqueirense:

[…] Ilustrado, criterioso, devotado, bondoso, modesto, sincero, o dr. Lídio Parahyba vive em primeiro plano entre as pessoas mais distintas de Pesqueira. Ele faz da medicina o que realmente ela deve ser – um ministério de sacrifícios, de dedicações, de consolo, de coragem, de resignação tantas vezes![…]

Cabe registrar também um trecho da justificativa do médico e deputado Lívio Valença, quando apresentou o projeto nº 09 de 16/03/1963, que solicitava a Assembleia Legislativa estadual a alteração do nome do hospital de Pesqueira para Hospital Dr. Lídio Paraíba:

[…] Transposto o batente da sala de seu consultório, o rico era igual ao pobre, o preto ao branco. Em nome do seu sacerdócio profissional, todos eram iguais. […]

Em ambas as citações podemos notar o excelente profissional que foi o Dr. Lídio Paraíba, o povo pesqueirense e da região como prova de reconhecimento o elegeram Deputado Estadual no pleito de 19 de janeiro de 1947, sendo eleito pelo Partido da Representação Popular (PRP) com 999 votos, dos quais 683 foram em Pesqueira. Exerceu o mandato de 1947 a 1951 e com isso foi membro da legislatura que elaborou a 3ª Constituição do Estado, promulgada em 25/07/1947. Vale ressaltar, que o Dr. Lídio foi nomeado Prefeito de Pesqueira, exercendo o cargo num curto período de tempo entre 21 de novembro de 1945 a 20 de fevereiro de 1946.

Dr. Lídio Paraíba faleceu no Recife em 17 de fevereiro de 1963, depois de uma longa jornada dedicada a medicina e principalmente a Pesqueira, terra que não o viu nascer mais, que ele adotou e amou de forma abnegada.

Em razão de todo o serviço profissional, político e como ser humano, é que o Dr. Lídio Paraíba obteve o reconhecimento da Assembleia Legislativa que aprovou o projeto do deputado Lívio Valença e assim foi publicada no Diário Oficial do Estado (25/05/1963) a Lei nº 4594/1963:

LEI N. 4594 DE 24 DE MAIO DE 1963
EMENTA: - Dá nova denominação ao Hospital Regional de Pesqueira.
O VICE GOVERNADOR, no exercício do cargo de GOVERNADOR DO ESTADO DE PERNAMBUCO:
Faço saber que a Assembleia Legislativa decretou e eu sancionei a seguinte lei:
ART. 1º – Fica denominado Hospital Dr. Lídio Paraíba o atual Hospital Regional de Pesqueira.
ART. 2º – A presente Lei entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário
Palácio do Governo do Estado de Pernambuco, em 24 de maio de 1963.
(a) PAULO PESSOA GUERRA
João Ferreira Lima Filho.


Em suma, neste artigo levantou-se dados e informações para contar a história do hospital de Pesqueira no período 1935 a 1963, desde a época em que foi Hospital Regional até se tornar Hospital Dr. Lídio Paraíba, numa justa homenagem àquele cujo nome é sinônimo da concepção e da criação desta unidade de saúde que há 76 anos vem servindo ao povo pesqueirense e da região.

Por Fábio Menino de Oliveira.




Referências


Álbum da Administração Cândido de Brito, 1923/1925.

CORREIO DA MANHÃ. Rio de Janeiro, sexta-feira, 19/06/1942, ano XLII, nº 14.609, p. 10.

DIÁRIO DA MANHÃ. Recife, domingo, 01/09/1935, ano IX, nº 2512, p. 3.

__________________. Recife, quinta-feira, 22/10/1936, ano X, nº 2854, p. 2.

__________________. Recife, sexta-feira, 30/10/1936, ano X, nº 2861, p. 2.

__________________. Recife, quinta-feira, 12/11/1936, ano X, nº 2871, p. 12.

__________________. Recife, quinta-feira, 19/11/1936, ano X, nº 2877, p. 12.

__________________. Recife, sábado, 19/07/1941, ano XV, nº 4170, p. 8.

DIÁRIO DE NOTÍCIAS. Rio de Janeiro, quarta-feira, 31/07/1940, ano XI, nº 5448, p. 5.

DIÁRIO DE PERNAMBUCO. Recife, sexta-feira, 02/08/1940, ano 115, nº 180, p. 5.

__________________. Recife, domingo, 07/07/1941, ano 116, nº 210, p. 7.

__________________. Recife, terça-feira, 09/09/1941, ano 116, nº 211, p. 5.

DIÁRIO OFICIAL DO ESTADO DE PERNAMBUCO. Recife, sábado, 25/05/1963, ano XL, nº 117, p. 1.

ILUSTRAÇÃO BRASILEIRA (revista). Rio de Janeiro, junho de 1945, ano XXIII, nº 122, p. 80.

JORNAL DO BRASIL. Rio de Janeiro, sexta-feira, 12/11/1941, ano LI, nº 215, p. 5.

NASCIMENTO, Marcelo O. do. Os 100 Anos da Chegada de Dr. Lídio Paraíba. Disponível em: http://www.pesqueirahistorica.com/2012/12/31/os-100-anos-da-chegada-de-dr-lidio-paraiba/. Acesso em 12/04/2017.

WILSON, Luís. Ararobá Lendária e Eterna. CEPE/Pref. de Pesqueira. Recife: 1980, p. 52.

terça-feira, 31 de janeiro de 2017

A EDUCAÇÃO EM PESQUEIRA NO PERÍODO 1948-1951

Escola Típica Rural de Mutuca, Pesqueira, em 1950.

Os anos que compreendem o final da década de 1940 e início de 1950, representam uma fase de crescimento educacional no município de Pesqueira com a expansão de novas cadeiras de ensino, bem como a construção e o estabelecimento de grupos escolares tanto na sede municipal, como nas áreas rurais.
Para traçar um panorama a respeito do quadro educacional neste período foi fundamental o Álbum da Administração do prefeito Ésio Magalhães Araújo, responsável por um governo de muitas realizações e que muito contribuiu para a modernidade e desenvolvimento de Pesqueira.    
Dentre as transformações de sua gestão cabe destacar a educação e de acordo com o Álbum supracitado, assim era o ensino primário no ano de 1948:

EXERCÍCIO DE 1948 […] Instrução Primária. No início do ano letivo, em 16 de fevereiro, existiam 87 escolas municipais em todo o território da comuna (inclusive Alagoinha e Sanharó, posteriormente elevados à categoria de municípios) antes do término do exercício o governo municipal criou 30 novas escolas divididas nas seguintes categorias e todas em pleno funcionamento, cuja matrícula atingia a 3.234 alunos […]
           
Sobre estas 30 novas escolas criadas, cabe registrar as que obtivemos informações, foram elas: Escola Benjamim Caraciolo (então Distrito de Sanharó); Escola Sérgio Loreto (então Distrito de Poção); Escola Jurandir Brito de Freitas (Distrito de Salobro); Escola Leonardo Siqueira (Povoado de Santa Teresinha, atual Distrito de Mutuca); Escola Tenório de Carvalho (Povoado de Ipanema); Escola André Bezerra (Povoado de Jenipapinho, Alagoinha); Escola 6 de Março (Povoado Divisão, Sanharó); Escola Belchior Leite do Amaral (Povoado Mulungu, Sanharó); e Escola Francisco Sinésio (Bairro Santa Rita, Pesqueira).
Em 1949 com a constituição dos municípios independentes de Sanharó (do qual passou a fazer parte o distrito de Jenipapo e o povoado de Divisão) e Alagoinha (de cujo território passou a constituir o povoado de Perpétuo Socorro). Pesqueira perdeu território e o quantitativo das escolas e dos alunos sofreu redução caindo de 87 para 57 escolas e de 3.234 para 2.296 alunos.
As despesas da prefeitura estavam orçadas em outubro de 1951 no valor de Cr$ 2.840.913,10, dos quais Cr$ 375.675,00 eram gastos com Educação Pública (13,22%), desse valor Cr$ 13.000,00 foram destinados para a compra de papel, pena, tintas, livros, fardamentos e outros materiais para a distribuição gratuita aos alunos pobres. Vale ressaltar, que os investimentos com educação representavam o 2º lugar das despesas municipais, superado apenas pelos Serviços de Utilidade Pública (Cr$ 851.960,26 – 29,9%).
Outro fato de grande importância para a educação pesqueirense foi a criação da Biblioteca Pública Municipal, através da Lei nº 40 de 2 de junho de 1948, sendo instalada em janeiro de 1950 e sobre a qual farei artigo posterior.        

Todavia, nessa época não há apenas o esforço do município para atender a população pesqueirense com educação pública, uma vez que entre 1949 e 1950 são construídas no município de Pesqueira pelo governo do estado 06 Escolas Típicas Rurais (chamadas de ETR's) para atender a área rural. Foram elas: ETR de Cimbres (1ª professora Maria do Carmo de Araújo Bezerra); ETR de Mimoso (1ª prof.ª Vanda Brito); ETR de Mutuca (1ª prof.ª Almira Prudêncio da Silva); ETR de Roçadinho (1ª prof.ª Julieta da Silva Barros); ETR de Ipanema (1ª prof.ª Teresinha Pereira Lopes) e ETR de Poção (1ª prof.ª Ângela Alzira de Souza Duque).
As ETR's foram idealizadas por Clemente Marianni, Ministro da Educação do Presidente Eurico Gaspar Dutra (1947-1951) e constituíam-se num prédio de aspecto colonial com uma sala para 40 alunos, com uma residência para a professora e um espaço de 1 hectare, pois seu principal objetivo era associar a alfabetização dos alunos com técnicas de agricultura, pecuária e ofícios rurais. Só em Pernambuco no ano de 1948 foram construídas 248 escolas rurais em 84 municípios com alto déficit escolar.
A primeira escola rural construída em Pesqueira foi a da Vila de Cimbres, conforme consta nas notas abaixo:

ATOS DO GOVERNO ESTADUAL […] O governador do Estado assinou os seguintes atos: […] designando o adjunto de promotor público da comarca de Pesqueira, José da Silva Araújo, para como representante do Estado, assinar a escritura de doação de um terreno localizado em Cimbres, 3º distrito daquele município destinado à construção de uma escola rural;[…]

-Escola Rural de Cimbres, construída em abril de 1949 […]

Por fim, destaca-se nessa fase de mudanças educacionais significativas em Pesqueira, além da atuação do prefeito Ésio Magalhães Araújo, a do Secretário de Educação e Cultura do Estado, bacharel João Arruda Marinho dos Santos (ex-prefeito de Pesqueira) e do Governador de Pernambuco, Dr. Agamenon Magalhães.

Por Fábio Menino de Oliveira.


REFERÊNCIAS

Álbum da Administração de Ésio Magalhães Araújo, 1948-1951. Recife, Oficina Tipográfica do Diário da Manhã, 1951.
Diário de Pernambuco, Recife, sexta-feira, 19/11/1948, ano 123, nº 270, p. 4.
Idem, sexta-feira, 01/04/1949, ano 124, nº 76, p.5.

sábado, 28 de janeiro de 2017

REPORTAGEM DE 1936 SOBRE A APARIÇÃO DE NOSSA SENHORA NO SITIO GUARDA, EM PESQUEIRA.

Fac-símile do Diário da Manhã, 10/10/1936

Na cordilheira do Ororubá
Nossa Senhora apareceu, em Pesqueira, a duas crianças”
Uma multidão de romeiros dirige-se ao local do milagre1

(DE UM REPÓRTER MATUTO)

Foi na cordilheira do Ororubá, onde o vento passa agitado, mas, trazendo sempre o cheiro da terra oura; foi ali no Sítio do Guarda, no município de Pesqueira, onde o clima é o mais convidativo às meditações profundas ou não sobre os mistérios da vida, que, no dia 3 de agosto, do ano que vai rolando, apareceu uma santa.


Nossos jornais já se ocuparam do fato, mas, não deram grande curso às suas indagações sobre a aparição. Falta de tempo ou respeito as coisas misteriosas que surgem de repente para impressionar um povo que tem tanto em que pensar, mesmo no campo duro da realidade.

Maria da Luz, em companhia
da sua amiga.
Mas, o fato é que ali, no município de Pesqueira, célebre pelo justo rumor da sua goiabada, no Sítio do Guarda, na cordilheira do Ororubá, vivia, sem sucesso, o agricultor Artur Teixeira que, afora a preocupação que lhe davam os cafezais, os sabugueiros e as goiabas, tinha a merecer-lhe muito cuidado, cuidado e carinho, a sua filha menor Maria da Luz, uma criança tão calma como aquele trecho de terra em que seu pai vivia.

NO DIA 3 DE AGOSTO, estando Maria da Luz em companhia de sua amiguinha, entregue a colheita de frutos, como lhe viesse o cansaço, resolveu palestrar um pouco e o assunto da conversa foi uma provável investida dos bandidos naquela propriedade.

Naquele pedaço de terra constitui um verdadeiro pavor a simples lembrança de uma incursão de bandidos. A companhia de Maria da Luz tremeu de susto. Que Deus a livrasse de ver um bandido.

Maria da Luz, mais confiante, declarou que não temia os bandidos, pois acreditava muito e muito em Nossa Senhora.

Falou assim Maria da Luz e de repente – é o que relata os informantes que vem de Pesqueira – no alto de uma pedra cortada, viu a menina que aparecia um vulto, com uma auréola de luz. Ficaram estáticas as duas menores e – continuam os informantes – a santa continuava a rir para elas, num riso de santa, cheio de graça e de perfume.

Um grupo de romeiros, ao sopé
da serra do Ororubá
A NOTÍCIA ESPALHOU-SE por todo o município de Pesqueira. 

Passou deste para outros, e já anda pelos Estados vizinhos.

Como corre uma notícia! Romeiros estão marchando sobre a cordilheira do Ororubá. Pernas de todas as idades vão vencendo as anfractuosidades do caminho.

Velhos, moços e meninos, todos, serra acima, vão com o coração a rebentar de esperança e fé, porque querem ter também a graça de Maria da Luz; querem ver, sobre a pedra cortada, o perfil da santa, de Nossa Senhora que, assim, apareceu àquelas duas meninas e que não deixará de aparecer também aos que já não são meninos, mas, bem que o queriam ser.

Vai sendo grande a onda de peregrinos, homens e mulheres, cansados das grandes caminhadas, vão chegando ao Sítio do Guarda, onde a plantação de tomates vai ficando perdida, pisada está a terra toda.

Continuam as menores a afirmar que a Santa lá está como no primeiro dia. Que ri para elas; ri e fala. Chega a ser impressionante esta certeza das meninas e bem que vai impressionando os velhos, estes são às vezes mais sugestionáveis ainda.
O local em que foi vista a Santa

[…]
Logo, Pesqueira é que é uma terra abençoada.

O local em que foi feita a aparição é de tão difícil acesso que é mesmo de causar espanto a facilidade com que os romeiros o alcançam.

É até necessária a colocação de escadas, para que consigam certas passagens.

E por toda a subida a velas acesas. Um grande, um solene espetáculo de fé. (Ortografia atualizada para facilitar a compreensão do leitor).

Por Fábio Menino de Oliveira.




1 Trecho da reportagem e imagens foram retirados do DIÁRIO DA MANHÃ (Recife, sábado, 10 de outubro de 1936, ano X, nº 2844, p. 6). Disponível em: http://200.238.101.22/docreader/DocReader.aspx?bib=DM1936&pesq=Na%20cordilheira%20do%20ororob%C3%A1 Acesso em 26/01/2017.